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Escrita de si, escrita da história PDF

365 Pages·2004·6.98 MB·Portuguese
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créditos_e_book.fm Page 1 Thursday, May 3, 2012 1:36 PM ISBN 978-85-225-1108-2 Copyright © Angela de Castro Gomes Direitos desta edição reservados à EDITORA FGV Rua Jornalista Orlando Dantas, 37 22231-010 — Rio de Janeiro, RJ — Brasil Tels.: 0800-021-7777 — 21-3799-4437 Fax: 21-3799-4430 e-mail: [email protected][email protected] web site: www.editora.fgv.br Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei nº 5.988). Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade dos autores. 1ª edição ⎯ 2004 Revisão de originais: Maria Lucia Leão Velloso de Magalhães Revisão: Aleidis de Beltran e Marco Antônio Corrêa Capa: Studio Creamcrackers Fotos: Diário da Viscondessa do Arcozelo (Biblioteca Nacional) Apoio: Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV Escrita de si, escrita da história / Organizadora Angela de Castro Gomes. — Rio de Janeiro : Editora FGV, 2004. 380p. Inclui bibliografia. 1. Cartas brasileiras. 2. Intelectuais — Brasil — Correspondência. 3. Políticos — Brasil — Correspondência. 4. Brasil — História. I. Go- mes, Angela Maria de Castro, 1948- . II. Fundação Getulio Vargas. CDD ⎯ 981 Sumário.fm Page 5 Wednesday, May 9, 2012 12:03 PM Sumário Escrita de si, escrita da História: a título de prólogo 7 Angela de Castro Gomes Parte I 1. Lapidário de si: Antonio Pereira Rebouças e a escrita de si 27 Hebe Maria Mattos e Keila Grinberg 2. Em família: a correspondência entre Oliveira Lima e Gilberto Freyre 51 Angela de Castro Gomes 3. Freyre: as travessias de um diário e as expectativas da volta 77 Antonio Paulo Rezende 4. O sistema intelectual brasileiro na correspondência passiva de John Casper Branner 93 Lúcia Maria Paschoal Guimarães e Valdei Lopes de Araújo 5. Cartas de Lobato a Vianna: uma memória epistolar silenciada pela história 111 Giselle Martins Venancio 6. Monteiro Lobato: estratégias de poder e auto-representação n’A barca de Gleyre 139 Tania Regina de Luca 7. “Paulo amigo”: amizade, mecenato e ofício do historiador nas cartas de Capistrano de Abreu 163 Rebeca Gontijo Sumário.fm Page 6 Wednesday, May 9, 2012 12:03 PM Parte II 8. A escrita da intimidade: história e memória no diário da viscondessa do Arcozelo 197 Ana Maria Mauad e Mariana Muaze 9. O diário da Bernardina 229 Celso Castro 10. Correspondência familiar e rede de sociabilidade 241 Marieta de Moraes Ferreira 11. Vozes femininas na correspondência de Plínio Salgado (1932-38) 257 Lidia M. Vianna Possas 12. Ao mestre com carinho, ao discípulo com carisma: as cartas de Jango a Getúlio 279 Jorge Ferreira 13. Getúlio Vargas: cartas-testamento como testemunhos do poder 295 Maria Celina D’Araujo 14. Arquiteto da memória: nas trilhas dos sertões de Crateús 309 Antonio Torres Montenegro 15. Cartas do Chile: os encantos revolucionários e a luta armada no tempo de Jane Vanini 335 Regina Beatriz Guimarães Neto e Maria do Socorro de Souza Araújo 16. De ordem superior... Os bilhetinhos da censura e os rostos das vozes 357 Beatriz Kushnir A título de prólogo.fm Page 7 Wednesday, May 9, 2012 12:14 PM Escrita de si, escrita da História: a título de prólogo ANGELA DE CASTRO GOMES* U m breve passar de olhos em catálogos de editoras, estantes de livrarias ou su- plementos literários de jornais leva qualquer observador, ainda que descuidado, a cons- tatar que, nos últimos 10 anos, o país vive uma espécie de boom de publicações de caráter biográfico e autobiográfico. É cada vez maior o interesse dos leitores por um certo gêne- ro de escritos — uma escrita de si —, que abarca diários, correspondência, biografias e autobiografias, independentemente de serem memórias ou entrevistas de história de vida, por exemplo. Apenas para ilustrar tal constatação e evidenciar que o fenômeno tem dimensões quantitativas e qualitativas, vale registrar alguns exemplos do ano de 2002. Anunciada como “um clássico de todos os tempos”, foi lançada a segunda edi- ção de A vida de Lima Barreto, de autoria de Francisco de Assis Barbosa (1914-91), in- telectual respeitado e pioneiro nesse tipo de escrita, já que seu estudo data de 1952. Trata-se de uma biografia que manteve e consolidou seu apelo de público e seu con- junto de informações sobre um personagem trágico e grandioso da literatura brasilei- ra.1 Além deste, foram muitos os lançamentos de textos que se baseavam em um tipo específico de escrita de si: a correspondência. Ainda no campo da literatura, grande e justificado destaque foi dado a Carlos e Mário, uma aguardada e comentada reunião das cartas trocadas pelos dois Andrades durante cerca de 20 anos. Como as matérias de jornal salientam, o diálogo entre os dois constitui uma oportunidade para se “ler e sen- tir” o movimento modernista sob outros ângulos, para acompanhar de perto o apren- dizado de Drummond com o mestre de Macunaíma e para repensar o lugar político e * Professora titular de história do Brasil da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisadora do Cpdoc da Fundação Getulio Vargas e doutora em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). 1 Barbosa (2002). A título de prólogo.fm Page 8 Wednesday, May 9, 2012 12:14 PM 8 ESCRITA DE SI, ESCRITA DA HISTÓRIA: A TÍTULO DE PRÓLOGO intelectual dos próprios modernistas.2 Algo semelhante pode ser dito de Cartas, de Caio Fernando de Abreu, outro literato festejado e também missivista apaixonado, que traçaria o “romance de sua vida” em cartas que cobrem o longo período que se es- tende dos anos 1960 aos 90.3 Um rico percurso, iniciado na virada do século XIX com Lima Barreto e transcorrido sobre os ombros de correspondentes, amigos sensíveis, que nos trazem até os dias de hoje. Tudo isso com o reforço de um diário, outra igual- mente atraente escrita de si, desta feita de um cronista e compositor carioca dos anos 1950: o Diário de Antônio Maria.4 Como é óbvio, nem só literatos escrevem, sobretudo uma escrita de si. Comer- cialmente, políticos têm atrativo equiparável, especialmente quando alcançam lugar de mito na história de seu país. As cerca de 900 cartas de Luís Carlos Prestes, reunidas em três volumes, escritas enquanto ele era prisioneiro do Estado Novo foram por muito tempo mantidas escondidas por sua família e só agora editadas. Anos tormento- sos: correspondência da prisão (1936-1945) reúne ingredientes de atração infalível, pois é a correspondência familiar e amorosa de um prisioneiro político já reconhecido na ocasião como um grande líder da esquerda do país.5 Finalmente, cabe registrar um pe- queno e lindo livro, sobretudo pelo cuidado gráfico, contendo as cartas endereçadas pelo pintor impressionista Edouard Manet a seus familiares: Viagem ao Rio, cartas de juventude (1848-1849).6 Cartas, diários íntimos e memórias, entre outros, sempre tiveram autores e leito- res, mas na última década, no Brasil e no mundo, ganharam um reconhecimento e uma visibilidade bem maior, tanto no mercado editorial, quanto na academia. A despeito dis- so, não são ainda muito numerosos os estudos que se dedicam a uma reflexão sistemática sobre esse tipo de escritos na área da história no Brasil. As iniciativas que constituem ex- ceções provêm muito mais do campo da literatura e, recentemente, de estudos de histó- ria da educação. No campo da literatura, como os exemplos anteriores claramente ilustram, são bem mais freqüentes a publicação, anotada e comentada, de correspondência e diários, assim como de trabalhos que têm na escrita autobiográfica seu objeto de investigação. Nada surpreendente, considerando-se que o texto é o centro da produção literária e suas características semânticas e culturais são fundamentais à atividade de pesquisa e ensino nessa área do saber. Os trabalhos de Walnice Nogueira Galvão são paradigmáticos desse esforço, quer no que diz respeito à publicação da valiosa correspondência de Euclides da 2 Frota (2002). Ver O Globo, 14 dez. 2002. (Prosa e Verso.); Jornal do Brasil, 11 jan. 2003. (Idéias e Livros.); e IstoÉ, 22 jan. 2003. p. 82. 3 Abreu (2002). Ver Jornal do Brasil, 4 jan. 2003. (Idéias e Livros.) Vale registrar também o interesse suscitado pela publicação da correspondência de Clarice Lispector. 4 Maria (2002). Ver Jornal do Brasil, 16 jan. 2003. (Idéias e Livros.) 5 Prestes e Prestes (2002). Ver Jornal do Brasil, 21 dez. 2002. (Idéias e Livros.) 6 Manet (2002). A título de prólogo.fm Page 9 Wednesday, May 9, 2012 12:14 PM ANGELA DE CASTRO GOMES 9 Cunha, quer na organização de uma coletânea que se propõe a analisar a escrita epistolar. Prezado senhor, prezada senhora: estudo sobre cartas é um dos poucos livros que se aplicou a destacar a importância e a especificidade da correspondência, particularmente sob o olhar literário.7 No campo da história da educação, as razões para se dar atenção a esse tipo de es- critos também são bastante evidentes. Tratando-se de disciplina que se volta para o es- tudo de processos de aprendizagem e de ensino de leitura e escrita, práticas culturais como as da escrita de si são um prato cheio de interesse. Escrever cartas sempre foi um exercício muito presente em qualquer sala de aula, além de ser um veículo fundamental de comunicação entre a escola, as famílias e os alunos. Além do mais, grande parte do professorado há muito é composto por mulheres, que, por questões de constrangimento social, tiveram seus espaços de expressão pública vetados, restando-lhes exatamente os espaços privados, entre os quais os de uma escrita de si. Usar essa documentação acumu- lada por escolas, professoras e alunos como fonte para a investigação de vivências peda- gógicas não registradas em outras fontes mais conhecidas foi um passo que se mostrou muito produtivo. Dois livros, que interceptam pesquisas de educação e gênero, demar- cam a preocupação crescente com tal linha de pesquisa: Refúgios do eu: educação, história e escrita autobiográfica e Destino das letras: história, educação e escrita epistolar.8 Evidentemente, esses estudos de história da educação estão se beneficiando de transformações mais amplas da área da história e, mais precisamente, de uma história cultural (também política e social) que se tem dedicado a recortar o tema das práticas da leitura e da escrita, bem como a dar especial atenção à questão de gênero. Examinando- se a produção mais recente de livros e artigos, vê-se que, no Brasil, é forte, embora de forma alguma exclusiva, a influência da historiografia francesa, consagrada, por exem- plo, na coleção História da vida privada, traduzida durante a década de 1990 pela Com- panhia das Letras. Foi seguindo o sucesso dessa iniciativa que a mesma editora publicou quatro volumes de uma História da vida privada no Brasil (dois para a Colônia e o Im- pério e dois para a República) em 1997 e 1998.9 Os diversos historiadores e cientistas sociais que participaram da obra, na França e no Brasil, indicam, de múltiplas formas, o vínculo existente entre um novo espaço de investigação histórica — aquele do privado, de onde deriva a presença das mulheres e dos chamados homens “comuns” — e os novos objetos, metodologias e fontes que se descortinam diante dele. É justamente nesse espa- ço privado, que de forma alguma elimina o público, que avultam em importância as prá- ticas de uma escrita de si. 7 Galvão (1997); e Galvão e Gottib (2000). 8 Mignot, Bastos e Cunha (2000 e 2002). Os textos dessas duas coletâneas serviram de referência para este prólogo. 9 Os vários volumes das coleções francesa e brasileira tiveram, cada um, seu organizador, além de um coordenador-geral. A título de prólogo.fm Page 10 Wednesday, May 9, 2012 12:14 PM 10 ESCRITA DE SI, ESCRITA DA HISTÓRIA: A TÍTULO DE PRÓLOGO Mas, como já se observou, ainda não são muito freqüentes pesquisas históricas que se concentrem na exploração desse tipo de escrita.10 O que é compreensível, pois, embora tal documentação sempre tenha sido usada como fonte, apenas mais recente- mente foi considerada fonte privilegiada e, principalmente, tornada, ela mesma, objeto da pesquisa histórica. Uma inflexão que passa a requerer maiores investimentos em sua utilização e análise, ou seja, maiores cuidados teórico-metodológicos. Um movimento que deve ser articulado, no caso da historiografia brasileira, à constituição de centros de pesquisa e documentação destinados à guarda de arquivos privados/pessoais, quer de ho- mens públicos, quer de homens “comuns”. A acumulação e a disponibilização desse vasto e diversificado material arquivístico estimularam e permitiram, ao mesmo tempo, a sistematização de conhecimentos e de metodologias referentes a sua guarda e a seu uso como fonte e objeto histórico. Um exemplo dessa maior atenção foi o seminário inter- nacional sobre arquivos pessoais realizado em 1997 pelo Centro de Pesquisa e Docu- mentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getulio Vargas e pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo, reunindo es- pecialistas de várias formações para refletirem sobre o tema.11 É, portanto, na confluência dessas transformações que abarcam práticas arquivís- ticas e historiográficas, e no bojo de um interesse crescente pela escrita de si que os estu- dos deste livro se situam. O conjunto apresentado é uma amostra expressiva de como os chamados textos auto-referenciais vêm ganhando terreno no trabalho de muitos historia- dores do país, ilustrando as várias possibilidades e resultados de se lidar com eles. Este prólogo deixará para o leitor a tarefa de aproximar os vários textos deste livro e deles tirar seus próprios achados, seus próprios caminhos. O que se pretende é fixar algumas con- siderações sobre esse tipo de escrita, com destaque para a escrita epistolar, devido a sua grande presença no volume, de maneira que o leitor possa melhor se orientar em sua in- cursão.12 A escrita auto-referencial ou escrita de si integra um conjunto de modalidades do que se convencionou chamar produção de si no mundo moderno ocidental. Essa deno- minação pode ser mais bem entendida a partir da idéia de uma relação que se estabeleceu entre o indivíduo moderno e seus documentos. Considerando-se a existência de um certo consenso na literatura que trata da es- crita de si, pode-se datar a divulgação de sua prática, grosso modo, do século XVIII, 10 Algumas delas são: Gomes (2000); Pinto (1999); e Carvalho (2000). 11 Parte dos trabalhos apresentados no encontro, muito utilizados neste texto, foi publicada em Es- tudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, 1998. 12 Uma diversificada literatura será usada na sistematização do texto deste prólogo. Por isso, as ci- tações só serão feitas quando houver uma referência direta.

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