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Escola de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Antropologia Ecotopias, ambientalismo PDF

277 Pages·2017·3.58 MB·Portuguese
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Escola de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Antropologia Ecotopias, ambientalismo e o cuidado como fator de sustentabilidade: contributos oriundos de comunidades intencionais, da permacultura e da mudança intencional de estilos de vida Cristiana do Vale Pires Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutora em Antropologia Orientadora: Doutora Antónia Pedroso de Lima, Professora Auxiliar ISCTE.IUL Dezembro, 2017 Escola de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Antropologia Ecotopias, ambientalismo e o cuidado como fator de sustentabilidade: contributos oriundos de comunidades intencionais, da permacultura e da mudança intencional de estilos de vida Cristiana do Vale Pires Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutora em Antropologia Júri: Doutora Amélia Frazão Moreira, Professora Auxiliar, FCSH.UNova Doutora Susana Viegas, Investigadora Auxiliar, ICS.UL Doutor Paulo Mendes, Professor Auxiliar, UTAD Doutor Francisco Oneto, Professor Auxiliar, ISCTE.IUL Doutora Antónia Lima, Professora Auxiliar, ISCTE.IUL Dezembro, 2017 Resumo Várias pessoas têm vindo a organizar-se em comunidades intencionais e a adotar a Permacultura enquanto ética de vida, motivados por uma perceção de crise holística. Pelo seu impulso utópico e centralismo da dimensão ambiental, as comunidades intencionais e a permacultura podem ser concetualizadas como ecotopias. Esta dissertação é uma análise destas questões a partir da observação etnográfica de comunidades intencionais e pessoas que moldam as suas identidades e mudam intencionalmente o seu estilo de vida em termos de relação com o trabalho/meios de subsistência, práticas de consumo e cuidado ambiental, e a sua auto-organização em comunidades intencionais. O trabalho de campo decorreu na ecoaldeia Tamera (Odemira) e no Projeto Agroecológico do Soajo (Parque Natural do Gerês), duas comunidades intencionais semelhantes nas suas visões e propostas para o futuro, mas bastante diferentes em termos de dimensão, idade, organização, projetos, relação com as comunidades locais. O conceito de ecotopias é um conceito central por permitir conceptualizar a importância da dimensão ambiental em movimentos utópicos como é o caso das comunidades intencionais e movimentos de permacultura abordados nesta dissertação. Estes coletivos implementam práticas de construção cultural e apoiam a mudança intencional de estilos de vida para promover a transição para uma cultura mais justa, igualitária e sustentável. O cuidado é também um conceito relevante para analisar estes movimentos uma vez que as práticas destes movimentos visam cuidar do ser humano, das comunidades locais, dos ecossistemas e das gerações futuras. Palávras-chave: ecotopias, comunidades intencionais, permacultura, estilo de vida, cuidado. I Abstract Several individuals are organizing themselves in intentional communities, and are adopting permaculture as a life ethic, as they believe that we are living a holistic crisis. Considering their utopic impulse and the central role of the environment, intentional communities and permaculture can be defined as ecotopias. This ethnographic work is based in the observation of intentional communities and individuals that are changing their identities and are changing their lifestyles in terms of work and livelihoods, consumption habits and environmental care, and their self-organization in intentional communities. The fieldwork was performed in the Tamera ecovillage (Odemira) and in the Soajo Agroecological Project (Minho), two intentional communities that are similar in their visions and their proposals to the future, but different in what concerns their dimension, age, organization, projects, relation with the local communities. Ecotopia is a crucial concept to define the environmental dimension that is emphasized by these utopian movements, namely intentional communities and permaculture. These movements implement cultural construction´s practices and support intentional lifestyle changes able to promote a transition to a more fair, equalitarian and sustainable culture. Care is also a relevant concept to analyse these movements since their practices aim to care of the human being, local communities, ecosystems and next generations. Key-Words: ecotopias, intentional communities, permaculture, lifestyle, care. II Índice Introdução 1 Capítulo I 5 1 – Investigar em comunidades intencionais 5 1.1 - A ecoaldeia Tamera 7 1.2 – O Projeto Agroecológico do Soajo 10 2 – Objetivos 12 3 – Opções metodológicas 14 4 – O trabalho de campo 19 5 – Breve descrição dos capítulos da dissertação 21 Capítulo II 24 1 - De visita a Utopias? Trabalho de campo em Tamera e no Projeto 24 Agroecológico do Soajo 1.1 – Chegando à ecoaldeia Tamera… 24 1.2 – Chegando ao Projeto Agroecológico do Soajo… 28 2 – Sobre a Utopia 31 3 – Sobre o Princípio da Esperança de Ernest Bloch 40 4 – Utopias e Ecologia 44 5 – Ecotopias 51 5.1 – O papel das políticas formais 58 5.2 – Ecotopia e espiritualidade 64 5.3 – Antropologia e ecotopias 65 6 – Considerações 67 Capítulo III 69 1 – Ambiente: uma causa global vivida localmente 71 2 – A importância da Antropologia: ambiente e cultura 75 3 – Relação Ser Humano - Natureza 82 4 – Antropoceno? A antropologia numa nova época geológica 85 5 – Perspetivas holísticas e éticas ambientais 88 III 5.1 – A Teoria de Gaia 91 5.2 – Ecologia Profunda 95 5.3 – Ecologia, holismo e espiritualidade 98 6 – Considerações 102 Capítulo IV 105 1 – As origens: Contracultura 106 2 – Novos movimentos globais 112 3 – Comunidades intencionais 115 3.1 - Comunidade vs. Sociedade de acordo com Ferdinand Tönnies 116 3.2 – Definindo comunidades intencionais 120 3.3 - Comunidades intencionais - ligação às sociedades de caçadores- 126 recoletores? 3.4 - Comunidades intencionais, espaço e distanciamento 129 4 – Comunidades intencionais na prática: Tamera e o Projeto Agroecológico 135 do Soajo 4.1 - Comunidade e intencionalidade em Tamera 136 4.2 - Comunidade e intencionalidade no Projeto Agroecológico do Soajo 154 4.3 - A relação com as comunidades locais 162 5 - Permacultura: da filosofia ás práticas 173 5.1 - Permacultura em Tamera 179 5.2 - Permacultura no Projeto Agroecológico do Soajo 185 6- Projetos ecotópicos em Portugal 191 7 - Considerações 195 Capítulo V 198 1 – Definindo estilo de vida 199 2 - Políticas de estilo de vida 204 3 - Mudança intencional de estilos de vida associados à permacultura e a 208 comunidades intencionais 3.1 – Motivação para a mudança 210 4 - A mudança intencional de estilos de vida em Tamera e no projeto 217 Agroecológico do Soajo 5 - Mudança intencional de estilos de vida: sacrifício ou qualidade de vida? 233 6 - Considerações 235 IV Capítulo VI 238 1 – Definindo Cuidado 239 2 – O Cuidado como fator de sustentabilidade em contexto(s) de crise(s) 241 3 - Economias alternativas, troca e valor 246 4 - Éticas e práticas de cuidado em Tamera e no Projeto Agroecológico do 249 Soajo 5 – Considerações 253 Considerações finais 255 Bibliografia 260 Anexo 1 267 V Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul. (…) Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança1. (António Gedeão, 1956) 1 Música cantada em grupo, após uma meditação coletiva, no Encontro Ser EducAção no Soajo. VI Ecotopias, ambientalismo e o cuidado como fator de sustentabilidade Introdução Esta dissertação resulta de uma investigação sobre comunidades intencionais1, permacultura2 e mudança intencional de estilos de vida3, sendo estas conceptualizadas como ecotopias, onde a dimensão ambiental é exacerbada e centralizada, e cujas soluções e práticas se centram no cuidado para com a natureza e para com o “outro” presente e futuro. Para esta análise, desenvolvi trabalho etnográfico na ecoaldeia Tamera (localizada em Odemira, Alentejo), e no Projeto Agroecológico do Soajo (Vila do Soajo, Minho). A minha motivação pessoal para investigar este tema relaciona-se com uma crescente preocupação em relação às gerações futuras humanas e não-humanas, e a procura de respostas que possam sustentáveis e, a médio ou longo prazo, minimizar o impacto negativo que o ser humano tem nos ecossistemas naturais. Esta curiosidade académica focou-se fundamentalmente nas práticas de sustentabilidade desenvolvidas por comunidades intencionais e projetos de permacultura. Na pós-modernidade, são várias as ameaças que assombram o bem-estar e o futuro do ser humano na terra. Por um lado, a crise económica que afeta muitos países ocidentais, promove o agravamento das desigualdades sociais entre pessoas e entre países, do desemprego, da precariedade, da exploração laboral e, consequentemente, a subsistência e qualidade de vida das pessoas e famílias. Por outro lado, o terrorismo e as guerras, que continuam a despoletar põem em causa o sentimento de segurança e exacerbam o medo. O crescimento do espaço político que os partidos de extrema direita têm vindo a ganhar, num contexto em que a desconfiança, medo, o repúdio do “outro” e os nacionalismos estão em franca expansão. Individualmente, surgem também cada vez mais distúrbios psicológicos, psiquiátricos e psicossomáticos provenientes do isolamento, precariedade, incerteza, insegurança e frustração face às exigências da sociedade pós-moderna. Há 1 Este conceito vai ser descrito e analisado no capítulo IV, no entanto, nesta fase adianto que diz respeito à criação de comunidades que não têm como base o parentesco, a pertença religiosa ou étnica, mas sim um conjunto de valores comuns, com o desencanto com a sociedade dominante e, consequentemente, com a intenção de criar modelos de vida alternativos. 2 Conceito descrito no capítulo IV. Diz respeito a um conjunto de éticas e de práticas de design e planeamento que visam a inserção cooperante e benigna do ser humano nos ecossistemas naturais. Por esse motivo, propõe um conjunto de soluções e práticas de agricultura ecológica, eco-construção, educação, organização social, etc., que visam acima de tudo suprir as necessidades do ser humano e o garantir o seu bem-estar, enquanto se mantém e se reforça a vitalidade dos ecossistemas naturais. 3 Há várias razões que podem motivar o individuo na alteração do seu modo de vida, comportamentos e hábitos quotidianos. Nesta dissertação, interessam-me especificamente as mudanças de estilo de vida num sentido “mais verde”, isto é, de forma a reduzir a pegada ecológica individual e comunitária. O capítulo V desta dissertação é totalmente dedicado a este tema. 1 Ecotopias, ambientalismo e o cuidado como fator de sustentabilidade ainda as significativas ameaças ambientais: o aquecimento global é uma realidade cientificamente comprovada que se vai fazendo sentir, mas as políticas governamentais para fazer frente à poluição crescente, desflorestação, erosão dos solos e aos processos de desertificação são pouco expressivas e sem resultados visíveis. Assim, pode-se considerar que, enquanto sistema, a humanidade encontrou o seu ponto de inflexão (tipping point), que pode resultar numa mudança repentina quer para agravar as crises e suas consequências quer no sentido de reverter o processo. O objeto desta dissertação tem como ponto de partida a consciência sobre estes vários níveis de crise e as ameaças que colocam à humanidade. No entanto, esta dissertação não é nem derrotista nem catastrofista. O meu trabalho de investigação focou- se em pessoas e projetos que, reconhecendo estas diferentes crises, procuram ativamente criar e experimentar soluções de pequena escala que possam contribuir para as reverter. O reconhecimento das várias ameaças que assombram o futuro dos seres humanos e não- humanos e o desencanto com os estilos de vida pós-modernos despoletam, em algumas pessoas, um impulso utópico que as leva a, intencionalmente, organizarem-se em coletivos e a alterarem os seus modos de vida como forma de promover a transição para um futuro mais sustentável. Neste sentido, criam-se projetos utópicos que tentam resgatar e reinventar modos de vida e formas de organização social de base comunitária onde o cuidado e a cooperação com a natureza surgem como imperativos morais e aspetos centrais. Por esse motivo, os conceitos utopia e ecotopia tornaram-se centrais para a conceptualização do meu objeto de estudo que é definido por pessoas e projetos ecotópicos que têm vindo a implementar processos de construção cultural e estilos de vida individuais e comunitários baseados em práticas que se traduzem em sustentabilidade ambiental, social e económica. A análise foi feita a partido trabalho etnográfico desenvolvido em comunidades intencionais com práticas de permacultura, nomeadamente, a ecoaldeia Tamera e o Projeto Agroecológico do Soajo. Este trabalho de investigação constitui-se também como um contributo para o projeto de investigação “O cuidado como fator de sustentabilidade em situações de crise” (PTDC/CS- ANT/117259/2010). A humanidade e a ciência moderna agem no sentido de tentar controlar processos sociais complexos e imprevisíveis, sendo que estas ações se tornam problemáticas quando tentam ser universais, sem considerarem as especificidades e os padrões locais. Por essa razão, uma das vantagens das comunidades intencionais e da permacultura é a de centralizarem a sua ação a nível local, apesar de visionarem processos de transição e 2

Description:
communities and permaculture can be defined as ecotopias. a teoria do Gesellschaft lida com a construção artificial de um agregado de seres.
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