UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA ESCAFANDRISTAS DO TEMPO Narrativas de vida e regeneração da memória em São Rafael-RN FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA SOUZA NATAL-RN 2010 FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA SOUZA ESCAFANDRISTAS DO TEMPO Narrativas de vida e regeneração da memória em São Rafael-RN Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito necessário para a obtenção do título de doutor em Educação, sob orientação da Profª Drª Maria da Conceição Xavier de Almeida. NATAL-RN 2010 Revisão: Margarida Maria Knobbe. Capa: Bruno Sérgio Franklin de Farias Gomes. Ilustrações da capa: Acervo fotográfico disponível no perfil de São Rafael-RN na rede social Orkut. FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na Fonte S 719 Souza, Francisco das Chagas Silva. Escafandristas do tempo: narrativas de vida e regeneração da memória em São Rafael-RN. / Francisco das Chagas Silva Souza – Natal, 2010. 236f. ; 30cm. Tese (Doutorado em Educação)–Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, 2010. Orientadora: Profª. Dra. Maria da Conceição Xavier de Almeida. 1. Memória 2. Narrativa 3. Orkut 4. Fotografia I. Título CDU: 908 (813.2) Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Elvira Fernandes de Araújo Oliveira CRB15/294 FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA SOUZA ESCAFANDRISTAS DO TEMPO Narrativas de vida e regeneração da memória em São Rafael-RN Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito necessário para a obtenção do título de doutor em Educação. Aprovado em: 22 de dezembro de 2010. Banca examinadora: _________________________________________________________________________________ Profª Drª Maria da Conceição Xavier de Almeida Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientadora) _________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Edgard de Assis Carvalho Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Examinador externo) _________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Josineide Silveira de Oliveira Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Examinador externo) _________________________________________________________________________________ Prof. Dr. Luis Carvalho de Assunção Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Examinador interno) _________________________________________________________________ Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Examinador interno) ________________________________________________________________ Prof. Dr. Wani Fernandes Pereira Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Suplente interna) _________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Izabel Cristina Petraglia Centro Universitário Nove de Julho (Suplente Externa) À minha mãe, dona Rita. Suas histórias sobre o “tempo antigo” sempre me fascinaram. Talvez, por isso, tornei-me historiador. AGRADECIMENTOS Desde 2008, quando iniciei o projeto para a seleção do doutorado em Educação, até hoje, muitos contribuíram, das mais variadas formas, para a construção dessa tese, seja com gesto aparentemente anódino, mas eficaz, seja com palavras de incentivo. É impossível não lembrar o apoio que recebi do grupo gestor e de muitos colegas da minha instituição, o IFRN/Mossoró, cujos nomes prefiro não mencionar, visto que poderia cometer injustiças para com alguns. O apoio da minha família e o dos meus amigos foi fundamental. Estes últimos não só trocaram ideias comigo quanto ao meu trabalho, mas também ouviam as angústias de alguém que precisou alterar o seu cotidiano. Além disso, graças a eles, tive os momentos de descontração necessários para o alívio da tensão que uma pesquisa impõe. Diz o poeta João Cabral de Melo Neto que escrever se assemelha a catar feijão, pois “joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.” Assim, algumas pessoas foram de grande importância nessa atividade de “catar feijão” que é escrever uma tese. Agradeço aos colegas pesquisadores e colaboradores do Grupo de Estudos da Complexidade (Grecom) a aprendizagem contínua que me foi oportunizada durante as reuniões e os encontros realizados por eles. O aporte intelectual proporcionado nesses momentos foi muito útil para a minha formação. Sou grato às Profªs. Drªs Maria da Conceição Passeggi e Wani Fernandes pelas contribuições dadas quando do Seminário Doutoral I. A esta última, agradeço ainda as suas observações nas vezes em que precisei de um “socorro” intelectual mais urgente. Uma dívida impagável eu tenho para com a Profª Drª Maria da Conceição Almeida, a minha maior parceira na cata de feijões. Suas exigência, seriedade e dedicação às pesquisas dos seus orientados não podem ser mensuradas. Cúmplice No meu trabalho, com ela conheci não apenas novas obras e novos autores, mas também aprendi a ouvir e a compreender o dito e o não dito. Agradeço a compreensão e as palavras elogiosas quanto ao meu texto, pois, certamente, foram decisivas para elevar minha autoestima e prosseguir em frente. Também sou eternamente grato a um grande número de pessoas de São Rafael, sem as quais essa tese não teria sido sequer iniciada. Sempre muito receptivos, esses rafaelenses permitiram contatos não apenas presenciais, mas também virtuais, através do Orkut, do MSN Messenger e da troca de e-mails. Dessa forma, manifesto a minha gratidão aos que me receberam em suas casas para uma entrevista: às senhoras Ana Soares, Maria Concebida, Socorro Lopes, Erineide Gomes (em Assú), Tereza Pereira (em Assú); aos senhores Antonio Gomes (Antonio de Duca), Francisco Rodrigues (Chico Vicente), José Pinheiro, prof. Djalmir Arcanjo, Luis Teófilo, João Severino (João do Sindicato) e à sua esposa Maria Nívia. Além dessas pessoas, conversas posteriores com Rosa Benício foram importantes para o esclarecimento de dúvidas que surgiam no decorrer da tecitura do texto. Muito relevante também para a compreensão da problemática de São Rafael e para a construção desta tese foi a discussão em grupo com os jovens estudantes Neidjane, Ralph Marcel, Juciara, Josenilson, Rúbia Lorena, Isaac, Maria Umbelina e Jean Lázaro. A eles agradeço a gentileza de conversar comigo e a troca de ideias. A Richardson Rodrigo Cortez Barros, criador do perfil de São Rafael, na rede social Orkut, deixo um agradecimento em especial pelas gentileza e receptividade que demonstrou para com minha pessoa ao longo da escritura da tese, conversando pessoal ou virtualmente comigo através do MSN Messenger ou pelo Orkut. Finalmente, não posso, de forma alguma, negligenciar o auxílio financeiro da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – nesses últimos meses do doutorado. As coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão. (Memória. Carlos Drummond de Andrade) Futuros amantes Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios no ar E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos. Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização. Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você. (Chico Buarque de Hollanda) . RESUMO Em fins da década de 70 do século XX, o semiárido do Rio Grande do Norte foi o cenário do Projeto Baixo-Açu, cujo ponto alto seria a construção da barragem Engº Armando Ribeiro Gonçalves, projetada para acumular 2,4 bilhões de m³ de água. Considerava-se que tal iniciativa traria desenvolvimento econômico e social para milhares de potiguares que sofriam as agruras da seca. Entretanto, a barragem atingiria várias cidades da região, chegando a cobrir totalmente uma delas: São Rafael. Em função disso, nos primeiros anos da década de 1980, próximo dali, uma nova cidade foi edificada pelo DNOCS. A presente tese visa discutir como, após três décadas, a população de São Rafael rememora esse fato e reconstrói a sua história por meio da oralidade, da escrita e da informática. Tendo por base a perspectiva moriniana de método como estratégia, foram realizadas visitas à cidade de São Rafael e entrevistas abertas (individuais e coletivas) com dois grupos de sujeitos: um composto por aqueles que viveram na sua antiga terra natal, e outro, por jovens que já nasceram na nova cidade. Além dos relatos desses sujeitos, foram observadas as narrativas visuais apresentadas pelas imagens, sobretudo fotográficas, disponibilizadas num perfil criado para a cidade na rede social Orkut. Também foram considerados como fontes para esse estudo os diálogos entre os rafaelenses que acessam o referido perfil. Tendo como centralidade a observação de Edgar Morin de que “o que não se regenera, degenera”, essa tese tem como argumento central a ideia de que o “orkut de São Rafael” cumpre hoje um duplo e interdependente papel: ser uma ferramenta que potencializa uma inteligência coletiva, por meio da cooperação, da troca de ideias e de reconstituição de narrativas visuais e escritas. Distante de uma concepção congelada do que seja a perspectiva histórica, defendemos a tese de que o orkut regenera, repara, reproduz, restaura, reorganiza e renova a memória e a história de uma cidade que sucumbiu à imensidão das águas de uma barragem há quase trinta anos. Palavras-chave: memória, narrativa, orkut, fotografia. ABSTRACT In the late 1970s, the semi-arid region of Rio Grande do Norte was the setting of Projeto Baixo-Açu whose highlight was the building of the dam Eng. Armando Ribeiro Gonçalves, designed to collect 2.4 billion cubic meters of water. Presumably, such an initiative would bring economic and social development for thousands of potiguares who suffered the hardships of drought. However, the dam would reach several cities in the region, reaching to cover one of them: São Rafael. As a result, the early years of the 1980s, nearby, a new town was built by DNOCS. This thesis aims to discuss how the population of São Rafael recalls this fact and reconstructs its history by speaking, writing and computing, after three decades. Based on the prospect moriniana method as a strategy, visits were made to the city of São Rafael and open interviews (individual and collective) with two groups of subjects: one composed of those who lived in their ancient homeland, and another, with young people who were born in the new city. Besides the reports of these subjects, they were observed the visual narratives presented by images, mostly photographic, available on a profile created for the city in the orkut social network. As sources for this study, they were also considered the dialogues between rafaelenses accessing the above profile. Having as a central observation by Edgar Morin about “what does not regenerate, degenerates”. This study is the central argument that the idea of orkut has performed, today, a dual and interdependent role: being a tool that promotes a collective intelligence through cooperation, exchange of ideas and reconstitution of visual and written narratives. Far from a frozen conception in a historical perspective, it has defended the thesis that orkut has regenerated, repaired, reproduced, restored, reorganized and renewed the memory and history of a city that has succumbed to the immensity of the waters of a dam for almost thirty years. Key-Words: memory, narrative, orkut, photo.
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