ebook img

Episteme - Filosofia e História das Ciências em Revista vol. 6, n. 13, 2001 PDF

178 Pages·2001·4.2 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Episteme - Filosofia e História das Ciências em Revista vol. 6, n. 13, 2001

EDITORIAL EPISTEMOLOGIAS REGIONAIS: QUAL A IMPORT´NCIA DESSAS CONTRIBUI˙(cid:213)ES? O Grupo Interdisciplinar em Filosofia e Hist(cid:243)ria da CiŒncia apresenta o nœmero 13 da Episteme com um redobrado (cid:226)nimo. No œltimo per(cid:237)odo, a revista foi inclu(cid:237)da em mais dois importantes indexadores: The philosopher(cid:146)s Index, um dos mais expressivos internacionalmente na Ærea da Filosofia, e o SciELO (cid:150) Scientific Electronic Library Online, um dos mais importantes no Brasil. AlØm disso, tivemos o retorno ao Grupo Interdisciplinar em Filosofia e Hist(cid:243)ria das CiŒncias da professora Anna Carolina Regner, ap(cid:243)s seu afastamento para desenvolver programa de p(cid:243)s-doutorado na Universidade de Stanford (EUA). O trabalho editorial nªo seria poss(cid:237)vel sem o lapidar empenho dos pareceristas. Nos nœmeros 12 e 13, tivemos a honra de contar com o esp(cid:237)rito cr(cid:237)tico e a diligŒncia dos professores e pesquisadores Aldo Mellender de Araœjo, Alfredo da Veiga Neto, Anna Carolina K. P. Regner, Daniel Sander Hoffmann, FlÆvio Edler, Jason Alfredo Carlson Gallas, L(cid:237)lian Al-Chueyr Pereira Martins, Maria Lœcia Wortmann, Nadja M. Herrmann, Roberto de Andrade Martins. A todos esses inestimÆveis colaboradores de cujo esmero devemos a qualidade da revista Episteme, gostar(cid:237)amos de deixar aqui nosso profundo reconhecimento da relev(cid:226)ncia do trabalho prestado. O que ler na Episteme 13? Este nœmero vem aquecer a import(cid:226)ncia e o entendimento das epistemologias regionais no debate contempor(cid:226)neo. Os modos de refletir que se colocam imediatos (cid:224)s disciplinas e teorias cient(cid:237)ficas sªo distintos daqueles que dizem respeito (cid:224) CiŒncia em geral. O limite entre estes dois modos nªo Ø n(cid:237)tido e o caminho que os separa Ø multidimensional. Bachelard, em seu livro A Epistemologia (Lisboa : Edi(cid:231)ıes 70, 1971, p. 27), referia-se a essa transi(cid:231)ªo reclamando aos fil(cid:243)sofos (cid:147)o direito de nos servirmos de elementos filos(cid:243)ficos separados dos sistemas em que tiveram origem(cid:148). Em seguida, reclamava dos cientistas (cid:147)o direito de desviar por um instante a ciŒncia do seu trabalho positivo para descobrir o que resta de subjetivo nos mØtodos mais severos(cid:148) (Bachelard, 1971, p. 28). A literatura que trata dessa transi(cid:231)ªo ou das diferen(cid:231)as entre esses modos de refletir nªo Ø farta. De um lado, tŒm sido distinguidas as epistemologias regionais, que abordam os problemas das disciplinas e das teorias cient(cid:237)ficas em particular. De outro, a epistemologia geral, tambØm chamada de Filosofia da CiŒncia, dependendo da tradi(cid:231)ªo em que se filia, que trata do problema do conhecimento cient(cid:237)fico, via de regra esbo(cid:231)ado em termos de uma reflexªo profunda que acaba identificando uma escola epistemol(cid:243)gica. O debate em torno das idØias das escolas tem sido, freq(cid:252)entemente, mais intenso do que o das epistemologias regionais que, Episteme, Porto Alegre, n. 13, p. 5-8, jul./dez. 2001. 5 quando muito, emergem somente quando uma teoria de uma determinada Ærea passa a servir de exemplo e ilustra(cid:231)ªo de uma reflexªo mais geral. Por isso, as epistemologias regionais nem sempre encontram espa(cid:231)o no debate das grandes escolas. De outro modo, tambØm nªo hÆ muita repercussªo na pr(cid:243)pria Ærea de conhecimento que busca refletir, pois a comunidade nªo vŒ nesse tipo de produ(cid:231)ªo algo inerente ao pr(cid:243)prio fazer cient(cid:237)fico. A import(cid:226)ncia das epistemologias regionais reside no fato de que revelam a capacidade de suas comunidades cient(cid:237)ficas em produzir uma reflexªo sobre os contextos, estratØgias, hist(cid:243)rias, institui(cid:231)ıes e prÆticas de pesquisa. Portanto, revelam a tenacidade, a organicidade e a criatividade dessa produ(cid:231)ªo. Se essa reflexªo nªo for continuada, as epistemologias regionais sªo fracas e tendem a ceder lugar ao debate mais geral. Mas, se, pelo contrÆrio, elas sªo expressivas, acabam por lan(cid:231)ar luzes tanto para as formas como a comunidade local vem desenvolvendo seus temas, como para o enriquecimento do debate mais geral, posto que calcado em exemplos locais que passam a ser tang(cid:237)veis tambØm para cientistas nªo afeitos a essa reflexªo. O conteœdo deste nœmero da Episteme traz pungentes contribui(cid:231)ıes para as epistemologias regionais e pode ser reunido em quatro grupos temÆticos. O primeiro, relacionado (cid:224)s questıes da filosofia das ciŒncias humanas, possui dois artigos e duas resenhas. O segundo, identificado com as ciŒncias da saœde. O terceiro grupo, vincado com as ciŒncias naturais e da vida, possui uma entrevista, dois artigos e uma resenha. Por fim, o quarto, Ø afeito (cid:224)s ciŒncias formais, mais especificamente, (cid:224) MatemÆtica. O grupo das ciŒncias humanas inicia-se com o instigante artigo (cid:224) Espera da CiŒncia: um mundo de fatos prØ-interpretados, escrito pelo professor Alberto Oliva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que disseca com incr(cid:237)vel propriedade a natureza do conhecimento sociol(cid:243)gico. Numa intensa abordagem sobre as vÆrias metodologias jÆ adotadas nessa Ærea, o artigo procura entender a mÆxima de PoincarØ que distinguiu a Sociologia como sendo a disciplina (cid:147)com o maior nœmero de mØtodos e o menor nœmero de resultados(cid:148). Na verdade, para buscar esse entendimento o autor lan(cid:231)ou mªo de uma urdidura que o habilitou a indagar questıes mais agu(cid:231)adas ainda: a falta de interc(cid:226)mbio cr(cid:237)tico entre as disciplinas, prevalecendo (cid:147)a idØia de que nªo hÆ como transitar pelas pronunciadas diferen(cid:231)as metodol(cid:243)gicas e substantivas exibidas pelas teorias sociais(cid:148). Para o autor, nªo Ø viÆvel uma metodologia naturalista nas CiŒncias Sociais, isto Ø, uma metodologia semelhante (cid:224)quela das CiŒncias Naturais, onde as teorias sªo testadas com dados emp(cid:237)ricos. Em ciŒncias sociais, expıe o professor Oliva, os (cid:147)dados emp(cid:237)ricos(cid:148) tambØm sªo produtos humanos, isto Ø, prØ- interpretados. Assim, uma metodologia adequada deveria dar conta de uma teoria da teoria ou a compreensªo da compreensªo. Embora essa metodologia ainda nªo exista por completo, a sua constru(cid:231)ªo poderia ajudar a elucidar a pr(cid:243)pria natureza das ciŒncias sociais, atØ hoje mergulhadas, segundo o autor, (cid:147)numa endŒmica crise de identidade epistemol(cid:243)gica(cid:148). O artigo seguinte, intitulado Do carÆter fundacional da cultura e do niilismo p(cid:243)s-moderno, escrito por Edson Fortuna, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Jur(cid:237)dicas, 6 Episteme, Porto Alegre, n. 13, p. 5-8, jul./dez. 2001. expıe sobre o advento da cultura p(cid:243)s-moderna na perspectiva da obra Ser e Tempo de Heidegger. Vale-se o autor de um texto muito fluente que acaba por mergulhar o leitor nos diferentes significados da cultura humana no devir hist(cid:243)rico. Os grandes cenÆrios que Edson cinzelou servem para abrigar os profundos dilemas existenciais do homem, e sua estrutura(cid:231)ªo identifica Øpocas contrastantes, como as da cultura- tradi(cid:231)ªo e da cultura-moderna. A compara(cid:231)ªo desses megacenÆrios fundacionais serve como modelo para real(cid:231)ar o abismo profundo, segundo o autor, que aquelas culturas guardam com a cultura-p(cid:243)s-moderna, onde (cid:147)cada vez mais, sem limites aparentes, o mundo Ø um produto do homem(cid:148). Dessa maneira, o autor delineia uma contemporaneidade destitu(cid:237)da do ser, onde o foco de preocupa(cid:231)ªo Ø apenas as coisas. Essas, (cid:147)nªo servem de medida absoluta de nada(cid:148). AlØm dos artigos, sªo apresentadas duas resenhas. Uma delas, escrita pela professora Russel Teresinha Dutra da Rosa, versa sobre o livro Estudos culturais da CiŒncia e educa(cid:231)ªo, de autoria dos professores Maria Lœcia Castagna Wortmann e Alfredo da Veiga-Neto.Essa obra traz uma important(cid:237)ssima s(cid:237)ntese das pesquisas no campo dos estudos culturais da ciŒncia desenvolvidas no Grupo de Estudos em Educa(cid:231)ªo e CiŒncia como Cultura, da UFRGS. Outra resenha, escrita por Divaneide Lira Lima Paixªo e Ondina Pena Pereira, pesquisadora e professora do Programa de P(cid:243)-Gradua(cid:231)ªo em Psicologia da Universidade Cat(cid:243)lica de Bras(cid:237)lia, apresenta a obra Alegria: a for(cid:231)a maior, escrita pelo fil(cid:243)sofo francŒs ClØment Rosset, que foi publicada em homenagem ao centenÆrio da morte de Friedrich Nietzsche. O segundo bloco, das ciŒncias da saœde, aborda um tema fulcral para o advento da expansªo da espØcie humana no planeta: a hist(cid:243)ria da higiene pœblica. A autora, a professora Sandra Caponi, do Departamento de Saœde Pœblica da Universidade Federal de Santa Catarina, reconstruiu os embates dos higienistas do sØculo XIX em termos de uma magn(cid:237)fica trama, capaz de prender o leitor do in(cid:237)cio ao fim. A hip(cid:243)tese que guia a contundente anÆlise Ø a de que embora o discurso higienista tenha vencido, a prÆtica infeccionista nªo foi abolida prontamente. Portanto, houve uma alian(cid:231)a entre rivais que seria inimaginÆvel se nªo fossem contrastadas as controvØrsias cient(cid:237)ficas com as prÆticas. Trazendo as principais fontes do debate higienista do sØculo XIX, a autora nªo apenas recoloca as questıes hist(cid:243)ricas, mas traz um exemplo dramÆtico da tensªo existente entre discursos teorØticos e prÆticas cient(cid:237)ficas. O terceiro bloco, das ciŒncias da natureza, remete para um assunto sempre por demais estimulante: a evolu(cid:231)ªo da vida. Nesse caso, os autores, Mar(cid:237)a Gabriela MÆngano, do Instituto Superior de Correlaci(cid:243)n Geol(cid:243)gica (Argentina), e Luis Alberto Buatois, do Instituto de Epistemologia da Universidad Nacional de TucumÆn (Argentina), imergem no abismo do tempo profundo para considerar um E(cid:243)n do tempo geol(cid:243)gico pouco usual nas teorias da evolu(cid:231)ªo: o Arqueano. Esse E(cid:243)n abrange o intervalo de 2,5 Ga (Giga annun) atØ 1,8 Ga, e nos remete para um passado que na escala humana se apresentaria como intemporal, m(cid:237)tico, nªo fosse a matriz conceitual fornecida pela Geologia e Paleontologia. As formas de vida, in illo tempore, eram muito poucas, embora a quantidade de espØcimes fosse grande. Ao comparar paleoecologicamente Episteme, Porto Alegre, n. 13, p. 5-8, jul./dez. 2001. 7 as formas de vida e os respectivos ambientes atravØs dos diversos per(cid:237)odos do vast(cid:237)ssimo tempo geol(cid:243)gico, os autores vªo revelando a existŒncia de padrıes evolutivos muito diferentes, o que os leva a concluir que houve uma evolu(cid:231)ªo da evolu(cid:231)ªo. Assim, teorias evolutivas que queiram dar conta de Øpocas muito ancestrais, tambØm deveriam mudar padrıes epistemol(cid:243)gicos de anÆlise, pois, nesse caso, nªo se colocam as teses do uniformitarismo clÆssico, freq(cid:252)entemente sintetizado pelo pressuposto de que o presente Ø a chave do passado. No caso, nªo hÆ semelhan(cid:231)as dos ecossistemas primordiais do remot(cid:237)ssimo Arqueano com os atuais. Uma abrangente entrevista com o renomado professor Bernd-Olaf K(cid:252)ppers, que nos visitou por ocasiªo do simp(cid:243)sio internacional Novos rumos da ciŒncia: auto- organiza(cid:231)ªo e sistemas biol(cid:243)gicos complexos, preparada com esmero por Daniel Sander Hoffmann, do GIFHC, mostra porque o professor Ø um dos grandes expoentes na Ærea da pesquisa de teorias de auto-organiza(cid:231)ªo molecular, entre muitas outras. AlØm disso, uma apurad(cid:237)ssima resenha escrita por Daniel Hoffmann sobre o livro de Robert Rosen, Essays on life itself, tambØm faz parte desse bloco. Esses dois textos colocam o leitor a par das empolgantes respostas sobre o que Ø a vida e como alguns pesquisadores da biologia contempor(cid:226)nea tŒm sido capazes de aliar profundidade te(cid:243)rica num contexto de desenvolvimento de tecnologias industriais. O artigo seguinte deste bloco aborda o papel e a import(cid:226)ncia na ciŒncia da Argentina do fundador do Museu Pœblico de Buenos Aires, o paleont(cid:243)logo naturalista Karl Hermann Conrad Burmeister (1807-1892) a partir de seu livro Historia de la Creaci(cid:243)n, publicado em 1843. Seus autores, os professores Leonardo Salgado e Pedro Navarro Floria, da Universidad del Comahue (Argentina), buscam desvendar o universo filos(cid:243)fico e cient(cid:237)fico daquele cientista pioneiro e ir alØm do clichŒ de antidarwinista que usualmente a ele vinha sendo atribu(cid:237)do. Para tanto, os autores apresentam a obra em detalhes e procuram revelar ao leitor o grande leque de idØias de Karl Hermann Burmeister sobre a natureza e a evolu(cid:231)ªo da vida. O quarto bloco, das ciŒncias formais, apresenta um artigo com uma abrangente, prof(cid:237)cua e instigante anÆlise sobre a contribui(cid:231)ªo de um dos mais influentes fil(cid:243)sofos da ciŒncia do sØculo XX, Imre Lakatos, na Filosofia da MatemÆtica. O autor, o professor Jorge Alberto Molina, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e da Universidade de Caxias do Sul (UCS), mostra como Lakatos pode apresentar uma visªo da Filosofia da MatemÆtica que, ao utilizar-se da hist(cid:243)ria dessa ciŒncia para construir a sua reflexªo, mudou os c(cid:226)nones ortodoxos da Øpoca. O artigo mostra como Lakatos pode derrubar o mito que postulava existir uma fronteira n(cid:237)tida entre ciŒncias naturais e formais. AlØm disso, o professor Molina disseca o papel da formula(cid:231)ªo de Lakatos sobre o mØtodo de anÆlise e s(cid:237)ntese utilizado na Geometria e, tambØm, na CiŒncia. E, ainda com muito f(cid:244)lego, o autor examina como Lakatos tornou poss(cid:237)vel o uso do mØtodo de provas e refuta(cid:231)ıes na MatemÆtica. Essas consistentes anÆlises acabam por dar suporte (cid:224) tese do professor Molina acerca do lugar de Lakatos dentro da Filosofia da MatamÆtica: (cid:147)Ø singular(cid:148). Rualdo Menegat, Editor da revista Episteme. 8 Episteme, Porto Alegre, n. 13, p. 5-8, jul./dez. 2001.

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.