d e z ri o h ut EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE 1 A e r u s o cl s Di c bli u P d e z ri o h ut A e r u s o cl s Di c bli u P d e z ri o h ut A e r u s o cl s Di c bli u P d e z ri o h ut A e r u os Emprego e Crescimento cl s Di c bli u P A Agenda da Produtividade 2 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE Emprego e Crescimento: a Agenda da Produtividade EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE 3 PREFÁCIO O Brasil adentra o ano eleitoral de 2018 com uma economia que se recupera gradualmente da mais profunda recessão em sua história econômica recente. No entanto, para muitos brasileiros, essa recuperação ainda não se materializou em mais e melhores empregos ou rendimentos mais elevados. O motivo por trás deste relatório foi a necessidade de entender os possíveis fatores que impulsionarão o crescimento da renda e do emprego no futuro. Sua principal conclusão: o Brasil precisa melhorar drasticamente o seu desempenho em termos de produtividade, para que o país aumente a renda de forma duradoura e ofereça empregos melhores para os seus cidadãos. Essa questão ganha ainda mais importância porque o Brasil é um país que está envelhecendo rapidamente, e o impulso de que o país desfrutou graças à sua força de trabalho jovem e crescente nas últimas três décadas irá desaparecer em alguns anos. Produtividade é a medida do grau de eficiência de uma empresa, indústria ou país ao utilizar seus ativos já existentes. O Brasil possui recursos naturais abundantes e uma força de trabalho cada vez mais capacitada, bem como empresas de ponta em setores como o agronegócio, aeronáutica, têxtil e extração de petróleo, entre outros. No entanto, no agregado, o país faz mal-uso de seus ativos. Conforme documentado no relatório, se o país usasse seus ativos com o mesmo nível de produtividade que os Estados Unidos da América (EUA), a renda per capita do Brasil aumentaria 2,7 vezes. Diferentemente do que muitos dizem, isso não é porque o Brasil se especialize em atividades erradas. Ocorre que o país é ineficiente na grande maioria das atividades que realiza. Se o Brasil adotasse a mesma estrutura de produção que os EUA, aumentaria a produtividade em apenas 68 porcento; se todas as indústrias brasileiras funcionassem com a mesma eficiência que suas contrapartes nos EUA, a produtividade seria aumentada em mais de quatro vezes. Este relatório analisa alguns dos fatores que podem estar por trás desse cenário de baixa produtividade no Brasil. Entre os mais importantes: (i) a falta de concorrência interna - graças a um ambiente de negócios que favorece empresas já estabelecidas no mercado e dificulta a inovação e a entrada de novas empresas - e externa, devido às altas barreiras tarifárias e não- tarifárias ao comércio; (ii) políticas públicas que se concentram em subsídios a empresas já existentes e distorcem os mercados de capital e trabalho, em vez de fomentar a concorrência e a inovação; e (iii) a fragmentação dos órgãos de governo dedicados ao apoio às empresas, que possibilita que políticas continuem em vigor mesmo quando se mostram não eficazes. O relatório sugere a mudança de política em todas as três áreas, com o objetivo final de mudar a relação entre as empresas e o Estado - passando de uma relação de vantagens e privilégios para uma relação que busque nivelar o mercado, incentivando a iniciativa e apoiando trabalhadores e empresas que se ajustam às demandas do mercado. O presente relatório enquadra-se no contexto de um debate político cada vez mais amplo sobre o modelo de desenvolvimento do Brasil no futuro. Poucos pesquisadores fizeram contribuições mais importantes para este debate que Regis Bonelli - que, infelizmente, faleceu algumas semanas antes da publicação deste Relatório. Regis foi um economista prodigioso, um homem profundamente patriótico e comprometido com o futuro de seu país, um colega afetuoso e generoso e, acima de tudo, um cavalheiro. Este estudo foi inspirado em conversas com o Regis, que incentivou o Relatório e teceu inúmeros comentários durante o processo de elaboração. Este Relatório é dedicado à sua memória. Martin Raiser Brasília, 7 de março de 2018 4 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE AGRADECIMENTOS O presente estudo, “Emprego e crescimento: a Agenda da Produtividade“ foi elaborado por uma equipe liderada por Mark Dutz, que inclui Vivian Amorim, Jorge Thompson Araujo, Diego Arias, Steen Byskov, Pietro Calice, Xavier Cirera, Roland Clarke, Elisio Contini, Alice Duhaut, Barbara Farinelli, Tanja Goodwin, Mariana Iootty, Somik Lall, Martha Licetti, Michael Morris, Antonio Nucifora, Pedro Olinto, Truman Packard, Rong Qian, José Guilherme Reis, Eduardo Pontual Ribeiro, José Signoret, Michael Toman, Pedro Abel Vieira e Mariana Vijil - Xavier Cirera, Antonio Nucifora e Mariana Vijil também ajudaram imensamente na compilação deste relatório. A equipe trabalhou sob a orientação e com os comentários de Marialisa Motta, Gerente da Prática Global de Finanças, Competitividade e Inovação, Rafael Munoz Moreno, Coordenador do Programa de Governança, Economia e Desenvolvimento, e Martin Raiser, Diretor do Banco Mundial para o Brasil. O relatório baseia-se em uma série de documentos analíticos de referência (ver a próxima página), bem como outros estudos realizados como parte do programa de trabalho sobre produtividade no Brasil, incluídos nas referências. Steven Pennings desenvolveu e implementou as projeções do cenário de crescimento de longo prazo, com o apoio de Fabiano Colbano. Somos especialmente gratos a Paulo Correa, Claudio Frischtak, Mary Hallward-Driemeier e Frank Sader, que contribuíram com orientações e conselhos muito úteis ao relatório. A equipe também agradece a Paulo Bastos, João Bevilaqua Teixeira Basto, Marcio Cruz, Mona Haddad, Danny Leipziger, Frederico Pedroso, Joana Silva e Robert Willig, por suas valiosas sugestões. O relatório se beneficiou de discussões de grande valia com funcionários do governo brasileiro, incluindo Mansueto Facundo de Almeida, Marcello Estevão, Marcos Mendes, João Manoel Pinho de Mello e Pedro Cahlman, do Ministério da Fazenda (MF), Jorge Arbache, do Ministério do Planejamento (MPOG), Igor Calvet, Lorena Coutinho, Andrea Macera, Abrão Neto e Marcos Vinícius de Souza, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Marcelo dos Guaranys, Fabiana Rodopoulos e Marcelo Souza (Casa Civil), Carlos Pio e Eduardo Leoni da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e Carlos da Costa e Fabio Giambiagi (BNDES). O relatório também contou com o feedback valioso de pesquisadores de universidades, think tanks e associações, incluindo Regis Bonelli, Armando Castelar Pinheiro e Fernando Veloso (FGV-IBRE), Marcos Lisboa, Marco Bonomo, Sergio Firpo, Sergio Lazzarini e Naércio Menezes Filho (INSPER), José Márcio Camargo (PUC-Rio), Nelson de Chueri Karam e Clóvis Scherer (DIEESE), Bruno Araújo, Lucas Mation, Fernanda de Negri, Joao de Negri e André Rauen (IPEA), Bernard Appy (CCiF), Sandra Polónia Rios e Pedro da Motta Veiga (CINDES), Bernard Appy (CCiF), José Augusto Fernandes e Renato da Fonseca (CNI) e Renato Lima de Oliveira, Elisabeth Reynolds, Ben Ross Schneider e Timothy Sturgeon (MIT-IPC). O time agradece as sugestões dos participantes da sessão especial de produtividade organizada durante a 39ª reunião da Sociedade Brasileira de Econometria (SBE), na cidade de Natal, em Dezembro de 2017. Fabio Bittar fez valiosas contribuições durante a elaboração final do relatório. Andrea Patton, Monica Porcidônio e Flávia Nahmias contribuíram com apoio administrativo e logístico excepcional ao longo de todo o processo de execução desta tarefa. Juliana Braga, Mariana Ceratti, Elisa Diniz, Yanny Rocha e Carlos Vasconcellos prestaram excelente apoio em matéria de comunicação. Leonardo Padovani traduziu o Relatório para o português e Fabiola Vasconcelos revisou cuidadosamente a tradução. Para ilustrar os pontos dos capítulos 2 a 6 do relatório, a equipe do Banco Mundial selecionou uma série de vinhetas da vida real, que aparecem no início de cada capítulo. Essas vinhetas foram pesquisadas e produzidas por Carlos Vasconcellos, cuja assistência é reconhecida com gratidão. EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE 5 Documentos Analíticos de Referência Elaborados para este Relatório “A Dinâmica de Produtividade no Brasil”, Rong Qian, Jorge Thompson Araújo e Antonio Nucifora “A Agenda de Globalização e Integração dos Mercados de Produção do Brasil”, José Guilherme Reis, Mariana Iootty, José Signoret, Tanja Goodwin, Martha Licetti, Alice Duhaut e Somik Lall “O Crescimento da Produtividade da Agricultura no Brasil: Tendências Recentes e Perspectivas Futuras “, Diego Arias, Pedro Abel Vieira, Elisio Contini, Barbara Farinelli e Michael Morris “Alocação Financeira Eficiente e o Crescimento da Produtividade no Brasil”, Pietro Calice, Steen Byskov e Eduardo Pontual Ribeiro “Competências, Mercados de Trabalho e Produtividade no Brasil”, Truman Packard “Produtividade, Concorrência e Prosperidade Compartilhada”, Mariana Vijil, Vivian Amorim, Mark Dutz e Pedro Olinto “Novos Arranjos Institucionais para Novas Políticas no Brasil”, Roland Clarke Vale ressaltar que essas são versões preliminares dos documentos, disponibilizadas para documentar a análise que fundamentou as principais conclusões deste estudo e suscitar comentários e sugestões para melhorias futuras. As versões finais serão disponibilizadas em data posterior, depois de um trabalho adicional por parte dos autores - e dos ajustes decorrentes do feedback recebido nesse ínterim. 6 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE “O progresso amplamente compartilhado é possível com políticas projetadas especificamente para beneficiar os consumidores e os trabalhadores. Elas devem buscar formas de incentivar a concorrência e desestimular a busca por privilégios especiais. Com as políticas certas, a democracia capitalista pode trazer mais benefícios para todos, não apenas os ricos. Precisamos usar a concorrência - e todo a seu poder - em benefício das classes média e trabalhadora.” Angus S. Deaton, dezembro de 2017 “Os pequenos países nórdicos... sabiam... da necessidade de permanecer abertos. Mas também sabiam que a abertura deixaria os trabalhadores expostos ao risco. Portanto, precisaram lançar mão de um contrato social para auxiliar na transição dos trabalhadores para novos empregos e ajudá-los de alguma forma nesse ínterim... Os países sabiam que se a globalização não fosse vista como algo benéfico pela maioria dos trabalhadores, ela não seria sustentada. E os ricos desses países reconheceram que, se a globalização funcionasse como deveria, haveria benefícios suficientes para todos.... Essas histórias de sucesso podem nos ensinar o que fazer; já os erros do passado nos ensinam o que evitar.” Joseph E. Stiglitz, dezembro de 2017 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE 7 1 Introdução: O imperativo da produtividade no Brasil O Brasil merece um A falta de convergência dos padrões de vida está associada a um histórico deficiente crescimento mais no crescimento da produtividade. Hoje, sustentável e inclusivo um trabalhador médio no Brasil é apenas cerca de 17 por cento mais produtivo do que há 20 Os brasileiros têm a aspiração legítima anos, enquanto o aumento entre trabalhadores médios em países de alta renda foi de 34 por de elevar seus padrões de vida ao nível cento. O crescimento da produtividade é um dos países de alta renda. No entanto, há fator crítico para o desenvolvimento em todos várias décadas o país está preso no patamar da os países (Quadro 1.1). O desempenho do Brasil, renda média, incapaz de fazer a convergência. O nesse sentido, deixa a desejar: a produtividade Brasil passou por várias das mudanças estruturais do trabalho vem aumentando em cerca de 0,7% associadas ao rápido crescimento e à convergência ao ano desde meados da década de 1990, e o em direção a economias de alta renda. Elas incluem crescimento da produtividade total dos fatores transformações no setor agrícola, a contínua (PTF) está em declínio (ver Capítulo 2). Vale notar urbanização, investimentos expressivos em que, desde o início dos anos 2000, o Brasil tem educação - com algumas melhorias na qualidade do passado por um aumento significativo da renda per capital humano do país - e o bônus demográfico, capita e notável redução da pobreza. No entanto, é com a entrada dos baby boomers da década de improvável que os fatores por trás dessas melhorias 1970 e 1980 no mercado de trabalho brasileiro. Em se sustentem. É importante ressaltar que o aumento comparação aos EUA, no entanto, os brasileiros de da renda no Brasil se baseou, predominantemente, hoje não estão em situação melhor que há uma no aumento da taxa de emprego, visto que um geração: a renda per capita brasileira em termos de grande contingente de jovens entrou no mercado paridade de poder de compra (PPC) permanece em de trabalho pela primeira vez. Com o rápido torno de 25% dos níveis dos EUA (Figura 1.1). envelhecimento da população, essa fonte de crescimento deve se esgotar em breve. Além disso, Figura 1,1. PIB per capita em termos de porcentagem dos EUA: Brasil e pares selecionados, PPC, 1990-2016 os altos preços das commodities e políticas fiscais mais frouxas acabaram fomentando um modelo de crescimento baseado no consumo nos anos 2000, causando um rápido aumento da taxa de emprego. Nos últimos cinco anos, no entanto, esses fatores se inverteram e o Brasil afundou em sua pior recessão em mais de um século. Nem os preços das commodities nem os gastos do governo podem ser fontes sustentáveis de crescimento a longo prazo. Finalmente, o crescimento resultante de investimentos continuará limitado pelos baixos níveis de poupança interna. Fonte: WDI 8 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE Quadro 1.1 O que é a produtividade materiais e serviços, e algumas medidas de capital e qual é a sua importância? intangível). A PTF, portanto, representa a eficiência com a qual todos os insumos serão combinados no processo produtivo. A evolução da PTF pode A produtividade é um indicador de eficiência ser encarada como uma medida econômica do técnica que demonstra como as empresas, progresso técnico. O crescimento da PTF decorre da indústrias (grupos de empresas no mesmo realocação (deslocamento de recursos de empresas mercado de produtos), setores (grupos de menos eficientes para empresas mais eficientes indústrias) ou o país transforma insumos medidos dentro da mesma indústria ou entre indústrias e na produção de bens e serviços. As duas medidas de produtividade mais comuns são: a setores diferentes) ou da inovação. A inovação produtividade do trabalho (PT) e a produtividade pode incluir o desenvolvimento de produtos e total dos fatores (PTF). Embora esses dois conceitos tecnologias completamente novas e a adoção e sejam relacionados, eles são, de fato, distintos. adaptação de tecnologias existentes.(*) No longo prazo, a eficiência no uso de todos os insumos A PT captura o valor dos produtos (outputs) disponíveis no país será o principal determinante das produzidos (ou com o valor agregado), diferenças entre as taxas de crescimento econômico dividido pelo número de trabalhadores. Trata-se, e os níveis de renda resultantes.(**) portanto, da medida da quantidade de riqueza gerada por cada trabalhador. Ela é determinada Embora as duas medidas de produtividade pela quantidade de capital e de outros insumos costumem ter alta correlação - visto que os não relacionados ao trabalho disponíveis para ganhos de eficiência decorrentes da PTF deixam os trabalhadores, bem como pela eficiência do o trabalho mais produtivo - essa correlação uso de tais insumos. A citação de Paul Krugman, desaparece quando os ganhos da PT resultam economista vencedor do Prêmio Nobel, é notória: do acúmulo de capital, e não da PTF. “A produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. A capacidade de um país de melhorar A medição precisa da produtividade é uma tarefa seu padrão de vida ao longo do tempo depende complexa. Por exemplo, a derivação da PTF como quase inteiramente de sua capacidade de aumentar residual de uma função de produção produzirá sua produção por trabalhador.” (Krugman, 1994). estimativas precisas somente se os preços dos Depreende-se que a evolução da produtividade produtos e dos fatores refletirem adequadamente do trabalho é fundamental para entendermos a os custos marginais e a produtividade marginal dos melhoria do padrão de vida ao longo do tempo. fatores. Caso contrário, o efeito das distorções de preços - decorrentes do poder de mercado ou de A PTF é derivada como residual do produto, intervenções do governo - pode ser mal interpretado depois de contabilizado o impacto de todos os como uma mudança no grau de eficiência. Outra insumos medidos - especificamente, o trabalho dificuldade frequente está associada à medição (fomentado pela qualidade do capital humano) e precisa da qualidade do produto e dos fatores o capital (incluindo capital físico - como máquinas, de produção. Essas questões relativas à medição computadores e edificações, além de energia, precisam ser levadas em conta na discussão a seguir. Notas: (*) Ver Cirera e Maloney (2017). Os benefícios da inovação e o crescimento decorrente na produtividade vão muito além da renda: Lichtenberg (2014) menciona o impacto de pesquisas farmacológicas realizadas no exterior na expectativa de vida. Portanto, a capacidade de transferir e adaptar avanços em matéria de saúde realizados em outras localidades, com níveis modestos de inovação, provavelmente trará grandes retornos sociais para os países que os adotarem. (**) Evidências de diversos países confirmam que a PTF é o principal fator por trás das diferenças de renda entre os países e do aumento sustentável da renda per capita (Easterly e Levine, 2001; Caselli, 2016). EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE 9 A baixa produtividade do Brasil pode ter O crescimento da produtividade é causado frustrações no passado, mas ela fundamental para gerar empregos melhores abre um grande potencial para o futuro do e aumentar o padrão de vida das pessoas país. Essa afirmação pode ser ilustrada por meio ao reduzir preços e elevar a qualidade dos de simulação, baseada em estrutura simples de produtos consumidos. Como mostra o exemplo contabilidade do crescimento (Figura 1.2)1. do Quadro 1.2, o crescimento da produtividade gera melhorias de bem-estar por meio de salários mais Figura 1.2. A produtividade é a única opção de altos e preços mais baixos. Consideraremos esses crescimento sustentável para o Brasil dois efeitos ao longo deste relatório, ao examinarmos o impacto das políticas que visam promover o crescimento da produtividade em diversos grupos de trabalhadores e cidadãos brasileiros. Também refletiremos sobre o que pode ser feito para ajudar aqueles em risco de deslocamento pelo progresso tecnológico ou aumento da concorrência - dois elementos-chave do crescimento da produtividade analisados neste relatório. Quadro 1.2 A importância da produtividade para o padrão de vida: a Suponhamos que o crescimento da PTF no Brasil história de dois trabalhadores. continue insignificante, que a taxa de investimentos permaneça no baixo nível recente de 17 por cento No setor automobilístico, o trabalhador do PIB e que o crescimento da força de trabalho brasileiro médio precisa trabalhar mais de permaneça fixo em 1 por cento ao ano, com melhorias cinco vezes o número de horas que um na qualidade do capital humano também mantidas em trabalhador canadense médio trabalha a fim 1 por cento ao ano (ambos perto da média da última de atingir o poder de compra necessário década). O resultado é uma taxa de crescimento para adquirir um carro de tamanho médio potencial de 1,8 por cento ao ano. Considerando- (Toyota Corolla). Esse exemplo simples ilustra se o declínio do crescimento da força de trabalho projetado para zero até 2035 e -0,7 por cento até o conceito de produtividade. Quando os 2050, o crescimento potencial deve baixar para trabalhadores produzem mais a cada dia 1,2 por cento e 0,7 por cento, respectivamente. Na de trabalho - ou levam menos tempo para hipótese de um aumento na taxa de investimento para realizar as mesmas tarefas - a empresa fica 21,5 por cento do PIB - o nível observado na década mais competitiva. Isso é importante porque de 1970 - o crescimento potencial aumentaria para 2,5 a empresa poderá baixar os preços, vender por cento na próxima década, mas ficaria abaixo de mais produtos e contratar mais trabalhadores, 1 por cento a longo prazo, devido aos rendimentos e, com o tempo, pagar salários mais altos. decrescentes do capital. Por outro lado, o aumento do O mesmo trabalhador canadense no setor crescimento da PTF para 2,5 por cento ao ano - taxa automobilístico ganha, em média, mais de observada no Brasil nas décadas de 1960 e 1970 - elevaria permanentemente o potencial de crescimento do país para 4,4 por cento, mesmo sem aumento nos investimentos. Obviamente, os ganhos para o potencial crescimento do Brasil seriam ainda maiores se as taxas 1 A estrutura é baseada em uma simples função de produção de Cobb Douglas, calibrada domésticas de poupança e de investimento também com as médias históricas recentes do Brasil, com uma participação do trabalho no produto de 0,56 e uma relação capital-produto de 3,5. Dados provenientes das Penn aumentassem paralelamente à produtividade. World Tables e do banco de dados do FAD do FMI. 10 EMPREGO E CRESCIMENTO: A AGENDA DA PRODUTIVIDADE em constante mutação. Até o momento, a redução US$ 19,00 por hora; no Brasil, seu colega desses custos - por meio de reformas transversais ganha pouco mais de US$ 6,00. Porém, a financeiras, fiscais e administrativas e do aumento produção na fábrica canadense é maior e dos investimentos em infraestrutura - tem sido mais eficiente, e, em termos de produção difícil. Em vez disso, o governo recorreu a uma por trabalhador, a fábrica brasileira é mais série de intervenções no funcionamento dos cara. Para compensar essa diferença - mais mercados de produdos, financeiro e de trabalho os custos de infraestrutura e impostos, os para compensar os custos elevados - medidas que, markups decorrentes da falta de concorrência possivelmente, reduziram ainda mais a concorrência. e outros elementos do Custo Brasil - um Foram introduzidas barreiras onerosas à importação, Toyota Corolla vendido no Brasil custa 75 requisitos de conteúdo local, alíquotas diferenciadas por cento a mais do que no Canadá.2 Os e isenções fiscais, subsídios de crédito e outras salários mais altos e os preços mais baixos medidas para beneficiar indústrias específicas, deixam os trabalhadores canadenses do setor regiões e, muitas vezes, empresas particulares (os automobilístico em situação mais vantajosa. chamados “campeões nacionais”). Esses benefícios pouco fizeram para estimular a produtividade nos setores ou empresas que os receberam. Em vez disso, acabaram distorcendo o mercado, desestimulando a Reformulação de entrada de novos participantes e gerando incentivos políticas para aumentar para que as empresas já estabelecidas buscassem apoio do governo. Como resultado, os recursos no a produtividade Brasil são mal alocados, o crescimento do emprego e da renda está enfraquecido e os consumidores pagam No cerne da produtividade baixa e preços elevados por produtos de baixa qualidade.3 estagnada do Brasil existe um sistema econômico que desincentiva a concorrência Esse fenômeno não é recente; ele remonta, e estimula a ineficiência e a alocação de modo geral, à adoção de políticas inadequada de recursos. As empresas brasileiras de industrialização da década de 1930, operam em um ambiente de custos elevados. Esses baseadas na substituição de importações. custos elevados, frequentemente chamados de Muitos defendem o modelo de desenvolvimento Custo Brasil, são resultado de mercados financeiros liderado pelo Estado brasileiro, que levou ineficientes e taxas de juros altas, um sistema ao rápido crescimento observado durante o de impostos demasiadamente complexo e meio século após a introdução da política de oneroso, uma infraestrutura nacional inadequada, substituição de importações. No entanto, a fase um conjunto extenso de regras administrativas e inicial de crescimento para compensar o atraso outros desafios inerentes a operações em um país no Brasil acabou gerando grandes desequilíbrios federativo com uma miríade de regras distintas e macroeconômicos, e caracterizou-se pelo aumento 2 Um Toyota Corolla produzido no Brasil era vendido por cerca de US$ 22.000 em junho de 2016, o valor mais alto entre todos os países que produzem esse modelo em volumes consideráveis (exceto a Tailândia, onde os preços são elevados em razão de um sistema agressivo de impostos que favorece as caminhonetes estilo “pick-up” para exportação e os carros de pequeno porte para o mercado interno). O mesmo Corolla é vendido por apenas US$ 12.500 no Canadá. Um elemento de produtividade que afeta a indústria automobilística são as economias de escala. O Corolla canadense tem o benefício de ser produzido em uma fábrica cuja produção anual é de 549 mil unidades e grandes volume de exportação; já o Corolla brasileiro vem de uma fábrica com produção anual de 176 mil unidades (Sturgeon et al., 2017). Em 2015, os trabalhadores do setor automobilístico no Canadá ganhavam US$ 19,13 por hora, em comparação a US$ 6,17 por hora no Brasil (com base em dados da Wards Auto e do Boston Consulting Group, publicados no Wall Street Journal em 14 de agosto de 2016). Portanto, o trabalhador canadense médio precisa trabalhar cerca de 650 horas para receber o valor equivalente a um Toyota; já o trabalhador brasileiro médio precisa trabalhar aproximadamente 3.500 horas - mais de 5 vezes o número de horas de seus pares canadenses. 3 Os problemas associados aos subsídios concedidos a empresas menos eficientes, que desaceleram o ritmo de realocação (cuja definição ampla inclui entradas e saídas) e desestimulam a inovação tanto entre empresas novas quanto entre as já estabelecidas não acontecem especificamente no Brasil, mas são mais agudos nesse país. Foster et al. (2001, 2006) revelam que a realocação representa cerca de 50% do aumento da produtividade na manufatura e 90% no varejo dos EUA. Diversos artigos mostram como as variações na realocação entre países ajudam a explicar as diferenças nos níveis de produtividade (PTF) e no crescimento - veja, por exemplo, Hsieh e Klenow (2009, 2014), Bartelsman et al. (2013), Syverson (2011) e Restuccia e Rogerson (2017). Acemoglu et al. (2017) demonstram que políticas de melhorias voltadas para a realocação e a inovação podem levar a aumentos significativos da taxa de crescimento anual e do bem-estar, mesmo nos EUA.
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