ebook img

Edgar Allan Poe e Mário de Sá-Carneiro PDF

80 Pages·2016·0.86 MB·Portuguese
by  
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Edgar Allan Poe e Mário de Sá-Carneiro

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Oscar Andrade Lourenção Nestarez Edgar Allan Poe e Mário de Sá-Carneiro: os fantasmas e a criação literária do fantástico MESTRADO EM LITERATURA E CRÍTICA LITERÁRIA SÃO PAULO 2016 OSCAR ANDRADE LOURENÇÃO NESTAREZ Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Literatura e Crítica Literária, sob a orientação da Prof.(a), Dr.(a) Maria Rosa Duarte de Oliveira. São Paulo 2016 Banca Examinadora __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ Para Priscila E seus olhos de intermédio Luz da rua dos mistérios Cujo sentido é a vida. Agradecimentos Agradeço primeiramente – e com afeto especial – à professora Maria Rosa Duarte de Oliveira. Os motivos são inúmeros: a paciência, a disponibilidade, a generosidade, os alumbramentos poéticos e, sobretudo, a parceria. Embora, em dado momento, a tarefa desta pesquisa tenha se afigurado muito maior do que a imaginada, jamais considerei retroceder, pois estava em companhia segura. E ainda que por vezes o horizonte se enevoasse, um Norte sempre acabou por aparecer. Agradeço também à Priscila Hamaue pelo amor, traduzido em apoio, conselhos, sugestões e sobretudo na paciente revisão – imprescindível para a conclusão deste trabalho. E à minha família, pelo amor e pelo incentivo expresso em gestos que aqui não caberiam, de tantos que são. Agradeço às professoras da banca examinadora, Dra. Karin Volobuef e Dra. Vera Bastazin: à primeira, pela disponibilidade e gentileza com que aceitou nosso convite; à segunda, pelos mesmos motivos, e também pela atenção dedicada a este trabalho ao longo da disciplina de projeto de pesquisa. E a ambas, pela paciência e pelo zelo com que avaliaram o trabalho, contribuindo com sugestões que o enriqueceram e aprimoraram. Agradecimentos são indispensáveis também às professoras, aos professores e aos colegas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, pela troca de ideias e pelo estímulo entusiasmado que sempre recebi para seguir adiante. E à querida Ana Albertina , pela simpatia com que invariavelmente acolheu demandas, por mais urgentes (e desesperadas) que fossem. E, enfim, à CAPES, pelo apoio à pesquisa. Resumo A dissertação desenvolve uma reflexão sobre o modo do fantástico na literatura à luz de uma operação basilar do processo cognitivo-imaginativo, advinda do pensamento clássico de Aristóteles: os fantasmas produzidos pela imaginação. A investigação se dá por meio da leitura comparativa entre duas narrativas – “Ligéia”(1838), de Edgar Allan Poe e “A Grande Sombra” (1915), de Mário de Sá-Carneiro -, tendo por suportes teóricos os estudos de Remo Ceserani (O fantástico, 1996), Irène Bessière, (Le récit fantastique – la poétique de l’incertain,1974) e Giorgio Agamben (Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental, 1977), além das reflexões críticas de Edgar Allan Poe sobre os vínculos entre os fantasmas imaginários e a criação poética em “A filosofia da composição” (1845), “The poetic principle” (1850) e “Marginália” (1849). Indaga-se como, a partir das diferenças entre ambas as narrativas – seja pela distância temporal, seja pelas marcas do fantástico, mais visíveis em uma (“Ligéia”) do que em outra (“A Grande Sombra”) –, a raiz do “modo” literário do fantástico poderia se inscrever nos fantasmas imaginativos produzidos em nível de enredo e, mais especificamente, no de enunciação. A hipótese é a de que tanto “Ligéia” quanto “A Grande Sombra” apontam para a criação de fantasmas pela faculdade imaginativa como a responsável pelos efeitos estéticos do fantástico. Isso se dá por meio da singularidade de um processo enunciativo fundamental: “aparições” espectrais, tanto em nível de enredo quanto no das múltiplas visões do narrador e no do discurso poético-fantasmático, marcado pela crise da representação de referentes em ausência. A análise comparativa revela que a relação fantasma-fantástico se manifesta em ambos os textos, porém com “pesos” distintos: em “Ligéia”, dominam os operadores do modo fantástico – espectros, duplos, projeções entre luz e sombra, ambientação e terror propiciados pelo gótico – e, sob esse plano, subjaz o do discurso fantasmático do narrador-autor na sua “corrente subjacente de sentido”. Em ‘A Grande Sombra”, é o discurso sensacionista-fantasmático do diário de um narrador-autor que sobressai, deixando em segundo plano o enredo e sua ambientação fantasmagórica. Palavras-chave: fantástico; fantasma; imaginação; Edgar Allan Poe; Mário de Sá-Carneiro. Abstract This dissertation proposes a reflection about the fantastic mode in literature in the light of a fundamental operation of the cognitive process: the phantasms produced by the imagination. The investigation occurs through a comparative reading between two narratives – Edgar Allan Poe’s “Ligeia” (1838) and Mário de Sá-Carneiro’s “The Great Shadow” (1915) –, having by theorical support the studies from Remo Ceserani (The Fantastic, 1996), Irène Bessière (Le récit fantastique – la poétique de l’incertain, 1974) and Giorgio Agamben (Stanzas: word and phantasm in western culture, 1977), as well as Poe’s critical reflections found in “The philosophy of composition” (1845), “The poetic principle” (1850) and “Marginalia” (1849) about the links between imaginary phantasms and poetical creation. Taking into consideration the significative diferences between the two texts – either by the temporal distance or by the fantastic characteristics (more notable in “Ligeia”) –, this project asks how the root of the fantastic mode in literature can relate with the imaginative phantasms produced in terms of plot and, more specifically, enunciation. The hypothesis is that both “Ligeia” and “The Great Shadow” point to the creation of phantasms by the imaginative faculty as the responsable for the effects of the fantastic. This happens though the singularity of a central enunciative process: the spectral “apparitions” in both plot and in the multiple visions of the narrator in the poetic-phantasmatic discourse, marked by the crisis in representation. The comparative analysis reveals that the phantasm-fantastic relation manifests itself in both texts, although in different terms: in “Ligeia”, the procedures of the fantastic mode are everywhere – spectres, doubles, projections between light and shadow and terror caused by gothic ambience; and, underneath this plan, lies the narrator-author’s phantasmatic discourse. In “The Great Shadow”, on the other hand, excels the sensationist-phantasmatic narration on the form of a diary, leaving the plot and its phantasmagoric ambiance in second plan. Key-words: fantastic; phantasm; imagination, Edgar Allan Poe; Mário de Sá- Carneiro. Sumário Introdução..........................................................................................................1 1 - Modo fantástico e fantasmas: definições..................................................6 1.1 - Após Todorov: o painel de Remo Ceserani e o pensamento de Irène Bessière..........................................................................................7 1.2 - Os fantasmas produzidos pela imaginação: Giorgio Agamben e a presença de ausências......................................................................21 1.3 – A construção do imaginário: aproximações entre a teoria estética de Poe e concepções do fantástico e do fantasmático......26 2 – Phantasmata: possíveis dínamos do modo fantástico..........................33 2.1 - “Ligéia”, de Edgar Allan Poe: vontade que produz fantasmas, fantasmas que produzem fantástico...............................................................................................35 2.2 – O imaginário salvador: outras relações possíveis entre fantasmas e fantástico em “A Grande Sombra”, de Mário de Sá- Carneiro..................................................................................................51 Considerações finais.......................................................................................66 Referências.......................................................................................................69 1 Introdução O estudo do fantástico é permeado por impasses. A começar pela própria designação: trata-se de um gênero – como sempre quiseram a crítica e o mercado editorial – ou um modo operatório do literário, com seus efeitos estéticos correspondentes, que não se reduzem a generalidades? Esta é apenas uma entre incontáveis questões relacionadas ao tema – questões que se podem considerar relativamente recentes. Elas surgiram a partir do momento em que as narrativas fantásticas passaram a ocupar uma posição de maior destaque – tanto nas listas de best- sellers quanto naquelas elaboradas por críticos e instituições de ensino. Hoje, um número bastante significativo de obras contém elementos considerados fantásticos, atraindo inúmeros leitores e, por conseguinte, despertando crescente interesse de pesquisadores pelo entendimento desse fenômeno. É precisamente em meio a tal cenário que se situa esta pesquisa, desenvolvida para responder a indagações essencialmente teóricas: é possível apontar relações entre o fantástico e uma operação basilar de cognição – concebida há centenas e centenas de anos por Aristóteles –, a produção de fantasmas pela imaginação? Como se manifestam estas relações na linguagem dos textos literários? Tais indagações têm por corpus de análise duas narrativas propositalmente distantes no tempo, mas que poderiam problematizar as relações entre fantasmas imaginários e fantástico: “Ligéia”, publicada em 1838 no periódico The American Museum of Science, Literature and the Arts, por Edgar Allan Poe (1809-1849), e “A Grande Sombra”, publicada por Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) quase 80 anos depois, em 1915, na coletânea Céu em fogo. Além da distância temporal, outro fator instigou a investigação: enquanto a narrativa de Poe se enquadra na classificação de fantástica, o mesmo não ocorre com a de Sá-Carneiro. E, por esse motivo, o questionamento se desloca: seria a produção de fantasmas pela faculdade cognitivo-imaginativa o 2 ponto de união entre ambas as obras? E, se assim fosse, poderíamos pensar que a raiz do fantástico estaria na constituição dos fantasmas imaginativos – elementos fulcrais da criação literária e dos efeitos estéticos que determina? É interessante observar, ainda, como certos vestígios apontam para uma possível aproximação biográfica entre os dois autores. Cada um à sua maneira, ambos são figuras de limiar, alinhadas com a modernidade, entre dois séculos – o XIX e o XX. Poe, como se sabe, é considerado o criador dos contos policiais. A ele também é atribuída a concepção das narrativas breves nas quais o horror se mistura ao fantástico, por meio de procedimentos que até hoje são seguidos de muito perto. Tal fato é devido, em grande parte, à combinação entre tradição e modernidade encontrada em suas obras. Submetendo o gótico e o romantismo tardio a um rigoroso pensamento crítico, em que há pouco lugar para a embriaguez do coração, Poe desenvolve um projeto estético que, à época, só encontrou paralelos em figuras de proa das vanguardas francesas – sobretudo em Baudelaire. Já o poeta português Mario de Sá-Carneiro é uma figura errática no período entre o simbolismo e o modernismo. Revelando-se como um dos expoentes da vanguarda em Portugal, respondeu, ao lado do amigo Fernando Pessoa, pela criação da revista Orpheu, principal veículo dos projetos estéticos renovadores de então, como o sensacionismo. Para efeitos da análise comparativa, conforme objetivamos nesta investigação, “Ligéia” constituirá o fio condutor do corpus por concentrar em si, de forma exemplar, ambos os aspectos: o fantástico e o fantasmático- imaginário. Trata-se de um texto de teor e inspiração góticos, que tem seus princípios constitutivos na ambientação soturna, na acentuação do drama e na utilização do suspense a fim de causar o efeito de horror. “A Grande Sombra”, por sua vez, constituirá o parâmetro com o qual serão estabelecidas comparações quanto à articulação fantástico/fantasmas. Nela, o foco estará nos fantasmas criados pela imaginação exacerbada do narrador, que beira o questionamento sobre os limites da razoabilidade, bem

Description:
Luz da rua dos mistérios elas, vaga o leitor, desorientado, entre um mistério e outro. The life and the doctrines of Philippus Theophrastus,.
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.