F Roberto AI vim DRÂMÂTOS 06 TMWSUMÂNO e outros escritos seguidos de MOMO L E T R A sj V L DRAMÁTICAS DO TRANSUMANO e outros escritos seguidos de PINOKIO n^yUOiAÇnÀO NaACIONrAL tDE AeRTES NAuCHiMtfJSv.HDhUOa. Pt BGOVRERNÂO SF EDI E LR A L Ministério da Cultura £MMINOK.TlTTUJMÍAO PAÍS RICO É PAIS SEM POBREZA ste projeto foi contemplado pela FUNARTE no edital Prémio Procultura de Estímulo ao Circo, Dança e Teatro 2010 Roberto Alvim DRAMÁTICAS DOTRANSUMANO e outros escritos seguidos de PINOKIO ^letras] I ©2012 Roberto Alvim Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009 Coordenação editorial Isadora Travassos Produção editorial Cristina Parga Eduardo Sússekind Rodrigo Fontoura Sofia Soter Victoria Rabcllo CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A4831I Alvim, Roberto Dramáticas do transumano c outros escritos seguidos de Pinokio / Roberto Alvim. - Rio de Janeiro : 7Lctras, 2012. i3óp.: 24 cm isbn 978-85-7577-981-1 1. Collodi, Cario, 1826-1890. Pinocchio - Crítica e interpretação. 2. Teatro. 3. Teatro - História e crítica. I. Título. 12-4393- cdd: 792 CDU: 792 l 2012 Viveiros de Castro Editora Ltda. Rua Visconde de Pirajá, 580/sl. 320 | Ipanema Rio de Janeiro - rj - cep 22410-902 Tel. (21) 2540-0076 [email protected] | www.7letras.c0m.br SUMÁRIO Autorretrato 9 Dramáticas do transumano 13 Dramáticas do transumano parte 11 23 Dramáticas do transumano parte m 32 Outros escritos 60 Post scriptum 73 A conquista da singularidade 89 O desastre na escuridão 94 Novas mitologias 107 Pinokio 109 Crítica do espetáculo Pinokio 131 AUTORRETRATO Comecei no teatro como ator (e estive em uma série de espetáculos), mas logo fui pra direção. Dirijo peças desde os 18 anos (completo 20 anos como diretor profissional em 2012); em meus primeiros anos de atividade, encenei A. Strind- berg, Boris Vian, J. Prevert, E Kafka, Nelson Rodrigues, o Marquês de Sade, H. Pinter, G. Buchner, W. Gombrowicz, textos inspirados em J. Lacan e na obra de Jean-Luc Godard, R. W. Fassbinder, J. Baudrillard, entre outros grandes drama turgos (e romancistas e filósofos, que eu adaptava eventualmente). Até que, em dado momento, passei a ter dificuldades em encontrar textos que disessem o que eu queria dizer, e da maneira como eu queria dizer. Aí comecei a escrever. Isso foi em 1999 (ano de estreia de minha primeira obra como autor, N.A.D.A. - Nenhuma Afirmação Depois de Agora), e daí em diante passei a dirigir apenas minhas pró prias peças, por um longo período, que vai de 1999 a 2005. Nestes sete anos, escrevi muito, 16 peças, e todas estrearam no Rio de Janeiro. Algumas delas também foram montadas em outros países, publicadas em outras línguas. Comecei com uma dramaturgia desconstruída, fragmentada, fortemente oní rica, baseada em livres associações, repleta de hipóteses arriscadas, de proposições que fugissem ao senso comum, com grande foco no desvelamento da construção de nossas identidades sexuais, com um diálogo permanente com a História da Arte, dialogando também com o momento específico que vivíamos (do ponto de vista político), seguindo uma série de procedimentos que me interessavam no período, e que me pareciam mais reveladores de uma lógica de construção da nossa subjeti vidade contemporânea (que, eu percebia, era completamente distinta da dinâmica de signos de épocas anteriores). Queria revelar as questões mais urgentes de nossa época, criar novos arquétipos, apresentar uma visão do homem contemporâneo em cena, construir obras que dialogassem com o nosso mundo atual, que não era mais o mundo do século XIX ou do século XX, através de formas dramatúrgicas novas (que traduzissem novos e insuspeitados discursos). Em dado momento, no 9 entanto, me senti numa espécie de beco sem saída: comecei a achar que estava me repetindo, repetindo formas, aprisionado em determinadas estratégias dramatúr- gicas recorrentes em meu trabalho de então, sem saber como avançar a partir dali. Sentia que meu discurso não encontrava presentificação, concretização, tradução cênica plena nas formas que eu utilizava. Aí fiz um grande mergulho em proce dimentos realistas: construí 5 peças em diálogo profundo com Ibsen. Tratava-se de uma tentativa de escrever segundo a lógica deste estilo: tratava-se de perceber se o DRAMA ainda era possível, se a forma dramática ainda podia dar conta de modo poderoso dos nossos dilemas contemporâneos. Então escrevi obras norte adas pelo diálogo, com personagens com nome e sobrenome (isto é, com géneses completas), com uma trama muito definida, e nas quais toda a ação se dava através das relações intersubjetivas entre as personagens, mimetizando comportamentos cotidianos. Este período foi muito influenciado, também, pela dramaturgia norte- americana realista (em especial, por Arthur Miller e Tennessee Williams). Estas peças, todas elas psicológicas, sombrias, dramáticas (quase trágicas), muitas delas de cunho eminentemente político, sociológico, tinham uma forma muito conven cional, atrelada ao estilo realista. Foi quase como uma percepção de que, para rea lizar um trabalho realmente abstrato (e novo), eu tinha que passar por uma fase figurativa, antes. Tinha que aprender a desenhar antes de pintar abstrações, tinha que aprender a fazer o feijão com arroz antes de partir para a haute cuisine. Foi uma necessidade imperiosa na época, e eu mergulhei nela completamente. Aí me mudei para São Paulo, criei o CLUB NO1R (com a atriz e diretora Juliana Galdino), e comecei a tentar avançar a partir desse ponto, tentando finalmente des cobrir minha própria voz como autor, descolado de formas e discursos hegemóni cos, reconhecíveis, tentando criar novas estratégias, que traduzissem cenicamente outras possibilidades, alteridades radicais em cena (para além do que eu tinha conseguido fazer na primeira fase de meu trabalho). Considero este ano (2006) como o fim da minha fase de formação e o começo de minha vida adulta como pensador de teatro, diretor e dramaturgo. Voltei a dirigir obras de outros autores, sempre contemporâneos, nas quais eu percebia a força revolucionária de escrituras que reconstruíam o mundo no palco segundo outras lógicas, nos proporcionando ferramentas para redefinirmos (de modo autónomo) nossas vidas, nossas ideias estabelecidas. E tentei fazer 0 mesmo no meu trabalho como dramaturgo: desco brir outros modos de construir o tempo, o espaço, a própria condição humana, através de manipulações inusuais da linguagem (que traduzissem e, sobietudo, expandissem minha visão de mundo, que eu procurava desesperadamente colar do senso comum). Percebi que forma é conteúdo, e que o teatio é o lug 10