Copyright by © Editorial Gustavo Gili, S. A., Rosellón 87-89, Barcelona, 1987. Título original ' De los médios a las mediaciones. Comunicación, cultura e hegemonia Ficha Catalográfica elaborada pela Divisão de Processamento Técnico - SIBI/UFRJ M 379m Martín-Barbero, Jesús Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia / Jesús Martín-Barbero; Prefácio de Néstor Garcia Canclini; Tradução de Ronald Poli to e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. 360 p.; 15 X 20,5 cm 1. Comunicação de massa 2. Sociedade de massa I. Título CDD 302.23 ISBN 85-7108-208-1 Capa Tita Nigrí ÍUvisão Cecília Moreira Josette Babo Maria Guimarães Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Editora UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro 5 1 Forum de Ciência e Cultura 3 6 Editora UFRJ 0 0 Av. Pasteur, 250 / sala 106 0 Rio de Janeiro - RJ 0 9 CEP 22295-900 0 2 Tel.: (021) 295 1595 r. 124 a 127 Fax: (021) 542 3899 Apoio: Fundação Universitária José Bonifácio Para meus pais e minha filha Olga SUMÁRIO Prefácio 11 Introdução 15 PRIMEIRA PARTE POVO E MASSA NI A CULTURA: OS MARCOS DO DEBATE Capítulo 1 Afirmação e negação do povo como sujeito 23 O povo-mito: românticos versus ilustrados 23 Povo e classe: do anarquismo ao marxismo 31 Emergência do popular nos movimentos anarquistas 32 Dissolução do popular no marxismo 36 Capítulo 2 Nem povo nem classes: a sociedade de massas 43 A descoberta política da multidão 44 A psicologia das multidões 47 Metafísica do homem-massa 52 Antiteoria: a mediação-massa como cultura 57 Capítulo 3 Indústria Cultural: capitalismo e legitimação 63 Benjamin versus Adorno ou o debate de fundo 64 Do logos mercantil à arte como estranhamento 65 A experiência e a técnica como mediações das massas com a cultura 71 Da crítica à crise 80 Capítulo 4 Redescobrindo o povo: a cultura como espaço de hegemonia 90 O povo na outra história 91 Cultura, hegemonia e cotidianidade 104 SEGUNDA PARTE MATRIZES HISTÓRICAS DA MEDIAÇÃO DE MASSA Capítulo 1 O longo processo de enculturação 127 Estado-Naçao e os dispositivos de hegemonia 127 Centralização política e unificação culturat 128 Rupturas no sentido de tempo 130 Transformações nos modos do saber 132 Cultura política da resistência popular 135 A dimensão política da economia 136 A dimensão simbólica das lutas 138 Capítulo 2 Do folclore ao popular 142 Uma literatura entre o oral e o escrito 142 O que dispõe o mercado 143 O que dispõe o povo 148 Uma iconografia para usos plebeus 152 Melodrama: o grande espetáculo popular 157 Entre o circo e o palco 159 Estrutura dramática e operação simbólica 162 Capítulo 3 Das massas à massa ”1 67 Inversão de sentido e sentidos da inversão 167 Memória narrativa e indústria cultural 169 O aparecimento do meio 171 Dispositivos de enunciação 173 Dimensões do enunciado 185 Formato e símbolo 189 Continuidade e rupturas na era dos meios 191 TERCEIRA PARTE MODERNIDADE E MEDIAÇÃO DE MASSA NA AMÉRICA LATINA Capítulo 1 Os processos: dos nacionalismos às transnacionais 213 Uma diferença que não se restringe ao atraso 213 O descompasso entre Estado e Nação 215 Massificação, movimentos sociais e populismo 220 Os meios massivos na formação das culturas nacionais 228 Um cinema à imagem de um povo 231 Do circo criollo ao radioteatro 234 A legitimação urbana da música negra 238 O nascimento de uma imprensa popular de massas 242 Desenvolvimentismo e transnacionalização 247 O novo sentido da massificação 248 A não-contemporaneidade entre tecnologias e usos 252 Capítulo 2 Os métodos: dos meios às mediações 258 Crítica da razão dualista, ou as mestiçagens que nos constituem 258 A impossível pureza do indígena 260 A mistura de povo e massa no urbano 265 A comunicação a partir da cultura 277 O que nem o ideologismo nem o informacionismo permitem pensar 278 Cultura e política: as mediações constitutivas 282 Mapa noturno para explorar o novo campo 287 t Sobre a cotidianidade, o consumo e a leitura 288 A televisão a partir das mediações 291 Alguns sinais de identidade reconhecíveis no melodrama 303 O popular que nos interpela a partir do massivo 308 Bibliografia 335 PREFÁCIO Se achamos que os livros mais necessários são os não com placentes, este é um dos indispensáveis nos anos noventa. Ao se propor a entender essas indústrias das respostas e da consolação que são os meios de massa, não só as assedia com perguntas e perguntas; dedica- se a trocar as interrogações que haviam organizado os estudos sobre a comunicação nos anos precedentes. Os primeiros investigadores dos meios buscavam saber como eles fazem para manipular suas audiências. A súbita expansão do rádio, do cinema e da televisão levou a crer que substituíam as tradições, as crenças e solidariedades históricas, por novas formas de controle social. Este livro se afasta de tais supostos. Com uma visão menos ingênua de como se alteram as sociedades e do que fazem com seu passado quando irrompem tecnologias inovadoras, indaga como se foi desenvolvendo a massificação antes que surgissem os meios eletrônicos: através da escola e da igreja, da literatura de cordel e do melodrama, da organi zação massiva da produção industrial e do espaço urbano. Ao estabelecer que as sociedades modernas foram tendo os traços atribuídos aos meios muito antes que estes atuassem, desmoro naram vários lugares-comuns do aristocratismo e do populismo. A cultura contemporânea não pode desenvolver-se sem os públicos massivos, nem a noção de povo — que nasce como parte da massificação social - pode ser imaginada como um lugar autônomo. Nem a cultura de elite, nem a popular, há tempos incorporadas ao mercado e à comunicação industrializada, são redutos incontaminados a partir dos quais se pudesse construir outra modernidade alheia ao caráter mer cantil e aos conflitos atuais pela hegemonia. Ao estudar a reformulação DOS MEIOS ÀS MEDIAÇÕES... da aura artística na grande cidade e o processo de formação do popular nas novelas de folhetim, na imprensa e na televisão — com explicações inaugurais sobre as transformações européias e latino-americanas — oferece uma das refutações teóricas mais consistentes às ilusões român ticas, ao reducionismo de tantos marxistas e ao aristocratismo frankfurtiano. Para cumprir estes objetivos, a obra de Martín-Barbero per corre várias disciplinas. Dado que desloca a análise dos meios de massa até as mediações sociais, não é só um texto de comunicação. Bem informado sobre a renovação atual dos estudos sociológicos, antropo lógicos e políticos, parece um livro escrito para confundir os bibliotecá rios. Não está situado exclusivamente em nenhuma dessas disciplinas, porém serve a todas, por exemplo, seu original exame da$ noções de povo e classe, de como se complexificam estas categorias na sociedade de massa e as alterações que isto gera nos estados modernos. Sua explicação de como o rádio e o cinema contribuíram para unificar as sociedades latino-americanas e conformaram a idéia moderna de nação mostra quanto necessitamos dos estudos culturais para entender a política e ainda a economia. Já Tocqüeville, relembra Martín-Barbero, se perguntava se é possível separar o movimento pela igualdade social e política do processo de homogeneização e Uniformização cultural. A democrati zação das sociedades contemporâneas só é possível a partir da maior circulação de bens e mensagens. Esta facilidade de acesso não garante que as massas compreendam o que se passa, nem que vivam e pensem melhor. A modernidade, e o contraditório lugar que nela ocupam os povos, são mais complicados que o que supõem as concepções peda gógicas e voluntaristas do humanismo político. Não são frequentes hoje livros tão eruditos e desconstrutores que ao mesmo tempo continuem acreditando na possível emancipação dos homens. Onde encontrar atualmente os argumentos para esse otimismo? Martín-Barbero se afasta do nativismo e do populismo, e 12