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Curso básico de marxismo-leninismo-maoísmo PDF

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CURSO BÁSICO DE MARXISMO-LENINISMO-MAOISMO PARTIDO COMUNISTA DA ÍNDIA – MARXISTA-LENINISTA- MAOISTA 1ª Edição 1 Sumário PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO, MARÇO DE 2016...................................................................3 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO..........................................................................................................4 CAPÍTULO 2 - O QUE É O MARXISMO-LENINISMO-MAOÍSMO?............................................5 CAPÍTULO 3 - CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS QUE LEVARAM AO NASCIMENTO DO MARXISMO........................................................................................................................................7 CAPÍTULO 4 - OS PRIMEIROS ANOS DE MARX E ENGELS ATÉ TORNAREM-SE MARXISTAS.....................................................................................................................................11 CAPÍTULO 5 - AS TRÊS FONTES DO MARXISMO.....................................................................18 CAPÍTULO 6 - OS FUNDAMENTOS BÁSICOS DA FILOSOFIA MARXISTA: O MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO..............................................................................20 CAPÍTULO 7 - A LUTA CONTRA O SOCIALISMO UTÓPICO E O ESTABELECIMENTO DO SOCIALISMO CIENTÍFICO............................................................................................................22 CAPÍTULO 8 - A ECONOMIA POLÍTICA MARXISTA.................................................................25 CAPÍTULO 9 - MARX UNE-SE À CLASSE TRABALHADORA.................................................27 CAPÍTULO 10 - AS LIÇÕES DA COMUNA DE PARIS.................................................................30 CAPÍTULO 11 - PROLIFERAÇÃO DO MARXISMO E ASCENSÃO DO OPORTUNISMO......33 CAPÍTULO 12 - O MARXISMO NA RÚSSIA : A JUVENTUDE DE LENIN...............................36 CAPÍTULO 13 - LENIN E O PARTIDO COMUNISTA DE NOVO TIPO......................................40 CAPÍTULO 14 - REVOLUÇÃO BURGUESA NA RÚSSIA DE 1905 : DESENVOLVIMENTO DAS TÁTICAS PROLETÁRIAS......................................................................................................43 CAPÍTULO 15 - PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: OPORTUNISMO VS TÁTICAS REVOLUCIONÁRIAS......................................................................................................................47 CAPÍTULO 16 - ANÁLISE DE LENIN SOBRE O IMPERIALISMO, A FASE SUPERIOR DO CAPITALISMO..................................................................................................................................50 CAPÍTULO 17 - A GRANDIOSA REVOLUÇÃO SOCIALISTA DE OUTUBRO.........................52 CAPÍTULO 18 - A FORMAÇÃO DA TERCEIRA INTERNACIONAL.........................................56 CAPÍTULO 19 - A QUESTÃO NACIONAL E COLONIAL...........................................................59 CAPÍTULO 20 - A INFÂNCIA E AS CONTRIBUIÇÕES REVOLUCIONÁRIAS DE STÁLIN ATÉ A REVOLUÇÃO DE 1917........................................................................................................61 CAPITULO 21 - A CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO: A EXPERIÊNCIA RUSSA....................67 CAPÍTULO 22 - LUTA CONTRA O TROTSKISMO E OUTRAS TENDÊNCIAS OPORTUNISTAS...............................................................................................................................72 CAPÍTULO 23 - TÁTICAS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL...............................75 CAPÍTULO 24 - PRIMEIROS ANOS DE MAO..............................................................................79 CAPÍTULO 25 - A LUTA DE MAO CONTRA AS LINHAS DE DIREITA E 'ESQUERDA' E A VITÓRIA DA REVOLUÇÃO CHINESA.........................................................................................85 CAPÍTULO 26 - O CAMINHO DA REVOLUÇÃO NAS COLÔNIAS E SEMI-COLÔNIAS.......91 CAPÍTULO 27 - MAO SOBRE A FILOSOFIA................................................................................93 CAPÍTULO 28 - MAO SOBRE O PARTIDO...................................................................................98 CAPÍTULO 30 - O GRANDE DEBATE: A LUTA DE MAO CONTRA O REVISIONISMO MODERNO DE KRUSCHEV.........................................................................................................107 CAPÍTULO 31 - A GRANDE REVOLUÇÃO CULTURAL PROLETÁRIA.................................110 CAPÍTULO 32 - APÓS A MORTE DE MAO.................................................................................116 2 PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO, MARÇO DE 2016 A tradução do curso para língua portuguesa, é fruto de um trabalho e esforço coletivo de companheiras e companheiros de luta que compõem o Núcleo de Traduções do Povo. Um material com uma riqueza teórica como esse deve ser espalhado aos quatro cantos do mundo, nas mais variadas línguas, para contribuir no desenvolvimento ideológico daqueles que lutam dia-a-dia pela transformação do mundo e pela libertação das mais amplas massas trabalhadoras sob direção do proletariado. O presente material foi feito pelo Partido Comunista da Índia – Marxista-leninista-maoista, que está dirigindo a guerra popular em seu país, sob o guia da ideologia do proletariado: o marxismo-leninismo-maoismo. E conforme o debate e a luta de linhas se acirra no Movimento Comunista Internacional pela completa e total assimilação do maoismo como terceira e superior etapa do marxismo, materiais como esses servem de ferramentas para compreensão das mais variadas questões que envolvem a ideologia do proletariado. Em breve outras edições do material serão publicadas, pois, mesmo com a tradução e revisão sempre sobram alguns erros que vão ser corrigidos e também por acreditarmos que dá para incluir mais conteúdo para ajudar a completar o material aqui exposto. Por fim, nós do Núcleo de Traduções do Povo, esperamos que esse material seja espalhado e difundido, que sejam feitos estudos e debates sobre o mesmo e que a leitura e o conteúdo assimilado não sirva apenas como um “conteúdo adicional” e sim como uma ferramenta para impulsionar a atuação na prática. Afinal como dizia Karl Marx: “Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”. 3 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO Grande parte dos ativistas revolucionários denomina-se enquanto agentes “pragmáticos”. Expressam: “Por que importar-se com ideologia, teoria e afins? Isso é para estudiosos e “intelectuais”,... o mais importante é seguir adiante com os trabalhos”. Os combatentes e militantes pertencentes às instâncias inferiores acreditam ser suficiente que o comitê central e os demais organismos superiores do partido estudem e forneçam orientação; e, não raro, muitos membros de posições hierárquicas mais elevadas creem que outras atividades são urgentes em demasia para “permitir” dedicação e tempo em detrimento do estudo teórico. Em contrapartida, existem muitos outros que acreditam ser necessário conhecer toda obra dos grandes professores a fim de trabalhar de maneira "apropriada". Gastam muito tempo tentando ler tudo. Eles geralmente apresentam a tendência de tratar tudo o que é lido enquanto dogmas incontestes. É necessário negar tais atitudes em nosso aprendizado. Todos os camaradas devem dedicar tempo e atenção suficientes aos seus estudos com objetivo de compreender a essência de nossa ideologia – o marxismo-leninismo-maoísmo. Mais importante que conhecer um largo número de livros, forçoso é entender profundamente os básicos e essenciais aspectos de nossa ideologia guiadora. Se fizermos isso e aprendermos a aplica-los em nossos trabalhos diários, estaremos hábeis a refinarmos nossa prática, tanto enquanto ativistas individuais como na atividade do partido em sua totalidade. Frequentemente entendemos e analisamos o mundo a nosso redor de acordo com nossas limitadas experiências, chegando muitas vezes a conclusões equivocadas. Um entendimento apropriado do marxismo-leninismo-maoísmo pode ajudar-nos a superar tais equívocos. Por outro lado, um entendimento superficial pode incorrer-nos de compreender apenas as membranas mais rasas de certas decisões do partido e seus comitês, levando- nos à incompreensão de sua essência e espírito. Tais erros podem ser evitados a partir de um aprofundamento no marxismo-leninismo-maoísmo. Por meio de nosso estudo deste, aprenderemos das experiências positivas e negativas advindas da Revolução Mundial; apreenderemos o positivo em seu legado, e aprenderemos a distinguir entre o certo e o errado em nossa própria prática. Também tornar-nos-emos aptos a reconhecer, criticar e lutar contra todos os tipos de oportunismo no seio do movimento. Em poucas palavras, o marxismo-leninismo-maoísmo faz-se necessário para moldar nossa prática à luz dá toda poderosa ideologia do proletariado. Este curso básico de marxismo-leninismo-maoísmo tem como objetivo apresentar aos ativistas uma exposição dos aspectos fundamentais de nossa ideologia. Nossa ideologia é, antes de tudo, uma teoria de "ação‟, concebida para ser posta em prática. A teoria em si emergira ao longo do curso de numerosas lutas de classe. Posto isso, é essencial compreender as condições materiais concretas e prática social nas quais os grandes 4 professores do proletariado – Marx, Engels, Lênin, Stálin e Mao – puderam desenvolver e formular seus princípios básicos. Desta forma, este livro busca relacionar o processo histórico ao crescimento e desenvolvimento do marxismo-leninismo-maoísmo. Procurou- se apresentar os presentes conceitos básicos, sempre que possível, de maneira contextualizada às condições socioeconômicas, eventos políticos e lutas de classe que possibilitaram seu surgimento. A fim de entender-se tais tópicos particulares em detalhes, empreender um estudo minucioso e aprofundado vir-se-á necessário. Entretanto, este curso básico pretende oferecer a base essencial para compreensão da dinâmica do desenvolvimento de nossa ideologia e em quais condições e circunstâncias históricas tal teoria veio a ser. Venha; comecemos nosso estudo. CAPÍTULO 2 - O QUE É O MARXISMO-LENINISMO-MAOÍSMO? O partido que dirige a revolução é o Partido Comunista; e a ideologia a guiar o pensamento e a prática do Partido Comunista é o marxismo-leninismo-maoísmo. Isso é do conhecimento de todos. Não obstante, muitos não têm certeza do que exatamente vem a ser a ideologia comunista ou marxismo-leninismo-maoísmo e quais são suas características e aspectos. Muitos entendem-na simplesmente como as ideias de Marx, Lênin e Mao. Tal entendimento é incompleto, insuficiente e superficial. É preciso aprofundar-se no assunto e entender sua essência interna. Comecemos por buscar entender tal essência do marxismo-leninismo-maoísmo. Em época na qual Marx e Engels foram os primeiros desenvolvedores e propagandistas da teoria comunista, Engels, em 1847, escrevera um folheto chamado “Princípios básicos do comunismo”. Ele definiu o comunismo na seguinte frase, “O comunismo é a doutrina das condições de emancipação do proletariado.” Assim, Engels, nesta curta definição, explana que a essência da ideologia comunista é apresentar a teoria sobre o que é forçoso no objetivo de alcançar-se a liberdade completa da classe trabalhadora. Essa liberdade seria finalmente assegurada pelo estabelecimento da sociedade comunista. Stálin explicara o mesmo de seguinte maneira, “O marxismo é a ciência das leis que regem o desenvolvimento da natureza e da sociedade, a ciência da revolução das massas oprimidas e exploradas, a ciência da vitória do socialismo em todos os países, a ciência da construção da sociedade comunista.” Aqui, Stálin explica o amplo escopo do marxismo. Primeiramente, trata-se de uma ciência que fornece as respostas para as questões que concernem não apenas a sociedade, mas também a natureza. Desta maneira, o marxismo configura-se como uma ciência abrangente. Em segundo lugar, é uma ciência que visa à revolução; e essa revolução não é a dos ricos [como as anteriores revoluções burguesas das classes capitalistas], mas das massas pobres e laboriosas. E em terceiro plano, é a ciência da construção da sociedade socialista e comunista. 5 A esta ciência é atualmente dada o nome de marxismo-leninismo-maoísmo graças às contribuições dos três professores que desempenharam grande papel em sua edificação e desenvolvimento – Karl Marx, Vladimir Lênin e Mao Tsé-tung. Além destes três, reconhecemos outros dois grandes professores que desempenharam fundamental contribuição à ciência do operariado – Friedrich Engels e Josef Stálin. Engels fora o camarada de Marx que colaborara assídua e intimamente na construção dos fundamentos do marxismo, avançando-os após a morte de Marx. Stálin defendera e desenvolvera o marxismo-leninismo após a morte de Lênin. O marxismo fora desenvolvido primeiramente por Marx juntamente com seu amigo Engels há mais de cento e cinquenta anos. As principais partes constituintes do marxismo são: a filosofia do materialismo dialético e o desenvolvimento da concepção materialista da história ou materialismo histórico; a economia política marxista, responsável pela descoberta das leis de movimento do capitalismo e suas contradições, bem como a doutrina da mais-valia que pôs em evidência a fonte da exploração capitalista; e a teoria do socialismo científico baseado na doutrina da luta de classes e a demarcação dos princípios regentes das táticas de lutas classistas do proletariado. O leninismo é o marxismo da era do imperialismo e da revolução operária. Fora primariamente desenvolvido por Lênin em meados do início do século passado, durante o percurso da Revolução Russa, enquanto travara-se a luta contra o oportunismo da Segunda Internacional e avançando o movimento comunista internacional por meio da Terceira Internacional. O leninismo, enquanto defesa e avanço do marxismo, promovera as seguintes contribuições: a descoberta das leis do movimento do estágio superior do capitalismo – o imperialismo – e como estas inevitavelmente levariam as potências imperialistas à guerra; o desenvolvimento qualitativo da teoria e prática da revolução proletária durante a revolução democrático-burguesa assim como na revolução socialista; um entendimento preciso a respeito da ditadura do proletariado, bem como os princípios primários no que tange a construção do socialismo; proporcionara a teoria e direção para os movimentos nacionais e coloniais, ligando os movimentos nacionaislibertadores às causas da Revolução Socialista Mundial; o desenvolvimento dos princípios organizativos do partido leninista – o partido de novo tipo. Stálin, em sua defesa e acabamento do leninismo, contribuíra às leis e princípios que regem o período de construção do socialismo. O maoísmo é a extensão e o desenvolvimento do marxismo-leninismo aplicado ao tempo presente. Foi desenvolvido por Mao Zedong durante a Revolução Chinesa, no processo de construção do socialismo, na luta contra o revisionismo moderno e particularmente durante a grande Revolução Cultural Proletária. As contribuições do maoísmo incluem: a teoria das contradições, o desenvolvimento da teoria do conhecimento e formulação da linha de massas consistida em "das massas, para as massas‟; a teoria da Nova Democracia, a formulação do caminho da revolução nas colônias e semicolônias, e a 6 formulação no que diz respeito às três varinhas mágicas da revolução – o partido, o exército do povo e a frente única; a teoria da guerra popular prolongada e o desenvolvimento dos princípios da guerra militar; o desenvolvimento dos princípios organizativos do partido proletário através da compreensão da luta de duas linhas, campanhas de retificação e crítica e autocrítica; o desenvolvimento de uma política econômica baseada nas experiências soviética e chinesa e o entendimento dialético do processo de construção do socialismo como a condução correto de contradições no seio do processo de transição ao socialismo; e finalmente e mais importante, a teoria e prática da revolução contínua sob a ditadura do proletariado rumo à consolidação do socialismo, o combate ao revisionismo moderno e a prevenção da restauração do capitalismo, tendo sua expressão máxima na grande Revolução Cultural Proletária. Marxismo, leninismo e maoísmo não se tratam de ideologias dissociadas, mas antes representam o constante crescimento e avanço de uma única ideologia. Nas seguintes páginas, buscaremos traçar e expor a história de seu processo de desenvolvimento. Além disso, tentaremos entender a essência de seus vários elementos e aspectos citados acima. A lista pode parecer longa e penosa, mas nosso estudo não deve seguir-se de tal forma. Se concentrarmo-nos e tentarmos entender a essência básica de cada aspecto em seu contexto histórico, seremos capazes de apreendermos muito. CAPÍTULO 3 - CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS QUE LEVARAM AO NASCIMENTO DO MARXISMO Como veremos mais tarde, o marxismo ensina-nos que quaisquer ideias ou teorias são produtos de certas condições materiais. Sempre que novas condições materiais surgem, novas ideias e teorias emergem com elas. Esta mesma verdade aplica-se ao próprio marxismo. Assim, em prol de um melhor entendimento deste, devemos conhecer as condições materiais, i.e as condições socioeconômicas na qual Marx e Engels puderam dar origem ao marxismo. O marxismo surgira há mais de cento e cinquenta anos, em meados de 1840. Estabelecera-se primeiro na Europa, que à época dominava o mundo econômica, política e militarmente. Tal dominação era tamanha que quase todas as antigas civilizações milenares como Índia, China e Persa eram subordinadas a ela. Marx e Engels nasceram e viveram em algumas das localidades europeias mais avançadas economicamente, enquanto desenvolviam as ideias do marxismo. Eles observaram, participaram e foram influenciados pelos maiores eventos políticos de seu tempo. Posto isso, a fim de entender como nascera o marxismo, primeiramente devemos analisar a Europa de sua época e ver os principais fatores socioeconômicos de então: 1. O fator mais importante fora a Revolução Industrial, que durara aproximadamente de 1760 até 1830, e, mesmo centrada na Inglaterra, influenciou o mundo inteiro. A 7 Revolução Industrial é nomeada desta forma devido ao explosivo e revolucionário nascimento da produção industrial: foram nestes setenta anos que o mundo assistia pela primeira vez a um fenômeno de tal magnitude. Fora nesse tempo que as modernas fábricas foram construídas e cresceram rapidamente, especialmente na Inglaterra. Juntamente com tal evento viera a tremenda expansão do mercado mundial, que exportava os bens manufaturados ingleses para todas as partes do globo. Apesar de outros países como França, Holanda e regiões da Alemanha e dos Estados Unidos da América também contarem com suas indústrias, esse período histórico fora majoritariamente dominado pela Inglaterra. A dominação era tanta que o país começara a ser chamado de "oficina do mundo‟ devido à exportação de bens manufaturados para todos os países. A Revolução Industrial transformou inteiramente a classe capitalista. Anteriormente, esta classe não era tão forte economicamente e era uma classe média [é chamada "burguesia‟ porque bourgeois significa “classe média” em francês]. Todavia, com o advento da Revolução Industrial, essa classe média transformou-se numa classe de milionários industriais – a moderna burguesia industrial. As incontáveis riquezas dessa nova classe concederam-na força suficiente para desafiar o poder das classes feudais que, até então, ainda detinham-se enquanto classes dominantes. Além da moderna burguesia, a Revolução Industrial pariu também outra classe – a moderna classe trabalhadora industrial, o proletariado. Tal classe, que consiste em milhares de operários trabalhando juntos em imensas fábricas, diferencia-se gradualmente dos antigos trabalhadores que exerciam seu ofício em pequenos grupos nas oficinas. Os proletários modernos não possuem nada, exceto sua força de trabalho, com uma força e confiança desconhecidas às predecessoras gerações de trabalhadores. Essa força viera de seu contato com a grande indústria, com sua disciplina apreendida através do sistema das fábricas e sua organização superior advinda da experiência de incontáveis números de operários amontoados nas fábricas sob os mesmos tetos. Sua posição na sociedade formara-os enquanto potência na maior força revolucionária da história. 2. Outro fator importante fora àquele que dominara o cenário político europeu naquela época. Isto é, a onda de revoluções democrático-burguesas lideradas pelas nascentes classes capitalistas, na qual a mais importante fora a Revolução Francesa de 1789. A Revolução Francesa não trouxe apenas várias mudanças radicais na França. Ela também originara as guerras napoleônicas, cujos exércitos da burguesia francesa conquistara quase todo o continente europeu, levando consigo as reformas burguesas e abolindo o feudalismo onde quer que passassem. Além disso, eles deram o golpe de misericórdia aos reis e às velhas classes feudais. Apesar dos exércitos franceses terem sido derrotados posteriormente, as 8 velhas classes dominantes jamais conseguiram reaver suas posições de outrora. A moderna burguesia continuou sua torrente revolucionária com outras numerosas revoluções burguesas, resultando na derrota definitiva das obsoletas classes feudais e à vitória do capitalismo enquanto sistema global. Desta forma, tanto a níveis econômicos como políticos, o período do nascimento do marxismo fora marcado por grandes avanços e vitórias para as classes capitalistas ao passo que estabeleciam suas leis e domínio nos mais avançados e dominantes países do mundo. 3. Apesar deste ser o período de grandes avanços para a burguesia internacional, o principal fator que dera à luz ao marxismo fora o surgimento da consciência das classes trabalhadoras e organizações proletárias, bem como movimentos que sinalizaram a emergência do proletariado enquanto força independente e autoconsciente. Essa emergente consciência de classe proletária nascera primariamente na Inglaterra e na França. Ela ocorrera primeiro nesses países por causa de sua rápida proliferação da indústria moderna. A propagação da grande indústria, apesar de trazer grandes benefícios às classes proprietárias, produzira as condições desumanas de trabalho e vida para as classes laboriosas. Quase três quartos da força de trabalho eram compostos por mulheres e crianças, devidos à baixa remuneração e o mais fácil controle dos trabalhadores pelos capitalistas. Crianças a partir de seus seis anos de idade eram forçadas a trabalhar de quatorze a dezesseis horas nas fiações. Ao passo que os burgueses acumulavam cada vez mais riquezas, os trabalhadores afundavam-se cada vez em miséria. Enquanto os proprietários das usinas têxteis triplicavam seu capital, os salários de seus tecelões eram reduzidos a um oitavo do que era previamente remunerado. Dessa forma, as condições do operariado eram de tal forma que a rebelião não era apenas justa, mas iminente. Os primeiros levantes foram espontâneos, sem direção clara. Um exemplo foram as destruições das máquinas de 1810-11 na Inglaterra, onde grupos de tecelões atacaram as fábricas têxteis e destruíram qualquer maquinaria na qual pudessem colocar suas mãos. Este foi seu método de protestar contra a grande indústria que destruía gradualmente suas vidas. Tais protestos não tinham uma direção clara e foram reprimidos severamente, extinguindo-se de forma rápida. O que se seguira fora a disseminação e o crescimento do movimento e organizações operárias que vieram a fornecer a direção do proletariado combativo. Antigos sindicatos, inicialmente restritos a trabalhadores qualificados, começaram em 1818 a unir todos os operários no que era chamado de sindicatos de "comércios gerais‟. À medida que esses sindicatos foram crescendo, um 9 movimento a fim de iniciar uma união em escala nacional começara a desenvolver- se. Esta foi formada e, por volta de 1833-34, alcançara mais de quinhentos mil membros. Além dos sindicatos, os trabalhadores também começaram a organizar- se em cooperativas e sociedades mutualistas. Nos demais países onde grande parte dos sindicatos foram proibidos, essas foram as principais formas de organização da classe trabalhadora, que também crescia em número e força. Ao passo que as organizações de trabalhadores começaram a crescer, os operários na Grã-Bretanha empreenderam o movimento cartista em 1837, demandando direitos eleitorais aos trabalhadores. Este foi o primeiro movimento revolucionário amplo, verdadeiramente massivo e politicamente organizado da classe operária. Fora utilizado o método de petições de massa ao Parlamento, de certa forma similar às campanhas de assinaturas empreendidas hoje em dia. Estas petições reuniram mais de cinco milhões de assinaturas. Alguns dos protestos cartistas contaram com trezentos e cinquenta mil manifestantes, mostrando a organização sólida e coesa da classe trabalhadora. Porém, como o movimento crescera em força e militância, acabara por sofrer severas repressões e fora suprimido em 1850. Durante o começo dos anos 1840, enquanto Engels residia em Manchester [na Inglaterra], ele esteve em íntimo contato com os líderes revolucionários cartistas bem como seu periódico The Northern Star, sendo profundamente influenciado pelo cartismo. A crescente militância do movimento proletário levou muitas vezes durante esse período às primeiras revoltas operárias, reprimidas brutalmente. Exemplos destas foram os levantes em Londres em 1816 e Manchester em 1819, as revoltas dos trabalhadores de seda em Lyons [França] em 1831 e 1834, e o levante dos tecelões de linho na Alemanha prussiana [atualmente parte da Polônia] em 1844. Esta última luta teve um forte impacto na Alemanha assim como no jovem Marx. Assim, em meados de 1840, o movimento operário crescia rapidamente em força e intensidade em vários países indústrias. Não obstante, ainda era demasiadamente fraco e insuficiente em causar uma verdadeira ameaça à dominação da grande burguesia e das antigas remanescentes classes feudais dominantes. Entretanto, a aparição do proletariado enquanto força classista independente fora um fenômeno de histórica significância mundial. O surgimento da existência material do proletariado significava ao mesmo tempo o nascimento de ideias que representavam essa nova classe revolucionária. Inúmeras ideias e teorias que clamavam por representar os interesses das classes trabalhadoras vieram a existir. O marxismo, quando formulado na época de 1840, era apenas mais uma destas. Todavia, apesar de inúmeras teorias terem emergido sob as mesmas circunstâncias socioeconômicas, apenas o marxismo oferecera as ferramentas para compreender adequadamente estas condições e também os meios para 10

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