http://lacanempdf.blogspot.com ANGELA VORCARO CRIANÇANSA PSICANALISE: CLÍNICAI,N STITUIÇLÃAOÇ,O S OCIAL EDITOR ]oséNazar edito r a Copyright © Editora Campo Matêmico Ltda Direitos de edição em língua portuguesa adquiridos pela EDITORA CAMPO MATf.MICO Proibida a reprodução total ou parcial REviSÃO ViviaVenrea s EDITORAÇÃO ELE11lÓNICA FA-Edi toraçEãleot rônica EDITOR REsPONSÃVEL JoslNazar CONSEI.HO EDITORIAL BruPnaolazzo Nazar ]osiNazar ]oMásrii Soi mCíolr deiro MarEimafl Líoab Lautcoi ndo TemPaa lazzo Nazar RutFehr reBiarsat os Rio de Janeiro, 2005 FICHA CATALOGRÁFICA V953c Vorcaro, Angela M. R. (Angela Maria Resende) Crianças na psicanálise : clínica, instituição, laço social / Angela Vorcaro. -Rio de Janeiro : Companhia de Freud, 1999. 208 p. ; 23 cm. ISBN 85-85717-34-3 l. Psicanálise infantil. I. Título CDD-618.928917 editora ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua Barão de Sertório, 57 Tel.: (21) 2293-7166 / 2293-9440 Rio Comprido -Rio de Janeiro e-mail: [email protected] Para Cármine, por se incluir em minhas contagens, transmitindo mistérios do contar Para Lourdes, por ter me encantado, conduzindo-me ao prazer de cantar Sumário APRESENTAÇAÃ cOl:í nciocmca r iaena çf aosr madçoaã noa l.i.s.t.9a. ...... I- DAH OLÓ-FRASEES EUDSE STIN.O.S. ..,.. ..............1..9.. ... ................ 1.U mac onstnreucçeãso.s .á.r.i.a. ...................2..0.. ............................ 2.A lieneaS çeãpoa r.a.ç.ã.o. ..............2.3. ............................................ 3.A alienaas çeãpoa,.r .aea.ç h ãool ófr.a.s.e. .......2.6. .......................... 3.1S.o barn eo çdãeoh olóf.r..a.s.e. .........2.8. ................................. 3.2A. a lienaas çeãpoa,.r .aea.ç s ãéor. i.e. ........3.4. ......................... 3.2.O1 q.u seep asnsoAa u tis.m.o..?.. ...........3.4. ................. 3.2.O2 q.u seep asnsaPa s ic.o.s.e.?. ......3.6. .......................... 3.3.O3 q.u seep asnsaDa e bili.d.a.d.e.?. ....3.8. ..................... 3.3.O4 q.u seep asnsoaFs e nômePnsoisc osso.m.3á.9t. i.c os? 3.3A. a lienaas çeãpoa,.r .aea.ç c ãloí n.i.c.a. ......4.1. ....................... II- A TRANSFERÊNCNIAAC LÍNICCOAM C RIANÇ.A.S. .5.9. ..... 1.S obare es trutduosr uajçe.ã.io.t .o. ...................5..9.. ........................ 2.A sm anifesdtaca rçiõa.en.sç. a. ............6.6. ....................................... 2.1I.n ciddêonfac nitaases d moas intnoacm rai a.n.ç.a. ..67. ........... 2.2O. d iscpuarrseoun mtaad lais:n ciddêant criaanss f.e.7r.2ê. n.c ia 2.3R.u moài nterprate etnaesçnããtooar l: ee iptruérqvaui aea interprreeqtueaae çi rãn ot erpcroemtcoao çnãdoip çaãroa al ei.t.u.r.a. ...............................75.. ......................................... 3.D eo ndoea naliinsttear Apsrp eetras?p edcait nitvearsp .r.e7.t8.a ção 3. 1Q.u aoll ugdaair n terpnraec tlaíçcnãioocmc a r ia.n.ç.a8.s2.? . ... 3.2Q.u aaisrs e ssondâain nctiearsp r.e.t.a.ç.ã.o.?. ..8.4. .................... 3.3A. i nterpvrieoste aan çcãoonc tormaio n considsot ência Outr.o.?. ......................................8...6... ................ ................ 3.4A. i nterpéro el tuagdçaoãOr ou tornod seed eciod e valdoeur m d itoon,ds eev �riofia ctaaon al.í.t.i.c.o8.?8. ......... 3.5A. i nterpvrieasts aau çbãtord aogç oãzo.o .?. .....8.9. .................. 4.A diredçotã roa ta.m.e.n.t..o.. .............................9..2.. ..................... ·5 .D iredçoãt roa tanmaec nltíond oia cuat iesd maposs icoses: ae strutduosr ujaeç.iã.to.o . .........................9..3.. ............................. 6.A transfenracê lnícndioiaa c uat i.s.m.o. .........9.7. ............................ II-IS OBRAE C LÍNIICNAT ERDISCIP.L.I.N.A.R. ...1.0.5. .................. 1.U mac líniinctae rdi.s.c.i.p.l.i.n.a.r. ......1.0.5. .................................... 2.P sicaenp árláitisinect ae rdi.s.c.i.p.l.i.n.a.r. ...1.1O. ............................. IV- LAÇOÀS D ERIVRAE:L AÇÕIENST ER-SETOERNITARIEAS . PSICOLOEG AIF AO NOAUDIOLO.G.I.A. ......1.1.7. ..................... 1.O casõ ......................1.1.8. .................................................... 2.A lmadse marc.a.ç.õ.e.s. ............1.2.2. ........................................... gu 3.O apagamdeotn rta.oç. o. ...............1.2.3. ........................................ 4.U mao utvri.aa. ...................1.2.5. ................................................... V - DAL ÍNGUEAD EA DOLESCENNTUEMSA ESCOLDAE S URDO.S. ...........................1..2..9.. ............................. 1.S obare es ceos leaau lsu .n.o.s. ........................1.3.0. ........................ 1.1O. m étoedsoc .o.l.a.r. .............1.3.1. ......................................... 1.2P.a rticudloaasrl iud.na.od.se. s. .........1.3.5. ............................... 2.O sl imidtoge esse ta lo í nad es in.a.i.s. .......1.4.0. ........................ gu 3.A infânncaai dao lesecs êusnauc pila.ê .n.c.i.a. ....1.4.4. ..................... VI- PRÁTICCALSÍ NICEAE SS COLARES: O DISCURPSSOI COPEDAGÓ.G.I.C.O. .......1.5.3. ........................ 1.D amso dalidzaap çsõiecso pelduaggaodrgosei usaj :e ito, daa prendiedz aap gseimc ope.d.a.g.o.g.i.a. ....1.6.0. ......................... 1.1C.a usaleti rdaatdaedm aedsni tfoi cudlead pardeensd. i.1z.6a.1g em 1.2A. a valipasçiãcoo pe.d.a.g.ó.g.i.c.a. ....1.6.3. .............................. 1.3O. d adpos icoped:.a .g.ó.g.i.c.o. .......1.7.0. ................................ 1.4A. d emanddeta e rappsiiac ope.d.a.g.ó.g.i.c.a. 1.7.2. .................. 1.5A.s uper.v.i.s.ã..o.. ...............................1..7..4.. ........................ . 1.6P.i aegF erte udde:s envolcvoigmneientc tioovn os tituição subj.e.t.i.v.a.. ............................1.7.5. ...................................... 2.P osidçopã soi copendara egloacgçooã maoc ria.n.ç.a. .1.8.3. ......... 3.P arcao nc.l.u.i.r. ..........................................1...9..5.. ...................... ReferêBnicbilaiso. g.r.á.fi.c..a..s.. .....................2.0..1. ..................................... Apresentação a clíniccao mc riançea asf ormaçãdoo p sicanalista <<Pode ser surpreendente que se dedique à criança ou à infància um capítulo particular, separado. Si ificaria isso que a perspectiva analí gn tica sobre a criança- se não a psicanáHse das crianças propriamente dita - constitui um ramo à parte, derivado, um avatar da experiência analítica ortodoxa? É verdade que até hoje se pergunta se o que chamamos de psicanálise da cnança deve ser ou não efetivamente reconhecido como psicanálise stricto sensu>> 1 Essa mesma suspensão é relembrada por • Sílvia Fendrik2 ao dizer que, na história da psicanálise de crianças, os , impasses ainda não superados mantêm interrogações que não atingiram um estatuto conceitua}, por localizarem o fantasma da filiação, posto em ato na cena analítica, como resposta que revela e re-vela o sintoma do analista. Constatamos que a psicanálise com crianças representa, muitas vezes, uma sub-psicanálise, como diz Marie-Jean Sauret: <<uma psica nálise para principiante> >3 o que poderia nos levar a perguntar se uma , psicanálise com/ de crianças estaria à altura do discurso analítico. Efetivamente, encontramos muitos cursos que embora se propo nham a formar especialistas em psicanálise de crianças, acontecem total mente isolados da formação de analistas. Há ainda outras propostas que se definem numa orientação psicanalítica, mas que partem do pressuposto da insubmissão da criança à psicanálise. Ou seja, em ambos os casos, que 1 G. Guilherault, Psicopatologia da criança, Dicionário Enciclopédico de Psica.nilise, Kaufmann P. (org.),Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1996, p.99. 2 Sílvia Fendrik, Ficção das origens, Artes Médicas, Porto Alegre, 1991. 3 Marie-]e an Sauret, O iníãntil e a estrutura, Conferências em agosto de 1997, Escola Brasileira de Psicanálise, São Paulo, 1998, p.60. to CRIANÇAS NA PSICANÁLISE não são poucos, o atendimento de crianças ocorre desvinculado da for mação em psicanálise. Também nas escolas e associações de psicanalistas, a teorização, a partir do atendimento clínico de crianças, está, muitas vezes, numa posição residual ou mesmo exterior à teorização da psica nálise. É possível observar ainda, insiste Sauret4, que a teorização, a partir da experiência direta com a criança, cai facilmente na profilaxia ou na ortopedia psicanalítica: perspectiva analítica sob o signo da evolução. Essa mescla de psicologia/psiquiatria/psicanálise, que põe em jogo a criança, obriga os analistas a examinar tais instituições, se não para interferir, ao menos para se ter uma idéia de como o campo social entende o que seja tratar o sujeito. De todo modo, não problematizar essas questões torna os analistas cúmplices- da mitologização do indivíduo. Valeria talvez a pena revirar a questão: será que o discurso psica nalítico alcança a clínica com cnanças? Nesse sentido, não é sem interesse considerar as modalidades da observação direta, desenvolvida na clínica médica e psicológica, para • constatarmos o quanto podemos ser enredados por essas modalidades de visibilidade quando estamos diante de uma criança. Afinal, a criança nos impõe tamanhas dificuldades de distinção entre Real, Simbólico e Imagi nário que, para sair da deriva imposta por uma continuidade indiscernível quanto a esses registros, acabamos por abandonar cedo demais a clínica psicanalítica e recorrer seja à classificação seja à compreensão. O viés do apagamento da singularidade permite constatar tanto a mutação da psica nálise em discurso social quanto a adaptação da vestimenta psicanalítica a esse mesmo discurso. Essas versões de apagamento da singularidade po dem ser distinguidas a partir das modalidades em que as manifestações da criança são capturadas e tratadas como fatos particulares. É possível, no entanto, distinguir essas versões de apagamento da singularidade. 4 Idem. APRESENTAÇÃO 11 Temos, por um lado, a versão apHcativa, que opera a conversão direta da teoria à situação clínica. Servindo-se da teoria como modo de classificação, o clínico estabelece, reparte e hierarquiza a zona de frontei ra entre a normalidade e a patologia, alienando a clínica à teoria, à qual se remete ao assumir-se agente metodológico da vigência teórica. Toma, deste modo, a clínica como instrumento de confirmação do já predito pela teoria. Funcionando na posição de emblema de uma suposição de saber, fetichizando a teoria, o clínico desconsidera, em sua prática, qual ., quer outro fator de eficácia que não o previsto pela teoria. Supondo-se seu representante legítimo, apaga e despreza o que a excede. Nessa pers pectiva, a criança só interessa na medida em que assinala o reencontro do já previsto pel_a teoria. Por outro lado, ancorado na somatória de concepções teóricas, o clínico envereda pelo viés multidisciplinar, supondo operar tratamentos a partir de engates ficcionais de preceitos oriundos da associação da psica nálise às teorias do desenvolvimento. Desconsiderando sua disparidade, produz, imaginariamente, um acordo sustentável unicamente no sem blante de teoria que o atributo "multidisciplinar" oferece ao discurso social, em uma clínica da interpretação compreensiva. Nesta linha, o clínico constitui as manifestações da criança com sua compreensão, articulando, por dedução, o que estaria latente. A manifestação da criança adquire o poder de evocar sentidos, e o que garante a clínica é a prevalência da intuição. Desconhecendo a dimensão imaginária que a constitui, o clínico referencia, no próprio acréscimo de sentidos que a compreensão oferece, a fuga insistente do sentido, obliterando-o. Assim, tanto na par ticularização teórica, quanto na universalização do imaginário, abando na-se a interrogação sobre a singularidade das manifestações da criança e escapa-se à ética da psicanálise. O que há na criança (de) insuportável? Não por acaso existem soluções: os analistas recusam as cnanças porque tomam tempo, exigem cuidados especiais e acarretam incômo dos diversos. Mas, vale notar que os psicanalistas que só atendem analistas e analisantes que se dirigem explicitamente à psicanálise e/ ou que se dedicam à supervisão, podem acabar por ficar isolados da subjetividade 12 CRIANÇAS NA PSICANÁLISE de seu tempo. Nesse caso, Sauret5 confirma o veredito de Lacan: <<seria melhor que renunciassem ao exercício da psicanálise>>. Fazer trabalhar essas questões é o que a clínica de crianças impõe à formação do analista. Freud constata que a criança concreta sustenta, efetivamente, dificuldades para a psicanálise. Enquanto termo substituível na equação de equivalentes, a criança assume uma função significante: que pode ser vertida em todos os sentidos orientados pelo seu efeito, no fantasma do adulto que a ela se dirige ou que dela escapa. Freud abordou a dificuldade implicada no estatuto da criança enquanto representação narcísica dos pais e da cultura; lugar de realização do que os pais não fizeram, lugar de prevenção e da ortopedia rumo ao ideal de civilização. Mas o que permite tantos desdobramentos de sentido nessa articulação do simbólico ao imãginário, permitindo falar de cúmulo de sentido, nos deslizamentos infinitos entre o significante e o corpo infantil, é isso que toma assento no real da criança. O estatuto de real da criança também foi bordeado por Freud. E de muitas maneiras. Não apenas ao dizer que a observação de crianças não responde pelo infantil e origina malentendidos, mas ao dizer também que a observação da vida anímica infantil é uma tarefa difícil, que a criança pode tomar-se enigma inabordável, que a criança ensinou-lhe coisas para as quais não estava preparado, que poderia estar muito idoso para ter paciência com elas; paciência, inclusive, para escrever sobre ela. Buscou reparar tal descuido na delegação dessa tarefa à sua criança, a Anna, que representava, então, o futuro da psicanálise6. Enfim, se Freud afirma que <<o anímico é imperecível em seu sentido mais pleno>> (o que já é dizer, com Lacan, que há aí um cúmulo de sentido, que não é senão o nonsens>>), de nada adianta buscar apreender-lhe a origem. Não se trata do originário, mas do real. E o real provoca seu desconhecimento, sua negação sistemática. Se esse real pode ser encoberto ganhando o nome de criança, é preciso considerá-la como a consistência imaginária dada a essa lógica 5 Op. cit., p. 60. 6 Fiz um estudo pormenorizado destes aspectos no livro: A criança na clínica psicanalític,1, Rio de Janeiro, Cia de Freud, 1997, pp. 46-64.