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A mensagem implícita no livro diz que a Inglaterra (e isso se aplica a muitos outros países) é formada “profundamente” por imigrantes. A ideia de mudar para outro país em busca de vida melhor também é abordada no estudo de Benson e O’Reilly (2009) da chamada migração por estilo de vida entre indivíduos relativamente ricos. A migração oferece a alguns a promessa de seguir um estilo de vida alternativo e mais simples, a outros uma oportunidade de fugir de dramas pessoais ou de se reinventar. Embora normalmente não faça parte dos estudos sobre migração, os autores analisaram a migração por estilo de vida do ponto de vista dos muito ricos, que permitiu a eles tomar a decisão sobre o contexto do curso de vida como um todo. Talvez esse seja um movimento produtivo no estudo de outros tipos de migração. Nem toda migração é escolhida por vontade própria. Na outra ponta da balança temos tráfico humano e escravidão moderna, que muitos achavam que haviam sido erradicados para sempre. No entanto, a breve descrição histórica de Masci (2010) mostra que hoje grande parte do tráfico humano desloca pessoas de algumas das partes mais pobres do mundo [96] para a mão de obra escrava, sexo e prostituição, em grande parte um processo estreitamente relacionado ao crime organizado internacional. O capítulo questiona se os governos do mundo estão fazendo o suficiente para controlar e evitar o tráfico e engloba debates nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, úteis aos estudantes. Referências e leitura complementar BENSON, M.; O’REILLY, K. Migration and the search for a better way of life: a critical exploration of lifestyle migration, Sociological Review, 57(4), 2009, p.608-25. CASTLES, S. Twenty-first century migration as a challenge to sociology, Journal of Ethnic and Migration Studies, 33(3), 2007, p.351-71. CASTLES, S.; MILLER, M. J. The Age of Migration: International Population Movements in the Modern World. 4.ed. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2008. MASCI, D. Human trafficking and slavery: are the world’s nations doing enough to stamp it out?. In: Issues in Race, Ethnicity, Gender and Class: Selections from CQ Researcher. Thousand Oaks, CA: Pine Forge Press, 2010, p.25-46. URRY, J.; SHELLER, M. (eds.). Tourism Mobilities: Places to Play, Places in Play. London: Routledge, 2004. WINDER, R. Bloody Foreigners: The Story of Immigration to Britain. London: Little, Brown, 2004. Risco Definição prática Segundo Ulrich Beck, tentativas de evitar ou mitigar potenciais perigos, sobretudo os “riscos fabricados” que são produtos da atividade humana. Origens do conceito O termo “risco” foi extraído do uso cotidiano e aprimorado como conceito sociológico bem como uma teoria mais genérica de mudança social. [97] Correr riscos ou se envolver em comportamentos confortavelmente arriscados, como esportes radicais, é parte corriqueira da vida de muita gente e engloba ações imbuídas de perigo. A maioria dessas atividades são riscos calculados, pois foram feitas todas as tentativas possíveis para deixá-las o mais seguras possível. A disciplina distinta de análise de riscos é usada em empresas, governos e órgãos de trabalho voluntário para avaliar os prós e contras de um curso de ação, analisar a possibilidade de sucesso e sugerir maneiras de minimizar os perigos financeiros, entre outros, a ele atrelados. Depois que os sociólogos começaram a usar o conceito de risco, ele se tornou muito mais geral, e agora se refere às condições sociais predominantes à medida que as pessoas das sociedades industriais passam a refletir sobre os aspectos mais prejudiciais da modernidade. Ulrich Beck (1992) e Anthony Giddens (1991) influenciaram a determinação das teorias do risco (e confiança) como altamente relevantes para compreendermos as sociedades contemporâneas. Contudo, esse conceito geral foi introduzido em uma série de temas como saúde, crime e desvio, meio ambiente e teoria social. Significado e interpretação Os seres humanos sempre enfrentaram riscos, de violência de outros humanos, catástrofes naturais, incêndios e acidentes. Ainda enfrentam. No entanto, os teóricos do risco veem os riscos de hoje como qualitativamente diferentes dos perigos externos de antigamente. Esses riscos externos – secas, terremotos, fome e tempestades – eram temidos, pois emergiam do ambiente natural, eram imprevisíveis e fugiam do controle humano. Os principais perigos de hoje, como aquecimento global ou a proliferação de armas nucleares, são exemplos de risco fabricado, criados pelos próprios seres humanos por meio do impacto de seu conhecimento e suas tecnologias. Muitas decisões no cotidiano também ficaram imersas em riscos e incertezas. Por exemplo, os riscos hoje abarcam uma série de mudanças sociais, como mais insegurança em relação a emprego, o declínio da [98] influência das tradições na identidade própria, a erosão de padrões tradicionais de família e a democratização dos relacionamentos pessoais. Como o futuro das pessoas está menos estável e previsível do que no passado, todos os tipos de decisões apresentam novos riscos para os indivíduos. O casamento costumava ser um passo bastante óbvio, uma etapa do curso de vida e uma estabilização da sexualidade adulta. Hoje, muitas pessoas vivem juntas sem terem se casado, os índices de divórcio são elevados, os índices de pessoas que se casam novamente também são altos, e as pessoas precisam avaliar os riscos em circunstâncias cada vez mais incertas. Isso é típico da forma como o conceito de risco ingressou no discurso sociológico assim como na vida cotidiana das pessoas (Arnoldi, 2009). Os últimos vinte anos foram palco de inúmeros ataques terroristas que também mudaram as visões das pessoas sobre o quanto suas comunidades estão protegidas de ameaças de violência e como os governos podem proteger seus cidadãos. Embarcar em um avião para um voo nacional hoje em dia pode envolver um conjunto de medidas de segurança, como escaneamento completo do corpo, cujo intuito é reduzir os riscos de os passageiros virarem vítimas. Como são produtos de nosso modo de vida moderno, esses riscos nos apresentam novas escolhas e novos desafios. Até mesmo decisões aparentemente simples quanto ao que comer agora são tomadas no contexto de informações e opiniões conflitantes sobre as vantagens e desvantagens de determinado alimento. Para Ulrich Beck, o conceito de risco possui um significado ainda maior. Segundo ele, atravessamos atualmente a morte lenta da sociedade industrial conforme surge um novo tipo de “sociedade de risco”, em que se conscientizar sobre os riscos e evitá-los estão se tornando características centrais e as questões ambientais ganham destaque. Durante os séculos XIX e XX, a política foi dominada pelo enorme conflito de interesses entre trabalhadores e empregadores encabeçado por partidos de esquerda e direita, com foco na distribuição de riquezas. Segundo Beck (2002), esse conflito industrial de classes perdeu representatividade, pois as pessoas perceberam que lutar por uma fatia maior do “bolo da riqueza” é em vão se o próprio bolo estiver envenenado pela poluição e destruição ambiental. Rumamos para uma “sociedade de riscos mundiais” em [99] que até mesmo países relativamente ricos não ficam imunes à poluição industrial, às mudanças climáticas nem à destruição da cama de ozônio. Gerenciar os riscos será um aspecto fundamental da nova ordem mundial, porém os Estados- nação sozinhos não conseguirão vencer em um mundo de riscos globais. Portanto, a cooperação transnacional entre governos, como o acordo internacional no Protocolo de Kyoto, a fim de tentar solucionar o aquecimento global reduzindo as emissões de carbono, provavelmente se tornará algo comum. Aspectos controversos Uma das principais críticas da teoria dos riscos é a de que ela é exagerada. Por exemplo, não há pesquisas empíricas suficientes e provas concretas que sustentem a tese de Beck sobre a transição para uma “sociedade de riscos”, embora haja mais consciência dos riscos e problemas ambientais. Os partidos políticos voltados à causa verde não ganharam o espaço eleitoral que esperaríamos se a política mais tradicional baseada em classes estivesse se esfacelando; e os antigos partidos de “esquerda” e “direita” continuam a dominar a política nacional. Em âmbito global, o problema da geração e distribuição de riquezas continua a dominar, enquanto países em desenvolvimento tentam desesperadamente estreitar a distância entre ricos e pobres. Solucionar o problema gigantesco da pobreza absoluta no mundo em desenvolvimento continua sendo o foco da política internacional. Alguns críticos acham a teoria dos riscos um tanto quanto ingênua com relação ao conceito de risco e como isso varia de cultura para cultura. Aquilo que se define como “risco” em algumas sociedades pode não ser considerado como tal em outras, da mesma forma como o que se define como poluição nas sociedades ricas industrializadas é muitas vezes visto como um sinal de desenvolvimento econômico saudável em países mais pobres e em desenvolvimento. O que se considera como risco varia culturalmente, o que torna bastante difícil a realização de acordos internacionais para lidar com os riscos. [100] Relevância contínua Ainda que alguns dos principais argumentos da teoria dos riscos possam ser exageros, não há dúvidas de que as mudanças sociais recentes levaram a mais incertezas e menos confiança nos modos de vida tradicionais e habituais. Nesse contexto modificado, a sensibilidade aos riscos de fato parece aumentar, em paralelo à necessidade dos indivíduos de tomar as próprias decisões em um espectro muito mais amplo de assuntos com os quais convivem agora. Ameaças globais à saúde, como a gripe suína ou a 1 polêmica nacional sobre a segurança da vacina MMR no Reino Unido, bem como intermináveis debates sobre os perigos da internet para as crianças demonstram que o que poderia ser visto como questões não políticas passa agora para a esfera da “política de riscos”. Judith Green (2009) reconhece que o conceito de riscos foi muito produtivo em seu campo da Sociologia Médica, sobretudo para entender como as pessoas se relacionam com as doenças e mapear suas ações em relação aos riscos ligados à saúde. No entanto, ela afirma que o “risco” é agora muito menos útil nesse campo, principalmente para aqueles que desenvolvem estudos empíricos. Isso porque a pesquisa de riscos ficou com um foco mais restrito, limitada a alguns temas da análise de riscos, tomada de decisões racional e cálculo técnico. Restringir as pesquisas em termos de risco pode ser agora desnecessariamente limitador. Referências e leitura complementar ARNOLDI, J. Risk. Cambridge: Polity, 2009. BECK, U. Risk Society: Towards a New Modernity. London: Sage, 1992. [Ed. Bras.: Sociedade do risco. São Paulo: Editora 34, 2011.] [101] BECK, U. Ecological Politics in an Age of Risk. Cambridge: Polity, 2002. ______. World at Risk. Cambridge: Polity, 2008. GIDDENS, A. Modernity and Self-Identity: Self and Society in the Late Modern Age. Cambridge: Polity, 1991. [Ed. Bras.: Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.] GREEN, J. Is it time for the sociology of health to abandon “risk”?, Health, Risk and Society, 11(6), 2009, p.493-508. TULLOCH, J.; LUPTON, D. Risk and Everyday Life. London: Sage, 2003. Urbanismo