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Cadê a diversidade que estava aqui? Um estudo de caso na arborização da cidade de Alegre, Espírito Santo, Brasil PDF

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A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho CADÊ A DIVERSIDADE QUE ESTAVA AQUI? UM ESTUDO DE CASO NA ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE ALEGRE, ESPÍRITO SANTO, BRASIL Amélia Carlos Tuler 1,2 Letícia Stephan Tavares2, Michélia Antônia do Nascimento Gusmão2, Fabrício Alvim Carvalho2 1. Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Av. José Ruschi, 4, 29.650-000, Santa Teresa, ES, Brazil. https://orcid.org/0000-0002-1512-5493 2. Universidade Federal de Juiz de Fora, Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Martelos, CEP 36036-330, Juiz de Fora (MG), Brasil. Resumo Nós investigamos a arborização urbana da cidade de Alegre, pertencente à região do Caparaó capixaba, reconhecida como uma das áreas de grande diversidade na região Sudeste do Brasil. Foram levantadas 91 espécies, das quais 52 são exóticas para o Brasil, sete exóticas para o estado do Espírito Santo e 16 naturalizadas. Apenas 16 espécies utilizadas na arborização são nativas, sendo três espontâneas. A inserção de espécies nativas na arborização urbana pode aumentar a conscientização do público em geral sobre plantas nativas e a necessidade de conservá-las. Palavras-Chave: Flora do Brasil, espécies nativas, invasoras, conservação ex situ. Where's the diversity that was here? A case study in afforestation in the city of Alegre, Espírito Santo, Brazil Abstract We investigate the urban reforestation of the city of Alegre, belonging to the region of Caparaó capixaba, recognized as one of the areas of great diversity in the southeastern region of Brazil. Of the 91 species listed here, 21 are exotic to Brazil, 7 exotics to the State of Espírito Santo and 16 naturalized. Among the exotic species, eight are considered invasive. Only 16 species used in street trees are native, 3 being spontaneous. The insertion of native species into street trees may be an opportunity to raise public awareness of native plants and the need to conserve them. Key-Words: Flora of Brazil, native, invasive, ex situ conservation. 1. Introdução beleza cênica, mas também a capacidade de A arborização das cidades assume um desempenhar funções ecológicas de grande importante papel na qualidade de vida e relevância, mesmo em ambientes urbanos bem-estar da população, fornecendo sombra, (KERN & SCHMITZ, 2013). trazendo bem-estar aos seres humanos e No entanto, a maioria das cidades brasileiras dando suporte para a fauna urbana (MORO não apresenta um planejamento para a & WESTERKAMP, 2011). Dessa forma, ela arborização urbana que acaba ocupando não possui apenas um papel relacionado à espaços com plantios irregulares, sem UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 218 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho critérios ou aplicações técnico-científicas e diretos para a cidade (KRAMER & quase sempre utilizam espécies exóticas KRUPEK, 2012). Dessa forma, os (SILVA et al. 2008). inventários e os levantamentos florísticos das áreas urbanas assumem grande Invasão biológica é um dos problemas mais importância, pois permitem além de importantes para a conservação biológica conhecer sua composição florística e sua (RICHARDSON et al. 2000a; diversidade, desenvolver iniciativas de RICHARDSON et al. 2000b; convenção educação ambiental, no que tange a sobre a diversidade biológica 2006), e o manutenção da diversidade, processos cultivo de plantas exóticas para fins ecológicos e valoração da nossa cultura. ornamentais é uma das maneiras pelas quais potenciais plantas invasoras são introduzidas Diante do exposto, o objetivo do trabalho é voluntariamente no ambiente (ZIPPERER et diagnosticar através de inventário, a al. 1997; HARRINGTON et al. 2003). composição da arborização de vias públicas da cidade de Alegre, na região do Caparaó O Brasil apresenta uma das maiores capixaba. biodiversidades biológicas do planeta, abrigando cerca de 46.000 espécies nativas 2. Método de plantas (ZAPPI et al. 2015). Apesar 2.1 Área de estudo dessa riqueza e do potencial paisagístico que ela representa, a biodiversidade brasileira O município de Alegre, situado na ainda é pouco conhecida e sua utilização na porção sul do Espírito Santo, apresenta uma arborização urbana tem sido negligenciada. área de aproximadamente 772 km2 e uma população de 32.175 habitantes (IBGE, O Parque Nacional do Caparaó é uma das 2017). A cidade recebeu no passado um áreas de grande diversidade na região importante contingente de imigrantes, Sudeste do Brasil. O parque apresenta uma principalmente libaneses e italianos, o que área de aproximadamente 31800 hectares, se reflete nas principais atividades com notável continuidade de ecossistemas econômicas desenvolvidas na cidade, o naturais e grande diversidade de espécies. comércio, a cafeicultura e a pecuária. Situado na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, inclui os municípios 2.2 Levantamento dos dados capixabas de Alegre, Divino de São O levantamento das espécies resultou de Lourenço, Dores do Rio Preto, Iúna, Irupi e observações qualitativas da arborização Ibitirama (IBDF, 1981). A cidade de Alegre urbana da cidade de Alegre realizadas é reconhecida como “cidade jardim”, durante 12 meses. Durante esse período homenagem representada inclusive no foram realizadas observações em todos os brasão municipal, com uma haste de roseira, bairros da cidade: Campo de aviação, espécie comumente presente nos jardins da Centro, Chácara da Serra, Charqueada, cidade. Clério Moulin, Colina, Nossa Senhora da Conhecer a diversidade florística das áreas Conceição, Guararema, Nova Alegre, urbanas permite desenvolver planos de Pavuna, Prainha, São Manoel, São Vicente arborização que valorizem os aspectos de Paula, Três Vilas, Treze, Triângulo, paisagísticos e ecológicos, e que Bairro Universitário, Bairro Vila Alta, Vila consequentemente, tragam benefícios do Norte e Vila do Sul. (Figura 1). UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 219 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Figura 1. Mapa do Município de Alegre, ES, evidenciando os bairros estudados. Fonte: Prefeitura Municipal de Alegre Em cada um dos bairros foram registradas (BFG, 2018). Com base nesta lista foram as espécies presentes nos espaços públicos calculados os percentuais de espécies da cidade, como ruas e praças, inclusive as nativas e exóticas presentes na arborização plantas presentes em vasos usados na da cidade. As espécies exóticas foram ornamentação. Em nossa lista consideramos classificadas ainda como invasoras e/ou espécies arbóreas, arbustivas, herbáceas e naturalizadas e cultivadas seguindo a lista de espécies com hábito lianescente. As espécies plantas invasoras do Brasil de Zenni e Ziller foram identificadas com ajuda de (2011) e a Flora do Brasil (2020). Como o bibliografia especializada, comparações com Brasil tem muitos biomas e uma espécie exsicatas de herbários e bases eletrônicas. pode ser invasora em um ecossistema, mas Fotografias e anotações realizadas em não em outro, foi evidenciado a vegetação campo auxiliaram as identificações. em que ela se encontra como invasora. Os termos nativo, exótico, naturalizado e As espécies foram classificadas invasor foram aplicados de acordo com quanto à origem como nativas se fossem Moro et al. (2012). São considerados conhecidas como ocorrendo naturalmente no elementos textuais a introdução, o estado do Espírito Santo de acordo com a desenvolvimento e a conclusão. Lista de angiospermas do Estado do Espírito Santo (DUTRA et al. 2015). As espécies exóticas foram subdivididas para distinguir aquelas que não são nativas para o estado do 3. Resultados e Discussão Espírito Santo, mas são consideradas nativas Foram identificadas 91 espécies utilizadas para o Brasil, denominadas como “Exóticas na arborização da cidade de Alegre, para o Espírito Santo”, daquelas espécies distribuídas em 43 famílias (Tabela 1, figura que são exóticas para o Brasil como um 2). todo, denominadas "Exóticas para o Brasil" UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 220 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Tabela 1. Lista de espécies usadas na arborização da cidade de Alegre. Família/Espécie, Nome popular (NP), origem (exótica Brasil, nativa, naturalizada, exótica ES), invasora de acordo com Zenni & Ziller (2011). Família/Espécie NP Origem Invasora ACANTHACEAE (3 espécies, 3 gêneros) Justicia Megaskepasma erythrochlamys Lindau Exótica Brasil – vermelha Pachystachys lutea Nees Camarãozinho Nativa – Ruellia simplex C. Wright Ruélia Nativa – AMARANTHACEAE (1 espécie, 1 gênero) Moela de Iresine herbstii Hook Exótica Brasil – frango AMARYLLIDACEAE (2 espécies, 1 gênero) Agave americana Linn Piteira Exótica Brasil – Agave attenuata Salm-Dyck Exótica Brasil – ANACARDIACEAE (2 espécies, 2 gêneros) Anacardium occidentale L. Cajueiro Nativa – Mangifera indica L. Mangueira Exótica Brasil Invasora ANNONACEAE (2 espécies, 1 gênero) Annona muricata L. Graviola Exótica Brasil – Annona squamosa L. Pinha, Biribá Exótica Brasil – APOCYNACEAE (4 espécies, 4 gêneros) Alamanda Allamanda cathartica Linn Nativa – amarela Catharanthus roseus G.Don Vinca, beijo Exótica Brasil – Nerium oleander L. Espirradeira Exótica Brasil – Plumeria rubra Linn Pagode Exótica Brasil – ARACEAE (1 espécie, 1 gênero) Alocasia portei Becc. & Engl. Exótica Brasil – ARALIACEAE (1 espécie, 1 gênero) Schefflera arborícola (Hayata) Merr. Exótica Brasil – ARAUCARIACEAE (1 espécie, 1 gênero) Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco Pinheiro Exótica Brasil – ARECACEAE (5 espécies, 5 gêneros) Caryota mitis Lour Rabo de peixe Exótica Brasil – Areca bambu, Dypsis lutescens(H.Wendl.) Beentje & Palmeira de Exótica Brasil – J.Dransf. jardim Euterpe oleracea Mart. Açaí Exótica ES – Árvore do Ravenala madagascariensis Exótica Brasil – viajante Roystonea oleracea (Jacq.) O.F.Cook Exótica Brasil – BALSAMINACEAE (1 espécie, 1 gênero) Beijo, Impatiens walleriana Hook. f. Naturalizada Invasora maravilha BIGNONIACEAE (4 espécies, 2 gêneros) Handroanthus chrysotrichus Ipê-amarelo Nativa – UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 221 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos Ipê-rosa Nativa – Handroanthus serratifolius Ipezinho Nativa – Tecoma stans (L.)H.B.& K. Ipê de jardim Naturalizada – BROMELIACEAE Tillandsia usneoides (L.) L. Barba de velho Nativa – CACTACEAE (1 espécie, 1 gênero) Rhipsalis baccifera (J.M.Muell.) Stearn Nativa – COMMELINACEAE (3 espécies, 2 gêneros) Dinheiro em Callisia repens Linn Nativa – penca Trapoeraba- Tradescantia pallida (Rose) D.R.Hunt Exótica – roxa Tradescantia zebrina Heynh. ex Bosse Lambari Naturalizada Invasora CHRYSOBALANACEAE (1 espécie, 1 gênero) Licania tomentosa (Benth.) Fritsch. Oiti Nativa – CICADACEA (1 espécie, 1 gênero) Cycas revoluta Thunb. Sagu Exótica Brasil – CLUSIACEAE (1 espécie, 1 gênero) Clusia hilariana Schltdl. Nativa – CYCLANTHACEAE (1 espécie, 1 gênero) Carludovica palmata Ruiz & Pav. Chapéu panamá Naturalizada – CRASSULACEAE (3 espécies, 1 gênero) Kalanchoe blossfeldiana Poelln. Flor da fortuna Naturalizada – Kalanchoe fedtschenkoi Hamet-Ahti & Naturalizada – H.Perrier Flor de Kalanchoe tubiflora Hamet-Ahti Exótica Brasil – abissínia DILENIACEAE (1 espécie, 1 gênero) Maçã de Dilenia indica L. Exótica Brasil – elefante ERICACEAE (1 espécie, 1 gênero) Rhododendron simsii Planch Azaléia Exótica Brasil – EUPHORBIACEAE (3 espécies, 2 gêneros) Codiaeum variegatum Blume Folha imperial Exótica Brasil – Euphorbia milli DesMoul. Coroa de cristo Exótica Brasil – Bico de Euphorbia pulcherrima Willd.ex Klotzsch Exótica Brasil – papagaio LILIACEAE (3 espécies, 3 gêneros) Chlorophytum comosum Baker Gravatinha Exótica Brasil – Dracaena fragans (L.) Ker Gawl. Exótica Brasil Invasora Yucca elephantipes Hort. Ex Regel Exótica Brasil – LEGUMINOSAE (6 espécies, 6 gêneros) Adenanthera pavonina L. Olho de pavão Exótica Brasil – flamboyant- Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. Naturalizada – mirim Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, Pau-Brasil Nativa – H.C.Lima & G.P.Lewis UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 222 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Poincianella pluviosa (DC.) L.P.Queiroz Sibipiruna Nativa – Senna siamea (Lam.) H.S.Irwin & Barneby Cassia Naturalizada – Tamarindus indica L. Tamarindo Exótica Brasil – MALVACEAE (5 espécies, 5 gêneros) Lanterna Callianthe striata (Dicks. ex Lindl.) Donnel Nativa – chinesa Hibiscus rosa-sinensis Linn Hibiscus, graxa Exótica Brasil – Malvaviscus arboreus Cav. Malvavisco Exótica Brasil – Pachira aquatica Aubl. Munguba Exótica Brasil – Theobroma cacao L. Cacau Exótica ES – MARANTHACEAE (1 espécie, 1 gênero) Ctenanthe setosa Eichl. Maranta cinza Nativa – MELASTOMATACEAE (1 espécie, 1 gênero) Pleroma granulosum (Desr.) D. Don Exótica ES – MELIACEAE (2 esécies, 2 gêneros) Azadirachta indica A.Juss. Nim Exótica Brasil – Cedrela fissilis Vell Cedro Nativa – MORACEAE (4 espécies, 3 gêneros) Artocarpus heterophyllus Lam. Jaqueira Naturalizada Invasora Ficus benjamina L. Ficus benjamim Naturalizada – Ficus sp. Figueira Nativa – Amora de Morus alba L. Exótica Brasil – árvore MUNTINGIACEAE (1 espécie, 1 gênero) Muntingia calabura L. Muntigia Exótica ES – MUSACEAE (2 espécies, 2 gêneros) Heliconia Heliconia psittacorum L.f. Nativa – Papagaio Musa sp. Exótica – MYRTACEAE (7 espécies, 4 gêneros) Eugenia uniflora L. Pitanga Nativa – Escova de Melaleuca viminalis (Sol. ex Gaertn.) Byrnes Exótica Brasil – garrafa Psidium cattleyanum Sabine Araçá Nativa – Psidium guajava L. Goiaba Naturalizada Invasora Psidium guineense Sw. Araçá Nativa – Syzygium cumini Jamelão Naturalizada Invasora Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry Jambo Naturalizada – NYCTAGINACEAE (1 espécie, 1 gênero) Bulganvile, Bougainvillea spectabilis Willd. sempre lustrosa, Nativa – primavera PLUMBAGINACEAE (2 espécies, 1 gênero) Plumbago capensis Thumb. Exótica Brasil – Plumbago scandens L. Exótica ES – PORTULACEAE (1 espécie, 1 gênero) Portulaca grandiflora Hook. Onze-horas Exótica ES – UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 223 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho PROTEACEAE (1 espécie, 1 gênero) Grevillea banksii R. Br. Exótica Brasil – PUNICACEAE (1 espécie, 1 gênero) Exótica Brasil – Punica granatum L. Romã Exótica Brasil – ROSACEAE (2 espécies, 2 gêneros) Rosa sp. Rosa Exótica Brasil – Ameixa, Eriobotrya japônica (Thunb.) Lindl. Naturalizada Invasora nêspera RUBIACEAE (3 espécies, 3 gêneros) Genipa americana L. Genipapo Nativa – Ixora coccinea L. Ixora Exótica Brasil – Mussaenda erythrophylla Schumach & Thonn. Mussaenda Exótica Brasil – RUTACEAE (1 espécie, 1 gênero) Murraya paniculata (L.) Jacq. Murta Exótica Brasil – TURNERACEAE (1 espécie, 1 gênero) Turnera ulmifolia Linn Chanana Exótica Brasil – VERBENACEAE (2 espécies, 2 gêneros) Duranta erecta L. Pingo de ouro Naturalizada – Verbena x hibrida Hort. Ex Vilm Camarada Exótica Brasil – VITACEAE (1 gênero, 1 espécie) Leea rubra Blume Léia-rubra Exótica Brasil – UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 224 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Fonte: Autor Figura 2: Espécies utilizadas na arborização da cidade de Alegre. A) Agave americana B) Tecoma stans C) Tradescantia pallida D) Licania tomentosa E) Euphorbia pulcherrima F) Ixora coccínea. Arecaceae e Malvaceae (cinco espécies), As famílias que apresentaram maior Apocynaceae (quatro espécies) e diversidade foram Myrtaceae (sete Bignoniaceae (quatro espécies) (Figura 3). espécies), Leguminosae (seis espécies), UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 225 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho Fonte: Autor Figura 3. Famílias mais representativas na arborização da cidade de Alegre. exóticas para o Espírito Santo, ou seja, Nossos resultados mostraram que apenas aquelas que ocorrem no Brasil, mas não 25% das espécies são nativas. A maior parte ocorrem no Espírito Santo somaram 7%. delas 52% são espécies exóticas para o Espécies naturalizadas somaram 16% das Brasil, ou seja, não ocorrem de forma espécies (Tabela 1, Figura 4). natural na flora brasileira. As espécies Fonte: Autor Figura 4. Origem das espécies utilizadas na arborização urbana da cidade de Alegre. UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 226 A.C. Tuler, L.S.Tavares, M.A.N. Gusmão, F.A. Carvalho delas, requer atenção. A falta de Das 23 espécies nativas, Rhipsalis conhecimento sobre os danos ambientais baccifera, Callisia repens e Tillandsia resultantes da disseminação de plantas usneoides não foram observadas como exóticas e a falta de compreensão sobre o plantas cultivadas, mas como indivíduos valor ecológico, associado à biodiversidade espontâneos, remanescentes ou poupados nativa, acaba resultando na incorporação de durante o processo de podagem ou limpeza espécies exóticas. dos canteiros (Tabela 1). As plantas urbanas não realizam Das 52 espécies exóticas que apenas funções estéticas, mas fazem parte registramos, 8 são relatadas por Zenni e da ecologia regional. Pássaros insetos, Ziller (2011) como sendo invasoras em um mamíferos e muitos outros grupos ou mais ecossistemas brasileiros e dependem de plantas ornamentais registramos dezesseis espécies como sendo (RUSZCZYK & NASCIMENTO 1999, naturalizadas. De acordo com Richardson et MENEZES, 2004, SMITH et al. 2006a, al. (2000), o estágio de naturalizada é um SMITH et al. 2006b). Entretanto, plantas passo no processo de bioinvasão, embora exóticas quando invasivas, acabam algumas espécies naturalizadas nunca se tornando-se um problema ambiental. tornem invasoras de fato. Quando não se faz um planejamento As espécies nativas em Alegre são ecológico/ambiental, o resultado é uma sub-representadas na arborização urbana. cidade dominada por espécies exóticas de Não apenas o número de espécies exóticas é menor valor para fauna urbana. As espécies muito superior ao número de espécies Dilenia indica e Pachira aquatica, por nativas, mas também são utilizadas na exemplo, produzem frutos com epicarpo arborização espécies consideradas invasivas. endurecido, o que dificulta o consumo e Além disso, vale ressaltar que uma porção resulta em um valor nutritivo restrito para a significativa de espécies nativas (19%) não fauna. são plantas cultivadas, mas indivíduos relictuais estabelecidos. Dessa forma, como Este aspecto deve ser considerado ao não são cultivadas é provável que selecionar espécies para o cultivo urbano. desapareçam do cenário a menos que haja Plantas nativas são seguras em relação aos uma mudança efetiva na prática em relação riscos bioinvasivos e podem melhorar a ao cultivo proativo de plantas nativas. qualidade ecológica dos ambientes urbanos, alimentar a fauna nativa e, ao mesmo tempo, Esse resultado não é exclusivo da fornece benefícios estéticos, além de atuar cidade de Alegre, outros estudos como um pool de conservação ex-situ de evidenciaram número superior de espécies espécies nativas. exóticas em relação às nativas. Nos municípios de Campos de Goytacazes, Rio Além disso, conhecer e apreciar a de Janeiro (PEDLOWSKI et al. 2002), biodiversidade, em longo prazo pode Campos do Jordão, São Paulo (ANDRADE, potencialmente aumentar o apoio público a 2002), Fortaleza e Ceará (MORO & proteção de plantas nativas (MCKINNEY, CASTRO 2014) o número de espécies 2006). Essa falta de percepção ambiental exóticas além de superior em relação as levou a uma situação contraditória, onde o nativas, também representava a grande Brasil, um dos países com maior maioria em termos de número de indivíduos. biodiversidade no mundo, não conhece nem valoriza sua própria biodiversidade. Árvores O elevado número de espécies exóticas são facilmente reconhecidas em exóticas utilizadas na arborização urbana, nossas ruas, enquanto espécies muito bem como o potencial invasivo de algumas características dos ecossistemas nativos são UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 4 (2021) p. 218-229 Página 227

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