Apesar de ser um dos livros mais importantes da etapa de Neruda posterior ao Canto Geral, As Uvas e o Vento é quiçá um dos menos conhecidos, em razão do que, depois de sua publicação em 1954, tem sido de difícil acesso fora das edições de obras completas do poeta. Em torno ao eixo do itinerário de uma viagem à Europa que é um reencontro com uma geografia, com um passado cultural e com as tensões de um presente conflitivo ou o nascimento de novos regimes socialistas, Neruda descreve uma cartografia política e poética dos anos de pós-guerra, desde a Ilha Negra no Chile até a China de Mao. Quando, na volta dos anos, o poeta abordar novamente alguns aspectos deste panorama, seu ponto de vista terá em algum caso variado, inclusive dramaticamente às vezes; mas o vigor expressivo, a fé no homem e a capacidade totalizadora de visão que pulsam em As Uvas e 0 Vento — grande hino europeu e asiático, depois do hino americano do Canto Geral — impõem sua grandeza e convicção mais além da circunstância histórica concreta em que se manifestaram. Como em toda a obra de Neruda, canta-se, no mundo visível, o projeto de um mundo novo onde o homem seja homem, conciliado num âmbito humano.