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Armas, utensílios e esconderijos. Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final PDF

106 Pages·2000·1.32 MB·Portuguese
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Arqueologia .volume 3.número 1.2000 REVISTA PORTUGUESA DE 15 Armas, utensílios e esconderijos. Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final: o depósito do Casal dos Fiéis de Deus ANA ÁVILA DE MELO R E S U M O Partindo da constatação de que a quase totalidade da produção metalúrgica de Bronze Final no actual território português foi encontrada “descontextualizada” em depósitos, pre- tendeu-se compreender as especificidades deste tipo de registo arqueológico que emerge com tanta pujança durante o Bronze Final. Não havendo nenhum levantamento sistemático de todos os depósitos em território português, optou-se pelo estudo exaustivo do depósito do Casal dos Fiéis de Deus, Bombarral, um dos mais representativos da última etapa da metalurgia do Bronze Final e dado a conhecer no início deste século por J. Leite de Vasconcelos. O estudo do depósito do Casal dos Fiéis de Deus é apresentado como um case study, tal como foi definido por C. Ginzburg (1991, p. 176). O facto de este depósito ter sido abordado na perspectiva de um case study, obrigou a repensar o papel da tipologia de artefactos metálicos neste trabalho. Não sendo prioritária a definição de uma tipologia específica para este conjunto artefactual, recorreu-se às tipologias mais comummente utilizadas na descrição de artefactos metálicos. Por outro lado, a revisão dos dados avançados por J. Leite de Vasconcelos levou, necessariamente, a um estudo arqueometalúrgico mais aprofundado. A integração da metodologia experimental e comentários aos resultados obtidos na análise à composição química por fluorescência de raio-X, dispersiva de energias, realizada por Maria de Fátima Araújo (Departamento de Química - ITN) no corpo principal do trabalho e não em anexo, como é mais frequente, obedeceu à necessidade de dar primazia às questões técnicas e científicas da arqueometalurgia e obviar a que os resultados das análise perdessem força operativa, enquanto elemento interpretativo. A afirmação feita por P. Kalb (1980a, 1980b) de que a grande variedade e concentração de artefactos metálicos na Estremadura não é de modo algum consentânea com a aparente pobreza metalífera da região motivou o estudo comparativo do depósito do Casal dos Fiéis de Deus, com outros dois depósitos do mesmo período cronológico e áreas regionais limítrofes — os depósitos de Coles de Samuel, Soure e Porto do Concelho, Mação. Partiu-se, deliberadamente, do particular para o geral, ao tentar, através da análise do depósito do Casal dos Fiéis de Deus e sua posterior comparação com os de Coles de Samuel e de Porto do Concelho, detectar as particularidades específicas deste tipo de registo REVISTA PORTUGUESA DEArqueologia .volume 3.número 1.2000 16 arqueológico e a existência de semelhanças e diferenças com as produções metálicas de outras áreas regionais, especialmente a Beira Alta e a Beira Interior. A compreensão e interpretação do fenómeno deposicional através de uma análise exaustiva de cada um dos depósitos encontrados no actual território português e a sua posterior comparação, para aferir possíveis semelhanças e diferenças, é o único meio para se estabelecer um padrão ou padrões de deposição no nosso território. O que se pretendeu fazer com o depósito do Casal dos Fiéis de Deus foi apenas uma pequena etapa desse todo imprescindível. Como registo arqueológico específico, a deposição intencional de artefactos metálicos não pode permanecer desgarrada das investigações levadas a cabo sobre áreas regionais precisas. O papel que a metalurgia representa nas estratégias de povoamento e gestão de recursos é ainda bastante nebuloso, nomeadamente no que se refere à articulação entre recursos mineiros disponíveis, produção e circulação do metal. A B S T R A C T Recognizing that almost all the metallurgical production of the Final Bronze Age of the Portuguese territory was found out-of-context in deposits, we attempt to unders- tand the specifics of this type of archaeological assemblage that occurs with such abruptness during the Final Bronze Age. Not having any systematically produced map of all the deposits in the Portuguese territory, it was decided to carry out an exhaustive study of the deposit of Casal dos Fiéis de Deus, Bombarral, one of the most representative of the Final Bronze Age deposits and made known at the beginning of the 19thcentury by J. Leite de Vasconcelos. The study of the deposit of Casal dos Fiéis de Deus is presented as a case study, as defined by C. Ginzburg (1991, p. 176). The fact that this deposit has been approached from the perspective of a case study forced us to rethink the role of typology in the analysis of metallurgical artifacts in this work. As the definition of a specific typology for this artifactual assemblage was not a priority, the most commonly used typologies were employed in the description of metallurgical artifacts. On the other hand, the revision of the data advanced by J. Leite de Vasconcelos brought forth, necessarily, a more in-depth archaeometallurgical study. The integration of experimental methodology and the results of chemical compositional analyses using energy dispersive X- ray fluorescence conducted by Maria de Fátima Araújo (Department of Chemistry – ITN) in the main body of the work, and not in an appendix as is more common, forced us to priori- tize the technical and scientific questions of archaeometallurgy and prevented the analytical results from losing their operative force, despite their interpretive element. The affirmation made by Kalb (1980a, 1980b) of the great variety and concentration of metal artifacts in the Estremadura, which is not in any way consistent with the apparent metallif- erous poverty of the region, motivated a comparative study of the deposit of Casal dos Fiéis de Deus with two other deposits from the same chronological period and bordering regions – the deposits of Coles de Samuel, Soure, and Porto do Concelho, Mação. We intentionally move from the specific to the general, beginning with the analysis of the deposit of Casal dos Fiéis de Deus and later a comparison with those of Coles de Samuel and of Porto do Concelho, in order to attempt to detect specific particularities of this type of archaeological assemblage and the existence of similarities and differences between metal production in other regions, especially the Beira Alta and the Beira Interior. The understanding and interpretation of the depositional phenomenon requires an exhaus- tive analysis and comparison of the two deposits found in the present-day Portuguese terri- 17 Armas,utensílios e esconderijos.Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final:o depósito do Casal dos Fiéis de Deus ANA ÁVILA DE MELO tory in order to infer possible similarities and differences, and is the only way to establish a pattern or patterns of deposition in our territory. That which we attempted to do with the deposit of Casal dos Fiéis de Deus was only a small but necessary step. As a specific type of archaeological assemblage, the intentional deposition of metal artifacts can not be considered in isolation from other assemblages and sites within a region. The role that metallurgy represents in settlement pattern and resource management is still consider- ably unclear, particularly in that articulation between available mineralogical resources, pro- duction, and the circulation of metal goods. Introdução Todo o trabalho científico é, estou em crer, fruto da “perplexidade” e da “inquietação”, como tão bem notou Grandazzi (1991, p. 160). Nesse sentido, enunciar os seus objectivos prin- cipais e fundamentos metodológicos que orientaram a sua execução, mais não é do que expres- sar as dúvidas e inquietações iniciais que despertaram a nossa atenção e motivaram a nossa pesquisa. Se é antigo o meu interesse pela Arqueologia, já se pode considerar mais recente a minha abordagem à Pré e Proto-História no actual território português, a qual tive oportunidade de actualizar e aprofundar ao longo destes últimos anos, e de que o presente trabalho procura, de algum modo, ser testemunho. Um elo comum, porém, havia que ligava os meus interesses pas- sados aos do presente — as questões da metalurgia antiga. A “perplexidade” e a “inquietação” foram despertadas, quase de imediato, logo que me debrucei sobre a complexa problemática da metalurgia do Bronze Final no Ocidente Peninsular e pelo paradoxo que se me apresentava: a quase totalidade da sua produção em território português foi encontrada “descontextualizada”, em “depósitos” ou “esconderijos de fundidor”, contrastando com a escassez ou, pelo menos, pouca visibilidade dos sítios deste período. Temos, portanto, uma época fulcral da Proto-História do nosso território (e, num âmbito mais geral, do território peninsular) ainda muito estrutu- rada, cronológica e culturalmente, com base numa produção metalúrgica na sua maioria “des- contextualizada” e avulsa, pese embora o grande avanço feito nos últimos anos para um conhe- cimento integrado e estruturante do Bronze Final em algumas áreas regionais do actual território português — refiro-me especificamente à Estremadura, à Beira Alta e à Beira Interior, sem menos- prezo para os estudos sobre outras regiões, mas tão somente pela sua relação directa com o pre- sente trabalho. Neste contexto, afigurou-se-me assaz pertinente procurar compreender este “novo cená- rio” do registo arqueológico — os depósitos de artefactos metálico (Jorge, 1998, p. 159). Não havendo nenhum levantamento completo dos depósitos em território português e sendo, na sua maior parte, apresentados em inúmeras e diversificadas publicações, resultado de estudos já bastante antigos, alguns deles remontando ao começo do século, apercebi-me, logo de iní- cio, que me seria impossível, em tão curto espaço de tempo, fazer um estudo de todos os depó- sitos do Bronze Final existentes em Portugal, optando por estudar exaustivamente o depósito do Casal dos Fiéis de Deus, Bombarral. A esta escolha não foram alheias duas condicionantes fundamentais — a facilidade concedida no acesso às peças, pelo Dr. Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia, e um relato bastante minucioso das circunstâncias do achado REVISTA PORTUGUESA DEArqueologia .volume 3.número 1.2000 18 e do contexto deposicional do depósito, feito, no começo deste século, por J. Leite de Vascon- celos, caso pouco frequente na maioria dos depósitos de artefactos metálicos encontrados no território nacional. Dito por outras palavras, tinha uma base suficientemente sólida para ali- cerçar os fundamentos teóricos e científicos da minha investigação. Não podendo realizar uma pesquisa exaustiva das produções metálicas provenientes de depósitos, nem tão pouco socorrer-me da publicação de peças inéditas, numa perspectiva mais tradicional de um estudo tipológico, propus-me transformar o depósito do Casal dos Fiéis de Deus num case study, tal como Ginzburg (1991, p. 176) o define, ou seja, “uma inves- tigação que seja ao mesmo tempo qualitativa e exaustiva”, o que, necessariamente, apenas permite “tomar para exame entidades numericamente circunscritas (...)”. Assim, a compara- ção que, posteriormente, foi estabelecida entre três dos mais significativos depósitos de arte- factos metálicos em território português — Casal dos Fiéis de Deus, Porto do Concelho e Coles de Samuel — obedeceu não só a estes requisitos teóricos e metodológicos, mas também à res- pectiva cronologia e ao conhecimento razoavelmente preciso da localização e circunstâncias de achado. A escolha dos depósitos de Porto do Concelho e Coles de Samuel como termo de compa- ração não é, de modo algum, aleatória. Partindo da afirmação feita por P. Kalb (1980a, 1980b) de que a grande variedade e concentração de artefactos metálicos na Estremadura não é, de modo algum consentânea com a aparente pobreza metalífera da região, procurei, através deste estudo comparativo, caracterizar algumas das principais linhas de força da metalurgia durante o Bronze Final, em especial na Estremadura. Neste sentido, a integração dos resultados das aná- lises à composição química deste conjunto de artefactos metálicos, e respectivos comentários, no corpo principal do trabalho e não em breve anexo, como é frequente em muitos estudos arqueológicos, obedeceu a uma vontade consciente de chamar para a ribalta as questões espe- cíficas — técnicas e científicas — da arqueometalurgia e constitui, na minha opinião, talvez um dos contributos mais inovadores trazidos por este trabalho, já que, neste caso concreto a ino- vação, a haver, nunca se poderia situar no âmbito da publicação de artefactos inéditos ou no estabelecimento de uma tipologia própria, para este conjunto artefactual. Espero conseguir sensibilizar todos aqueles que lerem este estudo para a necessidade premente de integrar no “todo” de qualquer pesquisa arqueológica, de pleno direito, os resultados obtidos através do recurso aos diferentes métodos que a Arqueometria pode pôr ao nosso serviço; e se essa atitude já começa a ser uma realidade no campo das datações absolutas, o mesmo não se pode dizer das questões arqueometalúrgicas em que, quase inevitavelmente, os resultados das análises à com- posição química e as metalografias são remetidos, com breves comentários, para os “anexos”, perdendo assim, força operativa enquanto elemento de análise. O facto de ter procurado abordar o depósito do Casal dos Fiéis de Deus como um case study, obrigou a uma redifinição do objectivo e âmbito do peso da tipologia dos artefactos metálicos neste trabalho. Não sendo prioritária a definição de uma tipologia específica para este conjunto artefactual, socorri-me das tipologias comummente utilizadas na descrição dos artefactos metá- licos, ou seja, a estabelecida pela Commission du Bronze da Société Préhistorique Française. No caso das produções locais, bastante expressivo, diga-se desde já, optei pelas tipologias estabelecidas por L. Monteagudo — no caso dos machados — e por A. Coffyn, para os artefactos metálicos da Península Ibérica na Idade do Bronze. A tipologia, não carecendo de papel de destaque no caso particular de um case study, tem de obedecer a critérios básicos de exigência científica, sob pena de irmos descrevendo tipos de artefactos, ao sabor das circunstâncias. No entanto, após muito ponderar a estrutura final deste trabalho e mesmo tendo em conta a sua natureza académica, 19 Armas,utensílios e esconderijos.Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final:o depósito do Casal dos Fiéis de Deus ANA ÁVILA DE MELO resolvi não incluir a base de dados tipológica que inventariei ao longo de meses no Museu Nacional de Arqueologia, não só por se tratarem de artefactos não inéditos, como também para não tornar muito pesada e compacta a versão final desta obra. Deste modo, os dados respei- tantes à descrição tipológica dos artefactos que integram o depósito do Casal dos Fiéis de Deus estão inseridos no ponto dedicado à caracterização do espólio e sob a forma de quadros des- critivos, quando se trata de vários exemplares do mesmo tipo de artefacto. Escrever um texto, mesmo que de natureza científica, não implica o uso de uma lingua- gem demasiado hermética ou uma excessiva profusão de referências inseridas, a título com- provativo, no texto e, deste modo, sobrecarregando-o desnecessariamente e tornando a sua lei- tura tarefa árdua. Esta é a minha justificação para a presença das notas. A inclusão, em anexo, de tabelas com os resultados das análises à composição química dos artefactos de bronze, maioritariamente do Centro e Sul de Portugal publicados até à presente data, tem como objectivo principal fornecer ao leitor informação complementar a algumas das questões que, ao longo de todo o trabalho, fui abordando. Os desenhos das peças dos depósitos de Coles de Samuel e de Porto do Concelho foram elaborados a partir dos originais publicados por M. A. Horta Pereira. 1. A metalurgia no contexto do Bronze Final J. Briard (1997, p. 6) escreveu que “La métallurgie s’est affirmée à L’Age du Bronze comme un facteur de rénovation de la société”. Esta afirmação resume eficazmente o modo redutor como até há pouco tempo muitos autores (e ainda hoje, alguns...) abordavam a Idade do Bronze, nos seus múltiplos aspectos e problemáticas, desde que Christian Jurgensen Thomsen, por volta de 1816, individualizou o sistema das três idades — da Pedra, do Bronze e do Ferro. Este sis- tema utilizado para a classificação das colecções pré-históricas do Museu de Copenhaga, e pos- teriormente legitimado e divulgado nos trabalhos pioneiros de Montelius e Worsaae, fundamenta- -se em pressupostos crono-tipológicos que extravasaram, e muito, a mera classificação de colecções, tendo condicionado durante largas décadas, para não dizer mais de um século, todos os trabalhos e linhas de investigação sobre a Idade do Bronze europeia. Assim, muito do que se escreveu e investigou sobre este período da Pré-História recente na Europa limitou-se, na mai- oria dos casos, às especificidades tecno-tipológicas deste período, ou seja, à sua produção meta- lúrgica. O conhecimento da Idade do Bronze europeia, sobretudo do seu extremo ocidental, foi construído através duma complicada teia de tipologias de artefactos metálicos, cujas ramifi- cações espaciais se entrecruzavam numa fina “estratigrafia” cronológica que, em vez de permi- tir uma fácil leitura do registo arqueológico, acabou por se tornar num espesso véu, através do qual, ao arqueólogo só eram permitidas visões parcelares e restritivas duma realidade que se sabia, a priori, bastante mais vasta, multifacetada e complexa. Como tão bem refere Vilaça (1995, p. 26) “o peso determinante da tipologia metálica na periodização justificava-se pela concep- ção de que a Idade do Bronze era o período áureo da generalização do metal, o que, aliás, não deixa de ser verdade. Assim, a dominante que nos fica, numa apreciação geral, é a de que a his- tória das pesquisas sobre a Idade do Bronze se identifica com a própria história do estudo tipo- lógico dos objectos metálicos de bronze”. É ainda J. Briard que, em contradição aparente com a afirmação acima citada e na mesma obra (Briard, 1997, p. 5), se interroga: “un siècle et demi après sa création, l’idée d’un Age du REVISTA PORTUGUESA DEArqueologia .volume 3.número 1.2000 20 Bronze est-elle encore valable aujourd’hui?”, para concluir que “(...)L’Age du Bronze n’est plus considéré comme une simple entité chronologique appuyée sur la typologie et la reconnais- sance de groupes géographiques culturels. Il implique des interrogations sur les répartitions spatiales, les territoires, l’organisation économique et sociale”. Mas será mesmo que a Idade do Bronze deixou de ser apenas “uma entidade cronológica assente na tipologia” — das produções metálicas, poder-se-ia acrescentar — como afirma Briard? Parece-me que, embora sejam já visí- veis os sinais de mudança, ainda há um longo caminho a percorrer, pelo menos na realidade geográfica a que nos reportamos — a Península Ibérica e, em particular, o actual território por- tuguês. Continua por esbater o “divórcio” entre grande parte da produção metálica que se apre- senta descontextualizada — especialmente na última etapa deste período, no chamado Bronze Final — e a realidade revelada pelo registo arqueológico que as inúmeras e sistemáticas inter- venções dos últimos anos têm dado a conhecer, permitindo já uma caracterização muito con- sistente de algumas áreas regionais durante a Idade do Bronze (como é o caso, por exemplo, da Beira Alta e da Beira Interior, no actual território português). A grande questão continua, a meu ver, na tendência de muitos investigadores, ainda hoje, em associar, no caso do Ocidente Peninsular, a problemática tecno-cronológica da produção metálica, às periodizações da Idade do Bronze e, em particular, do Bronze Final. Já em traba- lho antigo, mas fundamental para a sua caracterização (particularmente nos seus primórdios), M. Ruiz-Gálvez Priego (1984) chamou a atenção para a desadequação da periodização tripar- tida da Idade do Bronze ao Ocidente Peninsular. A grande continuidade cultural assente no substrato Calcolítico anterior atingia uma longa duração que extravasava, e muito, os limites do Bronze Antigo e do Bronze Médio, periodizações tradicionalmente aceites para o Bronze centro-europeu. Por esta razão, M. Ruiz-Gálvez Priego (1984, p. 340) propôs a utilização do termo Bronze Pleno que englobaria, no caso peninsular, a clássica divisão centro-europeia de Bronze Antigo e Bronze Médio: “Puesto que parece claro que en la Península durante el segundo milenio solo hay dos etapas claramente diferenciables: una cultura del Bronce, que surge de un substrato Calcolítico de mayor o menor duración, según las diversas áreas, y un Bronce Tardío, caracterizado por cambios en la cultura material, formas de enterramiento, etc. y que desem- boca en un Bronce Final y claramente individualizado (...)”. Ultrapassada a continuidade cultural que caracteriza a transição do Calcolítico Final ao Bronze Pleno, comummente aceite pela maioria dos autores, o grande momento de ruptura situar-se-ia exactamente na transição entre o Bronze Plenoe o Bronze Final, salvaguardando, no entanto, as especificidades regionais e tendo sempre presente os limites e fragilidades ine- rentes a qualquer generalização. Ao contrário da primeira metade do IIº milénio, caracterizado por “um registo arqueológico inovador, mas menos heterogéneo” (Jorge, 1991, p. 12), a etapa que decorre “entre cerca de 1500 e 1000 a.C., ou seja, o chamado Bronze Médio e os inícios do Bronze Final (...)” (Jorge, 1991, p. 12) é marcada por “uma acentuada retracção informativa. São mais raros, ao nível de todo o nosso país, os contextos sepulcrais conhecidos. Proliferam os artefactos metálicos, mas descontextualizados (os quais circulam, cada vez mais, nos finais do II milénio a.C., no âmbito de um intercâmbio de larga escala de tipo atlântico). São ainda excep- cionais os povoados reconhecidamente integrados nesta fase. “ (Jorge, 1991, p. 12). As palavras de S. O. Jorge constituem, também, outro paradigma ao sublinharem a inten- sificação da circulação das produções metálicas durante o Bronze Final, no âmbito da esfera atlântica, cruzando dois conceitos — Bronze Final e “Bronze Atlântico” — que, no caso penin- sular, se têm vindo a sobrepôr de tal forma que, em muitos trabalhos, os termos Bronze Final e Bronze Atlântico se apresentam em perfeita sinonímia. Falar de Bronze Final é utilizar um 21 Armas,utensílios e esconderijos.Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final:o depósito do Casal dos Fiéis de Deus ANA ÁVILA DE MELO conceito de natureza fundamentalmente cronológica, enquanto o emprego da expressão “Bronze Atlântico” pressupõe uma realidade cultural específica, disso ninguém tem dúvidas. A sobre- posição dos dois conceitos é que se revelou uma inevitabilidade para quem se debruçou sobre o Ocidente Peninsular (e europeu, dum modo geral), numa perspectiva tradicional — criando tipologias muito específicas das produções metálicas a que se atribuíram cronologias demasi- ado precisas. Coffyn (1985, p. 205), por exemplo, inclui o “grupo de Huelva” no Bronze Final Atlântico III, o qual situa entre 900-700 a.C., apenas tendo em conta a produção metalúrgica. O que significa, de facto, falar de “Bronze Atlântico”? Desdobrando as suas diferentes acep- ções, podemos dizer que o Bronze Atlântico corresponde ao período áureo da generalização e circulação do metal no Ocidente europeu, ou seja, durante a última etapa da Idade do Bronze — o Bronze Final. Na prática, significa que estamos a considerar várias realidades simultanea- mente — geográficas, culturais e cronológicas — classificando-as e hierarquizando-as segundo uma tradição arqueológica que pode não traduzir (e não traduz certamente) uma única reali- dade espaço-temporal e tenta unificar, generalizando as semelhanças e omitindo as diferenças, um pouco como faz o arquivista perante a dificuldade em arrumar processos muito diversifi- cados — arquiva-os na pasta dos “diversos”. Criada por Santa-Olalla, em 1946, a expressão “Bronze Atlântico”, por oposição ao “Bronze Mediterrânico” que caracterizava a zona levantina peninsular, esta rapidamente foi aceite pela maioria dos pré-historiadores e o seu uso impôs-se. Como refere Vilaça (1995, p. 27) “curiosa- mente, enquanto as expressões de “Bronze do Sudeste” e “Bronze Mediterrânico” vão sendo cri- ticadas ou caindo em desuso, a expressão “Bronze Atlântico” não só se impôs definitivamente como se enriqueceu com contributos ulteriores de peninsulares e de estrangeiros constituindo, hoje, um termo indispensável ao vocabulário de todos e uma realidade cultural para muitos que só alguns ousam questionar”. Retomemos a expressão “Bronze Atlântico”. O que define ela, na realidade, quando é uti- lizada em muitos trabalhos de autores peninsulares e europeus? Uma vasta região? Uma uni- dade cultural, revelada no registo arqueológico? Ou ainda, uma etapa crono-cultural da Idade do Bronze na Europa? Segundo Ruiz-Gálvez Priego (1987, p. 251) “cuándo empleámos el tér- mino “Bronce Atlántico” estamos simplemente hablando de una metalurgia común a los paí- ses que se asoman a ese océano y la mayoría de las veces incluso, empleamos tal término más como contraposición al mundo centro-europeo que como definición de un grupo cultural con entidad propria”. Temos, assim, um conceito que se afirma pela negativa — por oposição ao mundo cultural centro-europeu que, de facto, não caracteriza a cultura material desta parte Ocidental da Europa na Idade do Bronze. Mas haverá, por outro lado, um tempo comum a esse “mundo atlântico”, durante o qual se generalizou a produção e circulação de artefactos metá- licos? Ainda segundo a mesma autora, “tampoco hace referencia el término a un período cro- nológico concreto, pues mientras algunas regiones atlánticas se incorporan pronto a esa comu- nidad metalúrgica como Bretaña, el SO. de Inglaterra o Galicia, otras no lo hacen hasta el Bronce Final, como por ejemplo, el SO. francés, el Centro y Sur de Portugal o el S. O. español o incluso otras (...)” (1987, p. 252). Verificamos, pois, que a uma certa indefinição geográfica se pode asso- ciar uma imprecisão cronológica, sempre que nos referimos ao “Bronze Atlântico”. Não se tra- tando de uma área geográfica com limites bem definidos, nem tão pouco duma etapa especí- fica da Idade do Bronze no Ocidente europeu, o que torna tão “popular” o “Bronze Atlântico” entre muitos pré-historiadores, peninsulares e não só? Precisamente a metalurgia. Fechado o círculo, eis-nos regressados ao ponto de partida — a metalurgia; à generaliza- ção e circulação de tipos metálicos comuns desde a costa portuguesa, até às Ilhas Britânicas. REVISTA PORTUGUESA DEArqueologia .volume 3.número 1.2000 22 Ainda como refere M. Ruiz-Gálvez Priego (1987, p. 252) “todos sus miembros tienen en comun su situación costera o conectada con las regiones costeras, y la posición de una metalurgia de rasgos similares que, por otra parte, en buena medida, no es original, sino que copia prototi- pos centro europeos”. A proliferação dos artefactos metálicos (“descontextualizados”, na quase totalidade) e uma aparente retracção informativa do registo arqueológico, como bem salien- tou S. O. Jorge, conduziram a esta situação de impasse — os dados que possuímos relativamente a contextos funerários e de habitat(pelo menos no caso do Ocidente peninsular) são escassos e claramente insuficientes para permitir uma cabal compreensão do papel da metalurgia no desen- volvimento económico-social das comunidades do Ocidente peninsular, tanto mais que, mui- tas vezes, os tipos metálicos achados em contextos habitacionais ou funerários são bastante menos sofisticados do que aqueles revelados nos achados avulsos ou nos “depósitos” de arte- factos metálicos, tão característicos deste período. Mas estas generalizações, que só muito pon- tualmente são questionadas por alguns autores, correspondem, de facto, à realidade arqueoló- gica cada vez mais traduzida, nos últimos anos num mosaico informativo multifacetado, mas no qual a conexão dos diversos dados é, muitas vezes, de difícil interpretação para o arqueó- logo, quando pretende situar um caso concreto numa realidade mais vasta de complexificação e intensificação das relações económico-sociais destas comunidades. Voltemos então à metalurgia. Se foram as produções metálicas e respectiva circulação em áreas geográficas alargadas que, de algum modo, caracterizaram esta etapa da Proto-História no Ocidente da Europa, há que regressar ao início e tentar desfazer este emaranhado informa- tivo, em que dados geográficos, cronológicos e tipológicos se entrecruzam sistematicamente, dificultando, mais do que esclarecendo, a compreensão do papel da metalurgia e das produ- ções metálicas no Ocidente peninsular, durante o chamado Bronze Final. 1. 1. As produções metálicas Os estudos tipológicos sobre as produções metálicas peninsulares da Idade do Bronze atin- giram o seu auge com a publicação das obras ciclópicas de L. Monteagudo (1977) e, posterior- mente, de A. Coffyn (1985) que vêm culminar todo um século de estudos crono-tipológicos sobre os artefactos metálicos da Idade do Bronze, na sequência dos trabalhos pioneiros de Thomsen, Montelius e Worsaae. Embora se possa discordar da metodologia adoptada, ou haja alguma dificuldade em aceitar algumas das conclusões apresentadas, a verdade é que, talvez à revelia da expectativa dos seus autores, estas obras adquiriram um inegável valor, enquanto cor- pusdas produções metálicas peninsulares, sendo apenas ultrapassadas pelas descobertas mais recentes, fruto de achados ocasionais ou de intervenções arqueológicas, as quais, porém, não são ainda tão numerosas (se atendermos apenas ao que está publicado) que possam desactualizá- -las, anulando a sua importância enquanto corpus. O trabalho de L. Monteagudo, embora de âmbito tipológico mais restrito, pois apenas se debruça sobre machados, tem uma maior abrangência cronológica, já que inclui produções desde o Calcolítico Final/Bronze Pleno até à transição Bronze Final/Iª Idade do Ferro (outra etapa da Proto-História peninsular que necessita, urgentemente, de ser revista tendo em conta as recentes descobertas). Já a obra de Coffyn, menos abrangente do ponto de vista cronológico, procura ser o mais exaustiva possível, relativamente à diversidade tipológica apresentada. Partindo destas obras, e sem extrapolar qualquer ilação acerca dos dados apresentados, que tipos de produções metálicas há que considerar, fundamentalmente, para o Bronze Final? 23 Armas,utensílios e esconderijos.Alguns aspectos da metalurgia do Bronze Final:o depósito do Casal dos Fiéis de Deus ANA ÁVILA DE MELO Ao contrário da etapa anterior, marcada por uma menor diversidade de artefactos metálicos e em que predominam os punhais, pontas de Palmela, machados planos e objectos de adorno (essencialmente joalharia), durante o Bronze Final proliferam os artefactos metálicos, tanto de natureza “utilitária”, como “bélica”. Temos, assim, a par dos diversos tipos de machados, foi- ces, escopros, punções, etc., inúmeros vestígios de espadas, punhais e pontas de lança, aos quais há que acrescentar um grande número de braceletes e um cada vez maior (a julgar pelas últi- mas descobertas) número de fíbulas, os quais se enquadram melhor numa categoria de objec- tos de adorno, uma vez que não se lhes pode atribuir facilmente uma função utilitária (a não ser, talvez, no caso das fíbulas...). A. Coffyn (1985, p. 16) caracteriza a metalurgia peninsular até à transição do Bronze Pleno/ Bronze Final como “marquée par une continuité dans la production de haches plates, de hal- lebardes, de pointes de Palmela à longue soie. La technologie du cuivre se retient longtemps ce que ne peut suffire à expliquer l’abondance de ce métal dans la Péninsule Ibérique”. Já para as produções metálicas da última etapa da Idade do Bronze, este autor transpõe para a realidade peninsular a periodização tripartida do Bronze Final do Sudoeste francês, não deixando de real- çar alguns particularismos próprios e ensaiando uma aproximação entre os artefactos metáli- cos e alguns grupos cerâmicos (por exemplo, os grupos “Lapa do Fumo” ou “Baiões/Santa Luzia”) mais representativos deste período. Assim, a transição Bronze Médio/início do Bronze Final (cerca de 1200 a.C.) na Península Ibérica seria marcada por algumas produções metálicas específicas1, as pontas de lança de aletas inflectidas2, as navalhas de barba de espigão3, bem como os machados de apêndices e o aparecimento dos machados de talão maciços que, ainda segundo este autor, apresentariam algumas afinidades com o grupo de Rosnoën e de que o exemplar português de Mondim da Beira, com nervura central enquadrada por duas nervuras constituiria um bom exemplo. A esta primeira fase do Bronze Final que asseguraria a transição com o Bronze Médio, seguir-se-ia uma outra etapa — o Bronze Final II (1050-900 a.C.) — marcada pela presença das espadas pistiliformes, de origem centro-europeia, constituindo as espadas de Évora (MNARQ, I. G. n.º 10277 e 10278) e a de Vilar Maior (Guarda) os únicos exemplares em território portu- guês; Coffyn, aliás, considera as espadas de Évora as únicas verdadeiramente pistiliformes; a este tipo de espadas pode associar-se a ponta de lança de Veiros (Vale de Junco, Estremoz – MNARQ I. G. n.º 17482), embora esta última seja considerada uma produção local, bem como os contos de lança de forma cónica com terminação lenticular4. Finalmente a última etapa da Idade do Bronze peninsular — o Bronze Final III (900-700 a.C.) — é marcada pelo “complexo das espadas em língua de carpa” (Coffyn, 1985, p. 48). Neste “complexo” pode incluir-se um conjunto diversificado de produções metálicas, das quais se salientam as espadas tipo Huelva5, as espadas curtas (adagas)6e punhais de lâminas triangulares com entalhe ou espigão perfu- rado com dois ou três orifícios de rebitagem, para fixação ao cabo. A espada de tipo Vénatdo depósito do Casal dos Fiéis de Deus também se integra neste conjunto. Há ainda a acrescentar as pontas de lança tipo Vénat 7, as foices de alvado8, as virolas de bainha de espada9, os espetos articulados (tipo Alvaiázere), os ganchos de carne10. Em publicação posterior, A. Coffyn (1991, p. 285-293) revê a cronologia apresentada para as diferentes etapas da Idade do Bronze, face a novas descobertas, das quais se destacam o depósito de Baiões e o espeto de Amathonte (Chi- pre). O princípio da divisão tripartida da Idade do Bronze na Península Ibérica, porém, mantém- -se, apenas recuando os limites cronológicos de cada uma das etapas. Assim, o Bronze Final Atlântico I situar-se-ia entre 1100 e 950 a.C.; o Bronze final atlântico II entre 950 e 750 a.C., remontando o início do Bronze final atlântico III ao século VIII a.C. REVISTA PORTUGUESA DEArqueologia .volume 3.número 1.2000 24 1. 2. Artefactos “descontextualizados” Em 1980, P. Kalb procedeu a uma primeira tentativa (e única, até aos nossos dias) de siste- matização dos achados de artefactos metálicos em território português (Kalb, 1980a e 1980b). Ao contrário dos trabalhos de A. Coffyn e de L. Monteagudo, mais de natureza tipológica, esta autora preocupou-se, sobretudo, em inventariar o material existente dum amplo espectro cro- nológico que abarca desde o Calcolítico/Bronze Pleno até ao Bronze Final, disperso (e muitas vezes desmembrado) por diferentes museus do país e apresentado, um pouco ao sabor das cir- cunstâncias, nas mais diversas e inesperadas publicações, constituindo por isso um verdadeiro quebra-cabeças para o arqueólogo que pretenda fazer um levantamento bibliográfico exaustivo, sobre uma peça ou colecção. Kalb, admitindo o conceito de Santa-Olalla de “Bronze Atlântico”, por oposição ao de “Bronze Mediterrânico”, procurou, segundo as suas próprias palavras, “estudar as possibilidades de enqua- drar o “Bronze Atlântico” na Pré-História de Portugal” (Kalb, 1980b, p. 115). Curiosamente, ao contrário de Coffyn, esta autora afirma que “não é prioritário estudar os paralelos distantes e os seus contextos, mas sim os próprios achados e seus contextos na Península Ibérica” (Kalb, 1980b, p. 115). Tal como no trabalho de Coffyn, o resultado traduziu-se numa cartografia dos achados, mas desta vez não tanto com a preocupação de estabelecer vias de contacto e zonas de influência e sim de integrar a distribuição destes mesmos achados em áreas regionais, estabelecendo assim uma relação directa entre o número de achados e os recursos mineiros disponíveis. Neste inventário (Kalb, 1980a) são apresentados artefactos provenientes de achados avulsos, de depósitos de artefactos metálicos (“esconderijos de fundidor”) ou de contextos arqueológicos conhecidos, fruto de intervenções mais ou menos recentes. Das duzentas e noventa peças apre- sentadas em setenta e cinco pranchas, é claramente minoritário (para não dizer quase nulo) o número de achados proveniente de contextos arqueológicos minimamente conhecidos ou recen- temente escavados. Mais uma vez é sublinhado o impasse resultante do desfazamento entre os acha- dos metálicos “descontextualizado” e os sítios arqueológicos que, eventualmente, os poderiam ter produzido, o que leva Kalb a citar outros autores que afirmam que “o Bronze III se distingue do anterior Bronze II por falta de povoados e falta de sepulturas” (Kalb, 1980b, p. 118). Para esta autora, porém, “os relatórios antigos fornecem bastantes indícios. Muitas vezes está indicado que o machado tal ou o esconderijo tal foram encontrados “perto de um castro”, “em cima de um castro” (Kalb, 1980b,p. 119). Embora válidas, estas afirmações não bastam para explicar o efectivo divórcio entre o número de artefactos encontrados isolados, mesmo que “perto” ou “em cima de um castro”, e aqueles que integraram contextos arqueológicos precisos, quer sepulcrais, quer de habitat. Os trabalhos científicos sobre a metalurgia da Idade do Bronze têm de continuar, deste modo, a basear-se numa numerosa quantidade de artefactos “descontextualizados”. Porém, tais limitações não devem ser encaradas apenas como restrições à prossecução de trabalhos que não se limitem a aspectos meramente tipológicos e artefactuais, mas antes como “um outro lado” da realidade (ou uma outra realidade) arqueológica que, tarde ou cedo, há que problematizar. É um dado adquirido e aceite por todos que, durante a última etapa da Idade do Bronze, proliferam no Ocidente Europeu os achados de artefactos metálicos sem qualquer contexto arqueológico aparente. Esta constatação não chega, por si só, para legitimar a existência duma outra forma de registo arqueológico própria deste período — a deposição intencional de objec- tos metálicos — pois muitos dos achados correspondem, eventualmente, a conjuntos desmem- brados, a localizações que o tempo tornou imprecisas, a achados de superfície, conquanto pró- ximo de (ou mesmo em) sítios arqueológicos conhecidos, mesmo que não escavados. No entanto,

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