ANTIGO E NOVO NAS INTERVENçõES DE CARÁTER MONUMENTAL A EXPERIêNCIA BRASILEIRA (1980-2010) PatRiCia viCeConti nahas Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil Arquiteta e urbanista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998). Mestre em Arquitetura Moderna e Contemporânea com ênfase em intervenções em edificações histó- ricas pela mesma instituição (2009) e doutora em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2015), na área de preservação e restauração ReCebiDo do patrimônio arquitetônico no Brasil. E-mail: [email protected]. 02/09/2015 Doi aPRovaDo http://dx.doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v0i20p78-111 09/12/2015 Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 78 antiGo e novo nas inteRvenções De CaRáteR MonuMental: a exPeRiênCia bRasileiRa (1980-2010) PatRiCia viCeConti nahas RESUMo O artigo vem pautado na reflexão dos recentes diálogos entre antigo e novo, permanência e inovação, preservação e mudança, que fazem parte do cenário da produção arquitetônica contemporânea em que se assiste, cada vez mais, edifícios antigos tornarem-se parte de uma nova história da cidade. Com variadas denominações – restauro, reabilitação, readequação, revitalização, reciclagem –, as ações de intervenção operam sempre com a dimensão do tempo: o tempo de vida do monumento; o tempo durante o qual ele foi submetido à degradação; as sucessivas camadas de tempo que a ele foram acrescentadas pelas transformações por que passou; e o tempo que lhe resta como monumento vivo. A fim de esclarecer essas e outras ques- tões decorrentes dessa abordagem, busca-se investigar como se articulam as premissas teóricas e os critérios de projeto adotados nas intervenções em edifícios de valor histórico e artístico – onde julgamos encontrar-se o cerne do problema – a partir do pensamento italiano de restauro, tendo como base, em especial, os princípios da Carta de Veneza para a análise das características e dos procedimentos utilizados nas intervenções sobre preexistências históricas no Brasil nas últimas décadas. Foram estabelecidas oito tendências de intervenção mais recorrentes em um conjunto de obras analisadas, criando-se grupos com características semelhantes entre si, não totalmente rígidos e fechados, mas que, de alguma forma, pudessem facilitar a leitura das obras e caracterizar o panorama de intervenções no Brasil em relação ao campo disciplinar de restauro. PALAVRAS-CHAVE Patrimônio arquitetônico. Preservação e restauro. Patrimônio Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 79 the olD anD the new in MonuMental inteRventions: the bRazilian exPeRienCe (1980-2010) PatRiCia viCeConti nahas ABSTRACT This article reflects upon the recent dialogue between old and new, perma- nence and innovation, preservation and change. Aspects that are a part of the contemporary architectural production scenery, where, at increasingly fast pace, old buildings have become part of a new history of the city. Known as restoration, rehabilitation, readjustment, revitalization, recycling, inter- vention actions always interfere with time: the monument’s lifetime, the time during which it was submitted to degradation, the successive layers of time added to it along its transformations and the time it has left as a living monument. To clarify these and other issues on the matter, it is important to investigate the theoretical assumptions and project criteria used by the interventions on buildings of historical and artistic value – where, from my point of view, lies the core of this matter. Our starting point is the Italian school of restoring, specifically the principles of the Venice Charter, to better understand the features and procedures in pre-existing historical interventions in Brazil in the last decades. We have established eight dif- ferent trends of the most recurrent interventions in a set of analyzed works. The groups formed share features, but we did not use strict criteria, instead they are used to enable the understanding of said works and characterize the range of restoring interventions in Brazil. KEYWoRDS Architectural heritage. Preservation and restoration. Cultural heritage. Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 80 A relação do novo com os edifícios do passado tem se tornado cada vez mais presente na agenda dos arquitetos contemporâneos, onde ações como valorizar o patrimônio, garantir a transmissão do bem cultural para o futuro e dar uma destinação útil ao monumento entram em conflito com o ambiente cultural e a própria projetação do novo. No panorama de intervenções em monumentos arquitetônicos no Brasil, nos últimos 30 anos, observarmos um fenômeno que Ascención Hernandez Martinez1 denomina como o restauro depois do restauro. Ou seja, as práticas atuais estão se distanciando cada vez mais do que é um restauro de fato e a palavra “restauro” passou a ser usada de forma arbitrária. Ao avaliar o campo disciplinar do restauro no Brasil em confronto com a produção prática, vemos que é reduzido o número de intervenções que tem como referência os pressupostos da Carta de Veneza, as referências internacionais e o debate atual. O protagonismo do monumento em uma ação de preservação e conservação tem caminhado para um papel de coadjuvante em práticas que procuram dissociar-se do peso que a palavra restauro porta e, assim, justificam-se as ações cada vez mais distantes do campo – sem o correto juízo crítico, cada vez com menos limites em relação à aproximação antigo/ 1. Informação pessoal. Conferência “Restauro Trasformazione Riciclaggio. La deriva della disci- plina al di là dei criteri consolidati”, Prof. Ascención Hernandez Martinez, Facoltà di Architettura, ‘Sapienza’ Università di Roma (dezembro/2013). Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 81 novo e com um imenso predomínio da projetação do novo sobre o antigo. Em seu art. 9, a Carta de Veneza propõe a conceituação de “res- tauração” como: uma operação que deve ter caráter excepcional (grifo nosso). Tem por objetivo conservar e revelar valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta- -se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho com- plementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arqui- tetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo arqueológico e histórico do monumento.2 Excepcional como uma ação de exceção, um ato especial se pensarmos que os monumentos, por princípio, deveriam ser conservados e só em casos extremos restaurados, uma vez que a restauração envolve, mesmo quando de mínima intervenção, a modificação do documento original. Consideramos que cada obra de arquitetura tem uma realidade particular, uma constituição física, uma história, um determinado valor artístico e está inserida em um ambiente cultural específico, e essa mesma obra – ao adquirir caráter de monumento – é a matéria em que se controlam as escolhas e ações da intervenção que, por sua vez, vão se caracterizar pelo diálogo entre o antigo (o documento original) e o novo (a ações de intervenção) e podem assumir, ou não, um caráter de preservação que as qualifiquem enquanto pertinentes ao campo teórico do restauro. Partimos da constatação de que a maior parte da produção contem- porânea brasileira de intervenções em monumentos se afasta dos critérios prescritos pelo campo disciplinar do restauro, em que a prática dá lugar ao arbítrio e experimentação sem o rigor e juízo crítico pautado na significação 2. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTóRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (BRASIL). Cartas patrimoniais. 3. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Iphan, 2004, p. 93. Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 82 da obra preexistente. A pesquisa é construída pela análise3 de interven ções em edifícios pree- xistentes com valor histórico e artístico a partir dos pressupostos da Carta de Restauro de Veneza, documento base do International Council on Monuments and Sites (Icomos), criado em 1965 e da qual o Brasil é signatário. Documento re- digido no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, e fruto das discussões iniciadas no pós-guerra europeu, em especial no território italiano4, seus preceitos tiveram como base as questões levantadas pelos promotores do Restauro Crítico e encontram ressonâncias até hoje nas intervenções e estudos dos seguidores do Restauro Crítico-Conservativo. Adotamos o Restauro Crítico-Conservativo, herdeiro direto do Restauro Crítico e da Teoria da Restauração5 de Cesare Brandi, como referência para a produção arquitetônica mundial por compartilharmos suas premissas e postulados em relação à conservação e intervenção nos monumentos, aproximando a teoria da prática6. Partindo do respeito pelo monumento em sua integridade e autenti- cidade, em face de uma atitude crítica diante das características estéticas e históricas presentes no monumento, o Restauro Crítico-conservativo propõe 3. Para promover esta reflexão, tomou-se como referência uma série de obras selecionadas, as pos- turas, as características e os procedimentos que têm direcionado as intervenções em preexistências históricas no Brasil. Cf. NAHAS, Patricia Viceconti Nahas. Antigo e novo nas intervenções em preexistências históricas: a experiência brasileira (1980-2010). 2015. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. 4. A escolha do cenário italiano de restauro para o embasamento teórico da pesquisa deve-se à sua grande relevância e consolidada tradição em âmbito internacional e constante debate a respeito do tema. Destaca-se aqui: a posição de Gustavo Giovannoni e seu papel na Conferência de Atenas de 1931, na redação da Carta Italiana de Restauro de 1932 e na instituição da disciplina de Restauro dei Monumenti na Scuola di Architettura de Roma; as formulações de Roberto Pane, Piero Gazzola e Renato Bonelli na origem do que se convencionou chamar Restauro Crítico, mais tarde influenciando a formulação da Carta de Veneza; a Teoria da Restauração de Brandi e toda a contextualização do debate face às destruições da Segunda Guerra Mundial, que permitiu a constituição de um campo disciplinar sólido, no qual rigor, método, história e conhecimento da obra antiga colocam o monumento como centro da ação de intervenção. 5. Publicada pela primeira vez em 1963. BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Trad. Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. 6. As proposições do Restauro Crítico, associadas às formulações de Cesare Brandi, estão presentes no debate atual do restauro a partir de interpretações e apropriações que ora dão mais ênfase às questões estéticas do monumento, ora à sua estratigrafia histórica. É o que veremos materializado nas práticas dos expoentes da Manutenção-repristino e Pura-conservação, respectivamente. Como ponto de equilíbrio entre essas duas vertentes, buscando o correto juízo entre as instâncias estética e histórica e uma solução apropriada para a intervenção no monumento, seguindo como premissa a conservação e revelação de seus valores para a sua transmissão ao futuro, encontra-se o denominado Restauro Crítico-conservativo, que tem em Giovanni Carbonara seu maior expoente na atualidade. Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 83 uma metodologia válida e atual, fruto de um amadurecimento do debate dos anos 1950 e 1960, em que o projeto de restauro é colocado entre a avaliação dos princípios de intervenção e a partir do juízo crítico da obra e a sua concretização. A criatividade é subsidiada pelo controle e humildade do arquiteto restaurador diante das solicitações atuais para dar continuidade à vida do monumento. O monumento arquitetônico é o protagonista central em uma intervenção, objeto para o qual estarão voltadas todas as questões e considerações; matéria de partida para as operações de projeto acontecerem; documento em que estão concretizados os valores artísticos, históricos e a perpetuação da memória que fornecerá os subsídios para as escolhas do partido para o projeto de restauro. Para compreender o cenário brasileiro, no que diz respeito à valori- zação de seu patrimônio e a materialização de quais valores, quais critérios e como os desafios da intervenção e conservação dos monumentos arqui- tetônicos são consumados na prática; e, principalmente como a palavra “restauro” vem sendo empregada na atualidade, foram analisadas, a partir de uma amostragem reduzida, 32 estudos de caso. O estudo aprofundado dessas obras permitiu esclarecer como ocorre a intervenção no monumento a partir do edifício de partida (colonial, eclético, industrial, moderno), das premissas precedentes, do confronto com a legislação, sua história, características estéticas, o papel do arquiteto autor da intervenção. Foram estabelecidas oito tendências de intervenção (autonomia, diferen- ciação, reinterpretação, repristino, apropriação, completamento, conservação e reintegração) mais recorrentes no conjunto total de obras, criando grupos com características semelhantes entre si, não totalmente rígidos e fechados, mas que de alguma forma pudessem facilitar a leitura das obras e caracterizar o panorama de intervenções no Brasil em relação ao campo disciplinar de restauro. PERMANêNCIA E INoVAção; PRESERVAção E MUDANçA: VALoRES DE REMEMoRAção E VALoRES DE CoNTEMPoRANEIDADE “Permanência”, “inovação”, “preservação” e “mudança” são termos que estarão presentes recorrentemente nas discussões sobre a relação entre antigo e novo e no movimento de continuidade imbuído nas intervenções em edificações preexistentes. Se de um lado a “preservação” tem como objetivo garantir a integridade de algo, por outro, a “mudança” é instigada Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 84 pelo movimento do tempo em alterar e modificar algo. Da mesma forma, a “permanência” como constância e continuidade de algo no arco temporal implica no surgimento do “novo”, da novidade, da “inovação”. O denominador comum entre esses quatro termos, referências para as análises desta pesquisa, é o tempo – o tempo que divide a continuidade em passado, presente e futuro, cada qual com uma atuação dominante. A arquitetura, como já dito anteriormente, passa pelo tempo: as edifi- cações do passado se perpetuam no presente, carregadas ou não de valores simbólicos, testemunhos de memória, qualidades artísticas e valores históricos. No presente surgem novas arquiteturas, que serão passado no tempo futuro, mas que impõem novidades e novos valores – de contemporaneidade – no seu tempo. É um ciclo no qual permanência e inovação ora caminham em paralelo, ora se cruzam. Quando se encontram é porque estão atuando no mesmo espaço, em um edifício do passado com valores que interessam ao presente – e é neste momento que a arquitetura do passado adquire caráter de monumento. A inserção dos monumentos na vida atual tem se tornado cada vez mais presente nas discussões do cenário da arquitetura contemporânea. A apropriação dos bens culturais desperta interesses que vão desde sua reme- moração como testemunho de uma herança coletiva nos aspectos sociais implícitos isoladamente ou no contexto da vida urbana, a sustentabilidade no aproveitamento de estruturas existentes até o valor econômico e de consumo que pode gerar a readequação de uma preexistência para uma nova função. A sociedade atual, desde a segunda metade do século passado, movida pela indústria cultural, tendo a montante as condições econômicas e sociais, tem desenvolvido uma série de empreendimentos isolados ou contextuali- zados em zonas da cidade para impor um novo ritmo à utilização da pree- xistência histórica, dando-lhe condições de permanência na vida presente. Françoise Choay coloca esse fenômeno como fruto da relação da sociedade ocidental com a temporalidade e a construção de sua identida- de. A expansão do termo de “patrimônio histórico e artístico” para “bem cultural”, associada à democratização do saber e ao desenvolvimento da sociedade ligada ao turismo cultural, contribuiu em muito para a forma de consumo dos monumentos na atualidade7. 7. CHOAY, Françoise. Trad. Luciano Vieira Machado. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 85 Henri-Pierre Jeudy e Andreas Huyssen relacionam essa manifestação de apreensão do passado com uma preocupação pela perda e, consequen- temente, obsessão pela ideia de rememorar. Para rememorar é preciso con- servar o passado mantendo-o contínuo. A constância do monumento em que estão imbricadas as lembranças e heranças que se quer guardar, só se verifica com a manutenção de sua utilização, mas em um tempo diferente daquele em que foi concebido8. As questões de memória e esquecimento e os valores inovativos advin- dos com as mudanças da sociedade contemporânea estão profundamente relacionados ao modo de lidar com nossos monumentos do passado – por serem os detentores dos valores simbólicos e porque é neles que está ma- terializada a passagem do tempo. Encontrar o ponto de equilíbrio entre o que preservar e o que esque- cer, dando aos monumentos uma nova função temporal ao permitir que persistam em um novo contexto espaço-temporal, conservar seus valores significativos, sejam eles materiais ou imateriais, é a essência que permeia a conservação da preexistência histórica. Ao dotar um monumento de nova função temporal, com ou sem al- teração de seu uso original, a intervenção deve responder pelas expectativas do presente conservando tanto quanto possível a gramática do texto arqui- tetônico original em que são reconhecidos os valores históricos, artísticos e espirituais da obra. É nesse sentido que entendemos a restauração: como uma intervenção na preexistência histórica pautada no reconhecimento de seus valores, na sua preservação e transmissão para as gerações futuras. RESTAURAção: o SENTIDo DA PALAVRA Sendo o fazer arquitetônico o resultado da atividade humana na qual se encontra materializada a criatividade do artista e a incidência cultural de cada época em que é produzido e, também, atividade em que se operam as intervenções, cada momento histórico, a seu modo, produziu restaura- ções – ainda que este termo não tenha sido utilizado técnica e cientifica- mente –, sejam elas feitas com o máximo respeito ou com transformações Liberdade / Ed. Unesp, 2001, p.208-211. 8. JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005, p. 16. Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 86 que levaram a destruições. A palavra restauração foi empregada com os mais diversos sentidos9 até se tornar uma disciplina teórica e prática, no século XIX, quando os monumentos adquiriram valor de referência da nacionalidade, possuidores da memória afetiva e representantes da identidade de um povo. No decorrer da história, ora com maior, ora com menor enfoque, o tema da preservação, conservação e restauração dos bens culturais será pauta de novas discussões. A questão do patrimônio recebeu diferentes abordagens conceituais, sendo debatida, com maior ou menor intensidade, em torno do seu caráter simbólico, ou estético, ou histórico e, até mesmo, no que diz respeito à atribuição ao patrimônio, de identidade nacional. Hoje, no início do século XXI, o que se entende por restauro? Segundo a definição de restauração presente no art. 9 da Carta de Restauro de Veneza, a premissa de conservar e revelar valores do monu- mento ou bem cultural (seja uma arquitetura, uma pintura, uma escultura) é algo compartilhado pelos pensadores do campo do restauro atual como forma de transmitir esse valor simbólico e memorial para o futuro. A restauração comporta mudanças, modificações, podendo ser de maior ou menor vulto de acordo com o estado do monumento original e sua destinação de uso; porém, o respeito pela matéria é outro critério em pauta na ação de restauro, seja ele estético ou histórico. As transformações podem estar ligadas à consolidação estrutural, minimização das patologias de degradação, facilitação da leitura do texto original. Stella Casiello10 salienta que a ampliação do campo disciplinar tem provocado um grande aumento na dialética inovação X conservação nas ações de intervenção e tornado a restauração uma ação cada vez mais complexa. Roberto Pane e Cesare Brandi, antes mesmo do conflito mundial já acenavam para uma revisão sobre como lidar com a conservação e restauração das obras do passado. Brandi, com a criação do Istituto Centrale del Restauro 9. DE ANGELIS D’OSSAT, Guglielmo. Restauro: architettura sulle preesistenze diversamente valutate nel tempo. Palladio, Roma, terza serie, anno XXVII, fasc. 2, p. 54, 1978. 10. CASIELLO, Stella (a cura di). Restauro. Criteri, metodi, esperienze. Napoli: Electa Napoli, 1990. Revista CPC, São Paulo, n.20, p.78–111, dez. 2015. 87
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