A n á lis e 81pt Este livro pretende apresentar, de modo simplificado, como realizar uma d e análise de conteúdo (AC) categorial quantitativa com bases científicas. Não c o n obstante seu surgimento no campo da comunicação política, a análise de te ú conteúdo tornou-se uma técnica bastante difundida em toda a área de d o ciências sociais aplicadas e ciências humanas como, por exemplo, ca Análise de conteúdo te Administração, Comunicação, Educação, Ciência Política, Políticas Públicas e g o r categorial: também nas ciências da saúde, como Enfermagem e Saúde Coletiva. Um dos ia principais motivos que nos incentivou a escrever este livro está justamente na l: m manual de aplicação a falta de opções de outros manuais especializados no Brasil. Assim, desejamos n u a especialmente contribuir para o debate sobre os avanços da aplicação da AC e l de Rafael Cardoso Sampaio e oferecer um tutorial simplificado para estudantes de pós-graduação e a p graduação sem acesso a manuais em outras línguas. lic Diógenes Lycarião a ç ã o ISBN 978-65-87791-18-0 COLEÇÃO Metodologias de pesquisa 9 786587 791180 81pt Enap Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretora de Altos Estudos Diana Magalhães de Souza Coutinho Diretor de Desenvolvimento Profissional Paulo Marques Diretora de Inovação Bruna Silva dos Santos Diretor de Educação Executiva Rodrigo Torres de Araujo Lima Diretora de Gestão Interna Alana Regina Biagi Silva Lisboa Revisão Roberto Araújo e Adriana Braga Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação Autores: Rafael Cardoso Sampaio e Diógenes Lycarião Brasília Enap 2021 Ficha catalográfica elaborada pela equipe da Biblioteca Graciliano Ramos da Enap S1921a Sampaio, Rafael Cardoso Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação / Rafael Cardoso Sampaio, Diógenes Lycarião. -- Brasília: Enap, 2021. 155 p. : il. -- (Coleção Metodologias de Pesquisa) Inclui bibliografia ISBN: 978-65-87791-18-0 1. Pesquisa Científica. 2. Metodologia Científica. 3. Análise de Conteúdo. 4. Manual. 5. Pesquisa Quantitativa. I. Título. II. Lycarião, Diógenes. CDU 001.8:311.2 Bibliotecária: Tatiane de Oliveira Dias – CRB1/2230 Enap, 2021 Este trabalho está sob a Licença Creative Commons – Atribuição: Não Comercial – Compartilha Igual 4.0 Internacional As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira respon sabilidade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da Escola Nacional de Administração Pública (Enap). É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Escola Nacional de Administração Pública (Enap) Diretoria de Altos Estudos Coordenação-Geral de Pós-Graduação Stricto Sensu SAIS – Área 2-A – 70610-900 — Brasília-DF, Brasil Sumário INTRODUÇÃO .........................................................................................6 CAPÍTULO 1: DEFINIÇÃO, APLICAÇÕES E EPISTEMOLOGIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO (AC) .......................................................14 1.1 Definição ................................................................................. 14 1.2 Histórico .................................................................................. 17 1.3 Aplicações da AC ....................................................................21 1.4 Aplicações em políticas públicas .............................................26 1.5 Epistemologia da AC ..............................................................29 1.6 Fronteiras ................................................................................ 40 CAPÍTULO 2: MANUAL DA AC .........................................................45 1. Códigos, codificação e categorias .............................................45 2. Desenho da análise de conteúdo .............................................46 ETAPAS DA ANÁLISE DE CONTEÚDO .............................................49 1. Identificar o problema (revisão de literatura) ........................49 2. Questões de pesquisa e hipóteses .........................................50 3. Selecionar a(s) unidade(s) e subunidade(s) de análise ..........51 4. Criar e definir categorias .........................................................57 5. Amostragem ............................................................................68 5.1 Técnicas probabilísticas (randômicas) .................................72 5.2 Técnicas não probabilísticas (não randômicas) ...................75 5.3 Tamanho da amostra ...........................................................78 6. Pré-teste das categorias e das regras de codificação ..............79 7. Treinamento final e teste de confiabilidade ............................87 8. Codificação .............................................................................103 9. Teste de confiabilidade intermediário e final .......................104 10. Tabulação e aplicação de procedimentos estatísticos .........107 11. Interpretar e reportar os resultados ....................................107 12. Validação e replicabilidade ..................................................110 CAPÍTULO 3: ANÁLISE DE RESULTADOS E TESTES ESTATÍSTICOS ....113 3.1 Definição de variável e seus tipos .........................................113 3.2 Os tipos de variáveis pelo modelo estatístico ......................118 3.3 Análise descritiva .................................................................119 3.4 Estatística inferencial ............................................................123 3.5 Testes estatísticos ................................................................130 CONCLUSÃO ................................................................................141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................144 Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação INTRODUÇÃO Este livro pretende apresentar, de modo simplificado, como realizar uma análise de conteúdo categorial quantitativa1 com bases científicas. É nosso objetivo que esta obra possa se tornar um manual útil para diferentes pesquisadores que almejam realizar uma aplicação adequada da técnica da análise de conteúdo (AC). Como buscaremos defender, compreendemos que: análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa científica baseada em procedimentos sistemáticos, intersubjetivamente validados e públicos para criar inferências válidas sobre determinados conteúdos verbais, visuais ou escritos, buscando descrever, quantificar ou interpretar certo fenômeno em termos de seus significados, intenções, consequências ou contextos. Datam de séculos relatos sobre técnicas de análise de textos, que foram realizadas sob o interesse de se catalogar e classificar textos e materiais sob os mais distintos propósitos, como é o caso de textos religiosos (Bardin, [1977] 2016; Krippendorff, 2004; Neuendorf, 2002; Riffe; Lacy; Fico, 2014). Entretanto, a análise de conteúdo (AC), sob fins científicos, surge para suprir uma necessidade de mensuração dos padrões das mensagens mediáticas, especialmente nos períodos das Grandes Guerras do século 20, como foi o caso, a título de exemplo, do estudo de Harold Lasswell sobre as propagandas de guerra, por meio de análise de conteúdo (Lasswell, 1927). Já ao longo da segunda guerra mundial, o uso de mídias massivas (e.g. rádio, cinema) pelos Estados Unidos, pela Alemanha nazista e por outros regimes totalitários emergiu como um fenômeno sobressalente, o que despertou interesse do governo estadunidense em verificar como seus adversários faziam uso dessas mensagens. Harold Lasswell era o coordenador da Divisão Experimental para o Estudo de Comunicações em Tempos de Guerra, criada pelo Congresso americano para tal fim. Para além da avaliação das mensagens mediáticas adversárias, preocupava-o os possíveis efeitos das 1 Apesar de não ser o objetivo inicial, é bastante provável que boa parte dos passos descritos no livro possa ser útil para análises de conteúdo qualitativas. Em AC qualitativas rigorosas, conforme apresentado por Saldaña (2012) e Mayring (2014), vários passos similares são apresentados, incluindo a apresentação da frequência de códigos. 6 Poder Idnetr aogdeunçdãao mensagens dos meios de comunicação de massa nas pessoas. Para analisar essas mensagens, a técnica da análise de conteúdo quantitativa foi, então, largamente utilizada e aperfeiçoada. Não obstante seu surgimento no campo da comunicação política, a análise de conteúdo2 tornou-se uma técnica bastante difundida em toda a área de humanidades, como, por exemplo, nas Ciências Sociais (Pohlmann; Bär; Valarini, 2014; Triviños, 1987), Ciência da Informação (Lima; Manini, 2017; Lima; Moraes, 2017), Contabilidade (Alves, 2011), Geografia (Paula, 2015), História (Constantino, 2002), Psicologia (Gondim; Bendassolli, 2014), Serviço Social (Lara, 2011), Turismo (Thomaz et al. 2016), além, claro, de seu vasto uso nas áreas de Administração (Bastos; Oliveira, 2015; Freitas, 2011; Gomes et al., 2020; Mozzato; Grzybovski; 2011; Vergara, 2011), Comunicação (Herscovitz, 2007; Jorge, 2015; Martinez; Pessoni, 2015; Quadros; Assmann; Lopez, 2014; Vimieiro; Maia, 2011), Educação (Franco, 2005; Moro, 1989; Oliveira et al. 2003) e de Ciência Política (Alves; Figueiredo Filho; Henrique, 2015; Carlomagno; Rocha, 2016; Feres Jr., 2016; Figueiredo et al., 1997; Panke; Cervi, 2012). Também é visível sua utilização nas ciências da saúde, como Enfermagem e Saúde Coletiva (Bellucci Júnior; Matsuda, 2012; Campos, 2004; Minayo, 2014; Rodrigues; Leopardi, 1999; Romeu, 2009; Taquette; Minayo, 2015). Diante desse cenário, é seguro afirmar que a análise de conteúdo tem grande capilaridade na ciência brasileira, tendo sido aplicada em um considerável número de estudos em diferentes áreas (Sampaio et al, 2021). Essa aplicação também se mostra acompanhada por debates sobre as benesses e os limites da técnica (Cavalcante; Calixto; Pinheiro, 2014; Freitas, 2011; Moro, 1989; Mozzato; Grzybovski, 2011; Gondim; Bendassolli, 2014; Vergara, 2011), sobre sua diferenciação e separação das linhas de análise do discurso (Cappelle et al., 2003; Caregnato; Mutti, 2006; Lima, 2003; Lima; Moraes, 2017; Pádua, 2002; Rocha; Deusdará, 2005, 2 Aqui, estamos nos referindo aqui à análise de conteúdo “clássica” (Bauer, 2007) ou, ainda, humana, baseada na codificação manual por pessoas; portanto, boa parte de nossas reflexões e do passo a passo deste manual não se aplica à AC computadorizada. 7 Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação 2006) e, recentemente, sobre o uso de softwares para sua realização (e.g. Alves; Figueiredo Filho; Henrique, 2015; Lima; Manini, 2017). Um dos principais motivos que nos incentivou a escrever este livro está justamente na falta de opções de outros manuais no mercado editorial brasileiro. Isso se deveu, em grande medida, pela qualidade do manual de Laurence Bardin, que teve a sua tradução lançada originalmente no Brasil em 1977. Entretanto, enquanto vários outros manuais de alta qualidade foram lançados pelo mundo, após 1977, nenhum recebeu uma tradução para o português brasileiro (e.g. Alonso et al., 2012; Drisko; Marchi, 2016; Krippendorff [1980] 2004; Neuendorf, 2002; Riffe; Lacy; Fico, 2014; Weber, 1990, entre outros). Apesar de a técnica ter sido resumida e explicada em capítulos de coletâneas acadêmicas (Bauer, 2007; Fonseca Júnior, 2005; Herscovitz, 2007; Romeu, 2009), em trechos de manuais de análise qualitativa (Flick, 2009; Minayo, 2014; Yin, 2016) ou científica em geral (Gil, 1989; Triviños, 1987; Vergara, 2005), e mesmo em diversos artigos (Alves, 2011; Bellucci Júnior, Matsuda, 2012; Campos, 2004; Carlomagno; Rocha, 2016; Cavalcante; Calixto; Pinheiro, 2014; Gondim; Bendassolli, 2014; Moraes, 1999; Mozzato; Grzybovski, 2011; Oliveira, 2008; Oliveira; Ens; Andrade; Mussis, 2003; Rocha; Deusdará, 2006; Taquette; Minayo; 2015; Vergara, 2011), parecia-nos que faltava um manual atualizado específico exclusivamente dedicado à técnica. Em nossa revisão do estado da arte da técnica no Brasil (Sampaio; Lycarião, 2018; Sampaio et al, 2021)3, encontramos poucas obras que buscam ofertar explicações mais detalhadas sobre a aplicação da análise de conteúdo, 3 Neste livro, fazemos referências a várias pesquisas próprias baseadas em análise de conteúdo. Caso haja interesse em receber os livros de códigos, banco de dados e artigos completos, enviar e-mail para os autores: Rafael Cardoso Sampaio ([email protected]) e Diógenes Lycarião ([email protected]). 8 Capítulo 1: Definição, aplicações e epistemologia da Análise de ConItnetúroddou (çAãCo) para além da tradução do manual de Bardin4. Os dois primeiros também são traduções de obras. O primeiro, interessantemente, foi lançado no Brasil antes da primeira tradução do livro de Bardin como Comunicação de massa: análise de conteúdo, de Albert Kientz, pela editora Eldorado, em 1973. Trata-se de uma interessante apresentação da técnica, seguindo seu foco inicial na análise de mídias massivas; porém, acabou se tornando um livro com pouca repercussão na ciência brasileira, não tendo novas reedições e se encontrando esgotado. O segundo é a tradução do livro clássico de Harold Lasswell, A linguagem da política, que apresenta os primeiros achados da pesquisa de Lasswell e colegas. O livro, original de 1949, ganhou essa tradução no Brasil em 1982, pela Editora Universidade de Brasília. Não obstante, por se tratar dos resultados e das discussões originais do surgimento da técnica, ele tem mais importância por seu caráter histórico do que, de fato, enquanto um manual de aplicação da técnica. A terceira e quarta obra não são exclusivamente dedicadas à análise de conteúdo, mas acabam sendo, praticamente, as principais referências da área de saúde como um todo, após Bardin, que são dois livros da professora Maria Cecília Minayo da Fiocruz. Na coletânea Pesquisa Social: teoria, método e criatividade, Minayo, em conjunto com Suely Ferreira Deslandes e Romeu Gomes, discutem diversos aspectos da pesquisa qualitativa (Minayo, 2009); nessa coletânea, há um capítulo especificamente sobre a análise de dados qualitativos, que trata de análise de conteúdo (Gomes, 2009). Seja Gomes, seja Minayo, o livro é bastante citado em saúde pública e em enfermagem. Por 4 Merecem destaque algumas coletâneas recentes na área. A primeira é organizada por Thais de Mendonça Jorge, Notícia em Fragmentos: análise de conteúdo no jornalismo, na qual oito capítulos fazem análises de fenômenos midiáticos pelo uso da AC, enquanto outros oito fazem discussões metodológicas sobre a aplicação da AC em diferentes contextos e fenômenos (Jorge, 2015). Nenhum capítulo, entretanto, busca apresentar um manual passo a passo da aplicação da técnica. Por sua vez, a coletânea Internet e eleições no Brasil, organizada por Emerson Cervi, Michele Massuchin e Fernanda Carvalho, apresenta uma miríade de aplicações da técnica em objetos relacionados a ambientes digitais e campanhas eleitorais (Cervi; Massuchin; Carvalho, 2016). O capítulo inicial de Cervi (2016) apresenta uma boa reflexão sobre a técnica e alguns indicativos de conceitos-chave para sua aplicação. Finalmente, também temos a coletânea Ánálise de Conteúdo em pesquisas qualitativas na área de Educação Matemática de Márcio Urel Rodrigues (Rodrigues, 2019), que apresenta 14 capítulos exclusivamente baseados em AC para compreender a supracitada área. Os quatro capítulos iniciais são metodológicos e buscam dar uma contribuição ao campo. Coletâneas similares certamente existem. 9