ebook img

Acesso à Universidade de São Paulo: Atributos socioeconômicos dos excluídos e dos ingressantes no exame vestibular PDF

101 Pages·2002·0.9 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Acesso à Universidade de São Paulo: Atributos socioeconômicos dos excluídos e dos ingressantes no exame vestibular

Acesso à Universidade de São Paulo: Atributos socioeconômicos dos excluídos e dos ingressantes no exame DOCUMENTO vestibular DE TRABALHO 03/02 Fernando Papaterra Limongi Leandro Piquet Carneiro Paulo Henrique da Silva Wagner Pralon Mancuso Universidade de São Paulo NUPES Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior Universidade de São Paulo O acesso à Universidade de São Paulo: Atributos socioeconômicos dos excluídos e dos ingressantes no exame vestibular Equipe do NUPES Supervisão geral Carolina M. Bori Eunice R. Durham Pesquisadores Fernando Papaterra Limongi Leandro Piquet Carneiro Paulo Henrique da Silva Wagner Pralon Mancuso Auxiliares Técnicos Regina dos Santos Josino Ribeiro Neto Vera Cecília da Silva O acesso à Universidade de São Paulo: Atributos socioeconômicos dos excluídos e dos ingressantes no exame vestibular Pesquisadores Fernando Papaterra Limongi Leandro Piquet Carneiro Paulo Henrique da Silva Wagner Pralon Mancuso NUPES 2002 O ACESSO À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: ATRIBUTOS SOCIOECONÔMICOS DOS EXCLUÍDOS E DOS INGRESSANTES NO EXAME VESTIBULAR Fernando Papaterra Limongi Leandro Piquet Carneiro* Paulo Henrique da Silva Wagner Pralon Mancuso Resumo Este relatório analisa os dados socioeconômicos e educacionais dos candidatos do vestibular da Fuvest de 2000 com o objetivo de responder a duas perguntas básicas: i. Quais as diferenças entre as carreiras no que diz respeito as características sociais, educacionais e demográficas dos candidatos? ii. Quais os fatores determinantes das chances de aprovação (sucesso) no vestibular para cada grupo de carreira? Constatamos que existem diferenças significativas entre as carreiras, quando levamos em conta características sociais, educacionais e demográficas dos candidatos. A história escolar do candidato (principalmente se estudou em escola privada no 1º e no 2º grau) e seu nível de renda são importantes para a distribuição dos candidatos por carreiras assim como para seu sucesso (i.e., ingresso na USP). Constatamos também a presença de uma dimensão de gênero associada à escolha das carreiras pelos candidatos. Classificamos então as carreiras em quatro grupos que combinam status socioeconômico e a dimensão de gênero e geramos modelos de regressão logística para estimar os determinantes do sucesso em cada um desses grupos de carreiras. Introdução O perfil dos inscritos no concurso vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular é já razoavelmente conhecido. Os dados do questionário socioeconômico, preenchido pelos candidatos no momento da inscrição, indicam que os candidatos à Universidade de São Paulo têm o seguinte perfil: são jovens recém egressos do secundário, sendo que há entre estes uma participação maior do que seria esperada – quando consideramos as características da população – de candidatos de cor branca, que fizeram o segundo e o primeiro grau em escolas privadas e que são oriundos de famílias de alta renda.  Pesquisador Colaborador do NUPES e Professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.  Pesquisador Colaborador do NUPES e Professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.  Auxiliar de Pesquisa.  Pós-graduando doutorado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 1 Os dados do Anuário Estatístico da Fundação SEAD de 1997 revelam que apenas 53% dos jovens entre 15 a 19 anos que residem no Estado de São Paulo como demonstra a Tabela 1, não esconde o fato de que o acesso e a conclusão do ensino secundário continuam restritos a uma minoria. O número de matriculados no ensino médio no Estado de São Paulo cresceu 23,0% entre 1996 e 2002, sendo que o setor público (principalmente estadual) foi responsável por mais de 80,0% das matriculas neste período. Tabela 1 - Número de matriculados no ensino médio por dependência administrativa Estado de São Paulo (1996-2002) N. Índice Participação Ano Total Federal Estadual Municipal Privada (1996=100) do setor Público (%) 1996 1.672.986 ... 1.319.158 33.538 320.290 100 81 1997 1.818.288 4.254 1.452.387 37.076 324.571 109 82 1998 1.921.892 3.625 1.587.717 33.485 297.065 115 85 1999 2.047.402 3.536 1.720.174 27.882 295.810 122 86 2000 2.079.141 3.106 1.774.296 20.896 280.843 124 86 2001 2.033.164 1.936 1.739.890 18.040 273.298 122 87 2002 2.065.773 1.997 1.777.003 17.512 269.261 123 87 Fonte: Fundação SEADE/Secretaria de Estado da Educação/Centro de Informações Educacionais , 2001. O candidato a Fuvest é um grupo seleto dentro desta minoria de jovens que conclui o secundário. Isto é, nem todos aqueles que concluem o secundário se inscrevem para prestar o vestibular da USP, embora este mobilize uma parcela significativa (28,7%) dos 520.923 estudantes que concluíram o ensino médio no Estado de São Paulo no ano de 2000, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Naquele ano, 149.240 candidatos inscreveram-se no vestibular da Fuvest e disputaram 9.563 vagas. Algumas informações adicionais nos dão uma idéia mais nítida da relação entre o universo de jovens paulistas e a seleta amostra destes que se inscreve para prestar o vestibular organizado pela Fuvest. O jovem que se candidata a uma vaga na USP, em geral, é um estudante que se dedicou em período integral a seus estudos e que se candidatou a uma vaga na USP tão logo concluíram os seus estudos secundários. Por exemplo, somente 85,4% dos vestibulandos da Fuvest informaram não ter exercido atividade remunerada em período integral no último ano. De outra parte, as estatísticas disponíveis derivadas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios nos dizem que 38,8% dos jovens paulistas entre 17 e 20 2 anos trabalham em período integral. Os dados fornecidos pelos candidatos nos mostram que os inscritos vêem na sua maioria de escolas particulares: 56,5% dos estudantes inscritos no concurso da Fuvest declararam ter feito seus estudos secundários exclusivamente em escolas particulares, quando se sabe que este setor contribui com 14,6 % das matrículas deste nível de ensino. Logo, a conclusão a que se chega é que uma parcela muito restrita dos alunos que conclui o secundário se inscreve na Fuvest. O estudante que postula uma vaga na USP não é, portanto, um jovem sequer com características médias da população que conclui o secundário. Alunos com menor renda, que trabalham e que foram formados por escolas públicas estão sub-representados na amostra entre os candidatos à USP. Os candidatos inscritos no concurso da Fuvest representam uma amostra auto-selecionada do universo de candidatos potenciais. As indicações fornecidas até o momento dão base à hipótese de que este processo de auto- seleção seja guiado pelas próprias expectativas dos candidatos quanto ao seu sucesso. A Fuvest é um concurso extremamente concorrido e os alunos sabem disto. Os candidatos que não se julgam capacitados a ingressar na USP, sequer se inscrevem no vestibular da Fuvest. Pelos dados apresentados, os que tomam a decisão de não se inscrever são, em sua maioria, jovens que já se encontram inseridos no mercado de trabalho e/ou completaram seus estudos em escolas públicas. Nestes termos, a relação entre inscritos e candidatos aprovados potenciais aponta para um processo de seleção de ingresso na universidade por meio do concurso vestibular que apenas confirma a distribuição altamente assimétrica e concentrada de recursos de renda e educacionais no Brasil. Sendo a USP uma das melhores, senão a melhor universidade do país, não é de estranhar que seu processo de ingresso evidencie o favorecimento em prol daqueles estudantes que têm maiores recursos. Universidade de ponta, necessariamente, tem um recrutamento elitista. Como os candidatos sabem disto, somente se candidatam efetivamente às suas vagas candidatos minimamente qualificados do ponto de vista educacional. Não é diferente com a USP. O que os dados a serem analisados adiante mostram, no entanto, é o alto grau de associação entre recursos educacionais e de renda que se manifesta pelas vantagens auferidas por aqueles que freqüentam escolas privadas. 3 Para os fins deste trabalho, no momento, importa verificar que o processo de auto- seleção identificado opera também na escolha das carreiras. As notas de corte na primeira fase e a relação candidato/vaga são informações de conhecimento público. Candidatos, portanto, têm como calcular, dado o seu passado escolar, as chances de sucesso que têm para ingresso nas diferentes carreiras. Ou seja, pode-se antecipar que a distribuição das características sociais e educacionais dos candidatos pelas carreiras não será uniforme. Candidatos desfavorecidos em termos sociais e educacionais podem procurar as carreiras que notas de corte são mais baixas e desta forma, aumentar suas chances de ingresso. No entanto, candidatos podem também calibrar, de acordo com a carreira que escolhem, seus esforços e dedicação aos estudos preparatórios. Assim, ainda que se possa esperar maior procura dos mais desfavorecidos social e educacionalmente nas carreiras com nota de corte mais baixa, não segue que, necessariamente, a taxa de sucesso aumente na mesma proporção. Não se deve descartar a hipótese de que os mais favorecidos mantenham controle sobre o acesso em todas as carreiras. Na seção seguinte (Variáveis e Amostra), apresentamos algumas estatísticas descritivas sumárias que permitem caracterizar o universo dos candidatos, procurando mostrar as distinções entre carreiras. Objetivando motivar os aprofundamentos contidos nas seções seguintes, a seção três traz o contraste entre duas carreiras polares – a saber, Medicina e Letras –, quanto aos aspectos selecionados. Na seção IV do relatório realizamos uma análise fatorial para descrever as dimensões subjacentes à escolha da carreira no curso de graduação. Na seção V discutimos os determinantes do sucesso no vestibular, mostrando a importância das variáveis socioeconômicas para explicar o sucesso do vestibulando. Vale recordar que este trabalho é um produto parcial da primeira fase de um trabalho que deve se estender. A preocupação, última, desta pesquisa de maior fôlego é com a evasão nos cursos da USP. Queremos entender por que uma porcentagem considerável dos alunos que ingressam na USP não conclui suas graduações. Entender tal fato é tanto mais desafiador quando se leva em conta as dificuldades para ingressar na USP. 4 Variáveis e Amostra Os dados analisados neste relatório foram disponibilizados diretamente pela Fuvest. O arquivo de micro dados foi devidamente preparado com o objetivo de garantir o anonimato dos candidatos. Desta forma, não há no banco de dados oferecido pela Fuvest nenhuma informação que permita identificar diretamente os respondentes. O ano escolhido para a análise foi o de 2000, uma vez que os dados socioeconômicos apresentam, com relação a outros anos disponíveis, um baixo número de casos sem informação. A auto-seleção dos candidatos ao vestibular da Fuvest, tal como apontado na introdução, não permite que os resultados comentados neste relatório possam ser generalizados para outros contextos. Dizem respeito a um segmento muito específico, a dos candidatos à USP, que não apresenta as características médias do contingente que conclui o segundo grau. O questionário que integra a ficha de inscrição dos candidatos conta com 30 perguntas que têm por objetivo levantar informações socioeconômico e educacionais dos candidatos. Selecionamos as seguintes variáveis para análise neste relatório: A. Sócio-Demográficas Cor (q15)- A distribuição de cor dos candidatos apresenta diferenças importantes com relação a que os dados da PNAD mostram para a população da região metropolitana de São Paulo. Os candidatos que se autoclassificam como brancos no concurso organizado pela FUVEST perfazem 79,8% do total. Na PNAD, brancos são 60,4% da população brasileira. Enquanto a PNAD registra uma participação de pardos que chega a 34,6% da população brasileira, os inscritos na FUVEST que preencheram a opção pardo representam apenas 8,3% dos candidatos. A diferença entre uma e outra amostra não é tão grande para os que se classificam como pretos: 2,2% na FUVEST e 3,7% na PNAD. Sexo (sexo) – A participação feminina na Fuvest chega a 54,6%, isto é, superior a distribuição nacional que é mais balanceada, ainda que levemente favorável ao sexo feminino (50,5% dos residentes na região metropolitana de São Paulo na faixa de 17 a 20 anos são do sexo feminino). 5 Classe socioeconômica (classe) - O questionário apresenta oito perguntas sobre disponibilidade de bens nos domicílios seguindo o modelo “critério-Brasil”, adotado pela Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado. Computamos as classes socioeconômicas com base nos indicadores disponíveis (número banheiros, carros, TVs, videocassetes, micros, equipamento de som, maquinas de lavar roupa e louça, empregados mensalistas). Para completar os itens do “critério-Brasil”, utilizamos como proxi da educação do chefe a educação do pai. Calculada desta forma, a distribuição por categorias sociais tomou a seguinte forma. A Classe A representa 23,5% dos candidatos, a Classe B 55,6% e as Classes C/D/E 20,9% dos candidatos. Os dados ABIPEME para a Grande São Paulo indicam que a Classe A representa apenas 7,0% da população, enquanto a Classe B representa 26,0% e as Classes C/D/E perfazem 67,0% do total dos habitantes. Pretende manter-se com recursos dos pais - Dos candidatos inscritos na Fuvest, 25,6% declararam que se manteriam exclusivamente com os recursos dos pais ao longo do curso. Já 58,8% dos candidatos pretendem trabalhar enquanto cursam a faculdade. Escolaridade do pai - Os candidatos cujos pais não concluíram sequer o primeiro grau chegam a 21,9% do total. No outro extremo, temos 35,0% dos candidatos cujos pais têm diploma universitário. Escolaridade da mãe - A porcentagem de candidatos com mães que sequer completaram o primeiro grau não difere muito da encontrada com relação ao pai: 21,9%. No outro extremo --candidatos cujas mães completaram o curso superior-- encontramos 42,5% dos candidatos, uma proporção mais alta do que verificada na variável anterior. B. Educacionais Primeiro grau em escola particular – Dos inscritos na Fuvest, 44,7% dos candidatos fizeram seu primeiro grau exclusivamente em escolas particulares. Segundo grau em escola particular – Dos inscritos no vestibular, 42,7% fez seu curso secundário exclusivamente em escolas particulares. Cursinho – A variável indica se o vestibulando fez ou não um cursinho vestibular. Dos candidatos, 47,7 % declaram ter feito cursinho. 6 Acesso à Internet em casa – Quanto ao acesso a Internet, 39,7% dos candidatos declaram poder acessá-la de suas casas. C. Participação no vestibular Carreira – Esta é uma das variáveis dependentes deste estudo e será analisada nas seções III e IV. A codificação da carreira que adotamos não leva em conta as diferenças entre os campi (por exemplo Economia USP São Paulo e Ribeirão Preto) e o bacharelado e a licenciatura. Aprovação no vestibular (sucesso) - Esta é a variável dependente, de tipo binária, utilizada na seção V do relatório. O valor 1 indica aprovação e 0 reprovação. Pontos na 1ª Fase - Esta é uma variável que indica o desempenho do candidato e permite a comparação entre todos os candidatos. A média geral foi de 60,47 pontos, com um desvio padrão de 24,84 pontos. O Anexo 1 traz tabelas com a distribuição de cada uma destas variáveis por carreira. A escolha das carreiras: uma análise exploratória de casos polares. Já apresentamos algumas características do candidato inscrito no concurso da Fuvest. Ele é, em geral, jovem, não trabalha em período integral e a maioria freqüentou escolas particulares. Como seria de se esperar, estes traços gerais sofrem alterações e variações significativas conforme focamos a análise sobre diferentes carreiras. Como dissemos acima, escolhemos duas carreiras para buscar especificidades na distribuição da amostra de candidatos a partir de uma leitura ligeira dos dados. No momento, interessa-nos apenas explorar as informações para, desta forma, encontrar as bases que justifiquem procedimentos mais consistentes adotadas em seções posteriores. Medicina e Letras foram, desta forma, careiras escolhidas apenas para ilustrar o grau de heterogeneidade do conjunto de candidatos e a forma como a amostra se distribui de maneira singular pelas carreiras. 7

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.