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A Voz do Silêncio PDF

103 Pages·1.223 MB·Portuguese
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Os erros tipográficos foram corrigidos e a ortografia foi atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Na grafia dos termos Buddha, buddhismo, budhista, Tau, Yoga e Yogi, optou-se pelas formas já fixadas pela tradição em seu aportuguesamento, respectivamente, Buda, budismo, budista, Tao, ioga e iogue. Nos demais casos, a transliteração dos termos sânscritos foi mantida. Apresentação Entre aqueles que contribuíram para o avanço da humanidade rumo a uma compreensão mais elevada dos mistérios da vida e do universo, para além da abordagem objetiva da ciência e dos dogmas das religiões, encontra-se Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), mística ucraniana que despontou no final do século XIX e é considerada por muitos pesquisadores como um dos maiores pilares do esoterismo ocidental em séculos. Blavatsky dividiu época e opiniões, deixando um impacto profundo na consciência dos que a conheceram pessoalmente ou através de suas obras. Maga, erudita, bruxa, charlatã, iluminada… não faltaram epítetos com os quais foi cravejada – e alvejada – pelo público, mantendo-se, contudo, um mistério profundo para a maioria. Os raros que tiveram permissão para levantar o véu e a viram em sua verdadeira natureza são unânimes em confirmá-la como uma mensageira da Fraternidade de Mestres Secretos que orientam a evolução espiritual da Terra, e que em intervalos precisos envia emissários para promover um novo impulso à humanidade. Numa época em que a ciência se consolidava no paradigma newtoniano-cartesiano e se absolutizava numa abordagem materialista, e quando as religiões orientais eram vistas no Ocidente como oriundas de uma época de superstição antes da “luz salvadora do cristianismo”, Blavatsky apareceu sozinha no tumulto do mundo, armada de uma sabedoria diamantina e vontade inquebrantável. Dona de conhecimentos desconcertantes e poderes psíquicos assombrosos, ela rapidamente impôs sua personalidade e formatou uma nova abordagem para os dilemas científicos e religiosos: o ocultismo, corrente milenar de conhecimentos especiais que vem guiando a humanidade veladamente através das épocas. Blavatsky optou por chamar a sua nova apresentação do ocultismo de teosofia, termo consagrado pelos filósofos alexandrinos, que significa “Sabedoria Divina”. Trata-se do substrato de todas as religiões tradicionais, unificadas para além de seus dogmas e superstições no âmago da Verdade atemporal. Em seu livro A chave para a teosofia, Blavatsky disse que “(...) como o sol da verdade se eleva cada vez mais no horizonte da percepção do homem, e cada raio de cor se desvanece gradualmente até que seja reabsorvido, a humanidade não será mais atormentada com polarizações artificiais, mas poderá gozar da pura e branca luz da verdade eterna. E esta será a teosofia”. O impacto daquela mulher insólita sobre o mundo ocidental, e mesmo sobre vários países orientais, foi imenso. Ela chegou na encruzilhada de uma guerra acirrada, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, entre três grandes correntes: 1) a ciência positivista, para a qual só o que fosse objetivo merecia ser considerado; 2) o cristianismo, que se opunha a outros credos e se colocava como a única religião sobre a Terra; e 3) o espiritismo, que demonstrava fenômenos espantosos atribuídos aos mortos, os quais agiriam por meio dos vivos. No meio desse combate, ficava o povo em geral sem saber quem seguir ou em quem acreditar, ora voltando-se para uma corrente, ora para outra. Com a criação da Sociedade Teosófica em 1875, nos Estados Unidos, por Blavatsky e seus dois cofundadores americanos, Henry Steel Olcott e William Quan Judje, as ciências ocultas passaram a gozar de uma difusão vigorosa, principalmente através das publicações às quais Blavatsky consagrara sua vida. Por meio de livros que rapidamente se tornaram best-sellers e abalaram as opiniões em voga, gerando ao mesmo tempo assombro, encantamento e repúdio, Blavatsky desferiu um forte golpe nos preconceitos científicos, religiosos e mesmo culturais de uma época em ebulição. Aquela estranha mulher, de olhar intensamente penetrante, parlamentava em pé de igualdade com eruditos e cientistas, dissolvendo suas proposições diante de uma sabedoria antiga que já apontava que a matéria não passava de energia condensada, e isso décadas antes da mecânica quântica ser formalmente elaborada. Ela também desafiava os clérigos nas torres de seus dogmas, mostrando- lhes que abaixo de cada dogma havia um fio condutor, que permitia ligá-lo à mesma verdade apregoada em outras religiões, indicando-lhes a origem comum de todas as crenças, e isso antes do estudo de religiões comparadas se tornar uma disciplina reconhecida. Finalmente, Blavatsky explicou a causa da fenomenologia espírita de acordo com as ciências ocultas, que repousava nos poderes desconhecidos do próprio homem e não na ação dos mortos, os quais até podiam ser contatados, mas não da forma que se supunha. Para consubstanciar seus argumentos, Blavatsky citava nomes, datas, civilizações, obras e autores (antigos e modernos, conhecidos ou esquecidos), numa demonstração de erudição que parecia impossível para uma pessoa só. Mais do que isso, demonstrava o que afirmava, podendo reproduzir praticamente todos os fenômenos espíritas então em voga: materializações, desmaterializações, telepatia, clarividência, telecinesia, entre outros, apenas pelo poder de sua vontade. Certamente, tudo isso não ficaria impune. Blavatsky não escapou à sina de todo visionário, pois como ela própria afirmou: “a coroa do inovador é uma coroa de espinhos”. E quantos foram os espinhos! Ela despertou primeiro o ódio dos religiosos, que a viam como uma bruxa perigosa a abalar os ditames da verdadeira �é. Consta que clérigos chegaram a lhe oferecer dinheiro para que parasse de publicar suas obras. Como a tática não funcionou, sobrou a difamação. Junto com os clérigos vieram os cientistas, desafiados em suas cátedras, e com eles até os pesquisadores do paranormal. A famosa Sociedade para Pesquisas Psíquicas da Inglaterra concluiu em 1886, por meio do Relatório Hodgson, que Blavatsky não passava de uma charlatã e falsificadora. Foram precisos cem anos para que a mesma Sociedade reconhecesse publicamente, em 1986, que o Relatório Hodgson fora tendencioso, inocentando Blavatsky. Finalmente, tendo explicado que os fenômenos espiritistas sem a filosofia do ocultismo não eram o que pareciam ser, podendo ser até perigosos, Blavatsky atraiu a ira dos espíritas de então, que não lhe pouparam libelos e acusações de toda ordem. Apesar de tudo, a Sociedade Teosófica se robusteceu e atingiu vários países, agremiando associados de renome, como o cientista William Crookes, o inventor Thomas Edison e o astrônomo Camille Flammarion, além de incontáveis buscadores sinceros dos enigmas da vida. Segundo a pesquisadora alemã Katinka Hesselink, Helena Blavatsky influenciou em vida e postumamente quase cem grandes nomes da ciência, arte, filosofia e esoterismo. Entres eles, além dos três supracitados, constam os poetas e dramaturgos William Butler Yeats e Maurice Maeterlinck; os escritores Lewis Carroll, Lyman Frank Baum, Conan Doyle, T. S. Eliot e Khalil Gibran; os psicólogos William James e Roberto Assagioli; os pintores Piet Mondrian, Wassily Kandinsky, Paul

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