a literatura em questão MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 11 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 Universidade Estadual de Campinas Reitor Marcelo Knobel Coordenadora Geral da Universidade Teresa Dib Zambon Atvars Conselho Editorial Presidente Márcia Abreu Ana Carolina de Moura Delfim Maciel – Euclides de Mesquita Neto Márcio Barreto – Marcos Stefani Maria Inês Petrucci Rosa – Osvaldo Novais de Oliveira Jr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira – Vera Nisaka Solferini MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 22 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 marcos natali A literatura em questão Sobre a responsabilidade da instituição literária MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 33 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação Bibliotecária: Maria Lúcia Nery Dutra de Castro – CRB-8a / 1724 N191L Natali, Marcos A literatura em questão: sobre a responsabilidade da instituição literária / Marcos Natali. — Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2020. 1. Arguedas, José Maria, 1913-1969. 2. Derrida, Jacques, 1930-2004. 3. Bolaño, Roberto, 1953-2003. 4. Literatura latino-americana. 5. Ética na literatura. 6. Pós- -colonialismo na literatura. I. Título. CDD – 801.3 isbn 978-65-862 53-44-3 – 809.93358 Copyright © by Marcos Natali Copyright © 2020 by Editora da Unicamp Opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a visão da Editora da Unicamp. Direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, dos detentores dos direitos. Foi feito o depósito legal. Direitos reservados à Editora da Unicamp Rua Sérgio Buarque de Holanda, 421 – 3o andar Campus Unicamp cep 13083-859 – Campinas – sp – Brasil Tel.: (19) 3521-7718 / 7728 www.editoraunicamp.com.br – [email protected] MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 44 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 Para Alejandra Para Maria Para Carmela MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 55 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 66 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................... 9 PARTE I UM “NÃO” IMPOSSÍVEL 1 ALÉM DA LITERATURA. ................................................................................................ 19 2 JOSÉ MARÍA ARGUEDAS AQUÉM DA LITERATURA ................................. 55 3 ASPECTOS ELEMENTARES DA INSURREIÇÃO INDÍGENA: NOTAS EM TORNO DE OS RIOS PROFUNDOS. ................................................ 69 PARTE II DAS DEMANDAS À LITERATURA 4 O SACRIFÍCIO DA LITERATURA ............................................................................. 91 5 UMA SEGUNDA ESMÉRIA: DO AMOR À LITERATURA (E AO ESCRAVIZADO) .................................................................................................... 121 6 GRAFOTERAPIA ................................................................................................................. 147 PARTE III DEPOIS DO FIM 7 AS MORTES DA LITERATURA ................................................................................... 163 8 FUTUROS DE ARGUEDAS ............................................................................................. 179 9 DA VIOLÊNCIA, DA VERDADEIRA VIOLÊNCIA ........................................... 207 POST SCRIPTUM – AUTOBIOGRAFIAS DO COMEÇO DE UMA AULA ... 241 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 261 MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 77 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 88 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 apresentação A literatura começa no momento em que se torna uma questão, escreveu Maurice Blanchot em 1948.1 Uma vez inscrita na folha, continua, a pergunta repousa silenciosamente na página, indagação endereçada à linguagem pela literatura. Admitida a suposição que Blanchot nos convida a considerar, este livro busca pensar o movimento inverso, perguntando-se a respeito do que acontece quando a literatura deixa de ser uma questão. Interessam, aqui, os modos em que se procura diluir, anular, neutralizar ou domesticar a potência desestabilizadora associada por Blanchot à literatura. A aposta é que, como parte de um exercício empenhado em esboçar o que seria “próprio” à literatura, esforço necessário para a sua conceitualização, é produtivo deter-se em cenas em que a literatura parece se tornar sinônimo de segurança e garantia. Os capítulos a seguir são um conjunto de especulações geradas por essa inquietação inicial, voltando uma e outra vez, de ângulos variados, a dilemas gerados em situações em que a instituição da literatura se viu obrigada a enfrentar demandas de diferentes espécies. Procurando ressaltar e agudizar o que estava (e continua) em jogo nesses confrontos, os capítulos buscam situações-limite de diferentes tipos, detendo- -se em conjunturas em que a desejabilidade da literatura, comumente enunciada com naturalidade em parte da história recente da reflexão sobre a literatura, precisa voltar a ser pensada. 1 Blanchot, 1997, p. 291. 9 MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 99 2222//0099//22002200 1111::0066::3322 marcos natali Assim, os capítulos do livro vão figurando, com cores mais ou menos carregadas e em graus variáveis de dramaticidade e intensidade, cenas em que uma demanda foi apresentada à literatura. Sua preocupação de fundo é, portanto, com a responsabilidade literária, isto é, com o modo como a literatura responde, ou se recusa a responder, a inquirições diversas. Ao longo dos textos, tendo por base casos específicos que ocuparam a crítica literária latino-americana nas últimas décadas, são examinadas relações conflituosas entre a literatura e os direitos humanos, a sala de aula, as discursividades indígenas, o trabalho de luto, o racismo, a loucura e a violência. Nesse exercício, o interesse pela literatura, mais do que a compro- vação de um valor que ela teria “em si”, advém da percepção de que ela é um território privilegiado para a dramatização de fantasias associadas à democracia, em particular o imaginário que inclui a crença na possibilidade infinita de inclusão e a confiança na possiblidade da assimilação da alteridade sem atrito ou restos. O tom piedoso comumente encontrado em referências tanto à literatura quanto à democracia sugere que ambas costumam ser vistas como uma espécie de justiça já conquistada, precisando agora apenas de proteção, preservação e cuidado. A instituição literária – os desejos, as repressões e contradi- ções aglomerados em torno do nome literatura – surge assim como um espaço que ajuda a pensar os limites e as aporias contidos na ideia de democracia, não obstante sua autorrepresentação como abertura infinita. Afinal, do mesmo modo que com a democracia, e algumas versões da noção de modernidade (como elaborado nos primeiros capítulos), encontramos com alguma frequência imagens que representam a literatura como um ambiente discursivo e político no qual caberia a totalidade da existência, e isso no mesmo gesto que determina limites para a diferença. Não teria como afirmar – agora que este livro está, se não pronto, ao menos encerrado e entregue a eventuais leitoras e leitores – que o objetivo, a finalidade e o horizonte dos estudos realizados ao longo dos anos foi, desde o início, algo como a conformação delineada acima; na verdade, os 10 MMiioolloo--AA lliitteerraattuurraa eemm qquueessttããoo..iinnddbb 1100 2222//0099//22002200 1111::0066::3333