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A folha: N.º 65 — primavera de 2021 PDF

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a folha Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias https://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/pt_magazine_pt.htm N.º 65 — primavera de 2021 DEVANEIOS BIOLÓGICOS (I): FENÉTICA, CLADÍSTICA E SUFIXOS DOS NOMES CIENTÍFICOS — Paulo Paixão .................................... 1 OS HOMINÍDEOS, UMA FAMÍLIA RECOMPOSTA E INCLUSIVA — Paulo Correia ............................................................................. 15 O QUE OCULTA O TEXTO ORIGINAL: UM EXEMPLO BOTÂNICO D’A ILHA MISTERIOSA DE JÚLIO VERNE — Miguel Á. Navarrete ..... 21 UM APARTE À PARTE (VII) — Jorge Madeira Mendes ............................................................................................................... 34 PRÁTICAS TERMINOLÓGICAS NA ÁREA DO COMÉRCIO EXTERIOR — Mario Vergara ..................................................................... 35 Devaneios biológicos (I): fenética, cladística e sufixos dos nomes científicos Paulo Paixão Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia «Sobre o passado da Terra pouco se sabe. Sabe-se que o Cristiano Ronaldo foi o melhor jogador de futebol de sempre; que Portugal foi o país que conseguiu estar em crise durante mais tempo (72 anos consecutivos); que Rita Calçarão, Henrique Furtado e Rafael Ferreira tiveram nota máxima num trabalho de Biologia... No entanto, conseguimos saber mais sobre a Terra através dos seres vivos que lá encontrámos. A Terra foi poluída pelos humanos, provocando assim a extinção de quase todas as espécies existentes. Algumas espécies evoluíram graças à seleção natural, à engenharia genética e aos programas de reprodução seletiva. Ficámos surpreendidos com a cultura dos humanos, e por isso adotámos um sistema de classificação taxonómica semelhante.»(1) O processo a que se chama evolução dos seres vivos envolve a mudança contínua da composição genética de cada população. Tem por base a variação genética entre indivíduos de uma população e a seleção natural daqueles indivíduos cujos atributos lhes conferem uma melhor adaptação ao meio (ele próprio também em mudança), maior probabilidade de sobrevivência, reprodução e transmissão dos genes à sua descendência. Ao fim de muitas gerações, as diferenças entre os descendentes de uma linhagem e os seus antecessores remotos podem ser de tal forma acentuadas que essas populações se consideram espécies diferentes. Este fenómeno de especiação é notório em populações que divergem em isolamento umas das outras e expostas a meios diferentes. Há vários conceitos de espécie, mas os mais comuns são o conceito biológico, assente no isolamento reprodutivo, e o conceito filogenético, que dá primazia ao processo evolutivo. A sequência de gerações pode ser representada por um fio condutor que se vai ramificando sucessivamente a cada instante reprodutivo. Podemos então falar de uma árvore filogenética, ou seja, uma árvore evolucionária da vida, de cujos ramos nascem outros ramos, galhos e folhas: uma continuidade de transmissão genética. Estas ligações e relações também se podem classificar, ordenar e representar sob a forma de listas taxonómicas (listas de nomes de organismos e das categorias em que se a folha N.º 65 — primavera de 2021 organizam) ou de cladogramas (representação gráfica dos organismos sob a forma de diagrama de nódulos e linhas divergentes). A base de dados Catalogue of Life(2) inclui quase 90 % dos cerca de 2 200 milhões de espécies conhecidas que atualmente vivem no planeta(3). A classificação dos seres vivos é uma tentativa de ordenar as espécies de forma a reproduzir a evolução da vida na Terra, agrupando as mais próximas em conjuntos de unidades coerentes, que são encaixados noutros sucessivamente mais abrangentes. Cada organismo pertence em simultâneo a cada um desses níveis taxonómicos sucessivos. Tais grupos, cujos membros apresentam uma série de características em comum, designam-se coletivamente por táxones, a que importa atribuir nome de acordo com regras de nomenclatura específicas e organizar hierarquicamente consoante o nível de abrangência taxonómica. Incluem, por ordem ascendente de complexidade, diversas categorias hierárquicas designadas por espécies, géneros, tribos, famílias, ordens, classes, filos, reinos e domínios (estes também chamados impérios ou super-reinos). Também se recorre a outras categorias, de nível intermédio, cujos nomes se formam por prefixação das categorias principais (por exemplo, super-, sub- e infra-). No caso da classificação filogenética (também conhecida como cladística), muitas dessas categorias designam- se simplesmente por clados (ramos). A formação do nome científico de cada táxon obedece a regras de nomenclatura taxonómica que não são uniformes porque são regidas por códigos diferentes(4): o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica(5), aplicável aos animais, o Código Internacional de Nomenclatura das algas, dos fungos e das plantas(6) e o Código Internacional de Nomenclatura das Plantas Cultivadas(7), aplicáveis aos nomes botânicos, e ainda o Código Internacional de Nomenclatura dos Procariotas(8), aplicável aos procariotas, embora as cianobactérias continuem a estar no âmbito de dois deles (o botânico e o dos procariotas). Há certos organismos que, por terem sido classificados, em paralelo, como protozoários e algas, ou como protozoários e fungos, estão vinculados a ambos os códigos (botânico e zoológico). Embora não se considerem organismos, os vírus são geralmente tratados como parte da diversidade biológica, pelo que numa resenha de nomenclatura importa citar igualmente o Código Internacional de Classificação e Nomenclatura dos Vírus(9). A classificação lineana tradicional, que originalmente visava a identificação e catalogação das espécies, consiste na ordenação dos nomes associados a tipos definidos (espécimes descritos) de seres vivos segundo uma metodologia fenética, isto é, em função do seu grau de similaridade fenotípica, mesmo que essa ordem não reflita a origem comum das espécies ou grupos de espécies. Ao contrário desta, a classificação cladística assenta na genealogia e nas relações evolutivas de grupos naturais ou monofiléticos (clados). Essas relações são confirmadas por análise molecular que põe em evidência a plasticidade dos caracteres fenotípicos e expõe exemplos de evolução convergente até então desconhecidos. Em consonância com o Código Internacional de Nomenclatura Filogenética(10), os clados estão associados a uma definição filogenética que inclui um antepassado comum e todos os seus descendentes e apenas estes (ou seja, um nó da ramificação e todos os ramos que se originaram a partir desse nó). A monofilia é um critério importante nos modernos sistemas de classificação taxonómica dos seres vivos, aplicando-se sobretudo aos eucariotas(11). Os dinossauros são um grupo monofilético apenas se neles incluirmos os ainda existentes, que são as aves (o único subgrupo de dinossauros que sobrevive até hoje). Os répteis, do modo como vulgarmente os entendemos (apenas as tartarugas, os lagartos, as cobras e os crocodilos), não são um grupo monofilético, mas sim um grupo parafilético, porque abrangem vários descendentes do antepassado comum, mas não todos eles (ignorando as aves). O vocabulário taxonómico dos seres vivos compreende nomes científicos únicos para cada unidade taxonómica. Esses nomes, em latim ou latinizados, têm geralmente uma terminação específica, um sufixo próprio para cada nível taxonómico (como -idae no caso das famílias zoológicas). Porém, apesar de existir algum consenso da comunidade internacional de zootaxonomistas em torno de determinados grupos(12), os táxones zoológicos acima de superfamília não são abrangidos (por vários e 2 a folha N.º 65 — primavera de 2021 bons motivos) pelo código internacional, sendo variável a formação e ortografia desses sufixos (nomenclatura circunscricional que não exige atender ao nível ou posição do táxon a que está associada). Mesmo fora do âmbito da zoologia, também é grande o grau de liberdade na formação de sufixos de muitos outros grupos superiores. táxon bactérias algas plantas fungos animais Divisão/Filo -phyta -mycota -fitas -micotos (**) Subdivisão/Subfilo -phytina -mycotina -fitinas -micotinos (**) Classe -ia -phyceae -opsida -mycetes -ia (*) -fíceas -ópsidas -micetes Subclasse -idae -phycidae -idae -mycetidae -ídeas -ficídeas -ídeas -micetídeos Superordem -anae -anas Ordem -ales -ales -ales -ales Subordem -ineae -ineae -íneas -íneas Superfamília -oidea -oides Família -aceae -aceae -idae -áceas -áceas -ídeos Subfamília -oideae -oideae -inae -óideas -óideas -íneos Tribo/Infrafamília -eae -eae -ini -eas -eas -inos Subtribo -inae -inae -ina -inas -inas -inas (*) Geralmente -ia, mas variável (Bacilli, Clostridia, Negativicutes, etc.). (**) É preferível empregar as terminações -micotos e -micotinos, ainda pouco usadas mas fiéis aos nomes científicos -mycota e -mycotina, ao tradicional -micet-, que é mais adequado para os sub-reinos -myceta recentemente propostos por Tedersoo et al(13). Anteriormente os Basidiomycota eram chamados Basidiomycetes, um nome de classe inválido cunhado em 1959 como contraponto a Ascomycetes, quando nenhum destes táxones eram reconhecidos como filos. Os termos basidiomicetos/basidiomicetes e ascomicetos/ascomicetes são frequentemente usados de forma imprecisa para referir-se a Basidiomycota e Ascomycota(14). É importante ter em conta que a taxonomia biológica dos níveis superiores está longe de alcançar a estabilidade. Surgem frequentemente agrupamentos taxonómicos defendidos por uns investigadores, mas questionados por outros. Nas últimas décadas reconheceram-se muitos táxones superiores novos em consequência da aplicação da análise cladística. Muitos deles são invocados apenas por especialistas, mas alguns também são conhecidos do público em geral. Nada impede a adaptação dos nomes científicos dos táxones para português ou qualquer outra língua, criando assim em paralelo um vocabulário vernáculo de cariz técnico, bem mais diverso que o acervo de nomes vulgares do vocabulário vernáculo de raiz popular. Em termos de significado, estes últimos são geralmente mais amplos que as espécies, raramente coincidindo com elas (por exemplo, quando se fala de antílopes, faz-se a imagem mental de um tipo de animal, sem se identificar com precisão e em particular nenhuma das muitas espécies de antílopes). O vocabulário vernáculo pode incluir formas paracientíficas criadas por adaptação dos nomes científicos à ortografia da língua vernácula (por exemplo, a garça é um ardeídeo; os ardeídeos são espécies da família Ardeídeos, do nome científico do táxon: Ardeidae). Mesmo as formas paracientíficas inválidas, por representarem grupos artificiais, polifiléticos ou não naturais (Pisces, Invertebrata, Vermes, Algae, Protozoa, etc.), têm correspondentes em português (peixes, invertebrados, vermes, algas, protozoários). O zoólogo brasileiro Rodolpho von Ihering (1883-1939) 3 a folha N.º 65 — primavera de 2021 foi um dos primeiros, se não o primeiro, a propor normas para a adaptação de nomes científicos ao português, definindo sufixos para vários níveis hierárquicos da classificação lineana, especialmente família e subfamília(15). Procurando alargar este conceito à formação de outros nomes paracientíficos, em consonância com o disposto no Manual de Galego Científico(16), sugerem-se aqui algumas regras de correspondência com sufixos portugueses. Espera-se assim contribuir para o enriquecimento linguístico com um vocabulário harmonizado, que importa proteger de corruptelas e conservar para o futuro em prol da estabilidade ortográfica. Um táxon, ainda que representado por um tipo único utilizado para descrever uma espécie, refere-se sempre a um agrupamento de indivíduos. Mesmo o nome de uma espécie não designa nenhum indivíduo isolado, mas toda uma categoria de animais semelhantes (por exemplo, uma ou mais populações). Por isso, em termos gramaticais, um táxon não é um substantivo próprio. Sendo um nome comum e referindo-se em termos coletivos ao conjunto de organismos compreendidos no táxon, deve escrever-se com minúscula inicial, tanto no singular (por exemplo, o cão, um cão) como no plural (por exemplo, os primatas). Admite-se, porém, a escrita com maiúscula inicial caso se pretenda destacar o nome próprio do táxon sem recorrer à preposição «dos» (por exemplo, a família dos ardeídeos ou a família Ardeídeos). Faz sentido que o género gramatical das formas paracientíficas siga o género das categorias taxonómicas superiores nas quais se inserem. Assim, são masculinos os nomes de táxones animais (os metazoários, os ornituras, os dinossáurios, etc.) e femininos os nomes de plantas (as espermatófitas, as angiospérmicas, as vanilóideas). Nalguns casos, a concordância de género pode variar em função do grupo taxonómico superior (explícito ou simplesmente subentendido) que se pretenda adjetivar (as neornites — ou seja, as aves neornites — ou os neornites). Outrora comum, parece estar em desuso o emprego do género masculino nas categorias superiores de plantas (briófitos, pteridófitos, espermatófitos, traqueófitos, talófitos, etc.). Deste modo, os grupos taxonómicos superiores (família, ordem, classe, filo, etc.) podem adaptar-se à ortografia e à fonética próprias do português. Caso não se faça essa adaptação, devem escrever-se em latim, com a inicial maiúscula, em itálico nos casos regidos pelos códigos bacteriano e botânico e em tipo redondo nos casos regidos pelo código zoológico. Sempre que um texto esteja em itálico (por exemplo em títulos de artigos ou publicações ou outros destaques), os nomes científicos nele inseridos revertem para tipo redondo, para que continuem destacados do resto da frase. Aplicam-se as normas ortográficas da língua portuguesa (Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990(17)), nomeadamente no que diz respeito à utilização do hífen (base XV, n.º 3), da minúscula inicial (base XIX, n.º 1, alínea a) e do apóstrofo (base XVIII, n.º 1, alínea d):  emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, ligadas ou não por preposição ou qualquer outro elemento (milhafre-preto, fuinha-dos-juncos);  utiliza-se minúscula inicial para os nomes próprios que possam figurar, como nome geográfico (ganso-do-egito, canário-do-amazonas) ou de uma pessoa (joão-de-barro, gaio-de-steller), nos nomes vulgares, os quais são nomes comuns, por mais que neles contenham nomes próprios;  pode recorrer-se ao apóstrofo entre certos elementos da palavra composta (galinha-d’água, melro-d’água). No caso dos nomes de táxones formados a partir de nomes de pessoas, é conveniente que o nome vernáculo mantenha a ortografia original já seguida no nome científico. Por exemplo, entre as briófitas, as hepáticas da ordem Jungermanniales são jungermanniales, embora se admita o aportuguesamento para jungermânias quando se faça referência concreta às espécies do género Jungermannia (homenagem prestada pelo botânico Heinrich Ruppius a outro botânico alemão, Ludwig Jungermann). O mesmo raciocínio se aplica a pteridófitas como os fetos da família 4 a folha N.º 65 — primavera de 2021 Marattiaceae, as marattiáceas (em homenagem ao botânico italiano Giovanni Francesco Maratti). Também se encontram casos destes em zoologia, como os cettiídeos, aves passeriformes da família Cettiidae (homenagem ao zoólogo italiano Francesco Cetti). Embora «ch» em latim corresponda ao som k, também pode ser x, como no caso de Escherichia coli, bactéria descrita como Bacterium coli commune pelo pediatra austríaco Theodor Escherich e mais tarde reclassificada num novo género ao qual foi atribuído um nome em homenagem ao descobridor da espécie. É frequente encontrar o mesmo nome paracientífico escrito de várias maneiras em português (por exemplo, angiospermas e angiospérmicas). Essa variabilidade ortográfica pode mesmo dificultar a identificação precisa das categorias taxonómicas em questão. Assim, propõe-se um conjunto de soluções, acompanhado de táxones exemplificativos, para os seguintes sufixos e outras terminações mais comuns na nomenclatura dos seres vivos: sufixos e terminações táxones científico pt científico pt categorias -a -ada -ados Metamonada metamónados superior (esdrúxula) Tardigrada tardígrados filo/ animais -ata -ados Chordata cordados superior Vertebrata vertebrados Craniata craniados Dinoflagellata dinoflagelados Odonata odonados -dermata -dermes Echinodermata equinodermes filo/ animais -ca -cos Mollusca moluscos filo/ animais -cauda -caudos Avebrevicauda avebrevicaudos superior -cha -cos Kynorhyncha quinorrincos filo/ animais -tricha -tríqueos Gastrotricha gastrotríqueos filo/ animais -chia -quios Suchia súquios superior -ea -eias Arquea arqueias superior -eos (esdrúxula) Amorphea amórfeos superior Cetacea cetáceos infraordem/ mamíferos -inos Nemertea nemertinos filo/ animais -oidea -oides Tyrannoidea tiranoides superfamília/ Apoidea apoides animais -gnatha -tos (esdrúxula) Agnatha ágnatos superior Chaetognatha quetógnatos -gnathia -tios (esdrúxula) Probainognathia probainognátios superior -ida -idos Priapulida priapúlidos filo/ animais (esdrúxula) Anellida anélidos classe/ Arachnida arácnidos artrópodes Romeriida romeríidos -opsida -ópsidas Liliopsida liliópsidas classe/ plantas -apsida -ápsidos Therapsida terápsidos superior/ répteis -ina -inas Hominina homininas subtribo/ animais -mycotina -micotinos Zygomycotina zigomicotinos subfilo/ fungos -phytina -fitinas subdivisão/ plantas e algas -ira -iros Ornithodira ornitdiros superior -lia -lios Pygostylia pigostílios superior Crocodylia crocodílios ordem/ répteis -is Animalia animais superior Marsupialia marsupiais infraclasse/ mamíferos Reptilia répteis (irregular) classe/ cordados -feros Mammalia mamíferos classe/ cordados (esdrúxula) 5 a folha N.º 65 — primavera de 2021 -rios Placentalia placentários superior -microbia -micróbios Verrumicrobia verrumicróbios superior -morpha -morfos Reptiliomorpha reptiliomorfos superior -oda -odos Nematoda nemátodos filo/ animais (esdrúxula) -poda -podes Arthropoda artrópodes filo/ animais (esdrúxula) Gastropoda gastrópodes classe/ moluscos -omia -ómios Deuterostomia deuterostómios superior -onta -ontos Unikonta unicontos superior -ota -otas Eukaryota eucariotas superior Amniota amniotas -otos Pholidota folidotos ordem/ mamíferos -mycota -micotos Zygomycota zigomicotos filo/ fungos -phyta -fitas Spermatophyta espermatófitas divisão/ plantas (esdrúxula) e algas -procta -proctos Entoprocta entoproctos filo/ animais -ra -ros Averostra averrostros superior -fera -feros Foraminifera foraminíferos superior (esdrúxula) Loricifera loricíferos filo/ animais -phera -feros Poriphera poríferos superior (esdrúxula) -phora -foros Metopophora metopóforos superior (esdrúxula) -ptera -pteros Coleoptera coleópteros ordem/ (esdrúxula) artrópodes -raptora -res Maniraptora manirraptores superior -ria -rios (esdrúxula) Bilateria bilatérios superior Theria térios -aria -árias infraordem/ plantas, algas e fungos -bacteria -bactérias Cyanobacteria cianobactérias superior -sauria -sáurios Sauria sáurios superior/ répteis -sauros Dinossauria dinossáurios/auros Ptersauria pterossáurios/auros -tia -tios (esdrúxula) Rhipidistia ripidístios superior -odontia -odontes Cynodontia cinodontes superior -via -ves Bivalvia bivalves classe/ moluscos -zoa -zoários Metazoa metazoários superior -e -ae -as Plantae plantas superior Ornithurae ornituras Avialae avialas Neognathae neognatas infraclasse/ aves Araneae aranhas (irregular) ordem/ artrópodes -aceae -áceas Geraniaceae geraniáceas família/ plantas, algas, fungos e bactérias -anae -anas Lilianae lilianas superordem/ plantas -atae -adas Labiatae labiadas antiga família/ plantas -eae -eas Vanilleae vaníleas tribo/ plantas, algas, fungos e bactérias -gamae -gâmicas Cryptogamae criptogâmicas superior/ plantas 6 a folha N.º 65 — primavera de 2021 -idae -ídeos Picidae picídeos família/ animais -ídeas subclasse/ plantas e bactérias -inae -íneos Homininae hominíneos subfamília/ animais -inas Eriinae eriinas subtribo/ plantas, algas, fungos e bactérias -ineae -íneas Fabineae fabíneas subordem/ plantas, algas, fungos e bactérias -mycetidae -micetídeos subclasse/ fungos -oideae -óideas Vanilloideae vanilóideas subfamília/ plantas, algas, fungos e bactérias -phyceae -fíceas classe/ algas -phycidae -ficídeas subclasse/ algas -spermae -spérmicas Angiospermae angiospérmicas intermédia/ plantas -i -i -os Haplorhini haplorrinos subordem/ Odontoceti odontocetos animais Passeri pássaros Fungi fungos superior -cocci -cocos Thermococci termococos classe/ arqueias -gii -gios Sarcopterygii sarcopterígios superior (esdrúxula) -ini -inos Hominini homininos tribo/ animais -omi -omos Teleostomi teleóstomos superior (esdrúxula) -s -es -es Brevirostres brevirostres superior Olfactores olfatores Aves aves classe/ cordados -as Primates primatas ordem/ mamíferos -ales -ales Asterales asterales (sing.: ordem/ plantas, asterale) algas, fungos e bactérias -formes -formes Dinosauriformes dinosauriformes superior Gruiformes gruiformes ordem/ aves Simiiformes simiiformes infraordem/ primatas -ichthyes -íctios Chondrichthyes condríctios superior -ides -ides Passerides passerides infraordem/ animais Orionides orionides superior -mycetes -micetes Zygomycetes zigomicetes classe/ fungos -spermes -spérmicas Angiospermes angiospérmicas superior/ plantas Além da aplicação exata destes termos no contexto concreto da taxonomia, podem formar-se muitas outras palavras derivadas da nomenclatura dos seres vivos. Nesses casos, a sufixação é livre e variável, pois não se exige uma correspondência exata com grupos taxonómicos, como nos seguintes exemplos: 7 a folha N.º 65 — primavera de 2021 aviário locais onde existem (aves, serpentes, etc.) serpentário reptiliano semelhante a (répteis, etc.) pinhal coletivos de seres vivos humanidade vinícola com o sentido de cultivo (de videiras, etc.) ou criação (de abelhas, etc.) apícola cáprico no âmbito da química (ácidos, etc.) caprílico animalístico referentes a (animais, etc.) no sentido geral ou abstrato animalismo carnívoro referentes a (animais, etc.) no sentido geral ou no contexto de atividades como a caprino agropecuária, mesmo que coincidentes com formas paracientíficas Dada a semelhança de nomes de táxones que apenas variam de sufixo, a tradução exata destes nomes exige atenção especial. Pode ser útil fazê-lo a dois tempos: primeiro passando as formas paracientíficas estrangeiras da língua original (inglês, francês, etc.) para o nome científico (e assim perceber bem de que táxon se trata) e, em seguida, convertendo-o para o correspondente vocábulo português, como no exemplo seguinte: «These fossils document that whales are derived from ungulates (mesonychid condylarthra) that increasingly became adapted to life in water. (…) The terrestrial ancestor of the whales has now been shown to have been an artiodactyl rather than a mesonychid ungulate. (…) The australopithecine ancestors of man also form a rather impressive transition from a chimpanzeelike anthropoid stage to that of modern humans.»(18)) [Estes fósseis evidenciam o facto de as baleias derivarem de ungulados (condilartros mesoníquios) que se adaptaram progressivamente à vida na água. (…) Entretanto, demonstrou-se que o antepassado terrestre das baleias terá sido um artiodáctilo e não um condilartro mesoníquio. (…) Os australopitecíneos que antecederam o homem formam igualmente uma transição deveras impressionante de um estádio antropoide semelhante ao chimpanzé até aos humanos modernos.] en Científico taxonomia pt whales Cetacea ordem de mamíferos ungulados, ou baleias infraordem quando considerados abrangidos pela ordem Cetartiodactyla do ponto de vista cladístico ungulate Ungulata clado de mamíferos ungulados mesonychid †Mesonychia ordem de mamíferos ungulados mesoníquios condylarthra †Condylarthra grupo informal ou táxon-lixeira, condilartros antigamento considerado uma ordem de mamíferos ungulados artiodactyl Artiodactyla ordem de mamíferos ungulados artiodáctilos australopithecine Australopithecina sinónimo de Hominina, atual subtribo de australopitecinas primatas homininos (Hominini) Australopithecinae antiga subfamília de primatas australopitecíneos hominídeos (Hominidae), que se aplicava à data da publicação daquele texto man Homo sapiens homem, ser humano anthropoid Anthropoidea infraordem de primatas, habitualmente antropoides designada por Simiiformes (símios, grandes símios ou grandes macacos) e, secundariamente, por Anthropoidea (nome construído com terminação inadequada reservada para as superfamílias de animais) modern humans Homo sapiens humanos modernos sapiens 8 a folha N.º 65 — primavera de 2021 Embora existam classificações taxonómicas para muitos grupos de organismos, são raras as que abrangem todas as formas de vida e nenhuma reúne o consenso necessário para se afirmar como oficial(19). Isto deve-se, por exemplo, a relações filogenéticas contraditórias ou indeterminadas e a objetivos de classificação e cladificação não coincidentes. A classificação de Ruggiero et al.(20) abrange os eucariotas e os procariotas até ao nível das ordens, exceto os representantes fósseis. Apesar de não ser puramente filogenética (não rejeita grupos parafiléticos), é uma classificação de consenso, que assenta no conceito taxonómico lineano, representa um compromisso entre opiniões diversas e evidências contraditórias e proporciona a estrutura hierárquica do Catalogue of Life. Classificação simplificada, adaptada de Ruggiero et al. (2015) (procariotas) e tendencialmente filogenética com base na Wikipédia (eucariotas) táxon pt Superdomínio Prokaryota procariotas Domínio Archaea arqueias Reino Archaebacteria arquibactérias Filo Crenarchaeota crenarqueotas Classe Thermoprotei termoprotos Filo Euryarchaeota euriarqueotas Classe Methanobacteria metanobactérias Classe Methanococci metanococos Classe Methanomicrobia metanomicróbios Classe Halobacteria halobactérias Classe Thermoplasmata termoplasmados Classe Thermococci termococos Classe Archaeoglobi arqueoglobos Classe Methanopyri metanopiros Domínio Bacteria bactérias Reino Eubacteria eubactérias Sub-reino Negibacteria negibactérias Filo Acidobacteria acidobactérias Filo Aquificae aquíficas Filo Armatimonadetes armatimonadetes Filo Bacteroidetes bacteroidetes Filo Caldiserica caldiséricos Filo Chlamydiae clamídias Filo Chlorobi cloróbios Filo Chrysiogenetes crisiogenetes Filo Cyanobacteria (=Cyanophyta) cianobactérias (=cianófitas) Filo Deferribacteres deferribacteres Filo Deinococcus-Thermus (=Hadobacteria) deinococos-termos (=hadobactérias) Filo Dictyoglomi dictioglomos Filo Elusimicrobia elusimicróbios Filo Fibrobacteres fibrobacteres Filo Fusobacteria fusobactérias Filo Gemmatimonadetes gematimonadetes Filo Lentisphaerae lentisferas Filo Nitrospira nitrospiros Filo Planctomycetes planctomicetes Filo Proteobacteria proteobactérias Filo Spirochaetae espiroquetas Filo Synergistetes sinergistetes Filo Thermodesulfobacteria termodessulfobactérias Filo Thermotogae termótogas Filo Verrucomicrobia verrucomicróbios Sub-reino Posibacteria posibactérias Filo Actinobacteria actinobactérias Filo Chloroflexi (=Chlorobacteria) cloroflexos (=clorobactérias) 9 a folha N.º 65 — primavera de 2021 Filo Firmicutes firmicutes Filo Tenericutes tenericutes Superdomínio Eukariota eucariotas Bikonta bicontos Filo Apusozoa apusozoários Corticata corticados Archaeplastida/Primoplantae arquiplástidos/primoplantas Filo Glaucophyta glaucófitas Filo Rodophyta rodófitas Reino Plantae plantas Sub-reino Viridiplantae viridiplantas Divisão Chlorophyta clorófitas Divisão Charophyta carófitas Sub-reino Embryophyta embriófitas Divisão Marchantiophyta/Hepaticophyta marcantiófitas/hepaticófitas Divisão Anthocerotophyta antocerotófitas Divisão Bryophyta briófitas Divisão Lycopodiophyta/Lycophyta licopodiófitas/licófitas Divisão Equisetophyta equisetófitas Divisão Pteridophyta pteridófitas Divisão Psilotophyta psilotófitas Divisão Ophioglossophyta ofioglossófitas Superdivisão Spermatophyta espermatófitas Divisão Cycadophyta cicadófitas Divisão Ginkgophyta gincgófitas Divisão Pinophyta pinófitas Divisão Gnetophyta gnetófitas Divisão Magnoliophyta magnoliófitas Chromalveolata cromalveolados Filo Heterokontophyta/Stramenopila heterocontófitas/estramenópilos Filo Haptophyta haptófitas Filo Cryptophyta criptófitas Superfilo Alveolata alveolados Filo Ciliophora cilióforos Filo Apicomplexa ampicomplexos Filo Dinoflagellata dinoflagelados Cabozoa cabozoários Rhizaria rizários Filo Cercozoa cercozoários Filo Foraminifera foraminíferos Filo Radiolaria radiolários Excavata excavados Filo Metamonada metamónados Filo Loukozoa/Jakobida lucozoários/jacóbidos Filo Euglenozoa euglenozoários Filo Percolozoa percolozoários Unikonta unicontos Amoebozoa amibozoários Classe Tubulinea tubulinos Classe Flabellinea flabelinos Classe Myxomycota mixomicetos Classe Archamoebae arcamibas Opisthokonta opistocontos Filo Choanozoa coanozoários Classe Choanoflagellata/Choanomonada coanoflagelados/coanomónados Classe Corallochytrea coraloquitreias Classe Mesomycetozoea/Ichthyosporea mesomicetozoeias/ictiosporeias Classe Cristidiscoidea/Nucleariida cristidiscoides 10

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