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A Fenomenologia do Espírito - Estética (A ideia e o ideal; O belo artístico e o ideal) - Introdução à História da Filosofia PDF

388 Pages·1974·11.279 MB·Portuguese
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GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL A F E N O M E N O L O G I A DO E S P Í R I T O E S T É T I C A A IDEIA E O IDEAL E S T É T I C A O BELO ARTÍSTICO E O IDEAL I N T R O D U Ç Ã O À HI STÓRI A DA F I L O S O F I A EDITOR: VICTOR CIVITA Títulos originais: Die Phaenomenologie des Geistes — Vorlesungen ueber die Aesthetik — Vorlesungen ueber die Geschichte der Philosophie. 1.* edição — setembro 1974 © — Copyright desta edição, 1974, Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo. Tradução publicada sob licença de: Guimarães Editores, Lisboa (Estética — A idéia e o ideal; Estética — O belo artítico ou o ideal); Arménio Amado, Editores, Sucessor, Coimbra (Introdução à História da Filosofia). Direitos exclusivos sobre a tradução de A Fenomenologia do Espírito, 1974, Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo. Sumário A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO ............................................................................................................ 7 ESTÉTICA — A IDÉIA E O IDEAL ................................................................................................................. 83 ESTÉTICA — O BELO ARTÍSTICO OU O IDEAL ................................................................................... 211 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA ........................................................................................... 321 A F E N O M E N O L O G I A DO E S P Í R I T O (PREFACIO, INTRODUÇÃO, CAPS. I E II) Seleção, tradução e notas de Henrique Cláudio de Lima Vaz Nota do Tradutor A presente tradução foi feita sobre a edição crítica de Johannes Hoffmeister (6.a edição, 1952) publicada pela Editora Felix Meiner, de Hamburgo, e consti­ tuindo o quinto volume da edição crítica das Obras Completas de G. W. F. Hegel iniciada por Georg Lasson e continuada por J. Hoffmeister dentro da Philoso- phische Bibliothek da mesma Ed. F. Meiner (na qual a Fenomenologia do Espírito recebeu o n.° 114). Presentemente o projeto de Lasson-Hoffmeister foi abando­ nado, e está sendo substituído pela nova e monumental edição das Gesammelte Werke, patrocinada pela Deutsche Forschungsgemeinschaft e dirigida por um grupo de conhecidos especialistas de Hegel, cuja publicação foi confiada igual­ mente à Editora F. Meiner. Alguns volumes dessa que será a edição crítica prova­ velmente definitiva do Corpus hegeliano já vieram à luz, e nela se espera, para dentro de um prazo razoável, a edição crítica igualmente definitiva da Fenomeno­ logia do Espírito. Tendo em vista o aparecimento dessa edição, julgamos inútil reproduzir, segundo a praxe, na margem da nossa tradução, seja a paginação da edição de Hoffmeister, seja a da edição de 1832, reeditada por H. Glockner no segundo volume da Jubiláumausgabe. O leitor interessado encontrará uma corres­ pondência entre a paginação da edição original de 1807 e a das edições de 1832, 1841 e 1948, na ed. citada de Hoffmeister, p. 565 e ss., segundo o índice de maté­ rias elaborado por G. Lasson. Suprimimos igualmente a inserção no texto, entre parênteses, dos subtítulos do índice de Lasson que tem sido adotada pelos traduto­ res, mas que o próprio Lasson suprimiu a partir da sua 3.a edição. Apenas no Pre­ fácio guardamos a divisão lassoniana em quatro partes (números romanos entre parênteses), que pode ser de alguma utilidade. Seguindo, no entanto, o exemplo de Hoffmeister, apresentamos em apêndice a tradução do índice de Lasson corres­ pondente às partes traduzidas. Dentre as traduções estrangeiras por nós utiliza­ das, além da clássica tradução francesa de J. Hyppolite (Paris, 2 vols., 1939-1941), cabe especial referência à magistral tradução italiana de Enrico de Negri (2.a. ed., 2 vols., Florença, 1960). Uma palavra sobre o critério de seleção dos textos aqui traduzidos. Entre a impossibilidade da publicação da tradução integral da Fenomenologia e uma antologia de pequenos textos que mutilaria irremediavelmente a grande obra de Hegel, optamos por apresentar o Prefácio e a Introdução, textos capitais para a inteligência do método de Hegel e da sua concepção da filosofia, e os capítulos 1 10 HEGEL e 2 da seção A (Consciência), menos citados do que outras passagens célebres da Fenomenologia, mas que constituem, pela concisão e exatidão, paradigmas perfei­ tos do estilo e do método que Hegel se propôs a seguir na elaboração da sua obra, mas que as vicissitudes conhecidas da sua composição vieram prejudicar, sobre­ tudo nos capítulos finais, segundo confissão do próprio Hegel (Carta a Schelling, de 1/5/1807). A composição da Fenomenologia apresenta, de fato, delicados pro­ blemas de crítica interna que repercutem sobre a sua interpretação. Uma biblio­ grafia recente sobre o assunto pode ser encontrada no nosso artigo Fenomeno­ logia e Sistema: a propósito da composição da “Fenomenologia do Espírito”, “Rev. Bras. de Filosofia”, 20: 1970:384-405, que seria útil complementar com Valls Plana, Ramón, Del Yo al Nosotros: lectura de la Fenomenologia dei Espí- ritu de Hegel, ed. Esteia, Barcelona, 1971, Ap., 387-408 e Puntel, L.B., Hegel heute: Zur “Phänomenologie des Geistes”, “Philosophisches Jahrbuch”, 80:1973:133-160. As breves notas ao pé da página têm apenas o caráter de indi­ cações que podem facilitar a leitura. Não estaria de acordo com a índole desta coleção discutir tecnicamente as dificuldades que apresenta a tradução dessa obra singular que é a Fenomenologia. Se o trabalho de tradução de um texto tão prodi­ giosamente rico representa para o tradutor uma emocionante aventura intelectual, a leitura do mesmo texto, empobrecido pela tradução, pode significar um difícil exercício de paciência. Nossa tradução corre o risco de agravar essa situação, pois está longe de pretender ter alcançado os brilhantes resultados de um Baillie, de um De Negri ou de um Hyppolite. Convém lembrar, no entanto, que a tradu­ ção de um texto filosófico, sobretudo de um texto de Hegel, é sempre, e apenas, uma manuductio, que não dispensa o estudioso do recurso ao original. Prefacio1 Uma explicação, dessas que se costumam antepor a uma obra qualquer num Prefácio — seja sobre o fim que o autor nela se propôs, seja sobre as circuns­ tâncias ou a relação que ele crê descobrir entre sua obra e outras, anteriores ou contemporâneas que tratem do mesmo assunto —, parece, no caso de um escrito filosófico, não somente supérflua, mas, em razão da matéria a ser tratada, até mesmo inconveniente e oposta à finalidade almejada. Com efeito, o que seria conveniente dizer da Filosofia num Prefácio e o modo como fazê-lo — por exem­ plo, um esboço histórico da tendência e do ponto de vista, do conteúdo universal e dos resultados, um tecido de afirmações e asserções dispersas acerca do que é verdadeiro — não podem ser considerados válidos com relação ao gênero e modo com os quais deve ser exposta a verdade filosófica. Outrossim, pelo fato de que a filosofia reside essencialmente no elemento2 da universalidade, que contém em si o particular, nela mais do que nas outras ciências parece que a coisa mesma, e jus­ tamente na perfeição da sua essência, deveria exprimir-se no fim e nos resultados finais. Em face dessa essência, o desenvolvimento seria propriamente o inessen- cial. Ao invés, no modo geral de se entender o que é, por exemplo, a Anatomia, vem a ser, o conhecimento das partes do corpo segundo a sua existência inanima­ da, a convicção é de que não se possui ainda a coisa mesma, o conteúdo de tal ciência, mas se deve, além disso, levar em conta o particular. Mais ainda, em semelhante agregado de conhecimentos, que leva sem razão o nome de ciência, uma conversação sobre o fim e generalidades semelhantes não costuma ser dife- 1 O Prefácio à Fenomenologia foi escrito por Hegel nos primeiros dias do ano de 1807, em Barberg, onde corrigia as provas para a edição da obra. É, pois, mais propriamente um Posfácio, no que diz respeito à Fenomenologia, e constitui, na realidade, uma grandiosa introdução ao Sistema da Ciência que Hegel proje­ tava publicar na época, e do qual a Fenomenologia seria justamente a primeira parte, como reza o frontis­ pício da edição original. O projeto de Hegel, cuja realização deveria prosseguir com a publicação da Ciência da Lógica (1812-1816), foi aparentemente abandonado a partir da l.a edição da Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817). Na preparação da 2.a edição da Fenomenologia, interrompida pela morte (1831), Hegel suprimiu do título a parte que reza: Sistema da Ciência, Primeira parte, deixando simplesmente Fenomeno­ logia do Espírito, título que prevaleceu a partir da edição de J. Schulze (1832). Traduções em separado do Prefácio, com preciosas notas, foram publicadas recentemente por E. de Negri, I Principi di Hegel (Classici delia Filosofia, 4), La Nuova Italia, Florença, 1949, 75-150 e J. Hyppolite (ed. bilíngüe), Aubier, Paris, 1966. 2 “Elemento” no sentido de meio que envolve a coisa. O “elemento da universalidade” é o universal concreto que se exprime finalmente no “conceito”. 12 HEGEL rente do modo histórico e não-conceptual com o qual se fala do conteúdo mesmo, esses nervos, músculos, etc. . . Ao contrário, no caso da filosofia a inadequação resultaria do fato de que se faria uso de tal modo de proceder e, não obstante, a incapacidade desse modo para apreender a verdade seria mostrado pela própria filosofia. Igualmente, a determinação da relação que uma obra filosófica julga manter com outras tentativas a respeito do mesmo objeto introduz um interesse estranho e obscurece o ponto do qual depende o conhecimento da verdade. Assim como a opinião se prende rigidamente à oposição do verdadeiro e do falso, assim, diante de determinado sistema filosófico, ela costuma esperar uma aprovação ou uma rejeição e, na explicação de tal sistema, costuma ver somente ou uma ou outra. A opinião não concebe a diversidade dos sistemas filosóficos como o progressivo desenvolvimento da verdade, mas na diversidade vê apenas a contradição. O botão desaparece no desabrochar da flor, e pode-se dizer que é refutado pela flor. Igualmente, a flor se explica por meio do fruto como um falso existir da planta, e o fruto surge em lugar da flor como verdade da planta. Essas formas não apenas se distinguem mas se repelem como incompatíveis entre si. Mas a sua natureza fluida as torna, ao mesmo tempo, momentos da unidade orgânica na qual não somente não entram em conflito, mas uma existe tão necessariamente quanto a outra; e é essa igual necessidade que unicamente constitui a vida do todo. Mas, de uma parte, a contradição que se dirige contra um sistema filosófico não costuma entender-se a si mesma dessa maneira e, doutra parte, a consciência que apreende tal contradição não sabe libertá-la e mantê-la livre com relação à sua unilaterali- dade, nem reconhecer momentos necessários na figura do que aparece sob a forma de luta e oposição contra si mesmo. A existência de semelhantes explicações bem como a sua satisfação equiva­ lem facilmente a deixar de lado o essencial. Onde se poderia exprimir melhor o cerne de um escrito filosófico do que nos seus fins e resultados, e onde poderiam estes ser melhor conhecidos do que na diversidade com o que a época atual pro­ duz na mesma esfera? Se, porém, semelhante tarefa pretende ser mais do que o co­ meço do conhecimento ou ser o conhecimento efetivo, deve, na verdade, contar-se no número daquelas invenções que servem para girar em torno da coisa mesma e para conciliar a aparência da seriedade e do esforço com sua efetiva carência. Com efeito, a coisa não se consuma no seu fim mas na sua atuação, e o todo efeti­ vo não é o resultado, à não ser juntamente com o seu devir. O fim para si é o uni­ versal sem vida, assim como a tendência é o puro impulso que ainda carece de sua realidade efetiva; e o resultado nu é o cadáver que a tendência deixou atrás de si.3 Do mesmo modo, a diversidade 4 é sobretudo o limite da coisa. Ela começa onde 3 A coisa (die Sache, contradistinta de das Ding) é, na unidade de um mesmo todo, o princípio, o movimento ou devir, e o resultado. Hegel se opõe desde o início à posição, como princípio separado do seu devir e do seu resultado, de uma universalidade abstrata, ou princípio lógico absoluto, como o princípio de identidade. Aqui começa o dissenso de Hegel com o seu amigo e colega Schelling. 4 Verschiedenheit: a pura diversidade que diferencia uma coisa da outra apenas extrinsecamente, pelos seus limites (Grenze). A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO 13 a coisa termina e é o que a coisa não é. Esse atarefar-se com o fim e os resultados, assim como com as diversidades de um e de outro e os juízos a respeito deles constitui, por conseguinte, um trabalho mais fácil do que talvez pareça. Com efei­ to, em lugar de se prender à coisa, esse modo de proceder sempre passa superfi­ cialmente sobre ela. Em lugar de nela demorar-se e de esquecer-se a si mesmo nela, esse saber se prende sempre a algo diverso e permanece de preferência em si mesmo, ao invés de estar na coisa e de se entregar a ela. O que há de mais fácil é julgar o que possui conteúdo e densidade. Mais difícil é apreendê-lo e o mais difícil éproduzir a sua exposição, 5 que unifica a ambos. O começo da cultura 6 e do trabalho para sair fora da imediatidade da vida substancial consistirá sempre em adquirir conhecimentos de princípios e pontos de vista universais e esforçar-se no início somente por elevar-se ao pensamento da coisa em geral, bem como sustentá-la ou contradizê-la com razões, apreender a concreta e rica plenitude segundo as determinidades, 7 e saber compartilhar a seu respeito uma informação metódica e um juízo sério. Mas esse começo da cultura deverá primeiramente dar lugar à seriedade da vida plena que conduz à expe­ riência da coisa mesma. Se a isto se acrescenta a seriedade do conceito que desce na profundidade da coisa, então tal conhecimento e modo de julgar conservarão seu devido lugar na conversação. A figura verdadeira na qual a verdade existe somente pode ser o seu sistema científico. Trabalhar no sentido de que a filosofia se aproxime da forma da ciência — e da meta na qual ela possa deixar seu nome de amor do saber e ser saber efeti­ vo —, eis o propósito que me atribuí. A necessidade interior de que o saber seja ciência reside na sua natureza e o esclarecimento satisfatório sobre esse ponto estão unicamente na exposição da filosofia mesma. Mas a necessidade exterior, na medida em que, prescindindo da contingência da pessoa e das circunstâncias indi­ viduais, é apreendida de um modo universal, é idêntica com a necessidade interior, e consiste na figura8 com a qual o tempo representa o existir dos seus momentos. Mostrar que a elevação da filosofia à condição de ciência está de acordo com o tempo seria a única justificação verdadeira das tentativas que miram esse alvo, porque, ao mesmo tempo, mostraria a necessidade e seria a realização de tal alvo. 5 Darstellung: exposição. Termo usado aqui por Hegel num sentido técnico. É a apresentação da coisa na qual o seu conteúdo e a sua universalidade se unificam no movimento da sua autocompreensão no conceito. Opõe-se a Vorstellung, representação, que permanece exterior à coisa. Em suma, a Darstellung é o modo de expressão ou a linguagem do movimento dialético que rompe os quadros da proposição ordinária e exige a proposição especulativa (ver 4.“ parte do Prefácio). 6 Bildung: cultura ou formação. Conceito fundamental na Fenomenologia que foi comparada a um “ro­ mance de cultura” (Bildungsroman) especulativo. A propósito, ver o nosso artigo Cultura e Ideologia: sobre a Interpretação do Cap. VI da Fenomenologia do Espírito, “Kriterion”, XX, 67, 1974 (UFMG, BH). 7 Bestimmtheiten: determinidades, ou as determinações intrínsecas da coisa tomadas segundo o seu sentido formal. O movimento da cultura apresenta, pois, três momentos: a vida substancial (imediata), a universa­ lidade do pensamento, o conceito. 8 Gestalt: figura; aqui no sentido próprio do termo na Fenomenologia e que Hegel explicara longamente na Introdução. 14 HEGEL A verdadeira figura da verdade está posta, assim, nessa cientificidade, ou, o que é o mesmo, afirma-se que somente no conceito9 a verdade encontra o ele­ mento da sua existência. Sei que isso parece estar em contradição com uma repre­ sentação e suas conseqüências, que gozam, na convicção do nosso tempo, de uma pretensão tão grande quanto a sua extensão. Assim, não se afigura supérfluo um esclarecimento sobre essa contradição, conquanto não possa passar aqui de uma asserção que se move contra outra asserção. Com efeito, se o verdadeiro existe somente no que é chamado, ou melhor, como o que é chamado ora intuição, ora saber imediato do Absoluto, religião, ser — não no centro do amor divino mas o ser do mesmo centro —, então, a partir de semelhante posição, o que se exige para a exposição da filosofia é justamente o oposto da forma do conceito. O Absoluto não deve ser expresso em conceito, mas somente sentido e intuído. Não é o seu conceito mas seu sentimento e sua intuição que devem tomar a palavra e receber expressão.1 0 Apreendamos a manifestação de uma tal exigência segundo a sua conexão mais geral e consideremo-la no nível em que está presentemente o Espírito consciente-de-si. Veremos que o Espírito passou além da vida substancial que ele levava anteriormente no elemento do pensamento — passou além dessa imediati- dade da sua fé, além da satisfação e segurança da certeza que a consciência pos­ suía a partir da sua reconciliação com a essência e com a sua presença universal interior e exterior. Não somente o Espírito passou no outro extremo da reflexão dessubstancializada11 de si em si mesmo, mas foi mais longe ainda. Para ele, não é apenas sua vida substancial que está perdida, mas ele está outrossim consciente desta perda e da jinitude que é seu conteúdo. Afastando-se das sobras de comi­ da, 12 confessando a sua miséria e maldizendo-a, o Espírito exige agora da filoso­ fia não tanto o saber daquilo que ele é, quanto, por meio da própria filosofia, a restituição daquela substancialidade e densidade do ser. Para responder a essa necessidade não deve a filosofia descerrar a substância e elevá-la à consciência- de-si, nem reconduzir a consciência caótica à ordem pensada e à simplicidade do conceito. Deve, ao contrário, misturar as especificações do pensamento, reprimir o conceito que distingue e instituir o sentimento da essência para produzir não tanto a inteleção quanto a edificação. O Belo, o Sagrado, o Eterno, a Religião e o Amor são as iguarias que se exigem para despertar o prazer de provar. O apoio e a difusão progressiva da riqueza da substância devem ser buscados não no con­ ceito mas no êxtase, não na necessidade da coisa que procede friamente, mas no férvido entusiasmo. 9 Begriff: conceito. Sem dúvida o termo-chave do pensamento de Hegel e que aqui é usado na sua acepção rigorosamente hegeliana: somente no elemento do conceito a verdade pode receber a estrutura do Sistema ou da Ciência. Todo o esforço de Hegel a partir da sua chegada a lena (1801) teve em mira a construção do Sis­ tema da Ciência no seu elemento próprio: o conceito. 10 A partir desse momento Hegel inicia uma áspera polêmica contra o irracionalismo romântico, que pode ter sido o móvel imediato da redação do presente Prefácio. Polêmica já iniciada nos primeiros escritos de lena mas que aqui se estende, para possível surpresa do destinatário, ao amigo de Hegel, o filósofo F. W. J. Schelling, com o qual Hegel fora até então intimamente ligado. 11 Substanzlose Reflexion: a crítica da chamada “filosofia da reflexão” acompanha Hegel desde os primei­ ros tempos de lena. 12 Alusão à parábola evangélica do filho pródigo: Evangelho de São Lucas, 15, 11-24.

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