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2 Introdução………… C PDF

154 Pages·2007·0.48 MB·English
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ÍNDICE Agradecimentos……………………………………………………………………2 Introdução…………………………………………………………………………3 Capítulo 1 – A Evolução do Conceito de Sonho Americano….………...………...8 1.1. O Nascimento da Nação Norte-Americana…...………………………8 1.2. Os Negros e o Sonho Americano……………………………………11 1.3. As Diferentes Perspectivas do Conceito de Sonho Americano……...14 1.4. O Sonho Americano na Década de 1960..…………………………...22 1.4.1. Martin Luther King…………………………………...………...…22 1.4.2. A Guerra do Vietname……………………………………...……..28 1.4.3. A Geração dos “Baby Boomers”…………………………………..29 1.4.4. A Situação das Mulheres………………….……………………….33 1.4.5. A Literatura da Década de 60……………………………………...34 1.5. A Situação Sócio-Cultural nos Estados Unidos……………..……....35 Capítulo 2 - O Percurso de Hunter S. Thompson.…………………………….…48 2.1. O Jornalista…………………………………………………………..48 2.2. O Autor Gonzo e a Redacção de Fear and Loathing in Las Vegas……………………………………………………………………..65 2.3. As Origens do Jornalismo Gonzo……...………………………….....79 2.4. As Principais Características do Estilo Gonzo…...……….................82 Capítulo 3 - A Cidade de Las Vegas e o Conceito de Sonho Americano………..87 3.1. A Mitificação da Cidade………………………………………..……87 3.2. A Evolução da Cidade e o Sonho Americano…………………….…95 3.3. O Sonho Americano em Fear and Loathing in Las Vegas, A Savage Journey to the Heart of the American Dream. - Primeira Parte da Obra…………………………….……………………………………….112 3.4. Segunda Parte da Obra…………………………………..…………128 Conclusão…………………………………………………………………….…144 Bibliografia ………………………………………………………………….…149 1 AGRADECIMENTOS Agradeço à Professora Doutora Maria do Céu Marques, orientadora desta dissertação, a disponibilidade, o estímulo e as preciosas orientações facultadas no decorrer da realização deste trabalho. 2 INTRODUÇÃO Os Estados Unidos foram palco das mais emblemáticas manifestações de contestação aos valores e às convenções sociopolíticas impostas pela sociedade americana na década de 60, do século XX. O movimento hippie, a utilização de substâncias psicotrópicas, uma nova visão da vida em sociedade, mais voltada para o auto-conhecimento, e os ideais libertários influenciaram as manifestações artísticas da época. O jornalismo foi um dos alvos da revolução social e histórica de 1960 e, ao mesmo tempo, um reflexo dos ideais de renovação da época. Nessa década, a escrita jornalística aproximou-se do estilo utilizado na escrita ficcional, dando origem a um novo tipo de reportagem designado por New Journalism. Este termo surgiu em 1973, retirado do título de um ensaio de Tom Wolfe sobre a escrita produzida desde meados dos anos 60, por autores como Gay Talese, Hunter Thompson, Joan Didion, Truman Capote e Norman Mailer, o estilo que anunciava foi responsável por grandes mudanças no modo de escrever e publicar notícias. Recorrendo a uma forma menos impessoal no tratamento dos factos e contrariando a tradicional objectividade e imparcialidade do jornalismo que o precede, no New Journalism a perspectiva e as opiniões do redactor desempenham um papel quase determinante na história. O posterior Jornalismo Gonzo, criado por Hunter Thompson, recorre às mesmas técnicas do New Journalism mas centra-se ainda mais na pessoa do repórter. Este estilo consiste num tipo de reportagem romanceada onde os padrões de objectividade são subordinados ao estado de espírito e ao ponto de vista do jornalista, segundo o seu criador, tem por base a ideia de William Faulkner de que “the best fiction is far more true than any kind of journalism – and the best journalism knows this.” (THOMPSON 2003: 106) 3 Esta nova forma de informação diferencia-se também na apresentação. O diálogo é utilizado de forma recorrente, sendo através dele que o repórter caracteriza os “protagonistas” do acontecimento e transmite a sua subjectividade. A interpretação que o leitor faz das palavras da “personagem” é determinante na avaliação das suas reacções. No Jornalismo Gonzo (ao contrário do que sucede no jornalismo tradicional) o repórter não apresenta os acontecimentos pela ordem crescente de importância na história. Em vez disso descreve um número reduzido de situações determinantes para o seu desfecho, e as diferentes cenas são articuladas de forma semelhante à utilizada na construção de obras literárias. O jornalista norte-americano Hunter Stockton Thompson, cuja escrita analisou sempre de forma crítica a política e a cultura norte-americanas dos anos 70, celebrizou-se como criador do estilo Jornalístico Gonzo. Utilizando uma técnica de escrita híbrida, na obra Fear and Loathing in Las Vegas A Savage Journey to the American Dream1, Thompson põe em causa o Sonho Americano enquanto conceito associado à possibilidade que qualquer cidadão (americano ou não) tem de alcançar a prosperidade nos Estados Unidos, desde que esteja disposto a trabalhar com afinco nessa busca. Associada às crenças dos primeiros colonos europeus e aos líderes políticos que redigiram a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a ideia de Sonho Americano foi, desde os tempos da sua génese até aos nossos dias, alvo de transformações profundas, significando realidades distintas e constituindo, em simultâneo, o resultado e o reflexo das diferentes épocas históricas. Longe dos sentimentos vividos no final da Segunda Guerra Mundial, do tempo em que as famílias americanas recuperaram o estilo de vida burguês nos confortáveis subúrbios, as décadas seguintes submeteram o conceito a muitas críticas. Nos 1 No decorrer desta dissertação a obra passará a ser referida como Fear and Loathing in Las Vegas. 4 anos 60, época em que o racismo e a corrupção grassaram a sociedade e o governo, a ideia de Sonho Americano associada aos ideais que os primeiros colonos passaram para as subsequentes gerações foi discutida e analisada. A obra Fear and Loathing in La Vegas descreve a procura do protagonista Raol Duke, e do seu advogado Dr. Gonzo, do Sonho Americano na cidade de Las Vegas. A narrativa tem como ponto de partida a cobertura da anual corrida de carros e motas Mint 400, realizada em 1971, para a revista Sports Illustrated, mas ao longo desta viagem, Raol Duke (narrador e protagonista) reflecte sobre o significado da década 60, e as suas consequências para os Estados Unidos da América, através da abordagem de temas fracturantes da história americana, (como a guerra do Vietname, a governação do presidente Richard Nixon e o movimento de contracultura). A observação da realidade sob o efeito de drogas funciona como instrumento de denúncia, na medida em que permite expor na totalidade tudo o que, na opinião do autor, existe de grotesco na rotina da vida contemporânea. Através das constantes reflexões do protagonista, o leitor vai sendo lembrado do background histórico que deu origem ao pesadelo que, na sua perspectiva, é a vida actual numa cidade como Las Vegas. Apesar do apelo preconizado pelos anos 60, aos sentimentos individuais de felicidade e de busca de um ideal mais elevado do que o consumismo, em Fear and Loathing in Las Vegas o Sonho Americano parece surgir como um ensejo materialista e um desejo de satisfação imediata. Ao longo deste trabalho propomo- nos analisar o referido conceito no âmbito da obra mencionada e segundo a perspectiva do seu autor. Procuraremos apresentar um estudo sobre o conceito de Sonho Americano, na perspectiva de Hunter S. Thompson, em Fear and Loathing in Las Vegas. No sentido de contextualizar a obra de Thompson e permitir uma melhor compreensão do seu ponto de vista sobre este tema, o trabalho está organizado em 5 três capítulos. No primeiro capítulo tentamos analisar, de forma breve, mas tendo em conta as transformações que ocorreram ao logo dos tempos, o conceito de Sonho Americano. Seguindo-se uma abordagem aprofundada do seu significado na década de 60 do século XX. No segundo capítulo, apresentamos uma descrição do percurso de Thompson fazendo a sua contextualização a nível social e cultural nos anos 60, nos Estados Unidos da América (período em que o autor inicia a sua actividade como repórter), e a explanação do estilo jornalístico Gonzo de que foi criador. No terceiro e último capítulo, abordamos a história da cidade de Las Vegas e a sua simbologia em relação ao conceito de Sonho Americano. Apresentamos a análise da obra Fear and Loathing in Las Vegas, tratando em paralelo o ponto de vista de Thompson relativamente ao conceito de Sonho Americano nas décadas de 1960 e início de 1970. A incidência da escolha sobre esta temática deve-se, por um lado, à crescente importância e poder que o jornalismo tem vindo a conquistar ao longo das últimas décadas, sobretudo desde os anos 60 até à actualidade, e às modificações drásticas na forma de apresentar as notícias, tendo em conta a manipulação da informação e a brutalidade das imagens. A escolha deste tema prende-se também com o facto de Thompson analisar a sociedade americana através de um estilo inovador, numa escrita mordaz, onde os elementos formais e estilísticos que o distinguem são responsáveis pelo surgimento da obra de realizadores que na actualidade renovam a prática do Jornalismo Gonzo e a tornam popular. Hunter S. Thompson e o jornalismo que criou permitiram que, mais de quatro décadas depois, produções cinematográficas como as realizadas por Michael Moore (com Bowling for Columbine ou Fahrenheit 9/11) ou Morgan Spurlock (com Super Size Me), recorrendo às mesmas técnicas criadas por Thompson, relatem acontecimentos e informem os seus espectadores de forma alternativa e cativante. 6 CAPÍTULO 1 - A Evolução do Conceito de Sonho Americano 1.1. O Nascimento da Nação Norte-Americana O título da obra Fear and Loathing in Las Vegas, A Savage Journey to the Heart of the American Dream remete para a sua essência que consiste na descrição de diversos episódios, (protagonizados por um repórter e pelo seu advogado), decorrentes de uma desesperada demanda pelo Sonho Americano. Mas qual é de facto o objecto desta busca? Como é possível realizar uma viagem através de algo abstracto e não palpável como uma ideia ou um conceito? Hunter Thompson, o autor, realiza de facto essa viagem. Sob o pretexto da cobertura jornalística de um acontecimento desportivo, de menor importância, Thompson desenvolve uma jornada que é, na realidade, uma reflexão sobre os acontecimentos que constituem a história dos Estados Unidos. Essa reflexão é motivada pela análise de alguns elementos iconográficos da cultura norte-americana que vão surgindo no percurso narrativo de Fear and Loathing in Las Vegas. Torna-se assim imperativo neste estudo uma abordagem do principal conceito orientador da obra – o conceito de Sonho Americano. É na utopia do Novo Mundo, visão que motivou os primeiros colonos a partir para América, que reside a ideia embrionária de um dos mais importantes mitos nacionais dos Estados Unidos, mas é, sobretudo, da herança de idealismo e de esperança dos líderes políticos que assinaram a Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos (denominados como “Founding Fathers”, entre os quais se destacam George Washington, Thomas Jefferson, John Adams, James Madison, Alexander Hamilton, John Hancock e Benjamin Franklin) que nasce o mítico Sonho Americano. 7 A Declaração de Independência deu origem a uma nova filosofia governativa. Em termos políticos, e segundo a perspectiva dos governos monárquicos dos países do “Velho Mundo” (com excepção da França), após a redacção deste documento os Estados Unidos enveredaram por uma linha de governação subversiva, na medida em que rejeitava todos os valores que esses países representavam, constituindo um novo estado sem orientação religiosa definida, que não obedecia a uma linha de sucessão régia, que não possuía uma estrutura militar representativa da totalidade do país e que, por oposição, assentava nos princípios da na auto-governação, da liberdade religiosa, da educação para todos e da ausência de uma hierarquia social rígida. Os valores basilares da nação americana, registados na Declaração de Independência dos Estados Unidos, constituem a essência do conceito, e aliado à crença profunda de que todos os homens são iguais (e de que lhes são atribuídos pelo Criador direitos inalienáveis, entre eles o direito à Vida, à Liberdade e à busca da Felicidade), está subjacente o sentimento que alicerça o mito. When in the course of human events, it becomes necessary for People to dissolve Political Bands which have connected them with another, (...) We hold these Truths to be self-evident, that all Man are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the Pursuit of Happiness.(...)2 Esses valores são provenientes da ética Protestante dos primeiros colonos europeus, sobretudo ingleses, que chegavam ao novo continente movidos pela convicção de que tudo o que necessitavam para aí atingir a prosperidade era o trabalho árduo, a coragem e a determinação. No entanto, desde os tempos da sua génese, associada aos Peregrinos, até aos dias de hoje, a ideia de Sonho 2 The Declaration of Independence 1776. 8 Americano, tem se modificado ao longo da história, significando realidades distintas e constituindo simultaneamente o produto e o reflexo das épocas em que se insere. O professor Andrew Delbanco, na obra The Real American Dream, A Meditation on Hope, afirma que: From the Christian story that expressed the earliest Puritan yearnings to New Age spirituality, apocalyptic environmentalism and the multicultural search for ancestral roots, the American Dream and the tidal rhythm of American history shows how Americans have organized their days and ordered their lives – and ultimately created a culture – to make sense of the pain, desire, pleasure and fear that are the stuff of human experience. (DELLBANCO 2005: 34) As ideias dos filósofos iluministas do século XVII, como John Locke, Montesquieau, Rousseau e Voltaire, tiveram grande importância e influência na formação das raízes que marcam a ideologia política da nação americana - uma ideologia baseada na soberania do povo e na manutenção de uma sociedade democrática. Documentos como a Declaração da Independência, a 1ª Emenda ou a própria Constituição foram elaborados com base nos ideais defendidos por estes pensadores residindo nas suas filosofia as ideias embrionárias do mítico Sonho Americano. A Utopia escrita em 1535, pelo humanista inglês Thomas More (católico fervoroso), onde o autor descreve um estado imaginário preocupado com a felicidade colectiva e a organização da produção em benefício de todos, lançou as bases do posterior “contrato social” elaborado pelos Peregrinos ainda antes da sua chegada ao “Novo Mundo”. O referido “contrato”, realizado em 1620 e conhecido como Mayflower Compact, continha já os conceitos que acabaram por constituir os alicerces filosóficos da nação e que são indissociáveis da ideia de Sonho Americano. 9 1.2. Os Negros e o Sonho Americano A utopia americana e os valores iluministas que desde o início orientaram a Constituição e determinaram os direitos do povo americano, falhava desde os primórdios na forma selectiva como os aplicava. Tanto as culturas indígenas do Novo Mundo como a população negra (que o mercado de escravos levou para a América ainda antes do Mayflower atracar em Plymouth) estiveram excluídas de quaisquer direitos culturais assim como dos proclamados ideais de democracia e liberdade. Foram necessários três séculos até que todo um conjunto de cidadãos discriminados pudesse reivindicar os seus direitos. O espírito combativo que dominou a época de 1960, fez emergir em larga escala o conceito de etnia e de identidade étnica e permitiu essa explosão reivindicativa. Num artigo intitulado Heating Up the Melting Pot, publicado em 1995 pelo The Institute for Cultural Democracy o seu autor refere que: The development of a self-conscious American culture in the sixties has been discussed in reams of analysis of the American character and The American Dream. Assisted by a social science eager to help set standards of normality, many of our institutions embody the idea of an American Way of Life. Urban settlement houses, for example, helped to ‘Americanize’ the new immigrants in urban ghettos; rural extensions services spread ideas about how to eat, dress and behave (...) emphasis overall was placed upon preparing immigrants for successful assimilation. (Adams, 1995)3 3 Adams, Don. Heating Up the Melting Pot. The Institute for Cultural Democracy. USA, 1995. 4 Outubro 2005 <http://www.wwcd.org/policy/US/Ushistory.html> 10

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liberdade. Foram necessários três séculos até que todo um conjunto de cidadãos . I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves .. showing the emptiness and false values of an affluent society. (…) .. Brogan refere: “The manual workers who had voted for W
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