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1789 - A Inconfidencia Mineira e a Vida Cotidiana nas Minas do Seculo XVIII PDF

181 Pages·1.977 MB·Portuguese
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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: LeLivros.org ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." ÍNDICE A descoberta do ouro A Guerra dos Emboabas Sistemas de arrecadação de impostos sobre a extração do ouro Filipe dos Santos Portugal e o século XVIII O descontentamento nas Minas A missão Vendek Tiradentes O alferes se encontra no Rio de Janeiro com José Álvares Maciel A inconfidência vai tomando forma Os inconfidentes e outras pessoas importantes ligadas ao levante Alvarenga Peixoto Antônio de Oliveira Lopes, o “Pouca Roupa” Basílio de Brito Malheiro, o segundo delator Cláudio Manuel da Costa Domingos de Abreu Vieira Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o “Come-lhe os Milhos” Inácio Correia Pamplona, o terceiro delator João da Costa Rodrigues João Rodrigues de Macedo Joaquim Silvério dos Reis, o primeiro delator José Aires Gomes José de Resende Costa, pai José de Resende Costa, filho Luís Vaz de Toledo Piza Salvador Carvalho do Amaral Gurgel Tomás Antônio Gonzaga Vicente Vieira da Mota Os réus eclesiásticos Padre Carlos Correia de Toledo e Melo Padre José da Silva e Oliveira Rolim José Lopes de Oliveira Cônego Luís Vieira da Silva Padre Manuel Rodrigues da Costa Reuniões secretas Começam as denúncias... Derrama Tiradentes é preso no Rio de Janeiro O embuçado Os outros inconfidentes começam a ser presos A morte de Cláudio Manuel da Costa As devassas Os réus inconfidentes e os depoimentos do alferes A Alçada A sentença O enforcamento PARTE DOIS A VIDA COTIDIANA NAS MINAS DO SÉCULO XVIII Alimentação Bajulação como forma de ascensão social Casa colonial e mobiliário Casamento, amor e sexo Cidades coloniais Comércio Costumes diversos Dinheiro Diversões, jogos, bailes Escravos Festas públicas e religiosas Higiene Justiça Livros, educação, vida cultural Mendigos e vagabundos Mais costumes curiosos da sociedade Medicina Morte Mulheres Profissões Religião Transportes e viagens Vestuário Muito já se escreveu sobre a história da Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, como preferem alguns historiadores mais nacionalistas. Alegam estes que o termo “conjuração” seria mais apropriado, uma vez que o vocábulo “inconfidência” traz a ideia de infidelidade, deslealdade, ou seja, segundo as leis portuguesas do tempo, os “inconfidentes” haviam cometido um dos crimes mais intoleráveis que um leal súdito poderia cometer, o crime de lesa-majestade. Enquanto a “História Tradicional” costuma tratar fatos cronológicos concernentes à determinada época e sociedade, a “Nova História” dedica-se à reconstituição da vida cotidiana de um grupo social específico, procurando compreender a maneira como viviam as pessoas em certo tempo e lugar, os seus hábitos, os seus gostos, as suas necessidades. Deste ponto de vista, interessa ao historiador tudo que fez parte do período estudado, desde o vestuário, a alimentação, os costumes, a higiene, a vida cultural, até a maneira como homens e mulheres trabalhavam, amavam, adoeciam e morriam. Neste livro, procurei abordar estes dois campos da historiografia. Portanto, convido o leitor a fazer uma viagem no tempo. Há quase dois séculos e meio, um grupo seleto de homens extraordinários e corajosos sonhou com um Brasil livre, emancipado dos laços que os uniam a Portugal. O cenário deste drama comovente localiza-se quase no coração do país, em antigas vilas mineiras, que um dia viram a fantástica prosperidade gerada pelo ouro e a sua posterior decadência. Lá iremos, montados no lombo de um cavalo, que era o meio de transporte principal durante o século XVIII. Lá iremos, bisbilhotar a maneira como nossos antepassados viveram aquele momento ímpar na história do Brasil. Lá iremos, para tentarmos descobrir o que motivou um grupo de poetas, alguns grandes proprietários de terras e riquíssimos senhores endividados a sonhar com a liberdade e o estabelecimento de uma República, nos moldes daquela que os ingleses da América haviam construído poucos anos antes em suas colônias. Montemos em nossos cavalos e vamos direto para o final do século XVII, pois é ali que a nossa aventura começa... A descoberta do ouro No final do século XVII, reinava em Portugal o pacífico rei Dom Pedro, segundo deste nome na Real Casa de Bragança, que ocupou o trono luso entre os anos de 1683 e 1706, embora já viesse exercendo as funções de regente do reino desde 1668 no lugar de seu irmão demente, Afonso VI. Dom Pedro II[1] estava convencido de que existiam grandes riquezas minerais em solo brasileiro, esperando para serem descobertas. Suas esperanças não eram infundadas. Ora, se Deus havia sido tão pródigo com os nossos vizinhos espanhóis, provendo suas terras da América com depósitos minerais riquíssimos, por que também não teria posto jazidas de ouro, prata e até mesmo diamantes nas possessões portuguesas do Novo Mundo? Ao que se consta, desde 1503 já se falava da existência de ouro no Brasil, se dermos crédito às informações que Américo Vespúcio relatou em carta a seu amigo e estadista florentino Pietro Soderini. Ansioso por forrar os cofres reais, Dom Pedro, o pacífico, escreveu algumas cartas aos mais ousados e destemidos súditos da colônia americana, conclamando que eles deixassem seus lares e se metessem pelos matos em busca dos tão sonhados tesouros. Ora, receber uma missiva assinada pelo punho do próprio rei correspondia a uma distinção incomparável e muitos paulistas estavam dispostos a dar a própria vida para atender ao pedido do monarca. Corria, então, uma lenda extraordinária, que descrevia a existência de uma serra fabulosa, toda feita de prata, que os indígenas chamavam de Sabarabuçu. Fernão Dias Pais, certo de que encontraria esta, como também as lendárias minas de esmeraldas, juntou alguns homens acostumados a se embrenhar pelas terras e a aprisionar bugres, reuniu um bom número de índios mansos, vendeu parte de seus bens para custear a expedição e se pôs a caminho do interior do Brasil. Tendo partido de São Paulo em meados de 1674, a bandeira de Fernão Dias atravessou o Vale do Paraíba, seguindo pela Serra da Mantiqueira. Após algum tempo de marchas e contramarchas sem obter qualquer sucesso, passando fome, sede e todo tipo de privações, infernizados por milhares de insetos que não os abandonavam nunca, temendo picadas de cobras venenosas, escorpiões e ataque de animais selvagens, aqueles homens rudes perceberam que tal jornada estava fadada ao fracasso. Logo, uma rebelião começou a tomar corpo, pois grande parte deles queria retornar para suas casas. O próprio filho de Fernão Dias, José Dias, havia se incumbido de matar o pai, pois tinha certeza de que nada abalaria o ânimo do altivo bandeirante, que não desistiria enquanto não encontrasse as esmeraldas ou a Serra de Sabarabuçu. E também não permitiria que os demais retornassem. Porém, o motim foi descoberto por uma índia, que alcaguetou tudo para o bravo sertanista. Enfurecido e sem medir as consequências de seu ato, mandou enforcar seu filho para dar o exemplo. Contudo, certos de que não descobririam nada e que a lendária Sabarabuçu não passava de estórias dos índios, muitos homens abandonaram a bandeira. Sete anos após a partida, tendo caminhado por centenas e centenas de quilômetros pelo interior do Brasil, Fernão Dias acabou encontrando algumas pedras, que acreditava ser esmeraldas, mas que eram simplesmente águas-marinhas. Em meados de outubro do ano de 1681, o que restava de sua bandeira havia regressado ao Arraial do Sumidouro, com o firme propósito de voltar às terras paulistas. Todavia, Fernão Dias apanhou uma febre fortíssima e morreu pelo caminho. Embora não tenha descoberto nenhuma esmeralda, muito menos a fabulosa Serra de Sabarabuçu, a expedição de Fernão Dias teve o grande mérito de ligar a região de São Paulo aos sertões da Bahia pelo interior do Brasil, traçando os primeiros contornos do território mineiro. Este é o seu verdadeiro legado. Pode-se dizer que a bandeira de Fernão Dias foi a verdadeira fundadora de Minas Gerais. Evidentemente, deve ter sido grande o número de homens, anônimos para a História, que desbravou a região das minas atrás não apenas de riquezas minerais, mas também de índios. Porém, o principal nome que ficou nos compêndios escolares foi o de Fernão Dias, ao lado de Raposo Tavares. A história não registra o nome da primeira pessoa que descobriu ouro na região das minas. Segundo informa Antonil[2], uma bandeira vinda da capitania de São Paulo chegou às margens do rio Tripuí. Esgotado pela longa marcha empreendida, um mulato parou um instante para descansar, apanhou sua gamela e, mergulhando-a na água fresca, pôs-se a bebê-la com sofreguidão. Só então percebeu que no interior da gamela havia algumas pedrinhas escuras. Não fez grande caso delas; porém, como eram curiosas, guardou-as em seus bolsos e seguiu viagem. Algum tempo depois, vendeu as insólitas pedras a um sujeito chamado Miguel de Souza, mas nem o mulato sabia o que estava vendendo e tampouco o outro tinha ideia do que estava comprando. Certo mesmo é que as pedras acabaram sendo levadas para o governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Meneses por alguém que estava desconfiado de que elas poderiam ter valor. Imediatamente, o governador constatou que se tratava de ouro e só não haviam percebido antes, porque as pedras achavam-se cobertas com uma camada escura de óxido de ferro[3]. Tão alvissareira notícia foi recebida com grande júbilo pela corte portuguesa. Enfim, após tanto procurar, finalmente haviam encontrado ouro no Brasil! Dom Pedro II deve ter dado cambalhotas de felicidade. O governador ordenou que retornassem ao local, mas o mulato só se lembrava de que nas imediações existia um pico curioso, que os indígenas chamavam de “Ita-Corumi”[4]. Muitas outras expedições saíram atrás deste pico, que mais tarde ficou conhecido como “Itacolomi” e seria encontrado pela expedição de Antônio Dias. Divulgada a novidade, ou seja, a existência de ouro em abundância no leito dos rios daquela região, aconteceu o inevitável. Uma tremenda multidão de pessoas passou a se dirigir para aqueles territórios ainda selvagens e inóspitos. Gente de todas as partes do Brasil vendia tudo o que possuía a fim de levantar um mínimo capital para custear a viagem. Todos imaginavam que iriam enriquecer depressa, esquecendo-se das dificuldades e perigos que teriam de enfrentar. Nos primeiros anos, cerca de trinta mil pessoas invadiram as terras mineiras e, no auge da produção aurífera, a população de Vila Rica chegou a cem mil habitantes, tornando-se a maior cidade brasileira. Apenas para comparação, a capital do país, Salvador, na mesma época, possuía cerca de cinquenta mil pessoas. O trabalho na mineração oferecia uma real possibilidade de enriquecimento para os mais pobres, uma vez que as datas distribuídas, ao contrário do que ocorreu no México e Peru, eram pequenas. Por isso, qualquer indivíduo que tivesse apenas um escravo, ou nem isso, minerando ele próprio, poderia ficar milionário. Mas não foi só de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e outras regiões do Brasil que houve este enorme afluxo de pessoas para os territórios mineiros. Quando a notícia se espalhou por Portugal, foi difícil conter os reinóis, que começaram a se bandear para a colônia feito formigas atrás de açúcar. Durante os primeiros duzentos anos de colonização, os portugueses pouco se interessaram em migrar para esta parte do mundo, repleta de índios e muriçocas. Porém, quando descobriram que poderiam enriquecer da noite para o dia, eles se animaram e passaram a chegar ao porto do Rio de Janeiro aos milhares. O próprio rei afirmou que o reino estava se despovoando. Para conter a enxurrada de portugueses que arribavam ao Brasil, abandonando seus campos e vilas, deixando-as praticamente desertas, a Coroa foi obrigada a baixar uma lei a 20 de março de 1720, proibindo que mais portugueses deixassem o país com destino à colônia, a não ser que fossem ocupar cargos oficiais. Mesmo assim, não poderiam levar mulheres ou criados. Particulares só recebiam autorização para viajar ao Brasil se fosse o caso de resolver assuntos urgentes e com passagem marcada para a volta. Porém, como se pode imaginar, tal lei não era muito obedecida e, a bem dizer, não passava de letra morta. Nos primeiros 60 anos de extração aurífera, estima-se que mais de 600 mil portugueses deixaram a metrópole para se estabelecer no Brasil. Como não podia deixar de ser, também os estrangeiros botaram olhos grandes nessa bela “galinha dos ovos de ouro” da Coroa portuguesa. Todo mundo sabia que o ouro seguia para o Rio de Janeiro, vindo da região das minas, em comboios bastante inseguros e por caminhos horrorosos, muitas

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