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Revista da SOGIA BR PDF

28 Pages·2016·1.12 MB·Portuguese
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ANO 16 - Nº 2 N 1981-7274 A2B0R1/M5AI/JUN ISS S O G I A R e v ista da BR Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência • Principais escolhas de métodos contraceptivos de adolescentes atendidas em serviço especializado, em Salvador - BA • anticoncepção em adolescentes submetidas à cirurgia bariátrica • Fibroma ovariano bilateral em adolescente: relato de um caso e revisão da literatura S O G I A w w w. .c om .br CORPO DIRIGENTE DA SOGIA-BR DIRETORIA EXECUTIVA S u m á r i o Presidente José Alcione Macedo Almeida [email protected] Vice-Presidente Vicente Renato Bagnoli Editorial .......................................................................2 [email protected] 1o Secretário Artigo Original João Bosco Ramos Borges [email protected] Principais escolhas de métodos contraceptivos de adolescentes atendidas 2o Secretário em serviço especializado, em Salvador - BA ..............................................................3 Marco Aurélio Knippel Galletta [email protected] Artigo de Revisão 1a Tesoureira Ana Célia de Mesquita Almeida anticoncepção em adolescentes submetidas à cirurgia bariátrica .............................10 [email protected] 2o Tesoureiro Relato de Caso José Maria Soares Junior jsoares415hotmail.com Fibroma ovariano bilateral em adolescente: relato de um caso e Diretora Científica revisão da literatura .................................................................................................17 Albertina Duarte Takiuti [email protected] VICE-PRESDENTES REGIONAIS Região Sul COMISSÃO EDITORIAL Marta Francis Benevides Rehme [email protected] EDITOR João Bosco Ramos Borges (SP) Região Sudeste Denise Leite Maia Monteiro José Alcione Macedo Almeida (SP) João Tadeu Leite dos Reis MG) [email protected] José Domingues dos Santos Júnior (DF) Região Centro-Oeste EDITORES ASSOCIADOS Laudelino de Oliveira Ramos (SP) Zuleide Felix Cabral Álvaro da Cunha Bastos (In Memoriam) Liliane D Herter (RS) [email protected] Denise Leite Maia Monteiro (RJ) Marcelino H Poli (RS) Região Norte-Nordeste José Maria Soares Júnior (SP) Márcia Sacramento Cunha Machado (BA) Romualda Castro do Rego Barros Vicente Renato Bagnoli (SP) Marco Aurélio Knippel Galletta (SP) [email protected] Maria de Lourdes Magalhães (CE) IN MEMORIAM CORPO EDITORIAL Maria Virginia Furkin Werneck (MG) Álvaro da Cunha Bastos Ariana Lipp Waissman (SP) Marta Francis Benevides Rehme (PR) Idealizador, fundador e primeiro Albertina Duarte Takiuti (SP) Ricardo Cristiano Leal Rocha (ES) Presidente da SOGIA-BR. Ana Célia de Mesquita Almeida (SP) Romualda Castro do Rego Barros (PE) Cremilda Figueredo Claudia Lúcia Barbos Salomão (MG) Rosana Mar dos Reis (SP) Sócia fundadora e nossa Delegada na Elaine da Silva Pires (RJ) Tatiana Serra da Cruz Vendas (MS) Bahia em todas as gestões até seu falecimento em março de 2015. Erika Krogh (MA) Zuleide Félix Cabral (MT) Jorge Andalaft Neto Sócio fundador e membro da Diretoria em duas gestões. Fernando Cesar de Oliveira Filho Sócio fundador e membro da Casa Leitura Médica Diretoria por duas gestões. Rua Rui Barbosa, 649 Jorge Andalaft Neto: Sócio fundador Bela Vista – São Paulo, SP CEP 01326-010 – Telefax: (11) 3151-2144 Segundo Tesoureiro gestão 2006-2010. E-mail: [email protected] Fernando Cesar de Oliveira Junior Sócio Fundador. Segundo Tesoureiro gestão 2010-2014. Editorial Caros leitores. Nosso Editorial nesta edição é uma reprodução de matéria da FEBRASGO, que consideramos oportuna para o momento. José Alcione Macedo Almeida - Presidente da SOGIA-BR NESTE 7 DE ABRIL, DIA MUNDIAL DA SAÚDE, FEBRASGO ALERTA SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO l A primeira visita ao ginecologista há algum tempo tinha foco nas orientações sobre a menarca, o início da vida sexual e sobre anticoncepção. Atualmente a consulta ocorre, sendo uma das primeiras informações, a prática sexual sem proteção. Na sequência, queixas genitais relacionadas a atividade sexual e suspeita ou constatação de gestação indesejada. Procedimentos singelos, como o não uso do preservativo e de outros métodos anti- a conceptivos têm refletido no aumento das taxas de gravidez precoce, com desfechos, muitas vezes, dramáticos. Segundo relatório divulgado no ano passado pela Organização Mundial de Saúde, milhares de adolescentes morrem por dia no mundo em decorrência de problemas no parto. Os riscos se estendem às doenças sexual- mente transmissíveis, incluindo as infecções virais pelo HPV e HIV. i Para o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Etelvino Trindade, este 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, é uma data importante para reforçar a importância da pre- venção. “É preciso disseminar informações sobre a necessidade da prevenção que inclui o uso do preservativo, r masculino e feminino. Com esse cuidado simples, doenças podem ser evitadas. Associado a isso, as orientações sobre o uso de contraceptivos seguros. As informações e os esclarecimentos constituem parte da boa prática médica, devem ser transmitidos pelos médicos e promovem o envolvimento e participação da sociedade”, diz. o Dr. Trindade faz referência ao aumento da sífilis no Brasil, que, de acordo com dados do Ministério da Saúde, é quatro vezes mais frequente nas gestantes do que a infecção pelo HIV. “Após confirmada a gravidez é preciso que as mulheres tenham consciência do acompanhamento pré-natal, onde é feito o teste para sífilis que, se detectada e tratada, evita que o bebê nasça com graves problemas de saúde”, destaca o especialista. As recomendações preventivas também incluem a vacinação contra o HPV para meninas de 11 a 13 anos es- t tendendo dos 9 aos 26 anos, pois a imunização ajuda a prevenir casos de câncer de colo do útero. Embora a vacinação previna, o preservativo continua sendo indispensável, principalmente quando o sexo não é seguro. “A meta de vacinação estabelecida pelo governo tem sido abaixo do esperado e está sendo fornecida a segunda i dose da vacina contra o HPV. Cabe a nós, médicos, auxiliar no esclarecimento para a adesão das meninas e das famílias”, orienta Trindade. Dr. Etelvino Trindade alerta que é preciso, também, as mulheres saberem da importância do exame de detecção d do HIV, pois o tratamento precoce ajuda a evitar o desenvolvimento do vírus. A finalidade é ter mais qualidade de vida. Não é somente detectar o vírus. Ainda acresce a necessidade da adesão ao tratamento. Estudo divulgado neste 7 de abril de 2015 pela revista científica Public Library of Science (PLOS) está abordando esse assunto. Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, avaliaram mais de 50 mil pacien- E tes soropositivos em 111 países e constataram que um pequeno grupo de mutações virais, responsáveis pela maioria dos casos de resistência ao tratamento, está relacionado ao uso descontinuo dos medicamentos. Vale lembrar que no Brasil cerca de 734 mil pessoas são portadoras do vírus HIV. Destas, 589 mil estão diagnostica- das e, dentre elas, somente 404 mil aderiram ao tratamento. “O que preocupa não é apenas a descoberta da doença para o correto tratamento, mas as pessoas que têm o HIV e deixam de tomar os antirretrovirais. São quase 200 mil pessoas, no Brasil, que sabem da condição de serem soropositivas, mas ainda não buscaram ajuda especializada. O cenário precisa mudar. É preciso investir em campanhas imediatas de saúde para a população”, finaliza Etelvino Trindade. 2 Revista da SOGIA-BR 16(2): 2, 2015 Artigo Original PRINCIPAIS ESCOLHAS DE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS DE ADOLESCENTES ATENDIDAS EM SERVIÇO ESPECIALIZADO, EM SALVADOR – BA MAJOR CHOICES CONTRACEPTIVE METHODS OF ADOLESCENTS SERVED IN SERVICE SPECIALIZING IN SALVADOR - BA Marla Niag dos Santos Rocha1, Maressa dos Santos Novais2, e Márcia Sacramento Cunha Machado3 RESUMO Introdução: A contracepção na adolescência tem ganhado considerável visibilidade em decorrência principalmente da epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), gravidez na adolescência e início precoce da vida sexual. Vários são os fatores que influenciam na escolha dos métodos contraceptivos, sendo os principais de ordem sócio cultural, e também situacional e individual. Objetivo: Avaliar as principais escolhas de adolescentes atendidas em serviço especializado em relação aos métodos contraceptivos que fazem uso. Métodos: Foi realizado um estudo retrospectivo a partir da análise dos prontuários das pacientes atendidas no Serviço de Ginecologia da Infância e Adolescência (SEGIA), no período de 2010 a 2012. Trata-se de um serviço de atendimento ginecológico do Sistema Único de Saúde (SUS) exclusivo para crianças e adolescentes, que funciona no Ambulatório Docente Assistencial de Brotas (ADAB), vinculado a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), em Salvador - Bahia. Os dados analisados neste estudo incluem idade, grau de escolaridade, idade da menarca, padrão do ciclo menstrual, idade da iniciação sexual, padrão sexual e método anticoncepcional em uso. Resultados: Foram avaliados prontuários de pacientes, com média de idade de 15,44 anos. A idade média da menarca das adolescentes foi de 11,8 anos, com predominância de ciclos menstruais referidos como regulares (58,9%), e de duração média do fluxo de 5,33 dias, com 83% das pacientes referindo presença de sintomas associados. Sobre o perfil sexual, foi observada idade média da iniciação sexual de 14,8 anos e média de parceiros na vida de 1,88. A análise do padrão de uso dos métodos anticoncepcionais revelou 65% das adolescentes com uso irregular. Em relação ao método habitualmente utilizado, a maioria relatou associação de anticoncepcionais orais (ACO) e preservativo masculino (50,65%), 16,88% referiram apenas ACO e 10,39% a associação de ACO, preservativo masculino e método hormonal injetável. Conclusão: No presente estudo, houve predominância do uso associado de ACO e preservativo masculino como escolha de método contraceptivo entre as adolescentes. Isso pode denotar a conscientização dessas jovens sobre a dupla proteção, demonstrando preocupação tanto com a prevenção de gravidez, quanto de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Palavras chaves: Adolescência, métodos anticoncepcionais. Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015 3 Artigo Original ABSTRACT Background: Contraception in adolescence has gained considerable visibility mainly due to the epidemic of Acquired Immunodeficiency Syndrome (HIV / AIDS), teenage pregnancy and early sexual debut. There are several factors that influence the choice of contraceptive methods, and the main socio-cultural, but also situational and individual. Objective: Evaluate the main choices of teenagers attending a specialized service in relation to contraceptive methods that make use. Methods: It was conducted a retrospective study from the analysis of medical records of patients treated at the Department of Gynecology of Childhood and Adolescence (SEGIA), in the period 2010-2012. It is an unique gynecological service of Unique Health System (SUS) to children and adolescents, in Brotas Assistencial Instructor Ambulatory (ADAB) bound to Bahia School of Medicine and Public Health (EBMSP), Salvador - Bahia. The data analyzed included age, level of education, age at menarche, menstrual cycle pattern, age of sexual initiation, contraceptive and sexual pattern in use. Results: It was analyzed the records of patients with a mean age of 15,44 years. The average age of menarche of adolescents was 11.8 years, with a predominance of regular menstrual cycles such as (58.9%), and mean duration of flow of 5.33 days, with 83% of patients referring symptoms associated with it. About sexual profile was observed average age of sexual initiation of 14.8 years and average of 1.88 partners in life. The analysis of pattern of use of contraceptive methods revealed 65% of adolescents with irregular use. Regarding the method commonly used, most reported association of oral contraceptives (OC) and condom (50.65%), 16.88% reported only OC and 10.39% reported the association association of OC, male condom and injectable hormonal method. Conclusion: In the present study, there was predominance in the associated use of OC and male condom like choice of contraceptive method among adolescents. This may denote awareness of these youth about dual protection, expressing concern with both the prevention of pregnancy, as Sexually Transmitted Diseases (STDs). Keywords: Adolescence, contraceptive methods. INTRODUÇÃO Considerada como um período de transição para a matu- em alguns casos, em gravidez ou em Doença Sexualmente ridade, a adolescência é o elo entre a infância e a idade adulta. Transmissível (DST).2 A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Estudos realizados no Brasil e em outros países da América Pan Americana da Saúde (OPAS) definem adolescência como Latina observaram que a atividade sexual entre adolescentes um processo fundamentalmente biológico de vivências orgâ- vem aumentando a cada ano, acompanhada da diminuição nicas, no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a da idade de iniciação sexual. Mais da metade das mulheres estruturação da personalidade, comportando a pré-adolescên- abaixo de 20 anos são sexualmente ativas na América Latina. cia a faixa etária de 10 a 14 anos e a adolescência propriamen- O aumento e a precocidade da atividade sexual têm ocasio- te dita, dos 15 aos 19 anos.1,2 Esta fase se constitui em um nado número crescente de partos e abortos. O Ministério da momento onde se estabelecem novas relações dos adolescen- Educação e Cultura (MEC) estima a ocorrência de cerca de tes com eles mesmos, nova imagem corporal, novas relações um milhão de gestações em adolescentes por ano no Brasil, com o meio social, com a família e com outros adolescentes, sendo que um terço termina em abortamentos.6 portanto, um período marcado por irregularidades, instabili- Pesquisas apresentaram aumento de 26% da taxa de fecun- dade e imprevisibilidade.3 didade entre adolescentes, desde a década de 1990. Em 1996, A magnitude numérica, aliada a conjunturas sociais em foi observado que 18% das adolescentes brasileiras entre 15 que os adolescentes estão inseridos, justifica a necessidade de e 19 anos já tinham pelo menos um filho, segundo dados do uma atenção cada vez maior a este grupo.4 Por ser um perío- Ministério da Saúde (MS), de modo que, por ano, cerca de do caracterizado por intensa necessidade de explorar e expe- um milhão de jovens de 10 a 19 anos tornam-se mães.7 rimentar o contexto em que se vive, a adolescência torna-se a Além do risco de gravidez indesejada, é importante des- fase mais vulnerável à adoção de comportamentos que envol- tacar a incidência elevada de DST nessa população. A cada vem riscos pessoais.5 As inúmeras transformações ocorridas, ano, no mundo, quase a totalidade dos adolescentes contrai sejam elas físicas ou psicoemocionais, incitam uma vivência algum tipo de DST. Mais de sete mil jovens, cinco por minu- intensa da sexualidade, o que pode, muitas vezes, se mani- to, são infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana festar através de práticas sexuais desprotegidas, que resultam, (HIV) diariamente, totalizando 2,6 milhões por ano, o que 4 Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015 Artigo Original representa a metade de todos os casos registrados.8 Aproxima- A informação sobre os vários métodos existentes, modos damente 25% de todas as DST são diagnosticados em jovens de ação, vantagens e desvantagens, operacionalidade e even- com menos de 25 anos.9 tuais riscos à saúde torna-se fundamental para que os jovens A sexualidade na adolescência torna-se uma questão de possam fazer uma escolha livre e consciente do método con- urgência social e epidemiológica, ao se observar a vulnerabili- traceptivo. Daí a importância da atuação ao nível de plane- dade deste grupo populacional, já que o início das atividades jamento familiar, tentando-se promover continuamente a ca- sexuais não acompanha a conscientização da necessidade da pacidade técnica e o uso regular dos métodos, não deixando incorporação de medidas de proteção.10,11 de se atentar à eficácia dessas ações junto à população adoles- Considerando-se que a maioria dos casos de gravidez na cente. O método contraceptivo, nestes casos, deve ser eficaz adolescência é indesejada, que cada vez mais aumentam a e com efeitos adversos mínimos, a fim de que se tenha maior incidência de AIDS nessa faixa etária, e o impacto que tais adesão ao tratamento e adequado planejamento familiar.15 problemas causam na saúde reprodutiva dos adolescentes, a O exercício de conscientização e orientação dos adoles- contracepção na adolescência adquire fundamental impor- centes sobre sua sexualidade ganha cada vez maior importân- tância.5,9 Para tanto, foram implantados no Brasil o Programa cia na tentativa de se evitar gravidezes não planejadas e pro- Assistencial à Saúde da Mulher (PAISM) e o Programa de piciar maior responsabilidade sobre a anticoncepção.4 Sendo Saúde do Adolescente (PROSAD), em cumprimento à Cons- assim, são necessários programas que visem apresentar infor- tituição Brasileira, que têm a anticoncepção como um de seus mações mais concretas sobre contraceptivos, estimulando o subprogramas e atuam na promoção de Saúde, identificação adolescente a fazer a escolha de seu método, priorizando seu de grupos de risco, detecção precoce dos agravos com trata- bem-estar, segurança e conforto. mento adequado e reabilitação.12 Os vários métodos de intervenção direcionados para o CASUÍSTICA E MÉTODO público jovem fez com que essa população aumentasse o uso Trata-se de um estudo retrospectivo, de corte transversal, de preservativos. No entanto, constatou-se que ainda não são realizado através da revisão de prontuários, não sendo prevista utilizados por todos os adolescentes e nem com regularida- a realização de métodos diagnósticos e terapêuticos que pos- de nas relações sexuais. Em 1996, a Pesquisa Nacional sobre sam trazer riscos aos pacientes. Demografia e Saúde, realizada no Brasil, evidenciou que o Foram avaliados prontuários de 80 pacientes atendidas uso de métodos anticoncepcionais na faixa etária de 15 a 19 no Serviço de Ginecologia da Infância e Adolescência (SE- anos era menor que 15%, comparado com mais de 40% nas GIA), no período janeiro de 2010 a dezembro de 2012. Este jovens de 20 a 24 anos, mais de 65% entre 25 a 29 anos e serviço funciona desde 2006 no Ambulatório Docente As- superior ainda, acima dessa idade.6 O Ministério da Saúde sistencial de Brotas (ADAB), vinculado à EBMSP, em Sal- ainda aponta que, no Brasil, 55% das adolescentes solteiras vador-BA, oferecendo serviço especializado no atendimento e sexualmente ativas nunca haviam usado nenhum método ginecológico para crianças e adolescentes pelo Sistema Único anticoncepcional. Vários estudos com enfoque nesta popula- de Saúde (SUS). ção demonstraram que embora o conhecimento sobre o uso Os critérios de inclusão foram: ter idade entre 10 e 19 de métodos de contracepção exista expressivamente, isto não anos, apresentar vida sexual ativa, fazer uso de algum méto- implica necessariamente em haver uso adequado ou regular do contraceptivo, participar do Programa de Planejamento destes métodos.13,14 Familiar do referido serviço e ter assinado o Termo de Con- O uso consistente da contracepção pode estar relacionado sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para uso de infor- a inúmeros fatores, como: ter idade acima de 15 anos, maior mações disponíveis no prontuário médico do SEGIA. Foram escolaridade, parceria estável, menor tempo desde iniciação excluídos da análise, registros de pacientes cujas informações sexual, além da presença de diálogo com os pais sobre sexua- necessárias não estavam disponíveis ou que não atendiam aos lidade, prevenção de DST/AIDS e contracepção.13 Por outro critérios de inclusão do estudo. lado, a desinformação, a confiança excessiva na invulnerabi- Foi utilizada uma amostra de conveniência, abrangendo os lidade, os tabus sociais e familiares quanto à abordagem do questionários padronizados de admissão de todos os pacientes tema sexualidade, a obtenção de informação por intermédio atendidos no SEGIA, durante o período do estudo. As variáveis de pessoas não qualificadas e a falta de acesso ao método con- analisadas neste estudo foram: idade na primeira consulta, esco- traceptivo representam os principais fatores associados a não laridade, cor da pele, idade da menarca, padrão do ciclo, dura- utilização de proteção nas relações sexuais.11,15 ção do ciclo menstrual, duração do ciclo menstrual, intensidade Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015 5 Artigo Original do fluxo menstrual, presença de sintomas (tensão pré-mens- Iniciação sexual e seus aspectos. trual, cólicas uterinas, lombalgia, cefaleia, náuseas ou vômitos), A idade média da iniciação sexual das pacientes apresenta- idade da iniciação sexual, padrão sexual, número de parceiros, da neste estudo foi de 14,8 ± 1,54 anos, com faixa etária mí- padrão do uso do contraceptivo hormonal, presença de efeitos nima de doze anos (referida por 5,5% das pacientes) e máxi- colaterais e método anticoncepcional utilizado habitualmente. ma de 19 anos (referida por 1,4% das pacientes). Quanto ao Os dados foram categorizados, inseridos em um banco uti- padrão sexual, categorizado como regular ou irregular, houve lizando-se o programa estatístico SPSS versão 16.0 e apresenta- predominância do padrão considerado irregular (53,3%). dos descritivamente como proporções, médias e desvios-padrão. Considerando-se o número de parceiros sexuais durante a Todas as pacientes do SEGIA possuem TCLE, tendo sido vida, 50% relatou parceiro único e 1,7% o numero máximo respeitada a impessoalidade das mesmas assim como o cega- de oito parceiros, com média de 1,88 + 1,25 parceiros. mento da identidade de acordo com os critérios de Helsinque Regularidade do uso dos métodos e recomendações do Conselho Nacional de Saúde (CNS). contraceptivos. Ao que diz respeito à regularidade do uso dos métodos RESULTADOS contraceptivo, aproximadamente 65% das pacientes do pre- Aspectos sócios demográficos. sente estudo relataram fazê-lo de forma irregular. Quando A idade média da população do estudo foi de 15,44 + correlacionado ao relato de efeitos adversos secundários do 1,97 anos. A maior parte tinha cursado ou estava cursando o uso do método contraceptivo, observou-se que aproximada- Ensino Fundamental (52,4%) e mais da metade das pacientes mente 67% das pacientes que referiam presença de efeitos (56,45%) referiram apresentar cor parda. (Tabela 1) colaterais faziam uso irregular do método contraceptivo, en- quanto que 56% faziam uso regularmente. Menarca e Padrão do ciclo menstrual. A idade média da menarca da população estudada foi de Principais escolhas dos métodos contraceptivos. 11,8 ± 1,53 anos. O padrão do ciclo menstrual, categoriza- Foi constatado que a opção mais relatada foi a associação do como regular e irregular, foi relatado predominantemente de ACO e preservativo masculino (50,65%). A segunda foi (58,9%) como regular. A duração do ciclo menstrual apresen- o uso de ACO isolado (16,88%), e a terceira foi a associação tou média de 5,33 ± 2,3 dias, variando de 3 a 15 dias. Sobre dos métodos ACO, preservativo masculino e hormonal inje- a intensidade do fluxo menstrual, apenas 1,8% das pacien- tável (10,39%) (Tabela 2). Observou-se também que ACO tes referiram apresentar volume de sangramento aumentado foi referido como método contraceptivo de escolha, por (caracterizado pela presença de coágulos). Aproximadamente 88,31% das pacientes, o preservativo masculino foi referido 83% da população afirmou apresentar sintomas associados ao por 74,03% e o hormonal injetável por 22,08%, sendo os período menstrual. mesmos usados isoladamente ou associados a outros métodos. Tabela 1. Aspectos sócio demográficos da população do estudo Principais escolhas de métodos contraceptivos de adolescentes atendidas em serviço especializado, em Salvador – BA. Variáveis Categorias Resultados n (%) 10 a 14 (Pré-adolescência) 29 (36,25) Idade 15 a 19 (Adolescência) 51 (63,75) Ensino Fundamental 32 (52,4) Escolaridade Ensino Médio 28 (46,0) Ensino Superior 1 (1,6) Branca 10 (16,1) Cor da Pele* Parda 35 (56,5) Preta 17 (27,4) * Referida pela paciente. 6 Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015 Artigo Original Tabela 2. Escolhas dos métodos contraceptivos da população do estudo Principais escolhas de métodos contraceptivos de adolescentes atendidas em serviço especializado, em Salvador – BA. Métodos Contraceptivos utilizados Resultados n (%) ACO + Preservativo masculino 39 (50,65) ACO 13 (16,88) ACO + Preservativo masculino + Injetável 8 (10,39) Preservativo masculino 5 (6,49) ACO + Injetável 5 (6,49) Injetável 1 (1,30) Preservativo masculino + Injetável 1 (1,30) Preservativo masculino + Pílula do dia seguinte 1 (1,30) ACO + Coito interrompido 1 (1,30) ACO + Preservativo masculino + Pílula do dia seguinte 1 (1,30) Preservativo masculino + Hormonal Injetável + Pílula do dia seguinte 1 (1,30) ACO + Preservativo masculino + Hormonal Injetável + Pílula do dia seguinte 1 (1,30) DISCUSSÃO O presente estudo permitiu realizar uma análise de uma Diferentemente dos estudos supracitados, a presente população específica de adolescentes, que buscou atendimento análise observou que a escolha de métodos contraceptivos ginecológico em um Serviço de Atendimento especializado. mais realizada foi ACO associado ao preservativo masculino Estudos mostram que, no Brasil, a prevalência de uso de (50,65%), seguida pelo ACO isolado (16,88%). Na análise métodos anticoncepcionais entre mulheres, independente dos métodos utilizados, em associação ou isoladamente, ob- de sua idade, é alta, com maior expressividade para a este- servou-se a frequência de 88,31% para o uso de ACO, segui- rilização tubária (laqueadura), usada por 40% das mulheres, da de 74,03% para o uso de preservativo masculino. e para ACO, utilizada por 21% das mulheres.16 Contudo, O fato de observamos que o método de barreira é muitas análises realizadas com o público adolescente, identificaram vezes citado em combinação com outros, principalmente o como métodos mais utilizados o preservativo masculino e o ACO, poderia significar uma maior conscientização por par- ACO.16,17 A maioria dos trabalhos mostra que o preservativo te dos jovens em relação à dupla proteção, prevenindo tanto masculino representa o método de prevenção de gravidez e a gravidez, quanto DSTs. Acredita-se que este achado esteja DST mais conhecido e usado no público adolescente.6,13,18,19 relacionado à oferta do método e fácil acesso, além da ênfase Alguns estudos realizados no Brasil confirmaram o preserva- dada por profissionais do serviço à dupla proteção.7,17 O fato tivo masculino como método contraceptivo mais utilizado de haver algumas adolescentes referindo uso de associação de nesta faixa etária, apresentando percentual de 80,7% no Rio três ou mais métodos reforça essa ideia e o uso da pílula do de Janeiro, 49,7% no Ceará e aproximadamente 40% em São dia seguinte como um dos métodos utilizados demonstra a Paulo.3,11,14,17 O segundo método mais escolhido, ainda nes- preocupação imediata com a gravidez.17 tes estudos, foi o ACO, associado ao preservativo masculino, Além disso, nesse estudo, apenas uma paciente referiu uso 18,7% e 14,9%em São Paulo, ou isolado, 38,3% e 14,9% no de método comportamental, e ainda assim, associado a outros Ceará e Rio de Janeiro, respectivamente.3,11,14,17 Em contra- métodos. Isso é importante, pois sugere que a população des- partida, no Paraná, estudo apresentou a pílula como o méto- te trabalho está bem informada, já que a tabelinha ou coito do anticoncepcional utilizado mais citado (50,3%), seguida interrompido, quando utilizados isoladamente, são métodos do preservativo masculino (28,1%).20 reconhecidamente de baixa eficácia e que requerem bastan- Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015 7 Artigo Original te conhecimento da fisiologia.17 Considera-se também, que mento biológico que não necessariamente coincide com o a citação na literatura do coito interrompido como método amadurecimento cognitivo e emocional, o que se constitui, utilizado10,14,18 esteja relacionado à casualidade dos relaciona- portanto, em fator de risco para uma iniciação sexual prema- mentos de alguns jovens.18 tura e suas consequências negativas.5,26 A eficácia preventiva dos métodos anticoncepcionais de- A coitarca, outro fator importante, é considerada o marco pende bastante da consciência da usuária acerca da impor- cronológico para o início do uso de métodos contraceptivos. tância de se manter o uso regular. Alguns estudos analisaram O conhecimento sobre a média populacional da menarca, a utilização dos métodos contraceptivos e observaram que os e principalmente, da coitarca, é importante para definir os jovens, no geral, não usam bastante os métodos contracep- principais grupos etários em que devem se focar as estratégias tivos ou utilizam de forma irregular.10 Pesquisa IBOPE de de prevenção. A faixa etária mais frequente está entre os 15 e 2003, observou que há maior uso do preservativo de forma 16 anos, índices estes explicados pela influência do ambiente consistente entre os homens (18,1%) quando comparado às e da mídia.27 Estudos realizados com populações de adoles- mulheres (11,7%). Além disso, quanto menor a idade do en- centes evidenciam médias de coitarca diversas. Uma pesquisa trevistado, maior a probabilidade do uso do preservativo de realizada no Rio de Janeiro, num Ambulatório de Saúde do forma regular, tendo predominância de uso consistente na Adolescente (aos mesmos moldes do presente estudo), reali- faixa de 14 a 25 anos.21 zado com 356 adolescentes, observou faixa de idade de inicia- Quando avaliados grupos populacionais específicos, as ção, para este grupo, entre 14-15 anos, um início precoce, se- pesquisas apresentam valores mais elevados de uso regular dos melhante a media de coitarca obtida no presente estudo, que métodos contraceptivos escolhidos. Em São Paulo, duas pes- foi de 14,8 anos.28 No entanto, outros estudos realizados com quisas com adolescentes observaram uso regular do método populações de adolescentes evidenciaram médias de coitarca anticoncepcional em aproximadamente 80% das entrevista- acima dessas médias, o que pode ser explicado pela diferença das.3,17 Diferente desses estudos, os resultados apresentados na de perfil dos públicos. Pesquisas realizadas em Pernambuco29, presente análise, evidenciaram que apenas 35,4% desta popu- São Paulo17,19 e Paraíba30 apresentaram médias de coitarca que lação relatou uso consistente ou regular do método. variaram entre 15,2 e 18,4 anos. Nesse estudo, ainda se observou que a maioria das adoles- centes referiu ter cursado ou estar cursando o Ensino Funda- CONCLUSÃO mental, portanto esse grupo apresenta escolaridade compatível Os métodos contraceptivos mais utilizados pelas adolescen- com a esperada para a média de idade obtida, que foi de 15,44 tes no presente estudo foram os ACO e o preservativo masculi- anos. Em estudo realizado em São Paulo, 71,6% das adoles- no, usados isoladamente ou associados. Contudo, ainda é con- centes apontaram Ensino Fundamental como escolaridade.22 siderável o número de adolescentes que, independente do uso Esta seria uma variável importante diante do acesso a orien- de outros métodos, não utilizam métodos de barreira em suas tação sexual e reprodutiva, principalmente no aspecto de pre- relações sexuais, ou que utilizam os métodos irregularmente. venção da gravidez e de DSTs e AIDS, mediante a utilização Os resultados encontrados reforçam a necessidade de es- de métodos anticoncepcionais adequados a este grupo etário.23 tratégias educacionais que visem melhor conscientização so- Foi constatado ainda nesse estudo que a idade média de bre a dupla proteção e melhores informações sobre benefícios menarca obtida foi de 11,8 anos. Esta variável constitui im- e mecanismos de uso dos diversos métodos anticoncepcionais portante indicador para análise, não apenas de questões refe- para este grupo populacional. Com isso seriam reduzidos os rentes ao crescimento, como também de fatores relacionados riscos relacionados como gravidez na adolescência e DST. à saúde reprodutiva. É observado que nos últimos decênios, a idade da menarca tem sido cada vez mais precoce.22 Traba- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS lhos nacionais relataram que na década de 1930, a média de menarca encontrava-se por volta dos 13,6 anos; 13,4 anos na 1. Silva VC, et al. Gravidez na adolescência em unidades de saúde pública no Brasil: revisão integrativa da literatura. Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 60-67; década de 1940; 12,8 anos na década de 1960; e 12,6 anos na out/dez 2010. 2. Camargo EAI, Ferrari EAP. Adolescentes: conhecimentos sobre sexualidade an- década de 1980.24 A menarca é colocada como um fenômeno tes e após a participação em oficinas de prevenção. Ciência & Saúde Coletiva, potencialmente estimulador do início da atividade sexual, já 14(3):937-946; 2009. 3. Rojas SHCC, et al. Características reprodutivas das adolescentes da Legião Mirim que o corpo da jovem começa a apresentar características de de Marília – São Paulo, Brasil, 2005. DST–J bras Doenças Sex Transm 18(2): 137- amadurecimento, tornando-o apto a conceber.25 Além disso, 142; 2006. 4. Guimarães AMDN, et al. Informações dos adolescentes sobre métodos anticon- a precocidade puberal geralmente ocasiona um amadureci- cepcionais. Rev Latino-Am Enfermagem; 11(3):293-8; 2003. 8 Revista da SOGIA-BR 16(2): 3-9, 2015

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Fibroma ovariano bilateral em adolescente: relato de um caso e . Assistencial de Brotas (ADAB), vinculado a Escola Bahiana de Medicina e Saúde
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