MÁRIO MARTINS, S. J. Peregrinações e Livros de Milagres na nossa IDADE MÉDIA 2.a Edição 3X2323 .M38 EDIÇÕES "BROTERIA' LISBOA, 1957 BX2323 .M3S ^Peregrinações e Jjvros de ^JúUagres na nossa Idade KjvLédia^ OBRAS DO MESMO AUTOR: — Correntes da Filosofia Religiosa em Braga dos Sécs. IV a Vil li- vraria Tavares Martins-Porto, 1950. — Laudes e Cantigas Espirituais de Mestre André Dias (f c. 1437) Mosteiro de Singeverga-Negrelos, 1951. — Estudos de Literatura Medieval Livraria Cruz-Braga, 1956. — Vida e Obra de Frei João Claro c, 1520) ed. da Universidade de Coimbra-1956. 1 MÁRIO MARTINS, S. J. 'Peregrinações e JÇivros de ^Milagres na nossa Idade KjVíédia^ 2." Edição EDIÇÕES "BROTERLV LISBOA, 1957 : INTRODUÇÃO NA Viagem à Aurora do Mundo,—traz Erico Veríssimo o tema central doutro livro seu As Portas do Tempo «Um dia o herói sai e deambula pelos subúrbios. Como é poeta, vai distraído, tão distraído com os seus pensamentos de cores tão vivas quepassa, semveresemdarporisso,porumaportamisteriosa. Ora,acon- tece queessa porta é nadamais nadamenosdo queumadasmuitas portas do Tempo e, de repente, a minha personagem encontra-se em plena Idade Média. Só deu pelo estranho acontecimentodepois de ter andadomaisde um quilómetro através das terras de certo duque façanhudo e—poderoso. Quandoviuocastelocomapontelevadiça,osgua—rdasnasameias pessoas e coisas positivamente diferentes das de sua rua é que percebeu em que lugar e em que época se encontrava, pois justamente na véspera estivera a ler um romance medieval de Sir Walter Scott. Se fosse homem prático eterra-a-terra, omeuheróidiriaquetudoaquilonãopassavadeumsimples sonho. Mas como era poeta, aceitou desde logo a realidade e passou a viver na Idade Média, na corte ducal, onde, como era de se esperar, des- pertou grande curiosidade por causa de seus trajos, de sua língua, deseus modos e de suas ideias. Viveu aventuras emocionantes, amou uma castelã, andou em guerras sangrentas e um dia, distraído a correr atrás de uma borboleta, tornou a enveredar por umas portas misteriosas e encontrou-sie de novo na sua rua, a caminhodecasa.» Pois bem. Pedimos ao leitor que se distraia também do pre- sente e meta por uma das misteriosas portas do Tempo. E mer- 7 — gulhe na Idade Média não dos duques façanhudos e das pontes levadiças, mas dos peregrinos. A Cristandade estava cheia deles e dava-lhes vários nomes, mesmo em latim: peregrini (peregrinos), palmarii ou palmati(pal- meiros), romei ou romerii (romeiros), etc. Veremos, depois, como estes vocábulos nem sempre coincidem entre si. No mar, sob as velas enfunadas ou curvados sobre os remos incansáveis, em terra, por caminhos desconhecidos, com albergari—as de longe em longe, onde encontravam cama, fogo, água e sal a todos eles guiava a estrela brilhante e sonora dum santuário longínquo ou um país que fossecomo que um santuário, sob a cúpula das estrelas (sobre- tudo a Terra Santa e a Tebaida). Ao vê-los abalar, lembramo-nos dos versos de Guerra Jun- queiro, riOs Simples: «ó senhor tão novo, d'olhos cor de esp'rança, Ides de caminho para algum lugar? O peregrino: Vou dar volta ao mundo...» Porque o mundo era maravilhoso, todo cheio de sobrenatural e de milagre. Em Colónia, venerava-se uma urna com as cinzas 8