Amit Goswami com Richard E. Reed e Maggie Goswami O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE como a consciência cria o mundo material Tradução de RUY JUNGMANN 2ä EDIÇÃO EDTTORA ROSADOS TmFOS CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros ,RJ. Goswami, Amit G698u O universo autoconsciente: como a consciência 2" ed. cria o mundo material /Amit Goswami & Ricliard E. Reed e Maggie Goswami; tradução de Ruy Jungmann. - 2" ed. - Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1998. Tradução de: The self-aware universe: how consciousness creates the material world Inclui bibliografia 1. Ciência - Filosofia. 2. Religião e ciência. I. Reed, Richard E. II. Goswami, Maggie. III. Título. CDD - 501 98-0686 CDU - 50:1 Título original norte-americano THE SELF-AWARE UNIVERSE Copyright © 1993 by Amit Goswami, Richard E. Reed e Maggie Goswami Publicado mediante acordo com Jeremy P. Tarcher, Inc., uma divisão da Penguin Putnam Inc. Revisão técnica; Harbans Lai Arora, Ph.D. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA ROSA DOS TEMPOS Um selo da DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S.A. Rua Argentina 171 -Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 585-2000 que se reserva a propriedade literária desta tradução Impresso no Brasil i*'"»"«)« ir ISBN 85-01-05184-5 | ^^ PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23,052 *^o™«i«>'* Rio de Janeiro, RJ - 20922-970 EDITORA AFILIADA Dedicado a meu irmão, o filósofo Nripendra Chandra Goswami SUMARIO Prefááo 9 Introdução 13 PARTE i A INTEGRAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE Introdução à Parte 1 19 1. O Abismo e a Ponte 21 2. AVelha Física e seu Legado Filosófico 33 3. A Física Quântica e o Fim do Realismo Materialista 45 4. A Filosofia do Idealismo Monista 72 PARTE 2 O IDEALISMO E A SOLUÇÃO DOS PARADOXOS QUÂNTICOS Introdução à Parte 2 89 5. Objetos Simultaneamente em Dois Lugares e Efeitos que Precedem suas Causas 91 6. As Nove Vidas do Gato de Schrödinger 106 7. Escolho, Logo Existo 135 8. O Paradoxo Einstein-Podolsky-Rosen 144 9. A Conciliação entre Realismo e Idealismo 171 PARTES REFERÊNCIA AO SELF-. COMO O UNO TORNA-SE MUITOS Introdução à Parte 3 181 10. Análise do Problema Corpo-mente 183 11. Em Busca da Mente Quântica 196 12. Paradoxos e Hierarquias Entrelaçadas 212 13. O "Eu" da Consciência 225 14. Integrando as Psicologias 236 PARTE 4 O REENCANTAMENTO DO SER HUMANO Introdução à Parte 4 251 15. Guerra e Paz 255 16. Criatividade Externa e Interna 263 17. O Despertar de 5*0^/^/ 276 18. Uma Teoria Idealista da Ética 296 19. Alegria Espiritual 310 '; Glossário 317 Notas 327 Bibliografia 335 Ilustrações 343 índice Remissivo 345 PREFACIO Ao tempo em que fazia curso de graduação e estudava mecânica quântica, eu e meus colegas passávamos horas discutindo assuntos esotéricos do tipo: poderá um elétron estar realmente em dois lugares ao mesmo tem po? Eu conseguia aceitar que um elétron pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo; a mensagem àa matemática quântica, embora cheia de sutilezas, é inequívoca a esse respeito. Mas um objeto comum — digamos, uma cadeira ou uma mesa, objetos que denominamos de "reais" — comporta-se também como um elétron? Será que se transforma em ondas e começa a espalhar-se à maneira inexorável das ondas, em todas as ocasiões em que não o estamos observando? Objetos que vemos na experiência do dia-a-dia não nos parecem comportar-se das maneiras estranhas comuns à mecânica quântica. Subconscientemente para nós é fácil sermos levados acriticamente a pensar que a matéria macroscópica difere de partículas microscópicas — que seu comportamento convencional é regulado pelas leis newtonianas, que formam a chamada física clássica. Na verdade, nume rosos físicos deixam de quebrar a cabeça com os paradoxos da física quântica e sucumbem à solução newtoniana. Dividem o mundo em ob jetos quânticos e clássicos — o que me acontecia também, embora eu não me desse conta do que fazia. Se queremos fazer uma carreira bem-sucedida em física, não pode mos nos preocupar demais com questões recalcitrantes ao entendimen to, como os quebra-cabeças quânticos. A maneira certa de trabalhar com a física quântica, segundo me disseram, consiste em aprender a calcular. Em vista disso, aceitei um meio-termo, e as questões instigantes de minha juventude passaram gradualmente para o segun do plano. Mas não desapareceram. Mudaram as circunstâncias em que eu vi via e — após um sem-número de crises de ressentido estresse, que me caracterizaram a carreira competitiva na física—comecei a lembrar-me da alegria que a física outrora me dera. Compreendi que devia haver uma maneira alegre de abordar o assunto, mas que precisava restabelecer meu espírito de indagação sobre o significado do universo e abandonar as aco modações mentais que fizera por motivo de carreira. Foi muito útil nes te particular um livro do filósofo Thomas Kuhn, que estabelece uma distinção entre pesquisa de paradigma e revoluções científicas, que mudam paradigmas. Eu fizera minha parte em pesquisa de paradigmas; era tempo de chegar à fronteira da física e pensar em uma mudança de paradigma. Mais ou menos na ocasião em que cheguei a essa encruzilhada pes soal, saiu O tao da física, de Fritjof Capra. Embora minha reação inicial tenha sido de ciúme e rejeição, o livro me tocou profundamente. Após algum tempo, observei que o livro menciona um problema que não es tuda em profundidade. Capra sonda os paralelos entre a visão mística do mundo e a da física quântica, mas não investiga a razão desses paralelos: serão eles mais do que mera coincidência.^ Finalmente, eu encontrara o foco de minha indagação sobre a natureza da realidade. A forma de Capra abordar as questões sobre a realidade passava pela física das partículas elementares. Ocorreu-me a intuição, porém, de que as questões fundamentais seriam enfrentadas de forma mais direta no problema de como interpretar a física quântica. E foi isso o que me pro pus investigar. Mas não previ inicialmente que esse trabalho seria um projeto interdisciplinar de grande magnitude. Eu estava na ocasião ministrando um curso sobre a física da ficção científica (eu sempre tive predileção por ficção científica), e um estu dante comentou: "O senhor fala igualzinho à minha professora de psico logia, Carolin Keutzer!" Seguiu-se uma colaboração com Keutzer que, embora não me levasse a qualquer grande mígí/, deu-me conhecimento de uma grande massa de literatura psicológica relevante para o assunto que me interessava. Acabei por conhecer bem a obra de Mike Posner e de seu grupo de psicologia cognitiva na Universidade de Oregon, que deveriam desempenhar um papel decisivo em minha pesquisa. Além da psicologia, meu tema de pesquisa exigia conhecimentos consideráveis de neurofísiologia—a ciência do cérebro. Conheci meu professor de neurofisiologia por intermédio de John Lilly, o famoso es- 10 frejácto pecialista em golfinhos. Lilly tivera a bondade de me convidar para par ticipar do seminário, de uma semana de duração, que estava ministran do em Esalen. Frank Barr, médico, participava também. Se minha pai xão era mecânica quântica, a de Frank era a teoria do cérebro. Consegui aprender com ele praticamente tudo de que necessitava para iniciar o aspecto cérebro-mente deste livro. Outro ingrediente de importância crucial para que minhas idéias ganhassem consistência foram as teorias sobre inteligência artificial. Neste particular, igualmente, tive muita sorte. Um dos expoentes da teoria da inteligência artificial, Doug Hofstadter, iniciou a carreira como físico, obtendo o grau de doutor na Escola de Pós-graduação da Univer sidade de Oregon, a cujo corpo docente ora pertenço. Naturalmente, a publicação de seu livro, despertou em mim um interesse todo especial e colhi algumas de minhas idéias principais na pesquisa de Doug. Coincidências significativas continuaram a ocorrer. Fui iniciado nas pesquisas em psicologia através de numerosas discussões com outro colega, Ray Hyman, um cético de mente muito aberta. A última, mas não a menor, de uma série de importantes coincidências tomou a forma do encontro que tive com três místicos, em Lone Pine, Califórnia, no verão de 1984: Franklin Merrell-Wolff, Richard Moss e Joel Morwood. Em certo sentido, desde que meu pai era um guru brâmane na ín dia, cresci imerso em misticismo. Na escola, contudo, iniciei um longo desvio através da educação convencional e da prática como cientista, que trabalhava com uma especialidade separada. Essa direção afastou-me das simpatias da infância e, como resultado, levou-me a acreditar que a rea lidade objetiva definida pela física convencional era a única realidade — e que o que era subjetivo se devia a uma dança complexa de átomos, à espera para ser decifrada por nós. Em contraste, os místicos de Lone Pine falavam sobre consciência como sendo "o original, o completo em si, e constitutivo de todas as coisas". No início, essas idéias provocaram em mim uma grande dissonância cognitiva, embora, no fim, eu compreendesse que podemos ainda praticar ciência mesmo que aceitemos a primazia da consciência, e não da matéria. Esta maneira de praticar ciência eliminava não só os paradoxos quânticos dos enigmas de minha adolescência, mas também os novos da psicologia, do cérebro, e da inteligência artificial. Este livro é o produto final de uma jornada pessoal cheia de rodeios. Precisei de 15 anos para superar o preconceito em favor da física clássi- 11 o UNIVERSO AUTOCONSCIENTE ca e para pesquisar e escrever este livro. Tomara que o fruto desse esfor ço valha o tempo que você, leitor, vai lhe dedicar. Ou, parafraseando Rabindranath Tagore, Euescutá . Eolhá Com olhos bem abertos. Verti minha alma Nomundo Procurando o desconhecido No conhecido. E canto em altos brados Em meu assombro! Obviamente, muitas outras pessoas, além das mencionadas acima, contribuíram para este livro: Jean Burns, Paul Ray, David Clark, John David Garcia, Suprokash Mukherjee, o falecido Fred Attneave, Jacobo Grinberg, Ram Dass, lan Stuart, Henry Stapp, Kim McCarthy, Robert Tompkins, Eddie Oshins, Shawn Boles, Fred Wolfe Mark Mitchell — para mencionar apenas alguns. Foram importantes o estímulo e o apoio emocional de amigos, notadamente de Susanne Parker Barnett, Kate Wilhelm, Damon Knight, Andrea Pucci, Dean Kisling, Fleetwood Bernstein, Sherry Anderson, Manoj e Dipti Pal, Géraldine Moreno-Black e Ed Black, meu falecido colega Mike Moravcsik e, especialmente, nossa falecida e querida amiga Frederica Leigh. Agradecimentos especiais são devidos a Richard Reed, que me con venceu a submeter o original deste livro a uma editora e que o levou a Jeremy Tarcher. Além disso, Richard deu importante apoio, críticas e ajuda no trabalho de revisão. Claro, minha esposa, Maggie, contribuiu tanto para o desenvolvimento das idéias e para a linguagem em que elas foram vazadas que este livro teria sido literalmente impossível sem ela. Os editores de textos fornecidos pela J. P. Tarcher, Inc. —Aidan Kelly, Daniel Malvin e, especialmente, Bob Shepherd — tornaram-se credo res de agradecimentos profundos, como também acontece com o pró prio Jeremy Tarcher, por ter acreditado neste projeto. Agradeço a todos vocês. 12 INTRODUÇÃO Há não muito tempo nós, físicos, acreditávamos que havíamos chegado finalmente ao fim de todas as nossas buscas: tínhamos alcançado o fim da estrada e descoberto que o universo mecânico era perfeito em todo o seu esplendor. As coisas comportam-se da maneira como acontece por que são o que eram no passado. Elas serão o que virão a ser porque são o que são, e assim por diante. Tudo se encaixava em um pequenino e ele gante pacote de pensamento newtoniano-maxwelliano. Havia equações matemáticas que, de fato, explicavam o comportamento da natureza. Observava-se uma correspondência perfeita entre um símbolo na pági na de um trabalho científico e o movimento do menor ao maior objeto no espaço e no tempo. Corria o fim do século, o século XIX, para sermos exatos, e o renomado A. A. Michelson, falando sobre o futuro da física, disse que o mesmo consistiria em "adicionar algumas casas decimais aos resultados já obtidos". Para sermos justos, Michelson acreditava estar, ao fazer essa observação, citando o famoso Lord Kelvin. Na verdade foi Kelvin quem disse que, de fato, tudo estava perfeito na paisagem da física, com exce ção de duas nuvens escuras que toldavam o horizonte. Essas duas nuvens negras, como se viu depois, não apenas oculta vam a luz do sol na paisagem turneresca, newtoniana, mas a transforma vam numa desnorteante visão abstrata, tipo Jackson Pollock, cheia de pontos, manchas e ondas. Essas nuvens eram as precursoras da agora famosa teoria quântica de tudo que existe. E aqui estamos nós, ao fim de um século, desta vez o século XX, para sermos exatos, e, mais uma vez, mais nuvens se reúnem para obs curecer a paisagem, até mesmo do mundo quântico da física. Da mesma forma que antes, a paisagem newtoniana tinha e ainda tem seus admira- 13
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