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Edificar-se Para a Morte: Das Cartas Morais a Lucílio (Portuguese Edition) PDF

136 Pages·2016·0.92 MB·Portuguese
by  Sêneca
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Sêneca Edificar-se para a morte / Sêneca ; seleção, introdução, tradução e notas de Renata Cazarini de Freitas. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2016. Título original : Ad Lucilium Epistulae morales ISBN 978-85-326-5323-9 – Edição digital 1. Ética política 2. Filosofia antiga 3. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 4. Sêneca, ca. 4 a.C.-65 – Crítica e interpretação I. Freitas, Renata Cazarini de II. Título. 16-03288 CDD-188 Índices para catálogo sistemático: 1. Sêneca : Filosofia 188 Título original latino: Ad Lucilium Epistulae morales © desta tradução: 2016, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ www.vozes.com.br Brasil Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora. Diretor editorial Frei Antônio Moser Editores Aline dos Santos Carneiro José Maria da Silva Lídio Peretti Marilac Loraine Oleniki Secretário executivo João Batista Kreuch Editoração: Gleisse Dias dos Reis Chies Diagramação: Sandra Bretz Capa: Cumbuca Studio ISBN 978-85-326-5323-9 – Edição digital Editado conforme o novo acordo ortográfico. Sumário Introdução Epístola 1 Epístola 4 Epístola 12 Epístola 23 Epístola 24 Epístola 26 Epístola 30 Epístola 36 Epístola 49 Epístola 54 Epístola 57 Epístola 58 Epístola 61 Epístola 63 Epístola 65 Epístola 70 Epístola 78 Epístola 82 Epístola 93 Epístola 101 Epístola 107 Epístola 120 Textos de capa Introdução A leitura desta seleção de 22 cartas nos aproxima de duas práticas socioculturais já quase ausentes no século XXI: a correspondência e a direção espiritual. Voltar-se a estes textos breves, que se assentam nesses dois pilares, será transportar-se vinte séculos no passado, para a Roma do século I depois de Cristo. Lucius Annaeus Seneca ou Lúcio Aneo Sêneca, em português, escreveu em latim mais de uma centena de cartas que chegaram até os nossos dias, por vezes, com lacunas. São cartas destinadas ao amigo Lucílio com o propósito explícito de orientar sua formação espiritual segundo os preceitos e princípios do Estoicismo, uma corrente filosófica que surgiu na Grécia em III a.C. e floresceu em Roma, posteriormente, como uma proposta de prática existencial pautada pela harmonia com a Natureza, entendida aqui como a ordenação harmônica do cosmo. Sêneca escreve antes da disseminação do Cristianismo, portanto, num cenário pagão, mas é um autor que entende a razão como mentora do mundo – ela é a providência divina – e o homem, enquanto microcosmo, participa dessa razão e tem sua providência pessoal. Na carta 58, parágrafo 29, que integra esta seleção, Sêneca afirma: Illud simul cogitemus, si mundum ipsum, non minus mortalem quam nos sumus, providentia periculis eximit, posse aliquatenus nostra quoque providentia longiorem prorogari huic corpusculo moram, si voluptates, quibus pars maior perit, potuerimus regere et coercere. Ao mesmo tempo, pensemos sobre isto: se o próprio mundo, não menos mortal do que nós, a providência exime dos perigos, até certo ponto também pode ser prolongada a duração deste corpo débil pela providência de cada um de nós, se formos capazes de governar e dominar nossos prazeres, devido aos quais a maior parte perece. Essa autonomia da razão que Sêneca atribui ao ser humano é um traço de sua obra literária que o aproxima da nossa realidade centrada no “eu”, mas há também força retórica na sua produção de diálogos filosóficos e peças teatrais, com jogos de palavras e frases de efeito, as chamadas sententiae. Tudo isso faz dele um autor atual. Seus textos e estudos sobre esses textos têm se multiplicado recentemente no mercado editorial, em particular de língua inglesa. Veja ao final da introdução uma sugestão bibliográfica. Sêneca tinha a expectativa de ficar para a posteridade com essa correspondência, como afirma ao destinatário[1]. Se essa troca epistolar aconteceu de fato, não há como afirmar, contudo, sua existência se justifica como representante de um gênero literário bem-estabelecido na Antiguidade. Assim, o remetente deve ser encarado como um “eu poético”, mesmo que haja tantas referências a fatos, pessoas e lugares, pois a linguagem epistolar é aparentada com a oralidade, estabelecendo uma relação de familiaridade com o leitor do século I d.C. ou do século XXI[2]. O terceiro fator que coloca Sêneca entre nossos contemporâneos é seu ecletismo. Ao mesmo tempo em que se inclui entre os estoicos e cita o fundador, Zenão de Cício, e seus seguidores, Sêneca é receptivo e até elogioso a preceitos e exemplos de outras escolas. Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro são nomes recorrentes. O destinatário das cartas seria adepto do Epicurismo e o remetente, tentando convertê-lo ao Estoicismo, não se furta a introduzir no início da correspondência citações do filósofo da Escola do Jardim, apesar do antagonismo com a Escola do Pórtico[3]. A história do Estoicismo é tradicionalmente dividida em três momentos: primeiro, médio, tardio. Sêneca é um expoente dessa última fase, que durante o Império Romano desenvolveu especialmente sua vertente ética. Incluíram-se também entre seus propagadores o escravo de origem grega Epiteto (55-135 d.C.) e o imperador Marco Aurélio (121- 180 d.C.). Dos três, o único que se propôs a filosofar em latim foi Sêneca, seguindo uma lista enxuta e ilustre de autores como o epicurista Lucrécio (c.99-55 a.C.) e o acadêmico Cícero (106-43 a.C.). Nascido em Córdoba, antiga província da Hispânia, entre 4 a.C. e 1 d.C., Sêneca mudou-se para Roma na infância, onde estudou com o estoico Átalo (ep. 63.5) e os neopitagóricos Sótion (ep. 49.2) e Papírio Fabiano (ep. 58.6). Viveu anos da juventude no Egito, voltou para a Urbe em 31 d.C., iniciando a carreira pública de um cidadão romano. Dez anos depois, foi exilado pelo imperador Cláudio, na Córsega, regressando após oito anos para ser o preceptor de Nero. Ativo no palco político do império de Nero desde o seu início, o alijamento progressivo de Sêneca resultou no suicídio decretado pelo antigo pupilo no ano 65. por suspeita de seu envolvimento numa conspiração. O relato da morte de Sêneca que nos deixou o historiador latino Tácito em seus Anais é uma impressionante página da história, a ponto de ter inspirado pintores a retratá-la. A semelhança com o destino final do filósofo grego Sócrates, em 399 a.C., espelha o que Sêneca afirmou nas cartas sobre o homem preparado, a quem a morte não assusta (ep. 24.4, 70.9). O Estoicismo concebe a morte como um “indiferente”. Em si, ela não é nem um bem nem um mal: é a virtude ou o vício que a qualifica (ep. 82). Longe de ser o tema único da correspondência, a morte é, no entanto, muito provavelmente, o tema central. Desde a primeira carta, como um diretor espiritual, o remetente revela a intenção de convencer que a morte integra a vida, portanto, deve ser encarada com naturalidade. Ao longo da suposta troca epistolar ele usa exemplos de conduta (em latim, exempla), que vão além de Sócrates, resgatando da história romana modelos de virtude em situações emblemáticas, como Catão de Útica, que causou a própria morte diante da iminente perda da liberdade que adviria com o fim da República (ep. 24.6, 70.19, 82.12). A morte voluntária é um dos elementos culturais da Roma antiga que aflora nas cartas, além da escravidão e da violência nos espetáculos públicos. Catão, esse cidadão romano, foi para Sêneca o exemplo mais próximo do sábio estoico, perfeição inalcançável. Na melhor hipótese, um homem dedicado aos estudos filosóficos torna-se um “proficiens”, alguém que busca a sabedoria. E é assim que o próprio remetente se coloca: pronto a ensinar e a aprender a cada dia. Só a reflexão (em latim, medidatio) conduz, segundo Sêneca, ao entendimento de que o corpo é morada apenas temporária do espírito, que a virtude anda a par da constância, que uma vida feliz é estar em harmonia com o que a natureza provê – todas essas proposições estão registradas na epístola 120, que finaliza esta seleção como se fosse uma súmula. As cartas, atribuídas aos anos finais da vida de Sêneca, são ilustradas por citações literárias frequentes de Virgílio, autor do poema épico Eneida e dos livros de poesia Bucólicas e Geórgicas, assim como é citado o poeta Horácio, ambos do século I a.C. Membro de uma elite que cultivava o grego como língua de cultura, o latim tem, segundo Sêneca, limitações para a especulação filosófica (ep. 58.1). Mesmo assim, ele insiste no uso de termos nativos, na esteira de Cícero e do mestre Papírio Fabiano. São poucas as cartas desta seleção orientadas para a especulação filosófica e acentuadamente técnicas: 58, 65, 120. Mas não há uma sequer que não seja o reflexo da habilidade retórica de Sêneca. Seu estilo é pleno de sonoridades e ritmos, como nesta passagem aliterante da epístola 24.14: dolor... quem in puerperio puella perpetitur, traduzida como: “a dor... que a parturiente prova no parto”. Se algum conhecimento de filosofia pode aguçar a leitura de certas passagens, a disponibilidade para apreciar aspectos literários do texto pode multiplicar a satisfação do leitor. Poucas observações sobre a tradução são necessárias. No latim, o uso da segunda pessoa é natural, e isso foi respeitado na tradução em português. Contudo, nem sempre o “tu” em latim expressa uma relação com o interlocutor. Ele funciona também como um generalizante, quando se utiliza, então, a terceira pessoa em português. Algumas escolhas lexicais devem ser esclarecidas. “Fortuna”, para o autor latino, se assemelha à nossa “sorte”, mas era também uma divindade: o nome comum e o nome próprio são dificilmente distinguíveis semanticamente nas cartas, portanto, a opção recaiu sobre manter a grafia “fortuna”. O termo latino “anima” não foi traduzido. “Animus” e “anima”

Description:
Esta obra reune um conjunto de cartas escritas por Sêneca no final de sua rica vida política e intelectual, numa suposta troca epistolar com um nobre cidadão romano de nome Lucílio. As epístolas cobrem vasta área de interesses, mas certamente um tema preponderante é a aproximação da morte p
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