UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Rodrigo Ciconet Dornelles CIÊNCIA, COLETAS E EXTRAÇÕES: UMA ETNOGRAFIA A PARTIR DE UM LABORATÓRIO DE GENÉTICA DE POPULAÇÕES Porto Alegre 2013 RODRIGO CICONET DORNELLES CIÊNCIA, COLETAS E EXTRAÇÕES: UMA ETNOGRAFIA A PARTIR DE UM LABORATÓRIO DE GENÉTICA DE POPULAÇÕES Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Antropologia Social. Orientadora: Profª Drª Fabíola Rohden Porto Alegre 2013 iii RODRIGO CICONET DORNELLES CIÊNCIA, COLETAS E EXTRAÇÕES: UMA ETNOGRAFIA A PARTIR DE UM LABORATÓRIO DE GENÉTICA DE POPULAÇÕES Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Antropologia Social. Orientador(a): Profª Drª Fabíola Rohden COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________________________ Profª. Drª. Claudia Lee Williems Fonseca PPGAS/UFRGS _______________________________________________ Prof. Dr. Jalcione Almeida PPGS/PGDR/UFRGS _______________________________________________ Prof. Dr. Guilherme José Silva e Sá DAN-PPGAS/UnB Porto Alegre, 19 de abril de 2013. iv Dedico aos meus pais, Vitor e Ivete, e à Júlia. v AGRADECIMENTOS Em que pese a particularidade da escrita de uma monografia, como a própria denominação indica, este trabalho, bem como os dois anos de meu mestrado em Antropologia Social, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, só foram possíveis graças às inúmeras pessoas, que ao longo desta trajetória, fizeram parte da minha vida acadêmica e pessoal e que, assim, contribuíram para a realização desta dissertação. Por isso agradeço: Especialmente aos integrantes do Laboratório de Evolução Humana e Molecular, Agatha Almeida Xavier, Caio César Silva de Cerqueira, Carla Daiana Demkio Volasko Krause, Carlos Eduardo Guerra Amorim, Clênio Deote Machado, Leici Reichert, Lucas Viscardi, Pamela Paré Rosa, Pedro Vargas Pinilla, Rafael Bisso Machado, Tábita Hunemeier, Vanessa Rodrigues Paixão Côrtes, Virginia Ramallo, por terem aceitado dialogar com este sujeito que (quase) tudo percebia e anotava. Obrigado a todos e todas não só pelas entrevistas e pela seriedade com que encararam meu trabalho, mas também pelas risadas e momentos de descontração; À professora Maria Cátira Bortolini por abrir as portas do laboratório e por haver aceitado travar diálogo. Tais agradecimentos também são extensivos aos demais professores do departamento com os quais mantive contato nesse período, sobretudo aos professores Francisco Mauro Salzano e Lavinia Schuler-Faccini, que sempre foram bastante atenciosos comigo; À minha orientadora, professora Fabíola Rohden, imprescindível na fase de redação desta dissertação, e que, junto às professoras Claudia Fonseca e Paula Sandrine Machado, foi fundamental, sobretudo com a realização do Seminário Ciências na Vida (2011) e da Jornada Ciências em Perspectiva (2012), que contribuíram para consolidar o debate em torno da temática da ciência e da tecnologia no âmbito do PPGAS e, extensivamente, aos colegas que estão participando da constituição do grupo Ciências na Vida: produção de conhecimento e articulações heterogêneas; À professora Claudia Fonseca, minha orientadora no início desse processo, ao concluir minha graduação em Ciências Sociais, e com a qual tive a oportunidade de cursar duas disciplinas, tendo sido sempre uma grande fonte de inspiração; Aos professores João Biehl e Adriana Petryna, que apostaram em meu trabalho como vi antropólogo e contribuíram para meu crescimento profissional nos últimos dois anos; Ao professor Ricardo Ventura Santos, pelo interesse no diálogo, pela confiança e por ter ajudado na ampliação da minha rede de interlocução no campo da antropologia da ciência, colocando-me em diálogo com outros pesquisadores, como Rosanna Dent, Vanderlei Souza e Verlan Valle Neto, aos quais também devo agradecer pelas trocas intelectuais ao longo desse período; Ao professor Jalcione Almeida e aos integrantes do TEMAS, em especial a Camila Prates, Felipe Vargas e Lorena Fleury, por terem me aceito como membro do grupo e por terem contribuído com sempre instigantes questões ao meu trabalho; Aos inúmeros funcionários da UFRGS, sem os quais não teria sido possível levar a cabo esta empreitada, em especial à Rosemeri Feijó, secretária do PPGAS, que sempre se mostrou disponível em ajudar, apesar de alguns contratempos; À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência do governo brasileiro, que me contribuiu com esta pesquisa ao disponibilizar uma bolsa de pesquisa ao longo de um ano; Aos meus colegas de turma, que ingressaram no mestrado do PPGAS em 2011 e que foram sumamente importantes para que eu me constituísse tanto enquanto antropólogo quanto como sujeito político; Aos meus colegas do PPGAS. Como são muitos a quem eu devo agradecer de alguma forma, porque contribuíram para minha formação ao longo dos dois anos do curso ou especificamente para esta dissertação, agradeço em nome de dois deles, os quais também são grandes companheiros, não só no universo antropológico, mas também fora dele: Janaína Campos Lobo e Vitor Simonis Richter. Este último foi fundamental, sobretudo nos últimos momentos de redação desta narrativa etnográfica; Aos colegas da graduação e da pós-graduação, também orientados pela professora Fabíola Rohden, que muito contribuíram para minha formação e que foram importantes no processo de construção dessa pesquisa e sobretudo nos momentos de descontração, em especial a Eduardo Zanella, Miguel Hexel Herrera e Pedro Cassel; Aos meus amigos, de dentro e de fora da academia que, em diversos momentos, vii proporcionaram-me outras discussões e outros assuntos que não aqueles necessariamente concernentes à antropologia (aos quais também devo uma nota de desculpas devido ao meu afastamento temporário em função dos compromissos acadêmicos e profissionais); À minha família, em especial, aos meus pais, Vitor Hugo Martins Dornelles e Ivete Regina Ciconet Dornelles, que me ensinaram, ao longo do tempo, a importância do diálogo e a potencialidade do debate, bem como por sempre terem me incentivado em minhas escolhas; E, finalmente, à Júlia Drenkmann Hackner, com quem passei momentos maravilhosos nesses dois últimos anos, com quem comecei a dividir um mesmo teto, e com a qual irei dividir ainda muitos lindos momentos. viii Volando voy, volando vengo. Por el camino yo me entretengo. Enamorado de la vida, aunque a veces duela. Si tengo frío, busco Candela. Volando voy, volando vengo. Por el camino yo me entretengo. Señoras y señores, sepán ustedes, que es la flor de la noche pa'quien la merece. Volando voy, volando vengo. Por el camino yo me entretengo. Enamorado de la vida, aunque a veces duela. Yo no se quien soy ni lo pretendiera. Volando voy, volando vengo. Por el camino yo me entretengo. Y es que a mi me va mucho la marcha tropical, y los cariños de la frontera me van. Jorge Drexler – Volando Voy ix RESUMO Esta dissertação é o resultado de um intenso processo de imersão em um dos espaços mais íntimos do fazer científico: o laboratório. O objetivo interposto foi o de realizar uma pesquisa de caráter etnográfico em um laboratório de pesquisa em genética de populações humanas, vinculado ao Instituto de Biociências, ao Departamento de Genética e ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objeto deste estudo não foi o laboratório de pesquisa em si, mas as práticas científicas levadas a cabo por este coletivo ao ser fazer do Consórcio para Análise da Diversidade e Evolução na América Latina (CANDELA), um consórcio de pesquisa multi-cêntrico que, como o próprio nome indica, procura dar conta da diversidade étnico-racial em diversos países na América Latina. Buscou-se etnografar o que acontecia, sobretudo, entre instrumentos e práticas laboratoriais, durante a realização deste consórcio de pesquisa, abordando as escolhas práticas e conceituais que foram adotadas no cotidiano científico durante pouco mais de seis meses. Tentou-se não perder de vista as associações mais amplas que foram estabelecidas nesse contexto, de forma que o laboratório foi o ponto de partida e não o ponto de chegada. Nesse sentido, o que se realizou é o que se denomina aqui de “etnografia a partir do laboratório”. No plano teórico-epistemológico, a proposta é a de colocar em questão dicotomias clássicas da ciência moderna, como cultura-natureza, a partir do estudo etnográfico de um projeto de pesquisa que estaria na fronteira entre as ditas ciências naturais e ciências sociais, contribuindo para a ampliação da discussão em torno da agência dos não humanos e de quanto isso se faz central em uma pesquisa de cunho etnográfico que leve a sério não só o que dizem nossos interlocutores humanos, mas também aqueles que emergem a partir da fala destes e da observação da prática científica. Além disso, ao mesmo tempo que esta dissertação procura mostrar a centralidade dos não humanos na prática científica principalmente através de um evento ocorrido ao longo do trabalho de campo, ela aponta para a possibilidade de interlocução entre as ciências biológicas e as ciências sociais. Palavras-chave: Antropologia da Ciência; Genética de Populações Humanas; Agência dos Não Humanos. x ABSTRACT This dissertation is the result of an intense immersion in one of the most intimate spaces of the scientific practice: the laboratory. The goal brought was to conduct an ethnographic research in a laboratory in population genetics, linked to the Instituto de Biociências, of Departamento de Genética and to Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) at the Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). The object of this study was not to research the laboratory itself, but the scientific practices undertaken by this collective as being part of the Consortium for Analysis of Diversity and Evolution in Latin America (CANDELA), a multi-center research consortium, as its name implies, sought to account for the racial-ethnic diversity in several countries in Latin America. It tries to give an account of what happened, especially among instruments and laboratory practice, within this research consortium, tackling the everyday practical and conceptual scientific choices ocurred during the over six months of fieldwork research. It intends to not lose sight of the broader associations that were established in this context, so that the laboratory was the starting point and not the ending point. In this sense, what took place is what is called here an “ethnography from the laboratory”. In a theoretical-epistemological scheme, the proposal is to discuss traditional dichotomies of modern science, such as culture and nature, from ethnographic study of a research project that was on the border between natural sciences and social sciences, contributing to expanding the discussion on the agency of nonhumans and how this is done in an ethnographic research that takes seriously not only what is said by our human counterparts, but also those that emerge from these talks and from the observation of scientific practice. Moreover, while this dissertation seeks to show the centrality of non-human in scientific practice mainly through an event that occurred over the fieldwork, it points to the possibility of dialogue between the natural sciences and the social sciences. Key words: Anthropology of Science; Human Population Genetics; Nonhuman Agency.
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