L. R. Lima, C. J. S. Correia BOTÂNICA NO FIM DE SEMANA: RELATO DE ATIVIDADES EXTENSIONISTAS DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DA UFAL Letícia Ribes de Lima1, Carlos Jorge da Silva Correia2 1 Curadora do Herbário MUFAL e docente do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Alagoas ([email protected]), 2 Biólogo do Herbário MUFAL Resumo: Neste artigo refletimos sobre a importância da popularização de conhecimentos científicos, em geral, e de saberes relacionados à Botânica, em particular, com base em algumas ações de extensão promovidas e desenvolvidas pelo Herbário Professor “Honório Monteiro” (MUFAL), do Setor de Botânica do Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas (MHN-UFAL). Em termos metodológicos, foram realizadas uma exposição e duas oficinas no contexto de um programa intitulado “Fim de Semana no Museu” cuja finalidade maior foi a divulgação científica de conhecimentos botânicos. Dentre os resultados obtidos, verificam-se índices significativos de aprovação dos participantes em relação ao desenvolvimento das atividades, o que permite afirmar que a Botânica pode ser melhor apresentada ao público leigo a partir de abordagens lúdicas. Palavras Chave: Extensão, Fim de Semana no Museu, Exposições. Abstract: In this article we reflect on the importance of the popularization of scientific knowledge in general, and of knowledge related to Botany in particular, in view of extension actions promoted by the Herbarium “Professor Honório Monteiro” (MUFAL), of the Botany Sector of the Natural History Museum of the Federal University of Alagoas (MHN-UFAL). Methodologically, an exhibition and two workshops were held in the context of the "Weekend at the Museum" program, whose main purpose was the scientific dissemination of botanical knowledge. Among the results obtained, there are significant indices of approval of the participants in relation to the development of activities, which allows to affirm that Botany can be better presented to the lay public from ludic approaches. Key words: Extension, Weekend at the Museum, Exhibitions. Introdução O Herbário Professor Honório Monteiro (MUFAL), do Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas (MHN-UFAL) conta, atualmente com cerca de 3.500 exsicatas, cujos dados foram informatizados, com o apoio do Programa REFLORA/CNPq, e estão disponibilizados na plataforma do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Atualmente, o MUFAL passa pelo processo de digitalização do seu acervo para que, em breve, as imagens das exsicatas também possam ser acessadas remotamente. Mais informações acerca do MUFAL e da sua história estão disponibilizadas em Lima & Correia (2015). O MUFAL está localizado na cidade de Maceió, capital do estado de Alagoas que, em 2016, apresentava uma população de pouco mais de um milhão de habitantes (IBGE, 2017) distribuída em um território de 509 km2. O município apresenta uma taxa de urbanização da ordem de 99,75 por cento e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,735, considerado alto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, sendo o primeiro do estado. Em julho de 2016, o MHN-UFAL iniciou um programa intitulado “Fim de Semana no Museu”, que tem por objetivo principal abrir as portas do citado órgão, no primeiro fim de Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 80 L. R. Lima, C. J. S. Correia semana de cada mês, para a população em geral, apresentando, gratuitamente a esse público, atividades culturais e científicas, de modo a integrar as práticas do MHN-UFAL ao seu contexto sociocultural e ambiental. Diante dessa perspectiva, em setembro do mesmo ano, durante o “III Fim de Semana no Museu”, o Herbário MUFAL desenvolveu diferentes atividades que buscaram, principalmente, facilitar o envolvimento do público na participação de oficinas, palestras, cinedebate, apresentações culturais e novas exposições para além da exposição permanente do MHN-UFAL que, desde a época até hoje está dedicada ao tema “Alagoas: Do Mar ao Sertão”. Dessa forma, o objetivo deste artigo é refletir sobre a importância de ações de extensão para a popularização de conhecimentos científicos, em geral, e de saberes relacionados à Botânica, em particular, tendo em vista as atividades planejadas e realizadas pelo Herbário MUFAL no contexto da terceira edição do programa “Fim de Semana no Museu”. Relato e Avaliação das Atividades Para o III Fim de Semana no Museu foram planejadas, pelo MUFAL, algumas atividades científicas e culturais, que serão detalhadas a seguir. Na Figura 1, pode-se observar o cartaz de divulgação do referido evento. Figura 1. Cartaz de divulgação do III Fim de Semana no Museu. Fonte: Arte criada por Carlos Jorge da Silva Correia, 2016. Exposição “Plantecidades” Plantas e cidades, plantas e cidades, plantas e cidades... De tanto pensarmos nesse binômio chegamos ao insuspeito híbrido “Plantecidades” que intitulou essa exposição do MHN-UFAL sobre a origem de cidades alagoanas que guardam estreita relação com a flora Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 81 L. R. Lima, C. J. S. Correia local. Sendo assim, coube-nos ressaltar que o Estado de Alagoas é formado por 102 municípios dos quais vários trazem em seus nomes indícios da importância de plantas em suas formações, o que chamou a atenção do Herbário MUFAL ao ponto de vermos nesses casos uma forma de discutir a importante dinâmica, geralmente ignorada, que existe entre a cultura de um povo e o seu meio ambiente. De fato, com esta exposição propusemos exatamente isso: uma forma de contextualizarmos a rica flora alagoana a partir da relação que as pessoas da nossa terra estabeleceram e continuam estabelecendo com as plantas do nosso território. Ou seja, o viés da história natural em nossa proposta se expressou por esse interesse de fazer conhecidas as origens de cidades de nosso estado cujos nomes têm relação explícita com plantas locais. Obviamente, como todo trabalho humano, tivemos que delimitar a abrangência desta exposição de tal forma que escolhemos contar a história de dez cidades alagoanas que foram selecionadas principalmente pela relação direta entre uma determinada planta e sua origem, mas também pela peculiaridade de fatos envolvidos com o surgimento da cidade e pela dimensão poética de algumas narrativas. Dessa forma, a partir dos critérios mencionados acima apresentamos, nesta exposição, as seguintes “plantecidades” alagoanas: 1) o “angico-branco” (Arapiraca), 2) o “muricizeiro- bravo” (Murici), 3) a “craibeira” (Craíbas), 4) a “palmeira-piaçaba” (Piaçabuçu), 5) o “Ouricuri” (Pariconha), 6) o “ipê-roxo” (Olho D’Água das Flores), 7) o “coqueiro” (Coqueiro Seco), 8) o “coité” (Coité do Nóia), 9) o “junco” (Junqueiro) e 10) o “cajueiro”, que é o próprio nome da cidade de Cajueiro. Ao realizar o itinerário proposto, tínhamos por objetivo que o visitante aproveitasse tal “viagem” pelas paisagens bioculturais. Oficina “Meu primeiro Herbário” Esta oficina teve duração de aproximadamente duas horas e foi realizada no dia 3 de setembro de 2016. Teve como objetivo principal apresentar ao público em geral as funções de um herbário, bem como sua constituição. Na parte teórica da atividade foram apresentadas algumas informações sobre a dinâmica de trabalho em herbários com ênfase na importância dos mesmos para o conhecimento da diversidade florística de uma determinada região. Também foi exibido um vídeo sobre o processo de coleta e herborização de plantas. A B Figura 2. Registros do desenvolvimento da oficina “Meu Primeiro Herbário”. Em “A”, os participantes assistem a um vídeo sobre o processo de herborização de plantas. Em “B”, eles montam suas próprias exsicatas. Fonte: Carlos Jorge da Silva Correia, 2015. Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 82 L. R. Lima, C. J. S. Correia Na parte prática cada participante recebeu um material botânico já seco, que estava no acervo do MUFAL para ser montado, bem como a etiqueta de coleta e os outros materiais necessários à confecção de uma exsicata, tais como linha, agulha e cartolina. Assim cada participante, após uma explicação, montou sua própria exsicata, além de registrá-la no livro de tombos do MUFAL, pois as exsicatas montadas foram incorporadas ao acervo do referido Herbário. Percebeu-se, com essa atividade, um encantamento nos participantes que ficaram lisonjeados ao perceberem que as exsicatas por eles montadas integrariam uma coleção científica “de verdade”. Em termos gerais, a maioria do público avaliou a atividade como excelente. É o que verificamos no gráfico a seguir (Figura 3). Figura 3. Indicadores da avaliação que os participantes ou seus responsáveis fizeram da oficina "Meu Primeiro Herbário". Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Quando perguntados se indicariam a outras pessoas a participação na atividade, obtivemos as seguintes respostas das pessoas que avaliaram a atividade: Sim. Forma de levar o conhecimento da universidade para a população (ENTREVISTADO 7); Sim. Porque é muito legal, você aprende muito sobre plantas (ENTREVISTADO 8); Sim. Porque é bem educativo e bem legal (ENTREVISTADO 9); Sim. Aquisição de novos conhecimentos (ENTREVISTADO 10); Sim. Porque além de ser um programa de fazer, você ainda aprende sobre várias coisas e aumenta seu nível de conhecimento (ENTREVISTADO 11); Sim. Essa atividade é bom para aprender (ENTREVISTADO 12). Como pode ser constatado nos comentários acima, dentre aqueles que opinaram se recomendariam ou não a participação na referida atividade é unânime a impressão positiva sobrea oficina. Chama-nos atenção, sobretudo, o comentário que ressalta que este tipo de atividade é uma forma de levar o conhecimento da universidade para a população, pois, de fato, essa é a verdadeira intenção de qualquer projeto de extensão. Oficina ‘Botânica para Crianças” Esta oficina visou trabalhar, com o público infantil, conceitos relacionados à morfologia floral, polinização e formação de sementes. Para tanto, foram disponibilizados Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 83 L. R. Lima, C. J. S. Correia diferentes tipos de flores e frutos e, por meio de desenhos esquemáticos, explicação dos mediadores e observação das estruturas florais sob estereomicroscópios. Por meio da dissecação de flores e da observação das mesmas em um estereomicroscópio as crianças puderam visualizar, na prática, os órgãos de uma flor e a função de cada um dos verticilos florais, além de serem apresentadas a conceitos de polinização, além de formação de frutos e sementes. A B Figura 4. Registros do desenvolvimento da oficina “Botânica para Crianças”. Em “A”, as crianças estudam as partes de uma flor. Em “B”, observam detalhes da morfologia de uma flor no microscópio estereoscópico. Fonte: Núbia Lima, 2016. Em termos gerais, a maioria do público avaliou a atividade como excelente. É o que verificamos no gráfico a seguir (Figura 5): Figura 5. Indicadores da avaliação que os participantes ou seus responsáveis fizeram da oficina "Botânica para Crianças". Fonte: Pesquisa de campo, 2016. Quando perguntados se indicariam a outras pessoas a participação na atividade, obtivemos as seguintes respostas das pessoas que avaliaram a atividade: Sim. Porque desperta nas crianças o interesse pelo estudo da natureza (ENTREVISTADO 13); Sim. Porque desperta nas pessoas a importância do ser vivo e do ecossistema (ENTREVISTADO 14); Sim. Porque é importante o contato com a natureza e com o conhecimento advindo desse contato (ENTREVISTADO 15); Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 84 L. R. Lima, C. J. S. Correia Sim. Atividade excelente, serve para introduzir conhecimentos para as crianças (ENTREVISTADO 16). Como pode ser constatado nas considerações acima, dentre aqueles que opinaram se recomendariam ou não a participação na referida atividade é unânime a impressão positiva sobre a oficina. Além disso, os comentários reforçam a nossa perspectiva de oferecer atividades científicas práticas voltadas, especificamente, para crianças, pois isso fomenta a visitação de grupos familiares, já que a vinda das crianças ao museu normalmente é acompanhada pelos pais. Conclusão Diante das avaliações analisadas pudemos constatar que as atividades desenvolvidas foram bastante satisfatórias. Obviamente, estamos cientes de pontos importantes como uma maior divulgação das atividades e espaços mais adequados para oficinas que precisam ser melhorados, mas, ainda assim, se sobressaem os pontos positivos. Além disso, atuar em um projeto de extensão em um equipamento cultural tão potente quanto os museus naquilo que se refere à capacidade de produzir encontros criativos e insuspeitos foi muito gratificante e motivador aos agentes envolvidos. Momentos como esses atuam como registros efetivos da nossa real intenção de envolver os nossos visitantes em uma trama representativa da sua própria cultura com os saberes científicos que acumulamos em nosso museu no campo da história natural, consolidando uma estratégia bem-sucedida de divulgação científica que preza por aproximar o museu/universidade da cidade e das pessoas. Pudemos mostrar ao público geral a importância das coleções biológicas, que fornecem um registro da biodiversidade regional, sendo fonte de informação para diferentes tipos de trabalhos, como estudos de conservação. Procuramos também sensibilizar esse público para temas atuais, como desmatamento, extinção de espécies, além de mostrar como o homem deve respeitar o ambiente, já que depende diretamente dos serviços por ele oferecidos. Agradecimentos Agradecemos a todos os que fazem o Museu de História Natural da UFAL e que estiveram envolvidos no planejamento e realização das atividades aqui relatadas. Referências Bibliográficas IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Alagoas: Maceió. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=270430&search=alagoas Maceio>. Acesso em: 29 maio 2017. LIMA, L. R.; CORREIA, C. J. S. Herbário Professor Honório Monteiro, Alagoas (MUFAL). UNISANTA Bioscience, Santos, v. 4, n. 6, p. 89-92, 2015. Redes de Herbários e Herbários Virtuais do Brasil – 68º Congresso Nacional de Botânica UNISANTA Bioscience Vol. 6 nº 5 – Edição Especial (2017) Página 85